Capítulo TRINTA E OITO

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•Por Rodrigo

Eu sabia que aquela hora iria chegar. Infelizmente eu sabia. Porém gostaria que demorasse mais. Eu sei que, de certa forma, foi errado eu não contar à Ju que eu tinha um irmão. Que eu não era filho único, mas tudo que aconteceu entre mim e o Ricardinho mexeu muito comigo, e eu ainda sinto uma culpa dentro de mim. Já sabia também que Juliana viria cheia de perguntas e eu achei que seria a hora dela saber a verdade. Naquela noite resolvi pensar melhor sobre minha mãe e seu novo namorado. Passei a noite toda pensando e entendi que minha mãe também tem o direito de ser feliz e mesmo que futuramente ela venha sofrer com essa escolha, eu continuarei do seu lado pra te colocar pra cima.

Dormi bem pouco. E já que o sono não vinha, resolvi levantar pra fazer um café da manhã caprichado como forma de desculpas. Fui até a padaria que tinha ali no condomínio mesmo, comprei alguns salgados gostosos e subi. Quando terminei de colocar e arrumar tudo na mesa, ouvi passos. Para minha surpresa, era minha mãe.

—Bom dia mãe. —falei baixinho.

—Bom dia filho.

—Tudo bem? —não sabia como começar aquele pedido de desculpas.

—Não. Nós brigamos ontem. Não está nada bem.

—Desculpa por ontem. Eu agi sem pensar. Meu instinto protetor foi acionado na hora em que ouvi a palavra namorado saindo da sua boca.

—Filho, me desculpa, mas eu também tenho o direito de ser feliz. E o Beto me faz feliz.

—Agora eu entendo isso mãe, mas antes eu tinha medo de você achar que está apaixonada e acabar se ferrando, como sempre foi. Mas ontem à noite a Ju conversou comigo, me explicou e eu entendi que a senhora também precisa ser feliz. E caso futuramente a senhora sofra, eu farei o meu papel de filho e vou estar perto pra te amparar. Foi difícil de entender, mas vocês têm o meu apoio.

—Oh meu filho, você não sabe o tamanho da minha felicidade por saber disso. —me abraçou. —O Beto tem feito um bem danado pra mim. Sabe lidar com os meus problemas e tem me ajudado muito.

—Eu sei mãe, e estou feliz sabendo que você está feliz. —nos abraçamos novamente.

—Opa, estou atrapalhando alguma coisa?—Beto chegou

—Não, claro que não. —eu disse, sorridente.

—Venha aqui amor. —ela se separou de mim e se juntou a ele.

—Se eu estiver atrapalhando posso voltar depois...

—Não, não atrapalhou nada. Eu e o Rod conversamos e ele entendeu tudo. —ela disse com aquele sorriso mais lindo do mundo.

—Vocês têm o meu apoio. —falei vendo-os ali abraçados e com um sorriso enorme no rosto. Minha mãe me puxou para junto do abraços deles e me aconcheguei ali.

—Momento família, que lindo. —minha esposa falou, assim que nos viu ali. —Parece que a conversa que tivemos ontem fez efeito

—Se não fosse por você acho que eu nunca mudaria de ideia. —eu me aproximei dela.

—Você não seria nada sem mim, pode confessar. —ela enlaçou seus braços em volta do meu pescoço. Jesus, me ajuda.

—Convencida... —abracei seus quadris.

—Realista meu amor. Realista.

Selamos aquele momento com um selinho e ficamos por um tempo ali abraçados e conversando. Achei estranho Ricardinho não ter acordado até àquela hora. Já havíamos acordado um pouco tarde e o horário já marcava quase onze da manhã e nada dele levantar.

—Mãe, e o Ricardinho?! Dormindo ainda?! —perguntei assim que a vi saindo do quarto em que eles estavam usando.

—Acabei de ir lá acorda-lo. Com os remédios, aqueles que você compra, acaba dando muito sono nele, então...

—Mãe, não precisa falar que sou que compro, até porque é bom o Ricardo nem ouvir isso, se não já viu né...

—O Ricardinho mudou muito Rod.

—Fica de boa que eu já sei de tudo. —ele disse, interrompendo a nossa conversa e me deixando completamente surpreso.

—Como assim? —questionei. —Não é nada disso que você está pensando. Quem paga os seus medicamentos é a mamãe.

—Ei, para de ficar na defensiva. Eu já sei de tudo. Já sei que você que paga meus remédios, minhas consultas, minha cadeira de rodas, meus tratamentos, tudo... Já sei de tudo.

—Mãe... —olhei pra ela.

—A culpa não foi da mamãe, foi eu quem quiser saber. Sempre via mãe se virando pra poder pagar as contas e sempre me questionei sobre quem cobria as minhas despesas. A vida toda ela falou que foi ela, mas chegou uma hora em que eu percebi que não era. Perguntei à ela sobre a verdade e ela me contou que era você.

—Antes que você diga qualquer coisa, eu não faço tudo isso por sentimento de culpa pelo que aconteceu com você...

—Não foi culpa sua. —ele me interrompeu. —Hoje eu entendo que não foi. Eu sei que você faz tudo isso por amor a mim e porque quer o meu bem. Desculpa por tudo que te fiz passar. Por todos esses meses sem nos vermos, porque todas as vezes em que eu saí de casa porque você iria estar lá. Desculpa. Eu estava cego. —Ele baixou a cabeça e eu me desfiz do abraço que estava na Ju, e fui até ele.

—Mas é claro que eu te desculpo. —levantei sua cabeça com minha mão—Será que eu ganho um abraço?! —abri os braços à ele.

—Com toda certeza.—ele me abraçou.

Meu Deus meu coração explodia de felicidade. Eu não poderia definir em palavras o que senti, mas ver o meu irmão ali, admitindo seu erro, pedindo perdão, quebrou todo o meu coração. E só quem conhece ele de verdade sabe como aquilo foi um milagre. Passou por cima do seu orgulho e agora tudo estava bem.

Almoçamos no melhor dos climas. Felicidade pairava ali. Depois do almoço, fomos até um dos parques que havia no Rio pra que Ricardinho e o Beto conhecessem.

Andamos por ali, e ambos os três  ficaram maravilhados com a beleza daquele lugar. Enquanto eles andavam, eu e a Ju resolvemos nos sentar em um banco e esperá-los e posso confessar uma coisa, foi a melhor coisa, porque eu não aguentava mais andar.

—Acho que estou ficando velho já. Não tenho mais pique e nem ânimo  pra andar pelo parque. —falei, arrancando uma risada linda da Ju.

—Não é velhice não, é preguiça mesmo.

—Aram, tá. Se você quiser andar com os três, pode ir. Eu não vou não.—falei.

—Não não, preciso fazer meu papel de esposa né?! Preciso cuidar do meu véio.

—Ah, agora vai brincar?! É assim mesmo?! —comecei a fazer cosquinha nela. —hein?! Hum?!

—Não, não, não. Apelou. Parei!! Parei!! —parei com as cócegas.

—Gracinha. Temos um mês de casamento só, mas eu já sei o seu ponto fraco querida.

—Abusado! —recebi um tapa no ombro.
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Desculpem o atraso, mas está aí.
Lindas.
Hehe.
Beijocas

Boas MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora