FORCA

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Bacon, ovos, torradas e suco, Matt é um cara prendado na cozinha, estou encantada, mas o sabor é horrível. Como mesmo assim, não quero deixá-lo magoado. Nessa hora, penso que um Shake cairia bem, mas Matt e eu temos um combinado, então vou respeitá-lo.

*****

Decidimos caminhar - de mãos dadas - pelo quarteirão, estamos próximos a lanchonete do Sr. Luke, mas passamos direto. É estranho quebrar minha rotina dessa maneira, mas ainda mais estranho é dar de cara com o Sr. Luke fora da lanchonete, quase houve um embate entre nós.

- Bom dia moça bonita! - Seu sorriso é assustador e acolhedor ao mesmo tempo, ele segura um saco de papel na mão - Olá rapaz - Ele franze o cenho para Matt e sinto um clima estranho no ar, ele não vai esquecer tão cedo o que Matt falou sobre seu Shake.

- Olá - Matt não deixa por menos e sinto um tom rude em sua voz.

- Bom dia Sr. Luke, que milagre vê-lo fora da lanchonete - Digo tentando quebrar o clima chato.

- Tive que buscar mais do meu ingrediente secreto para seu Shake predileto - Ele sorri me mostrando o saco... Ingrediente secreto? Isso explica porque seu Shake é tão maravilhoso - Está vindo da lanchonete?

- Ahnn, não - Fico sem jeito, sinto que tenho que dar explicações - Tomei café em casa, experimentei os dotes culinários do Matt hoje - Sorrio sem graça e morrendo de vontade de tomar seu Shake, parece até um vício.

- Entendo - Sua voz é ríspida - Então quer dizer que o garoto mal chegou e já está levando meus clientes embora.

- Não Sr. Luke, eu...

- Talvez seja isso! - Matt me interrompe - Garanto que minha comida estava melhor do que essa gororoba que você chama de Milk Shake! - Não estava.

- Matt! - O repreendo, por que ele está fazendo isso com o Sr. Luke?

- Rapaz, você realmente está no lugar errado - Ele olha de Matt para mim - Sabe moça, às vezes achamos que aquela pessoa nova pode ser a pessoa ideal, que ela era o que faltava em algum lugar, mas às vezes - Ele volta a encarar Matt - Ela pode estar no lugar errado atrapalhando tudo.

- Qual é cara? - Matt solta minha mão e parece que vai agredir o Sr. Luke.

- Matt por favor! - Fico entre eles - Ele é só um senhor! O que há de errado com você? - Estou indignada.

- Deixe-o moça, acho que ele precisa provar algo à alguém, não é Matt? - Sua voz me assusta.

E tudo acontece muito rápido, sinto um solavanco de Matt me jogando para trás e acabo tropeçando e caindo no chão. Matt se aproxima do Sr. Luke, eles vão se matar, é isso? Os dois se encaram e vejo Matt fechar seus punhos, por que ele está fazendo isso? O Sr. Luke se prepara e a atmosfera parece mudar. Eles ficam se olhando e então Matt recua, recua de um jeito estranho, parece amedrontado, o que aconteceu? O Sr. Luke então começa a recuar também, um não deixa de encarar o outro, está tudo tão esquisito. Me levanto às pressas e à tempo de Matt segurar meu braço e me puxar.

- Vem Ana, vamos embora.

- Ahnn, até mais Sr. Luke, tenha um bom dia - Me sinto envergonhada pelo ocorrido.

- Até mais moça, espero vê-la novamente... - Matt o encara antes de irmos - Sozinha - E o olhar do Sr. Luke é frio e assustador.

Matt sai praticamente me arrastando e quase não consigo acompanhar seus passos. Chegamos até o lago Oneida e nos sentamos na grama, não sei quem está mais ofegante.

- Que merda foi aquela Matt? - Estou muito zangada - Ele é um senhor de idade, nunca te ensinaram a respeitá-los?

- Ana eu...

- Chega! - Grito - Aquilo. Foi. Ridículo! Ele nunca te fez nada, por que tanta implicância com ele?

- Está defendendo ele?

- Sim! Foi você que insultou o Shake dele! Você o ofendeu primeiro.

- É impossível que apenas eu não goste daquela coisa horrível, o que há de errado com você Ana? - Ele grita de volta, estamos discutindo sério pela primeira vez e é por causa de um Milk Shake? - Aquele negócio que mais parece uma mistura de morango com veneno de rato está longe de ser uma grande bebida e só eu vejo isso?

- Talvez você realmente esteja no lugar errado - Falo sem pensar.

- Ótimo - Ele parece ofendido, droga! - Talvez eu esteja com a pessoa errada também - Ele consegue me ferir.

- Ótimo, então não tem nada o que fazer aqui - Olho para o lago e ele se levanta, quero gritar, mas preciso me manter firme, nunca abaixo a cabeça para ninguém.

- Obrigada pela sinceridade Ana, é bom saber em que terreno vamos pisar antes de entrar - Continuo encarando o lago - Tenha um bom dia.

Ele se vai e meu primeiro impulso é sair correndo atrás dele, mas fico aqui, ignorando sua existência e suas palavras, uma briga feia por um motivo bobo e com palavras muito duras.

*****

São três da tarde, estou com fome, mas não quero comer, pareço uma estátua de frente para o lago, acho que quase não me movi desde que Matt saiu. Quero chorar, gritar, sumir. Tudo que já estava ruim, agora está ainda pior. Como fui me tornar tão dependente do Matt assim? É isso o que o amor faz? É assim que ficamos? Dependentes? Marionetes? Acho que o amor é uma fraqueza, arrancaria meu coração se fosse possível para não sentir mais isso.

- Ana, não pira! - Sussurro para mim mesma, estou sendo drástica demais, já estou bem crescida para pensar em coisas tão infantis.
Ou talvez não. Pulei três anos da minha vida, toda a minha fase de amadurecimento, dormi com quinze e acordei com dezoito anos, talvez ainda esteja me comportando como uma adolescente imatura.

Me levanto e vou para casa. Deixo tudo o mais claro possível, Matt não estará aqui essa noite, vou tentar não dormir.

*****

Estou fraca, não comi nada depois do horrível café da manhã de Matt, era tudo muito bonito, mas o sabor, meu Deus! E ele comeu como se não houvesse amanhã, ao contrário da noite em que sua avó cozinhou. Estranho...

Subo para o meu quarto, quero ficar deitada. Me jogo na cama e tento me manter acordada, coma do sono não é uma boa idéia.

Ouço um barulho, alguém batendo na porta, talvez seja Matt. Me levanto depressa e antes de sair no corredor percebo que o barulho vem de dentro do quarto, do meu armário. Me aproximo dele - as batidas cessam - meu coração acelera, abro as portas do armário bruscamente e não há nada além de roupas minhas, fecho-as e Andy está do meu lado, me assusto e caio de bunda no chão, ela segura o coração, o coração que acredito ser de Matt, que pode ser um aviso terrível. Me arrasto para longe dela e abro a porta do quarto o mais rápido que posso me levantando do chão. Rápido o suficiente para ver Matt em cima de uma cadeira com uma corda envolta em seu pescoço e amarrada nas madeiras envernizadas do teto.

- Eu estava no lugar errado Ana... - Ele diz.

E antes que eu possa fazer algo ele se joga da cadeira rumo à morte.

- Matt!

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