ELE SE FOI

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Olho novamente pela janela, avisto a velha, Andy e a garota zumbi. Elas não se aproximam, apenas nos olham.

- Matt, você tem que acordar, você precisa acordar! - Imploro.

Sinto minhas mãos ficarem quentes, olho para elas, estão cobertas de sangue, sangue do Matt, saindo por suas orelhas. Isso é culpa minha e choro desolada! Ele vai morrer.

- Ajuda, preciso buscar ajuda! - Raciocino - Sra. Thompson!

Tenho medo de deixá-lo só, mas preciso de ajuda, não tem um bendito telefone nesta casa e só agora meu dou conta disso.

- Você vai fucar bem Matt, aguente firme - Digo e ele continua se debatendo e sangrando.

Corro o mais rápido possível, ao sair de casa, não vejo as três aparições na janela, olho por ela com medo de estarem próximas de Matt, ele está sozinho a se debater. Pulo as escadas, chego à casa de avó de Matt e bato na porta freneticamente, parece que estou abrindo um buraco com socos.

- Sra. Thompson, Sra. Thompson! - Grito - É uma emergência! Matta precisa de ajuda!

Ouço a porta destrancar e ela surge com uma aparência mórbida, chega a assemelhar-se às aparições que vejo e me assusta pensar nisso agora.

- Como assim ele precisa de ajuda? O que você fez, garota idiota?

- Venha comigo! - Toco sua mão fria e tento puxá-la para fora da casa.

- Não - Ela se solta de mim - Não me toque seu monstro! - Grita.

- O quê?

- Eu disse, não me toque! Você é um monstro.

Talvez ela esteja vendo alucinações, talvez seja um choque momentâneo, a idade. Mas eu suplico ignorando os fatores:

- Eu não sou um monstro, por favor Sra. Thompson, apenas venha comigo ou ligue para a emergência, Matt está convulsionando, ele sangra muito?

- Sangra? - Ela parece em choque de verdade agora - Vamos! - Diz passando por mim. Não esperava que uma senhora andasse tão rápido - Não vai adiantar chamar a emergência aqui.

- Por quê? - Pergunto desesperada.

- Venha logo, menina idiota!

Corro para acompanhá-la e entramos juntas em casa, mas paro ao ouvir as vozes cantarem:

- Ela virá te buscar,
Você não irá escapar...

Andy surge descendo as escadas da frente carregando aquele coração pulsante em suas pequenas mãos, ela está coberta de sangue e canta sem parar. 

- Seus olhos não irão se fechar...
Da escuridão não escapará...
Ela virá te buscar...
Trevas, trevas, quem lhe salvará?...

Avisto a Sra. Thompson parada próxima à ela, mas olha para mim.

- O que está esperando, garota burra?

Olho com atenção, ela está rodeada pelas três, mas não as vê, nem as escuta cantarem essa madita canção.

- Sra. Thompson, eu... - Não consigo falar, estou em choque, tenho medo de que elas Machuquem a avó de Matt.

- Ande logo, eu não tenho a noite toda!

Todas cantando juntas, olham da Sra. Thompson para mim e de volta para ela.

- Sangue e morte atrás de você...
Não há como se esconder...

É a pior tortura que já sofri na vida, elas colocam as mãos sobre Lucia Thompson, ela é delas agora, eu apenas fico aqui, desesperada, sem ação, sem movimento, tudo o que eu fizer pode destruir a vida dela agora mesmo e já não sei o que é pior, ela e Matt morrerem por eu me mover ou por ficar parada. Não tenho ação contra elas.

O que eu vou fazer? Como salvar ambos? Como enfrentá-las? Busco por uma luz, mas só vejo trevas, bem na minha frente por assim dizer, será que alguém está passando pelo mesmo que eu? Alguém está sendo torturado desta maneira? O destino de Matt está em minhas mãos e elas estão atadas.

- Por favor Deus! - Suplico olhando o céu escuro pelo anoitecer.

- Deus? - Elas dizem juntas, são apenas três, mas ouço mais de mil vozes demoníacas saindo de suas bocas, olham em todas a direções procurando por algo ou alguém e voltam seus olhares sombrios mim -  Ele não te ouve daqui - Dizem em tom condescendente, mas estão apenas caçoando de meu sofrimento. Uma garota congelada pela dúvida e pelo medo com a vida de seu namorado e da avó dele correndo o risco por suas ações.

- Deus, se você existe, por favor, me ajude agora! - Estou aos prantos.

Olho para elas, o simples nome de Deus as incomoda. Seus olhos escurecem como se nem os tivessem, vejo o rosto da garota zumbi se deformar em uma lentidão torturante, surgem sangue e cortes em seu rosto e depois por seu corpo, seu vestido está sujo de terra e lama agora, estou apavorada e petrificada de medo por mim e por Matt, por Lucia, não posso salvá-los, não posso me salvar, estaremos mortos até o fim da noite, as lágrimas começam a rolar de forma mais intensa e elas gargalham à despeito da minha dor.

Lucia continua ali, sem nem imaginar o que está havendo, o perigo que corre. Ela dá um passo até mim e as três a acompanham.

- Você está mentindo, não é? - Diz com fúria - Responda imbecil! O que é seu está guardado! - Diz dando passos lentos em minha direção e com elas em seu encalço.

É a pior sentença que foi destinada à mim, um terror em vida, um castigo cruel por não ter dado o valor devido à tudo o que eu tinha antes. Deus não me ouve, ele quer que eu aprenda a minha lição, não há salvação, vou sucumbir à elas, não importa mais nada, apenas quero que Matt se salve e então apenas as encaro esperando o meu fim.

Tudo fica em silêncio, vejo rostos deformados, garotinhas ensanguentadas e sinto frio, está tão gelado. Será que estou morrendo? Sinto que vou desmaiar a qualquer momento. Elas ainda estão aqui, suas mãos em Lucia, num tom ameaçador e seus olhos em mim. 

- Você é uma garota morta sua vadia! - A garota zumbi diz abrindo um sorriso largo e sinto o frio subir por minha coluna.

- Ana! - Andy grita, aquele som estridente que me faz proteger os tímpanos, fecho meus olhos enquanto as luzes piscam e um vento intenso percorre onde estou como um vendaval.

Ao abri-los estamos sós, Lucia e eu. Ela chega bem perto e sinto seu hálito - um tanto desagradável - ao abrir a boca e dizer:

- Não vou perder mais meu tempo com você, sua aberração.

- Não! - Eu grito tentando assumir o controle de tudo - Você vai vir comigo, agora!

Ela parece assustada e me dá espaço. Passo por ela e a encaro esperando que me siga, ela o faz.

Abro a porta, tudo está escuro e silencioso. Ascendo a luz e meu choque é imediato. Não tem ninguém no sofá, nem na sala... Não há sangue, não há vestígios de nada.

Onde Matt está?

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