PÂNICO

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- Até que enfim! - Sua voz sai áspera, ela parece zangada.

Me levanto devagar, estou em meu sofá, em casa. Olho meus pulsos, eu os cortei mesmo? Os cortes parecem terem sido feitos há dias. Me sento com dificuldade, parece que levei uma surra. Sinto como se todos os órgãos dentro de mim estivessem revirados. O que houve. O que a Sra. Thompson faz aqui? O que eu faço aqui?

- Ei, venha, ela acordou.

Ela diz para alguém além de mim e o sinto se aproximar devagar. Meu coração dá saltos ornamentais com a ideia de ser Matt. Me lembro da sombra na cozinha, foi Matt?
Giro rapidamente antes que ele chegue à mim, estou cansada e ao virar sinto o mundo girar. O olho com atenção esperando minha visão voltar ao normal, mas não é Matt, é outra pessoa. Uma pessoa querida, mas que eu não esperava encontrar aqui, não aqui em casa.

- Sr. Luke? - Pergunto surpresa.

- Olá moça! - Ele me abre seu sorriso assustador, mas me sinto em casa, ainda que um pouco confusa - Como se sente?

- Acho que... Não sei responder a esta pergunta.

- Humpf - A Sra. Thompson parece irritada.

- Eu... Estou confusa. - Como sempre.

- Com certeza está. - Ela está realmente irritada.

- Me desculpem, mas... O que fazem aqui? - Tento fazer com que minha pergunta não saia de forma grosseira.

- E você ainda pergunta? Deveria estar mais grata menina. Eu não costumo visitar vizinhos.

- Lucia, por favor, não seja tão dura, ela passou por muita coisa.

O Sr. Luke se aproxima e se senta no sofá de frente para mim. A Sra. Thompson nos observa, ainda de pé, levando as mãos à cintura.

- Moça, você esteve dormindo por vários dias.

- Vários dias? - Olho dele para a Sra. Thompson - Mas, como assim?

- Eu te avisei menina burra. Eu te disse que deveria dormir. E o que você fez? Só facilitou as coisas para o mal - Ela encara o Sr. Luke, acho que os dois não se gostam.

- Eu não entendo... Eu não morri?

Ela solta o ar com desdém, parece desprezar todo a minha ignorância, estou tão confusa. Vários dias? Eu não morri. Isso significa que toda aquela tortura foi real de certa forma. Trevor não era o meu castigo eterno, era meu pesadelo, divertindo-se com meu medo. Então, Matt pode estar vivo ainda, meus pais podem ter sido assassinados de verdade e ele realmente pode ser um buscador de almas. Ele matou meus pais e está tentando me marcar. Ele não esperava que eu acordasse e me disse tudo o que não deveria dizer. Me levanto do sofá, é doloroso, parece que Trevor acabou com meu corpo. É como se meus órgãos realmente estivessem fora do lugar. Os encaro, preciso entender tudo melhor, preciso de respostas.

- Será que vocês podem me explicar tudo o que aconteceu?

- Pois bem! - A Sra. Thompson toma a dianteira - Você entrou no coma do sono menina burra. Está dormindo desde sexta passada.

- E que dia é hoje? - Pergunto, pois pelo seu tom de voz parece muito tempo.

- Quinta-feira. - Sr. Luke responde, ambos me encaram.

- A sua sorte é que ele... - Ela aponta com a cabeça para o Sr. Luke - Sentiu sua falta. Parece que vocês têm uma rotina bem estranha.

Olho para o Sr. Luke e espero uma explicação mais coerente.

- Você não apareceu para tomar seu Shake matinal e como sei que seu namoradinho não está por aqui, fiquei preocupado. - Ele dá de ombros como se não fosse nada. Só quero abraçá-lo, mas não sei se posso. Nunca o abracei.

- Ok. Eu acho que preciso de mais informações. - Digo meio sem graça.

- Tudo bem! - Diz a Sra. Thompson cruzando os braços. - Acontece que você foi estúpida o suficiente para tentar se matar, você ainda não entendeu nada! - Do que ela está falando? - Luke sentiu sua falta depois que não apareceu para o seu - Abre aspas - Shake matinal - Fecha aspas - E então veio me atormentar sobre onde você estava, como se eu tivesse a obrigação de saber.

Olho para ele que permanece com aquela cara de culpado, tentando fingir não se importar e ao mesmo tempo tentando explicar sua preocupação. Ele enche meu coração de ternura.

- A porta estava apenas encostada - Ele diz - Batemos, chamamos, mas você não respondeu, então entramos. Você estava caída próximo à pia e a arrastamos para o sofá.

- Você é bem pesada a propósito. - Acrescenta a Sra. Thompson. - Estamos tentando te acordar desde então. E finalmente, quem diria! Depois de todos os seus gritos desesperados, você acordou com um tapa.

- Mas... Eu vi alguém... Antes de apagar. Vindo em minha direção.

Os dois se olham, mas não dizem nada. A conversa chegou ao fim.

*****

Comi tudo o que a Sra. Thompson cozinhou, o Sr. Luke foi embora, os dois não se suportam pelo visto. Era noite e eu já havia dormido demais, então tomei uma decisão repentina. Voltar à terapia. Talvez eu encontrasse mais respostas.

Estou no estacionamento do hospital, será que foi uma boa ideia? Tento tomar coragem, já sei o caminho, talvez os pacientes me dêem alguma resposta. Talvez eu tenha alguma notícia sobre Claire, se sobreviveu, posso visitá-la, ajudá-la a passar por isso.

Entro e sigo diretamente para o auditório. Tudo calmo e quieto como sempre. Penso sobre o que a Sra. Thompson disse, eu estive em coma, o coma do sono e ela aprendeu a viver com seus pesadelos. Talvez eu devesse fazer o mesmo, foi o pior pesadelo da minha vida, toda aquela dor e tormenta. Não quero passar por isso nunca mais.

Chego ao palco e avisto Bob, aquele senhor um tanto magricela e mais algumas pessoas sentadas no círculo. E Claire... O quê?

- Claire? - Digo indo em sua direção e ela se levanta para me cumprimentar. - Como...

- Eu sei - Me interrompe - Dizem que é um milagre, mas não acredito nisso. Não acredito neles, jamais acreditarei.

Seu pescoço mostra apenas uma linha fina, assim como meus pulsos. Olho para eles e vejo Claire olhar também.

- Semana difícil - Digo.

- Bem vinda ao inferno querida. - Diz apontando para o próprio pescoço.

Me sento na cadeira vazia ao seu lado. E fico por dentro das novidades. Parece que depois do ocorrido, teremos um novo terapeuta. O Dr. Garry sumiu e a julgar por seu pânico no dia, eu acredito que ele não quer fazer parte disto nunca mais. Então nos sentamos e aguardamos o novo doutor.

Evitamos tocar no assunto, mas Claire também teve uma semana difícil, também ficou desacordada por muito tempo e acabou dando lugar à pesadelos terríveis. Então decido conversar sobre o assunto, descobrir o que temos em comum e como ela foi obrigada a fazer aquilo. Mas antes que lhe pergunte somos interrompidas por uma voz. Uma voz que me faz entrar em pânico.

- Boa noite à todos, sou o Dr. Lucian Mark e serei o novo terapeuta de vocês.

Ele me encara com atenção sorrindo e sabe o que faz. Não sei se corro ou desmaio. Seu nome é uma farça, ele é uma farça. Seu sonho de ser médico está se realizando. Não existe nenhum Lucian Mark, é Trevor Bayne. Ele está aqui. Que Deus nos ajude.

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