Vejo o mal materializado em minha frente e ninguém parece se importar. Ninguém o conhece? Ele me olha sorrindo, dá para ver seu contentamento, é palpável. Sinto a bile subir à minha garganta. Por um instante parece que estamos sós, ele e eu, em um universo paralelo. Ele está aqui por mim ou por todos nós? Somos um prato cheio para sua criatividade macabra. Estou sem ação, não sei se grito, corro ou digo à todos que ele é um assassino. Bom, essa última opção está fora de cogitação, afinal, como provar? Talvez alguns até acreditem em mim aqui, mas a maioria vai dizer que estou louca. O que dizer? "Ah, gente ele é um assassino, uma velha amaldiçoada, uma garota zumbi e uma menininha ensanguentada me contaram em suas visões". Mas que... Merda! Ok, mantenha a calma Ana. Ele quer jogar, é disso que tudo se trata: um jogo. Um jogo de vida ou morte e que até agora Trevor Bayne ganhou todas as rodadas.
- Com licença doutor? - Ele nem precisa se virar, estava me encarando todo esse tempo mesmo - Não estou me sentindo muito bem, posso me retirar? - Meu coração já está disparado.
- Ora Ana, mas por quê? Vamos nos divertir muito aqui hoje. - Ele é sarcástico ao extremo.
- Como sabe o nome dela? - Claire pergunta intrigada, isso Claire!
- Eu sei o nome de todos vocês Claire. Suas histórias me motivam - Ele parece discursar para o cargo de presidente dos Estados Unidos da América, meu estômago está revirado. - Elas me emocionam, me inspiram, me dão novas ideias e conceitos de mundo. Vocês são o alimento da minha alma. - Diz abrindo um largo sorriso à todos e todos - menos eu - sorriem de volta.
- Me desculpe doutor, mas realmente preciso ir embora.
- Ok - Ele cerra o punho e franze o cenho, estou estragando seus planos - Tudo bem Anastacia, pode ir. Te acompanho até lá fora.
- Não é necessário. Obrigada.
- Ah minha querida Anastacia, é necessário sim. - Ele dá uma gargalhada assustadora - Bom turma, daqui a pouco eu volto. Vamos queridinha?
Me levanto, mas sinto não ter firmeza nas pernas, sempre fui medrosa, mas hoje estou de parabéns. Até meu cérebro está congelado de medo.
Ele me estende o braço para eu agarrá-lo e não tenho escolha a não ser jogar com um psicopata.
Toco em seu braço por cima do jaleco branco de doutor, é como uma pedra de gelo, ele apoia a sua mão sobre a minha e até minha alma se congela. Esse cara parece ter saído de um necrotério. Ou frigorífico. E ao sairmos do palco pelos bastidores, estamos a sós em frente às escadas.
Ele me solta rispidamente e minha temperatura começa a voltar ao normal. Tento tomar a coragem de que preciso:- Por que está aqui seu maldito? - Tento parecer ameaçadora, mas minha voz sai falha.
- Olha a boca mocinha - Ele me estende o dedo indicador em sinal de repreensão - Seus pais nunca te ensinaram bons modos? - Ele faz uma pausa - Ah, me lembrei, você não tem pais. - E sorri contente.
- Eu vou te desmascarar, acredite em mim Trevor Bayne! - Falo gaguejando, quem vai me levar a sério?
- Ah, eu acredito minha querida - Seu tom de sarcasmo é assombroso - Só não acredito - Aproxima seu rosto do meu - Que Vai conseguir garota morta - Seu tom de voz muda, agora é áspero e entre dentes.
- Onde está Matt? - O medo da resposta é ainda maior do que o medo que estou sentindo.
- Já te disse - Ele se afasta de mim - Não estou com ele. - Parece que vai se virar, mas para de lado para mim e me observa - Sente falta não é querida? - Como? - Das noites bem dormidas ao lado do... - Ele imita a voz de uma criança, segurando as mãos tentando imitar algum personagem apaixonado de desenhos animados - Querido Matt! - Ele se vira para mim novamente com a aparência dura - Ele atrapalhava meus planos, gosto de você assustada e desesperada - Coloca uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha. - Essa semana foi incrível não foi? Tudo o que pude fazer com você... - Ele olha para cima como se estivesse vendo a cena - Foi, ah... Encantador. Mal posso esperar para brincar com você de novo hein. - Me dá uma cotovelada "amiga".
- Me mate logo Trevor. Anda, o que está esperando? - Estou pronta, é agora.
- Ah baby - Seu tom torna a congelar meu corpo - E quem disse que vou te matar aqui, agora? Não minha princesinha - Chega o mais próximo que pode de mim, sinto seu hálito que fede a morte e enxergo as trevas em seus olhos - Você encontrará o final do seu destino quando eu quiser - Parece que meu coração vai sair pela boca - Até lá querida Ana, você vai implorar pela morte e ela não chegará.
Ele segura meu rosto entre as mãos de repente e com força, sinto que vai esmagá-lo. Minha boca se abre de maneira involuntária e parece que ele vai me beijar. Deixa a sua boca de frente para a minha e suga algo. Neste momento sinto como se estivesse sugando o que há de vida em mim. Seguro seus punhos tentando me livrar e vejo minha pele mudar de cor, se torna pálida e gelada e surgem linhas finas, acho que veias e vazos sanguíneos, é como se minha pele estivesse ficando transparente. Ele mentiu, vai me matar e me matar assim. Minha vista fica turva e avisto ao longe seus olhos em um tom vermelho fogo. Ele é pura treva e maldição e dor e sofrimento e morte. Ele vai acabar comigo, está fazendo isso. Posso sentir, posso sentir minha alma ir embora. E então ele me solta e não consigo sequer me manter em pé. Caio feito idiota no chão quase desmaiada, não consigo mover meu corpo e ele se ajoelha ao meu lado e começa a sussurrar em meu ouvido:
- Sua alma é minha Anastacia, você está marcada. E depois de enfrentar o seu destino, o inferno parecerá o céu para você. - Se levanta limpando o jaleco e começa a cantar enquanto volta para o palco do auditório.
- Ela virá te buscar...
Você não irá escapar...E eu fico aqui, imóvel, inerte, quase sem vida. Sem um mínimo de força para levantar um braço. O que ele fez comigo? Ele não serve a um senhor das trevas. Ele é o próprio diabo. E medo é pouco para descrever meus sentimentos.
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DARKNESS - Livro I
Mystery / ThrillerNão reclame da sua vida, perto desta, ela parecerá o céu.. Será possível fugir da escuridão? "Todos temos trevas em nós". Copyright Lylah Hartzler Carrillo, 2017 © All rights reserved