ASSASSINATOS

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Acho que já se passaram ao menos uns vinte minutos. Ninguém apareceu, veio até mim. Ainda estou aqui, caída ao chão, quase sem vida. Sinto que agora minhas forças estão se recuperando, consigo me mover, mas ainda não consigo me levantar. A custo, consigo levantar um dos braços e vejo minha pele, está transparente e consigo ver cada veia do meu sistema nervoso. O que ele fez comigo? Não tenho o mínimo de força possível. Preciso sair daqui, me recuperar, preciso enfrentar tudo isso, mas nem sei se vou sobreviver. Ele está aqui fazendo da minha vida um inferno, dentro e fora dos meus sonhos.

*****

A hora da terapia acabou. E todos começam a sair. Agora vem a parte estranha, vejo sorriso e satisfação no rosto dos pacientes, Trevor os enganou bem, mas essa ainda não é a pior parte, esta vem agora. Todos passam por mim como se não estivessem me vendo. O que está acontecendo? Um a um, caminham, mas eu não existo para eles e Trevor, ele passa olhando no fundo dos meus olhos e sorrindo como nunca enquanto abraça Claire e a conduz até a saída lá em cima. Será que ele vai voltar? Sinto meus movimentos voltarem aos poucos, mas ainda não são suficientes para eu conseguir me levantar. É uma sensação horrível.

Sinto um toque frio em meu braço e com muita dificuldade ergo a cabeça para cima e tento enxergar o dono desse toque. É Andy. O que ela faz aqui? Há quanto tempo ela não aparece.

- Andy - Tento ser o mais audível que posso, mas ela me pede silêncio levando o indicador aos lábios.

Ela segura a minha mão e tudo evapora.
Estamos na casa de Matt, reconheço pelo papel de parede. Ela me conduz até o quarto de seus pais. Eles já estão mortos e Trevor os observa animado. Então segura com força a mão da mãe de Andy e parece que ela queima, vejo a fumaça subir, mas não está queimando. Não exatamente. Ele a solta e vai para o outro lado da cama segurar a mão do pai. Me aproximo com medo e observo a mão dela. Ele marcou sua palma, como quando marcam o gado, existe um sinal, na verdade uma letra:

"L"

L? Ele marca as vítimas, ele me disse a verdade. Lúcifer, ele marca as vítimas para Ele. Ao terminar de marcar o pai ele vem em minha direção, mas me atravessa, à mim e à Andy que segura minha mão aflita.
Ele segue no corredor e nós em seu encalço. É logo quando avisto Andy caída, próxima à a mesinha que tem um espelho na parede. Sua cabeça sangra e vejo as armas que ele usou caídas próximas à ela. Acho que ele pensou que ela estava morta.
Seguimos reto e avisto Matt. Ele segura sua mão, tenta marcá-lo, mas algo parece estar errado. Ele aperta sua mão mais uma vez, nada acontece. Trevor está confuso. Mas eu sei o motivo, Matt está vivo, ele e Andy. Trevor volta para o corpo de Andy e tenta fazer o mesmo, nada. Exatamente por que eles estão vivos, mas ele que se acha o grande sabedor de todas as coisas, não sabe checar um pulso.

Ele se levanta e a encara, esboça um sorriso que me deixa confusa e então caminha pelo corredor e vai embora. Ele desistiu assim tão fácil? Aposto que não.
Tudo evapora e agora estou em outro lugar. Folhas, sangue, meu corpo caído. O acidente dos meus pais.
Trevor caminha até eles, quero correr e impedí-lo, mas não consigo.
Ele segura a mão da minha mãe - por favor não - e a marca. Depois vai até meu pai, faz o mesmo, mas a marca desaparece. O que isso quer dizer?
Ele vai até meu corpo e me marca ao mesmo tempo que sinto minha própria mão queimar e enxergo um L nela. Ele me marcou, mas eu sobrevivi ao coma e é por isso que ele está atrás de mim, de nós, Andy, Matt e eu. Não era para sobrevivermos, era para termos morrido e ele sabe disso. Ele precisa de nossas almas, precisa para Ele, mas não será tão fácil assim nos pegar.

Abro meus olhos, estou sentada nas escadas que dão acesso ao auditório, me sinto melhor, mais forte, mas com medo. Não voltarei a essa Terapia nunca mais na minha vida. Começo a sentir pena de quem está com Trevor Bayne sem ter a mínima ideia do que ele é capaz. Acredito que ele está aqui buscando novas vítimas, "Suas histórias me alimentam", lembro. Somos sua fonte de vida, ele nos assusta, nos instiga, nos motiva ao terror ou à morte e isso o mantém vivo eternamente, mas como deixar de sentir medo? Como derrotá-lo?  Todos sentimos medo e ele sabe como aterrorizar alguém ao extremo. É uma batalha difícil de ganhar. Queria que Matt deixasse mais pistas, que me desse sua luz. E queria um belo Milk Shake do Sr. Luke agora para revigorar minha alma, mas a essa hora a lanchonete já fechou.

Entro no carro, quero ir para casa. Mas e agora? Como vai ser? Se eu durmo, ele me aterroriza, se não durmo entro em coma e isso é ainda pior do que ter apenas pesadelos.
Preciso enfrentar tudo, deixar de ser tão medrosa como sempre fui. Preciso descansar para reunir forças e enfrentar o mal.

*****

- Eles merecem - Ele diz.

- Concordo - Ela responde.

Ele a instrui, ela sabe o que fazer. Só precisa fazer a mistura certa, ela quer que eles sofram, então nada de causas indolores. Em uma jarra ela coloca suco de laranja, dez sachês de veneno de rato dissolvidos, água sanitária e desinfetante. "É a mistura perfeita!", pensa. Coloca o máximo de laranja que pode para disfarçar o mau gosto, precisa ser ágil.

- Pessoal, está aqui. - Coloca a jarra em cima da mesa do parque. A essa hora da noite ninguém passa por aqui. - Vocês já sabem como funciona. Quem matar a jarra primeiro é o vencedor e eu serei seu prêmio. Coloquei um pouquinho de álcool para não se tornar uma brincadeira de adolescentes.

Eles não perdem tempo, começam a beber apesar das caretas sobre o gosto estranho. Dane-se, eles a querem. Quem será o campeão? Não dá tempo, antes mesmo de terminarem as bebidas, começam a babar e espumar pela boca. Em poucos minutos estão caídos se debatendo e vomitando sangue.

Ela observa satisfeita, satisfeita ao lado dele, Trevor Bayne, ele conseguiu mais uma vez.

Acordo assustada, Trevor Bayne fará novas vítimas. Eu preciso impedir, mas quem são eles? Quem é ela? Como impedir um monstro psicopata?
Me levanto depressa e ouço uma voz ecoar pela casa.

- Quem procura, acha. Isso é só o começo garota morta!

É a voz dele, ele tudo sabe, tudo vê. Eu estou perdida.

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