PERDÃO?

114 42 21
                                    

- Matt? - Espero por uma resposta - Por favor, não!

Entro correndo, deixando Lucia para trás. Procuro-o por todos os cômodos e volto à sala depois de alguns minutos. Lucia ainda está na porta, não entra, apenas me encara.

- Ele... - Digo mais para mim do que para ela - Sumiu! - As lágrimas escorrem.

- Humpf - Diz com desdém - Já não era sem tempo.

- Como pode dizer isso? - Falo rispidamente - Ele é o seu neto! Você não sabe o que houve. Ele estava mal, aconteceu algo com ele. Precisamos chamar a polícia, precisamos procurá-lo!

- Não! - Ela grita - Não se atreva a se aproximar do meu neto novamente, menina burra, ele finalmente está no lugar certo e você - Aponta para mim - Não irá atrapalhar a vida dele novamente ou você verá que nem chegou perto das trevas ainda!

- O quê? - Digo sussurando, sinto medo de suas palavras.

Ela bate a porta com força e estou sozinha na escuridão, chorando e com medo.

- Matt, onde você está?

*****

São onze e meia da noite, me atrevo - depois de muita luta interior e um pouco de coragem, quase nada - a ir à casa de Lucia. Bato na porta e me assusto quando ela abre rapidamente. A Sra. Thompson me encara, parece me odiar.

- Desculpe o horário Sra. Thompson, mas por favor, se sabe algo sobre o Matt, precisa me dizer, estou desesperada. Não pode estar calma com um neto desaparecido.

- Ele não mora aqui menina! - Ela diz com certeza e fico irritada.

- O quê?

- Matt não mora aqui, essa casa não é dele.

- Sra. Thompson... - Será que o choque foi tão grande que ela perdeu a memória? - Matt, seu neto, está morando com a senhora desde quando os pais dele morreram e Andy está no hospital. Preciso que se lembre, por favor!

- Me lembrar? Me lembrar de quê? Nunca me esqueci de nada - Ela ergue seu dedo enrugado me repreendendo - Eu sei muito bem quem é meu neto e já te disse, ele não mora aqui, ele não pertence a esse lugar, agora com licença! - Ela fecha a porta na minha cara.

E agora? Eu apenas sonhei? O que eu faço? Matt existe de verdade ou foi apenas um sonho? O que é real para mim? 

Quero chorar, mas tenho que provar que ele existe. Volto para casa, pego as chaves do carro e já sei para onde devo ir. Não sei se estou dentro dos limites de velocidade, mas pouco me importa, eu preciso saber se é real, se Matt esteve comigo.

Como tudo isso foi acontecer? Minha última lembrança é a de estapear seu rosto tentando reanimá-lo, eu preciso encontrá-lo, achar a ele ou a seu corpo - sinto uma dor forte na boca do estômago -, seu corpo, não é possível que ele foi arrastado por aí e ninguém viu, logo, ele acordou, se lembrou de algo sobre o assassino e foi atrás.

Eu sei, a ideia é bem idiota, ele teria saído pela frente, eu o teria visto. Mas prefiro criar uma fantasia em que ele está bem e saiu de alguma forma, escondido oara não me preocupar enquanto decidiu fazer justiça com as próprias mãos.

Isso! Ele sabia de quem era a risada, ele conhecia o assassino, então ele desmaiou, a emoção deve ter sido forte, saber que conhecia e talvez fosse até amigo da pessoa que lhe fez tanto mal, deve ter sido um choque e talvez ele tenha problemas de convulsão, eu não sei seu histórico de saúde. Preciso focar nisso, preciso acreditar que foi assim: Matt lembrou-se de uma verdade terrível que causou sua convulsão e o deixou inconsciente, então ele acordou e foi atrás de pistas ou do assassino, talvez tenha ido até a polícia, fica um pouquinho longe daqui.

Chego no estacionamento e vou direto a sala que me interessa.

- Ei moça! Você não pode entrar aí! - Ouço a enfermeira me chamar, mas a ignoro.

Ela me segue gritando, não me importa, entro na ala pediátrica e dou de cara com o "doutor estranho".

- Aonde pensa que vai senhorita?

- Eu tenho que ver uma pessoa - Digo tentando passar por ele de qualquer maneira.

- Não estamos em horário de visita e que eu saiba você não tem familiares aqui.

- Desculpe doutor! - Ouço a enfermeira chegando por trás - Vou chamar a segurança - E sinto-a partir.

- Qual é doutor? - Tento parecer firme - Você sabe quem eu quero ver, eu só preciso vê-la um momento, o irmão dela está aqui? Está aqui com ela? É muito importante, por favor!

Ele olha no fundo dos meus olhos e fico incomodada.

- Sinto muito, mas não será possível, você não é familiar da paciente - Ele olha para além de mim, faz sinal que sim com a cabeça e volta a me olhar.

- Dane-se! Eu vou vê-la mesmo assim.

Sinto quando mãos fortes me seguram e grito:

- Andy! - Grito esperando que ela apareça - Me soltem! - Ordeno tentando me libertar - Vão para o inferno!

Consigo escapar e corro para o quarto de Andy deixando-os para trás, tenho pouco tempo. Ela está aqui, ela é real, então Matt também é e provavelmente precisa de mim. Me aproximo dela, toco seu braço esperando que ela reaja como anteriormente, porém nada acontece.

- Por favor Andy, me dê um sinal! - Imploro.

Seguro sua mão, tem algo aqui, é um pedaço de papel, pego-o e leio:

O Perdão é o Primeiro Passo“.

- O que isso quer dizer? - Pergunto para mim mesma, será a letra de Matt? O conheço tão pouco, agora sei disso.

Andy segura meu braço com força - seus olhos negros como as trevas que me perseguem - e diz:

- Não há salvação, ele tudo sabe, tudo vê, da escuridão você não vai escapar, você é uma garota morta sua vadia!

Sou agarrada por mãos desconhecidas.

- Peguei - Ouço uma voz masculina.

- Coloque-a para fora - Diz o médico esquisito e vejo um ar de satisfação em seu rosto.

Os dois seguranças me seguram pelos braços e sinto meus pés saírem do chão, Andy está dormindo, como se nada tivesse acabado de acontecer entre nós, vou lutando sem me dar por vencida até me jogarem porta afora e eu cair de quatro nas escadas.

- Eu vou voltar - Digo ameaçadora me levantando.

- Eu adoraria que voltasse - Diz o doutor estranho surgindo entre os dois seguranças que agora vejo, são gigantes - Você merece ser estudada senhorita do coma. - Sua voz é sombria e sinto a bile subir em minha garganta.

- Ainda não acabou! - Aponto-lhes um dedo tentando intimidá-los, mas eu estou intimidada.

- Com certeza não - Diz o médico quando lhe dou as costas e volto para o carro.

Entro, ligo o carro, engato a primeira e saio devagar, estou tremendo. Olho pelo retrovisor o hospital ficando distante, sumindo no horizonte, viro na primeira esquina e estaciono, preciso me acalmar.

- Que porra foi essa Ana? - Grito desabafando todo o meu desespero.

De uma coisa eu sei, Matt é real e agora tenho que encontrá-lo, não vou descansar. Será que ele saiu por livre e espontânea vontade ou... - o medo toma conta dos meus pensamentos - elas o levaram? Não, por favor não. E se ele estiver morto? E se elas o levaram? "Ele tudo sabe, tudo vê", talvez "Ele" seja o assassino e as enviou a mim porque sabia que eu falava com Andy e elas levaram Matt porque ele se lembrou de algo, algo que poderia denunciar esse desgraçado. Quanto mais penso nisso, menos parece plausível. "E se fosse possível?", penso. A frase que pedi para Matt refletisse sobre, devo fazer o mesmo agora. Pelo visto, tudo está se mostrando possível e isso me aterroriza.

- Deus, o proteja por favor, não deixe que elas o levem.

Digo em súplica e no momento seguinte penso "O que importa?", Deus não me ouve mais, "não exite Deus aqui". Estou por minha conta e encontrarei Matt, vivo ou... Não, vou encontrá-lo e sei onde procurar a primeira pista.

DARKNESS - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora