ESPERANÇA MORTA

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- Por que tão triste moça?

O Sr. Luke percebe que há algo errado sempre que alguém passa pela porta da lanchonete, não sei como ele faz isso.

- Não é nada. - Tento disfarçar.

- Olha! - Ele diz como se a palavra contivesse mais de cinco sílabas. - Não minta para o Sr. Luke moça, ele tem um sexto sentido incrível, sabe quando uma moça bonita não está bem.

- Você sempre fala de si na terceira pessoa? - Sorrio em deboche.

- Sim, me sinto mais fantástico. - Ele sorri estufando o peito e sinto aquele arrepio de sempre, mesmo ele sendo tão legal, ainda parece assustador, deveria tirar essa barba sombria.

- Você já teve esperança Sr. Luke? Tipo, você ficou feliz achando que algo daria certo, mas deu terrivelmente errado?

- Sempre. - Ele dá uma gargalhada assustadora com uma tossida no final, esse cara deve ter uns cem anos. - A vida é assim moça, ela nos derruba sempre, cabe a nós levantarmos, sacudirmo a poeira e voltarmos a caminhar.

Olho para meu Milk Shake intocado.

- Por que está aqui Sr. Luke? Por que decidiu ser dono de uma lanchonete? O senhor parece tão sábio e inteligente, eu não entendo. - Realmente não.

- Todos temos um destino moça, seja ele bom ou ruim. Cada um tem o fim que merece. Eu escolhi este. - Ele abre os braços apresentando o lugar com orgulho. - Pode não parecer grande coisa, mas eu ouço as melhores histórias e isso é o que me satisfaz. Cada um de vocês que entra aqui, sempre deixa um pouco de vida. Suas histórias, risos e experiências, tudo isso é o que me mantém aqui, fora isso, eu não tenho mais nada. - Ele se aproxima de mim com seus olhos negros - Nada como um bom café - Ele olha para o meu copo - Ou um bom Milk Shake para dar um jeito em tudo - E então pisca para mim.

Não sei o que dizer, mas de repente tomo meu Shake me sentindo bem melhor. Ele sabe o que diz.

*****

Eu bem que poderia trabalhar na lanchonete com o Sr. Luke - penso caminhando distraída até o lago - Ouvir histórias, ver que existem vidas mais tristes que a minha, sei que pode ser horrível pensar assim, mas é motivador, talvez eu não ficasse tão deprimida se conhecesse pessoas com vidas mais complicadas. Talvez eu pudesse ajudar de alguma forma! Com conselhos, sei lá. Eu gostaria de ser a luz em meio à escuridão da vida de alguém. Assim como Matt foi minha luz ontem. Não quero mais tomar florais, tenho certeza de que foram eles que me apagaram e não me deixaram acordar. Se não fosse Matt, aque pesadelo jamais teria acabado.

Estou preocupada. Os pesadelos estão ficando cada vez piores. Antes eu conseguia dormir uma hora ou duas, mas agora, tenho medo de fechar os olhos, sempre que fecho-os, vejo algo assustador e nem sinto mais que estou dormindo para ver isso. Ontem, no banco, parecia real, muito real. Realmente estou preocupada.

Caminho até o lago Oneida, gosto de admirá-lo. Às vezes, fico em pé no coreto, debruçada sobre o parapeito, mas agora estou aqui, sentada na grama - morta, diga-se de passagem - e olhando suas águas obscuras. Ele anda meio sombrio ultimamente, águas turvas, não me lembro de serem assim, ele era claro e cristalino, dava para ver a vida nele. Bem, deve ser a poluição, se passaram três anos desde que nos vimos. De qualquer forma, agora ele combina comigo.

- Sombrio - Digo.

Acendo um cigarro e admiro a água, parece um lago negro agora, esse seria um nome melhor para ele. Ainda assim, fico pensando como gostaria que essa água limpasse minha alma e levasse embora todos os meus sonhos ruins, mas minha esperança morreu, foi uma maravilhosa noite dormida, mas pelo visto foi a única.

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