MORTE - Parte III

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- Garota morta, garota morta, garota morta, garota morta, garota morta, garota morta, garota morta, garota morta... - Acordo com as vozes das crianças cantarolando essas palavras.

Onde estou? Me lembro de estar no consultório com Trevor Bayne, algo sobre. Meus... Pais? Meus pais foram mortos, é por isso que não me lembro direito do acidente, era para eu ter morrido junto com eles, mas algo deu errado. Trevor estava atrás de mim e as almas estavam tentando me avisar, me mostraram tudo o que eu deveria saber, como ele surgiu na vida de cada uma delas. Mas por que eu? Por que elas? Como ele escolhe suas vítimas? 

Estou zonza, vejo tudo girando. Olho ao meu redor, estou presa a uma maca, no meio de um jardim, as crianças me giram como se eu fosse um carrossel e ficam cantarolando que sou uma garota morta. Eu sei que sou, fiz a pior burrada da minha vida acreditando que não haveriam consequências. Apenas pensei em acabar com o meu sofrimento e agora estou no inferno sendo punida pela eternidade. A maca para bruscamente. O que houve? Não tenho uma boa visão de onde estou. Ainda vejo tudo girar. Fica silencioso de repente.

- Olha, olha, o que temos aqui? - Não o vejo, mas reconheço de imediato sua voz. - Do que brincaremos hoje querida Ana? - Ele surge ao meu lado, se abaixando para pairar seu rosto sobre o meu - Sabe, de todas as pessoas que conheci... Que persegui... Atormentei... Matei... Você foi quem mais me instigou... Sempre curiosa, vingativa, irada, bela... Você é um colírio Ana... Seu sofrimento me alimenta. - Ele acaricia minha testa em direção aos cabelos com o polegar.

- Por que você faz isso Trevor? - Digo entre dentes, não consigo me mover.

- Eu encomendo almas Ana, as marco e o sofrimento delas me mantém vivo, sadio.

- Do que você está falando? - Não consigo entender.

- Bom, eu vou lhe explicar melhor. Eu recolho almas do mundo todo - Ele se levanta como se estivesse palestrando - E as mato ou as conduzo à morte - Ele me encara, está falando da burrice que eu fiz - Quanto mais almas, mais satisfeito ele fica.

- Ele? Quem é Ele? - Existe alguém pior que Trevor Bayne?

- Ele tem vários nomes querida. Delombo, Zales, Asmodeus, Hades, Belzebu, Satanás, Lúcifer, Senhor das Trevas... Darkness. Depende da cultura e da origem. Ainda acha que o diabo não existe? - Ele sorri maleficamente - Vocês humanos, não merecem nada do que tem. - Ele olha para céu e aponta para lá, como se tivesse algo além dele - Ele, Ele os fez e deu tudo à vocês, mas ainda assim vocês são pobres e fracos de espírito - Nisso ele tem razão, eu fui fraca. - Então eu sou o justo, que marca os indignos e dá o que eles merecem realmente. Eu sirvo ao Senhor das Trevas - Ele estufa o peito - Com amor e respeito e em troca, faço o que quero, com quem eu quero.

Ele se aproxima de mim novamente, seu nariz colado no meu. Em um dia eu achava que sabia tudo da vida e no outro eu não sei mais nada. Ele me apavorou o máximo que pôde e me fez chegar até aqui, ele me conduziu à morte e sou mais uma alma marcada.

- E Matt? - Surge a dúvida. Ele se levanta bruscamente.

- Ah, o garoto maravilha. O amor da sua miserável vida. Não estou com ele se é o que quer saber, aliás - Me aponta o indicador - Não me importo com ele, ele estava atrapalhando meus planos, então enquanto ele estiver longe, melhor para mim.

Ele está vivo! Meu Matt está vivo e em busca do assassino. Ah Matt, eu posso ter feito a maior desgraça com a minha vida, mas saber que você está bem, me conforta de uma maneira inexplicável. Meu querido Matt vai conseguir salvar a Andy. 

Meu coração se enche de alegria, - e meu rosto denuncia - mas por pouco tempo. Sinto a mão de Trevor penetrar minha carne, eu não sei, não sei se esse inferno é real ou se ele disse apenas o que eu queria ouvir. Não vou reencontrar Matt nunca mais e serei torturada e atormentada sem descanso pelo meu maior medo, o assassino dos pais de Matt. E agora? Como acreditar em algo? Ele disse que meus pais foram assassinados, mas sou apenas eu querendo confortar meu coração, querendo me lembrar de algo, tentando criar a ilusão de que tudo à minha volta está bem, Matt, Andy, as almas assassinadas.

A dor é infinita, sinto-o revirar os órgãos dentro de mim, como se procurasse algo em uma mochila cheia. Ele puxa o que parece ser o meu intestino e a dor é indecifrável. Ele gargalha como se fosse uma criança feliz com seu brinquedo novo e joga os pedaços em cima de mim. E eu apenas choro, choro como uma criança desamparada, sofrendo sozinha. A quem clamar agora? Não estou recebendo nada mais do que eu mereço. Só queria reencontrar meus pais novamente e pedir-lhes perdão, perdão por toda minha rebeldia e desrespeito, eles apenas queriam o meu bem, minha felicidade. Meus amigos, como eu fui horrível com vocês, eram apenas brincadeiras, éramos felizes daquele jeito, eu quis crescer e ser adulta rápido demais. Como eu gostaria de abraçá-los agora, Michael, Angélica, ouvir seus risos, suas piadas idiotas. Eu tinha uma vida maravilhosa e eu, apenas eu não enxerguei isso.

Ele gira a maca com força e ela dá uns quatro giros até que ele a detém com uma única mão. Sou o parque de diversões dele e eu sinto tanto por isso. As lágrimas banham meu rosto e eu só quero acreditar que isso é um sonho, que acordarei a qualquer momento, mas não, meus pesadelos eram fichinha perante esse tormento. Meu Deus, me perdoe, por tudo.

"Os suicidas não herdarão o reino dos céus". 

Lembrei do que aquela vizinha disse quando pensou que eu tentei me matar no lago. Imagine o que a vizinhança deve estar falando agora? Agora que eles têm razão, sou uma suicida e esse é o meu destino.

- Acha que acabou gracinha? - Ele me desperta dos meus temores - Eu tenho muito mais para você garota morta.

Ele pega minha mão direita, segura os dedos mínimo e anelar em uma mão, os dedos médio e indicador em outra, e os puxa em direções opostas causando uma dor infernal ao quebrá-los com voracidade. Já não sei qual dor é a maior de todas, estou experimentando um pouco a cada hora.

Eu grito o mais alto que posso, quase estourando minhas cordas vocais e sou surpreendida com um tapa na cara, tão forte e ardente que faz minha cabeça virar com força para o lado e ao voltar e encarar o agressor, não é mais ele, é outra pessoa.

- Sra. Thompson?

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