JOGANDO

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*No Início*

- Por favor, sente-se filha. - Meu pai, o Sr. Certinho pede com voz apaziguadora. Lá vem.

- Tá bom! - Respondo irônica e me sento no sofá de pernas cruzadas.

- Querida - Ele se senta na poltrona e minha mãe fica em pé ao seu lado. O que está acontecendo? Com certeza é bronca, afinal eu sou a garota problema não é mesmo? E tudo isso é um saco. - O diretor da escola ligou, ele disse que você não vai para a escola há dias, mais necessariamente duas semanas. - Reviro os olhos - Ana, você sai daqui todos os dias com o uniforme e a mochila, para onde você vai? - Ignoro a pergunta cruzando os braços e começo a olhar em direção oposta à eles.

- Filha... - Lá vem ela - Por favor, nos diga o que está acontecendo. Você não era assim Ana, mudou de uns tempos para cá. Sabe... - Pigarreia - Angélica e Michael disseram que você não está mais andando com eles. Com quem você está andando Ana? Com quem? - Sua voz em súplica me dá nos nervos.

- Quem lhes deu o direito de investigarem a minha vida? - Grito ao me levantar e encará-los - Angélica, Michael, como puderam se intrometer? Vocês não têm o direito de interferir no que faço, estão entendendo?

- Filha... - Ela começa a chora e isso me irrita muito.

- Filha nada! - Estou histérica. - Estou cansada de vocês, de todos vocês. Eu apenas fiz amigos novos e pronto!

- Anastacia... - Meu pai se levanta, mas sua voz é a mesma voz idiotamente calma de sempre - Respeitamos suas amizades e escolhas minha querida, mas isso não está te fazendo bem algum. - Volto a cruzar os braços - Meu amor, nós te amamos muito, só queremos o seu bem. - Ele retira seus óculos, os olhos marejados, o que há com eles? - Por favor Ana, nos deixe ajudá-la.

- Eu não preciso de ajuda pai! - Digo ríspida - Quero apenas que me deixem em paz, que me deixem fazer minhas escolhas e se eu me ferrar - Já me ferrei - Serei eu, entende? Apenas eu a pessoa machucada na história.

- Filha - Lá vem ela... De novo. - Só queremos ter nossa princesinha de volta.

- Ela não vai voltar se é isso o que vocês querem, ela está morta e enterrada. Eu a enterrei há duas semanas. 

Fim de conversa, subo para meu quarto, quero deitar, apagar as luzes e ficar no silêncio aconchegante daqui. Penso em tudo o que disse ao me sentar na cama, deveria pedir desculpas pela minha grosseria, eles não merecem uma filha como eu, aliás eu não os mereço. Eu deveria descer agora mesmo e me desculpar. O que há comigo? Sim, eu tenho motivos de sobra para sentir raiva, raiva de alguns amigos, de alguns colegas, mas e deles? Eles me tratam como uma garotinha, mas muitos pais fazem isso, estou em uma fase de transição e eles não sabem como lidar. Talvez eu devesse ajudá-los. É isso o que tenho que fazer.

Desço rapidamente, eles ainda estão no mesmo lugar, minha mãe sempre chorando e pela primeira vez, não estou me sentindo irritada com isso e sim, culpada.

- Pai, mãe... - Respiro fundo - Me desculpem - Sinto que eles voltam a respirar normalmente agora - Olha, eu sei tá bom? Vocês não têm culpa de nada, eu que estou passando por uma fase complicada. Só peço que confiem em mim e em minhas escolhas e eu prometo pegar leve no resto.

- Confiamos em você filha - Meu pai fala se aproximando de mim junto à minha mãe - É por isso que conversamos, respeitamos suas escolhas, só queremos evitar sofrimentos por más escolhas, nós te amamos muito.

- Eu também amo vocês. - E os abraço ao mesmo tempo que sou abraçada de volta, um abraço quente e acolhedor que me faz esquecer de tudo. Eu os amo.

*****

- Olha quem ressurgiu das trevas! - A ironia de Samuel chega a me indignar de uma maneira, que quero apenas acertar um soco no meio de seu nariz.

- É, eu precisava de um tempo para mim. - Respondo com cinismo.

- Eu imagino, você sumiu depois da festa, pensei até que estivesse em algum retiro espiritual ou coisa assim. - Ele está jogando, garoto infeliz!

- De certa forma, eu até estava. - Mostre força Ana. - Estive estudando defesa pessoal, como não se drogar em uma festa de garotos idiotas e como castrar estupradores.

- Ninguém vai acreditar em você sua vadia! - Ele se aproxima o máximo que pode de mim para que ninguém nos ouça.

- E quem disse que contarei a alguém queridinho? - Ele quer cinismo? Então ele terá. - O que eu tiver que resolver com você, Nicholas e Bill, pode ter certeza que eu resolverei com vocês entendeu? - Sinto-o enrijecer, consegui assustá-lo. - Mas por enquanto, sem ressentimentos gato. - Pisco e lhe dou um beijo molhado e demorado na bochecha.

*****

- Voltei para escola, por isso vim mais tarde hoje.

- Que bom! - Diz o Sr. Luke gentilmente.

- Não foi nada fácil ter de ver aqueles garotos malditos. Agora eu me lembro muito bem deles e do nome de cada um.

- Ainda acho que fez muito bem em voltar para a escola - Ele diz - Não pode pausar sua vida por causa de um bando de meninos sem coração. Você deve enfrentá-los, deve sempre enfrentar seus problemas sem medo. É isso que uma pessoa madura faz. A vida vai tratar de cobrar deles por seus erros.

- Não sei se eu deveria esperar tanto tempo para isso.

- Como assim? - Ele pergunta.

- Aposto que eles já fizeram e vão continuar fazendo isso muitas e muitas vezes. E quando a vida irá cobrar deles Sr. Luke? Isso é muito injusto. - Digo emburrada e fico parecendo uma criança fazendo birra.

- Mocinha - Ele sorri - Deve ter paciência, o que tiver de ser, será. - Ele me estende aquele seu indicador em tom de advertência. - O destino se encarrega de tudo e eu sempre serei o amigo que você precisar.

- Obrigada - Finalmente um amigo de verdade, preciso de mais como ele, talvez eu devesse sair por aí e procurar amigos novos.

- Não precisa agradecer. O Sr. Luke protege seus amigos. - Ele pisca para mim. - E não se esqueça, enfrente-os mocinha e eles não te machucarão novamente.

- Eu vou enfrentá-los Sr. Luke.

"Pode ter certeza de que vou!", penso. O jogo está apenas começando.

DARKNESS - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora