ERROS

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*No Início*

- Do que ela está falando Stewart? - Minha mãe não tira os olhos de mim. - Responde! - Ela grita e meu pai levanta a cabeça, ele está chorando.

- Eu era um adolescente imaturo Martha, eu não tinha consciência como tenho hoje.

- Mentira! - Eu grito e os dois me encaram com lágrimas nos olhos - Todos temos consciência pai! E você... - Levanto o indicador em tom de repreensão - Tinha total consciência de que jamais seria punido não é? Afinal você era filho do sócio do jornal da cidade. - Penso por um instante, as peças estão se juntando - Foi você pai? Foi você quem influenciou na demissão do Sr. Luke no jornal?

Ele abaixa a cabeça, a esconde com as mãos e volta a chorar. Tudo faz sentido agora. Os nomes que o garoto disse no blog:
"O representante da comunidade Benjamin Mark Thompson e um dos sócios do jornal local Edson Porter Chadwick, meu avô paterno, falecido há alguns anos e sócio do jornal da cidade, meu pai não quis seguir seus passos e tornou-se engenheiro.

- Isso é verdade Stewart? - Minha mãe está indignada - Por favor, me diga que não é verdade!

Ela se ajoelha ao lado dele tentando descobrir seu rosto. Ele permanece chorando e não a deixa tocá-lo.

- Por que pergunta isso mãe? Acha que estou mentindo? - Ela olha pra mim, estamos todos chorando.

- Ana! - Diz ela com a voz trêmula - Não é isso filha, talvez tenham lhe dito algo errado e...

- Pela reação dele mãe! - Interrompo-a - Acha mesmo que me disseram algo errado? Ele é culpado de tudo, você não entende? - Meu choro se intensifica - A culpa é sua pai! É tudo culpa sua!

As minhas próprias lembranças vêm à tona. Toda a dor. Eu! Eu paguei pelos erros dele. Eu arquei com as consequências da maldade dele e de seu amigo, por tudo o que eles fizeram à Sophia. A garota que provavelmente também era virgem e que viu seu mundo desmoronar, como eu vi o meu. Eu paguei! Eu!

- Você consegue dormir pai? - Ele continua com o rosto encoberto e grito - Você consegue colocar a sua maldita cabeça no travesseiro e dormir pai?

- Ana, por favor! - Minha mãe suplica e minha raiva aumenta.

- Por favor? - Eu respiro entre minhas lágrimas, não é possível que minha mãe o defenda. Respiro fundo e diminuo o volume da minha voz - Ela pediu por favor pai? - Ele parece não estar mais chorando - Ela pediu por favor para vocês pararem ou vocês a drogaram? - Não sinto estar falando sobre Sophia agora - Vocês a drogaram ao ponto de ela acordar em algum lugar desconhecido sem saber quem ela era?

Ele levanta a cabeça e junto à minha mãe me encara com atenção.

- E se fosse comigo pai? E se fosse com a sua filha? Como você se sentiria? O que você faria?

- Eu os mataria com as minhas próprias mãos! - Diz ele, seu rosto se enchendo de fúria, nunca o vi assim.

- Então, vocês... - Respiro e dou as costas - É que mereciam ter morrido.

- Ana! - grita minha mãe em tom de repreensão, mas sua voz está distante. Estou saindo pela porta e não quero voltar tão cedo. Eles merecem morrer. Todos eles!

*****

Amanheceu. Estou de pé no coreto olhando para o lago. Não sei para onde ir ou qual passo dar. Meu pai, um estuprador. O que o difere dos garotos que fizeram o mesmo comigo? Ele os mataria, mas quando foi ao contrário fez questão de atacar a vítima e sua família. Ele é um monstro, todos eles são.

- Deus, o que faço?

Pergunto em voz alta e minha resposta chega no mesmo instante. Deus? Ele não fez nada, não vai me ajudar agora. Eu mesma devo fazer isso.

- Fazer isso... - não percebo falar em voz alta.

- Fazer o que moça?

Sua voz surge primeiro, me viro rapidamente meio assustada. Aquele homem! O que eu vi pela janela e que esbarrou em mim, o homem que me intrigou.

- Desculpe - Digo com propriedade - Mas não é da sua conta. - E volto a olhar o lago.

- Eu entendo... - Ele se coloca ao meu lado e olha o lago, ele me intriga de verdade - Você não me conhece, obviamente não deve falar comigo, está certíssima. - Ele esboça um sorriso. - Escuta... - Ele se vira para mim de repente e levo um susto, mas disfarço - Não é meio cedo para uma jovem estar sozinha por aqui? Eu sei que o bairro é tranquilo mas...

- Eu sei me defender - o interrompo - Ninguém se atreveria a mexer comigo - olho do lago para ele e de volta para o lago. Mentira.

- Eu acredito. - Ele ergue as mãos em rendição - Sabe... - Diz se apoiando no parapeito do coreto - Você parece ser o tipo de garota que sabe o que quer e que não leva desaforo para casa.

- E sou mesmo!

Digo de forma impetuosa e sorrio, não acredito que estou sorrindo para ele. Mas sinto confiança, a mesma confiança que sinto no Sr. Luke. Ah Sr. Luke. Meu amigo. Como poderei te olhar nos olhos novamente sendo eu a filha do homem que causou a morte de Sophia, sua única companhia depois que sua esposa o deixou? Duvido que você vá querer falar comigo depois que souber disso. Não tenho coragem de lhe dar sequer um bom dia. Sinto tanta vergonha como se eu fosse um dos violentadores de sua filha.

- Por que o olhar de tristeza moça? - O homem me desperta de meus pensamentos.

- Problemas. - Digo distraída e me apoio no parapeito também.

Ficamos ali, os dois olhando o lago por minutos até que ele quebra o silêncio:

- Não é fácil enfrentar e resolver nossos problemas, mas nenhum problema é maior do que podemos suportar. - Ele se vira para mim - A pergunta é... - Ele faz uma pausa me esperando encará-lo e quando o faço, ele volta a falar - Você está disposta a fazer o que for preciso para resolvê-los?

Eu penso e flashbacks de tudo me vem à mente. Amigos, pais, estupradores... Vingança.

- Estou! - Digo com autoridade - Com certeza estou disposta a tudo e vou até o fim.

- Então minha querida... - Ele retira o chapéu de sua cabeça se apresentando - Eu estou aqui para te ajudar a tornar todos os seus desejos possíveis. - Ele sorri com seu sorriso charmoso.

- Sou Ana! - Lhe estendo a mão desconfiada - E você quem é? - Pergunto com desdém, até parece que ele vai me ajudar a resolver alguma coisa. Mas sinto que posso ao menos desabafar com ele sobre isso.

- Eu sou Trevor Bayne e serei seu amigo. Vou te ajudar em tudo o que você desejar.

Apertamos as mãos e a atmosfera parece se alterar. Sua mão é gelada e seu aperto firme. Estamos iniciando uma amizade, sei que posso confiar nele. E ao soltarmos as mãos percebo que um pacto foi firmado.

- E então querida Ana, em que posso lhe ajudar?

- Bom... - Sinto o desejo de vingança preencher meu coração - Vamos começar com certos três garotos...

Nós dois sorrimos imediatamente um para o outro, eu sei que o Sr. Luke não aprovaria as minhas ideias e agora já não importa mais, ele não continuaria sendo meu amigo depois de saber sobre meu pai.
Eu perdi tudo, minha felicidade, paz, pureza, confiança, estrutura familiar, Sr. Lu e... Mas agora eu tenho Trevor, ao menos um amigo no meio de tantas trevas e sei que com ele eu posso contar.

Samuel e sua corja, vocês não perdem por esperar.
Os maus devem pagar!

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