Não consigo respirar...
Meu coração parece que vai sair pela boca...
Meu mundo está desmoronando...
O que eu fiz para merecer isso meu Deus?Saio cambaleando da biblioteca, parecendo estar embriagada. Estou completamente sem chão, desnorteada. Eu quero morrer! É o que mais desejo agora.
Como lidar com isso? Como aceitar essa verdade tão intensa e cruel? O que mais vou descobrir? Quem são os monstros? Quem são os seres humanos? Quem sou eu? Quem são vocês?
As lágrimas finalmente começam a rolar, não havia conseguido derrubá-las até agora. Que elas lavem minha alma, amargura e dor. Estou sentindo um turbilhão de coisas. O que eu sou? Uma garota hipócrita? Justiceira? O que eu faço agora?
Me dou conta de que caminhei e não sei exatamente aonde estou agora. Olho em todas as direções, mas não reconheço ninguém e lugar algum. Eu preciso de ajuda. Quero gritar e ao mesmo tempo me esconder. Quero fugir para bem longe de tudo isso. Eu queria ajudar e agora eu preciso ser ajudada.
Penso em tudo, principalmente no vídeo. Como alguém pode seguir a vida sem remorso algum após cometer tamanha atrocidade? É uma questão de caráter... Como querer dar lições de moral sendo uma pessoa imoral?
E eu? Como agir agora? Como seguir em frente?Penso no que passei há pouco tempo. Em como acordei perdida, desnorteada e despedaçada. Penso nos sorrisos sarcásticos deles... Os garotos que me fizeram mal. Penso na dor que senti física e emocionalmente. Em como queria seguir em frente e ao mesmo tempo queria sumir da face da terra. Eu te entendo Sophia, eu sinto a sua dor. Eu sei como é olhar para eles sentindo-se de mãos atadas. E acima de tudo... Eu sei! Eu estou pagando por um erro, um erro que não era meu... Um erro que não era nosso... Estou sendo punida pelo erros alheios.
Ando de cabeça baixa e choro em silêncio pela rua desconhecida quando esbarro em alguém... Ele! Que garoto lindo! Seus olhos são azuis como a imensidão do mar e sinto a minha dor esvaindo-se por um momento.
- Me desculpe! - Ele diz.
- Tudo bem. - Respondo enxugando as lágrimas rapidamente.
- Uma garota tão bonita não deveria chorar assim. - Ele diz isso e eu sinto raiva, ele me lembra todos os homens idiotas que conheço, mas não quero discutir.
- Ahn, acho que me perdi. Sabe me dizer para que lado está o Oneida Lake? - Disfarço.
- Ah sim! - Ele diz cordialmente - É só seguir reto por aqui - Apontando para a rua à direita na esquina. - Vá até o final dela e vire à esquerda, primeira direita e depois esquerda novamente. Vai estar bem no início da margem do lago.
- Obrigada. - Digo sem encará-lo.
- Não por isso. - Ouço sua voz, mas já estou me distanciando dele.
Sinto que o conheço de algum lugar. Olhos azuis, jamais esquecerei aqueles olhos. Mas sinto tanta dor nesse momento que não consigo me concentrar em algo tão belo, não agora.
Está escuro, tarde, eu realmente fiquei o dia todo fora de casa, mas não estou preparada para voltar, não agora, não hoje. Mas o que fazer? Seu nome me vem à mente e sei a quem deveria recorrer, mas por circunstâncias do destino, não sei se algum dia poderei contar com ele novamente. Aliás, não sei se algum dia eu poderei olhar em seus olhos novamente.
"Seus olhos". Penso ao chegar ao coreto do lago Oneida, me sentando exausta e amparada pela grades decoradas que o cerca. Me cercam. Seus olhos. Obscuros. Negros. Fecho os meus olhos. Seus olhos. Intensos. Intensidade. Imensidão. Mar. O mar azul. Seus olhos. Azuis como a imensidão do mar. Quem será você?
*****
Eu adormeci! Dormi feito uma sem teto no coreto do lago. Ainda está escuro. Que horas são? Olho o relógio em meu pulso. Três e meia da manhã. Talvez a essa hora eu possa ir para a minha cama sem ninguém falar comigo. Me levanto e sigo em direção à minha casa.
Sinto que estou sendo observada, mas a essa hora da manhã, quem estaria me observando? Ouço passos e olho desesperada para todos os lados possíveis. Nada.
- Pare de surtar Ana! Você já surtou o suficiente. - Ironicamente, tenho razão.
A sala parece estar iluminada, somente à meia luz, abro a porta com cuidado para evitar ruídos que os acordem. Mas...
- Ana! - Sou pega desprevenida por seu abraço desconfortavelmente maternal. - O que houve filha? Você está bem? - Pergunta me analisando e apalpando-me dos pés a cabeça em busca de ferimentos visíveis, mas o meus ferimentos são invisíveis a olho nu.
- Eu estou bem mãe... - Respondo sistematicamente.
E então o vejo surgir de detrás dela. E o encaro com atenção. Estou armada. Preparada para o ataque.
- Filha, o que houve? Estávamos preocupados. Como você ousa sumir assim sem nos dar nem uma notícia?
- Você se preocupa mesmo pai? - Passo pela minha mãe e o encaro com fúria. - Você realmente se importa com as pessoas?
- Ana, o que foi filha? - Minha mãe nos alisa com atenção. Estamos frente a frente e ela parece assistir sem entender nada.
- Pergunte a ele mãe... - Digo, mas sem tirar meus olhos dele.
- Perguntar o que Ana? - Ele me pergunta com um olhar desorientado.
- Pergunte... - Sorrio ironicamente e uma lágrima escorre pelo canto do meu olho direito, é muita dor. - À ele quem é... - Respiro e outra lágrima escorre enquanto me aproximo mais dele e não enxergo mais minha mãe pelo canto dos olhos. - Sophia.
Ele dá dois passos para trás e parece ter sido atingindo por uma bala bem no meio do peito. Sua respiração se torna ofegante e ele se senta na poltrona com dificuldade. Parece estar infartando ao colocar a mão no peito, mas só parece. Ele olha para mim. Não consigo descrever o propósito de seu rosto. Raiva? Medo? Arrependimento?
- Do que você está falando filha? - Minha mãe pergunta para mim, mas olha para ele.
- Ele... - Digo em voz alta enfatizando a palavra e depois volto ao tom normal - Sabe do que estou falando minha querida mãe. Não é mesmo papai?
Ele abaixa a cabeça, não nos encara. Para a minha tristeza, não é uma mentira. Ouço sua voz quase sussurrando.
- Eu era jovem Ana - Meu coração dispara, ele não nos olha. - Não tinha consciência. Se fosse hoje...
- Ela ainda estaria viva! - Grito. - Se fosse hoje, ela ainda estaria viva! - Minha voz sai rouca e não consigo conter as lágrimas.
- Do que ela está falando Stewart? - Minha mãe pergunta olhando dele pra mim e de volta para ele.
- Sophia Mikles Luke - Digo entre lágrimas - A garota suicida de Cleveland! A garota que se matou após ser estuprada por dois garotos da Syracuse High School! - Sinto meu corpo fraquejar, mas me mantenho de pé. - Um deles aqui, à nossa frente.
Minha mãe o encara sobre as lágrimas que começa a derramar. E eu? Eu sinto meu mundo desabar pela cruel verdade:
Meu pai! O homem que mais amo e admiro no mundo é um dos estupradores da filha do meu melhor amigo, Thomaz Luke.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DARKNESS - Livro I
Mystery / ThrillerNão reclame da sua vida, perto desta, ela parecerá o céu.. Será possível fugir da escuridão? "Todos temos trevas em nós". Copyright Lylah Hartzler Carrillo, 2017 © All rights reserved