O CORAÇÃO PULSANDO

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Abro os olhos, são nove da manhã, como dormi tanto? Espere! Eu dormi? É isso mesmo?

Olho onde estou e... Com quem estou... Estou dormindo sobre o peito de Matt no sofá, dormimos aqui. É tão reconfortante saber que ele está ao meu lado. Eu o quero tanto.

- Matt? - Tento acordá-lo massageando seu peito e ele resmunga, sorrio, amo cada pedacinho dele - Hora de acordar.

Ele abre os olhos lentamente, a janela de sua alma, como fui me apaixonar assim tão depressa?

- Oi! - Diz me dando um sorriso largo e iluminando minha manhã.

- Oi - Respondo docemente.

Nos levantamos devagar e sentamos, um de frente para o outro. Ele apóia seu rosto em sua mão esquerda, seu cotovelo esquerdo no sofá e fica me olhando.

- Você está bem? - Pergunto.

- Acho que sim - Ele tenta organizar seus pensamentos, aconteceu muita coisa no dia anterior - Dormiu bem?

- Surpreendente sim, acho que você é meu amuleto da sorte - Digo para descontrair. - Que tal tomarmos um Milk Shake?

- Ahn... Desculpe Ana, mas acho que não - Ele parece incomodado e logo se explica - Não gostei daquele cara, o tal Sr. Luke, não me pergunte o porquê, apenas não gosto dele.

- Tudo bem Matt, eu o respeito por isso. - Toco em seu joelho - E então, o que sugere?

- Bom - Ele se anima - Vou preparar o café da manhã para você. Só preciso tomar um banho primeiro.

- Se quiser pode tomar aqui, só não tenho roupa para você - Penso uma bobagem sacana e sorrio, ele faz que não com a cabeça, que pena! - Ok, então vai tomar seu banho e eu o meu, até daqui a pouco.

Nos levantamos e ele me beija. Um beijo intenso, será que ele gosta de mim? Seu beijo parece dizer tanta coisa, mas tenho medo de me machucar.

- Já volto - Diz segurando minha mão.

- Estarei aqui - Sorrio contente até de mais.

*****

A água do chuveiro está mais deliciosa do que em qualquer outro dia, acho que um coração apaixonado faz isso com as pessoas. Desligo o chuveiro, me enrolo na toalha e saio do banheiro.

Entro em meu quarto pensando sobre muitas coisas e uma delas é, quando durmo com Matt não tenho pesadelos, é a segunda vez que ele dorme aqui e tenho a segunda noite tranquila em semanas. Ele é pura luz.

Me visto depressa, um vestido solto, preto de renda, um pouco acima dos joelhos, coloco um tênis All Star, faço um rabo de cavalo e me olho no espelho. Nossa Ana! Você está ótima. Uma Noite de sono faz isso.

- Ou o Matt - Dou risada.

Saio do quarto, vou esperá-lo lá embaixo. Fecho a porta e ao sair no corredor dou de cara com Andy. Ela me olha com atenção, seu vestido está ensanguentado e ela está tremendo, parece amedrontada. Me aproximo aos poucos, "tenho que ouví-las", tomo coragem.

- Andy, não vou te machucar, me diga quem fez isso com você.

Ela abaixa a cabeça chorando e ao levantá-la seus olhos estão negros e sua voz cadavérica:

- Ele tudo vê, ele tudo sabe, ele tudo devora, ele tudo invade... - Escorre sangue de sua boca - Ele manda em tudo, ele comanda a escuridão, ele tira os seus sonhos e apodrece seu coração.

Estou atônita, ela me assusta. Quem é ele? Quem comanda a escuridão.

- Quem é ele Andy? - Estou tremendo igual a ela agora - Por favor, eu posso te ajudar!

Ela solta uma gargalhada diabólica.

- Você... Você precisa de ajuda sua vadia! - Ela grita e com o susto caio sentada.

Seu rosto e corpo se contorcem, transformam-se na garota zumbi, ela caminha até mim e me arrasto para trás.

- Ele sabe seu nome Ana, não tente interferir, a escuridão virá te buscar e não há salvação aqui.

Ela se deforma novamente e o terror invade a minha alma, é ela, a velha, a de quem sinto mais medo. Ela anda arrastando uma perna, é ela quem me observa na escuridão, estou em pânico, me arrastando até meu quarto. Consigo me levantar, entro e bato a porta. Fico ali, observando-a, esperando que a velha passe por ela, mas nada acontece. Estou com medo de sair, de saber o que há no corredor. Vou sair pela janela e ir para a casa de Matt pelo telhado. Tudo está cada vez pior, eram somente sonhos, agora são alucinações terríveis, tenho medo de não ter dormido o suficiente e acabar entrando naquele coma do qual a Sra. Thompson falou, outro coma, um coma de sono e pesadelos reais.

Me viro para a janela e a velha me supreende, grito, mas ela me pega pelo pescoço e meus pés saem do chão. Estamos grudadas no teto, ela em cima de mim, e por um momento o teto é o chão, cima é baixo. Meu peso não me força para frente como deveria ser e sim para trás, para as madeiras envernizadas. Estou sem ar e ela sorri com aquelas mil vozes dentro dela, graves e agudas. Sinto que vou desmaiar. Tento tirar suas mãos de cima de mim, suas mãos são ásperas, parecem uma camada de pedra e areia, não consigo gritar, eu vou morrer agora, ela veio me buscar e eu nem sei o porquê de tudo isso.

- Você é uma garota morta... - As vozes sussurram e minhas lágrimas escorrem.

Sim, sou uma garota morta agora, logo quando pensei que algo iria melhorar. Quando Matt chegar aqui, já estarei morta. E então, ela solta seu jato de gosma negra, sangue negro, me cegando e sinto que estou caindo. Até bater o rosto no chão e abrir os olhos, estou viva e chorando desesperada.
Por que Deus? Por que comigo?

- Ana! - Ouço a voz de Matt e tento me recompor, limpo as lágrimas e arrumo meu vestido.

Eu estava ótima, agora estou em cacos novamente. Tento me recompor e desço ao encontro de Matt lutando para manter a calma, mesmo com o coração disparado.

- Olá, estou morrendo de fome - Lhe mostro um sorriso tentando ser convincente.

- Ana? O que são essas marcas em seu pescoço? - Ele aponta.

Tento olhar no reflexo da TV e não vai adiantar nada fingir que está tudo bem, as mãos dela estão tatutadas em meu pescoço, a marca dolorosa de uma tentativa de assassinato e não sei por quanto tempo estarão em mim.

Me viro para Matt, preciso lhe contar a verdade e começo a chorar.

- Eu tentei ouvi-las Matt e elas tentaram me matar - Cubro meu rosto com as mãos e minha voz sai abafada - Seja quem foi que matou seus pais, agora sabe que eu sei e ele comanda a todas elas, não tenho mais certeza se é um homem ou um fantasma, ele sabe meu nome e virá atrás de mim.

Matt segura meus pulsos, ainda os sinto doer, mas ignoro a dor.

- Ei Ana, olhe para mim! - Olho seus belos olhos - Enquanto eu estiver aqui, nada irá te aconter.

Ele me abraça forte e meu desespero aumenta ao ver as três na ponta da escada me observando - mais distantes do que o normal. Elas não se aproximam, não entendo a razão. Mas ficam ali, olhando para nós, oara mim.

Andy segura um coração pulsando e avisto o corpo de Matt caído aos pés delas, o coração é dele. Por eu amá-lo, agora ele também corre perigo. Aperto Matt em meu abraço com força e não posso sequer fechar os olhos para chorar em paz. A morte nos rodeia.

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