PASSEIO MACABRO

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Tento dar a partida, mas o carro morre. Não mantenho contato visual com ela, fixo meus olhos no volante.

- Droga! - Grito. Desespero é pouco para o que estou sentindo.

- Ana! - Ouço a voz de Matt e o enxergo pelo retrovisor correndo.

- Eu tenho que ir - Digo quando ele se aproxima da minha janela e ao fitá-lo, ela não está mais aqui.

- Você não vai a lugar algum... - Ele caminha até a frente do carro, apoiando suas mãos no capot - Enquanto não me disser o que está acontecendo!

- Você não entenderia Matt, ninguém entende - Minha voz é um misto de medo e decepção, estou arrasada.

- Tente! - Ele entra e se senta ao meu lado - Ana, eu estou aqui - Seus olhos imensamente azuis parecem enxergar minha alma.

Respiro fundo e faço uma pausa.

- As unhas em meu braço... - Acaricio os arranhões - São da sua irmã.

- Não brinca! - Ele ri.

- Ok, eu tentei! - Digo ligando o carro.

- Ei, ei! - Ele segura meu braço - "Possível", certo? - Faz alusão àquela pergunta que havia lhe deixado para refletir na noite anterior. Meneio a cabeça em positivo - Tudo bem, vou tentar. Diga.

- É ela Matt! Andy! Andrea! A garotinha ensanguentada dos meus sonhos. Eu a vejo quase sempre, ela aparece em um vestido azul celeste, ora imaculado, ora ensanguentado. Ela nunca falou comigo, não até a noite passada. Decidi seguir o conselho de sua avó e ouvir o que ela tinha para me dizer - Matt tem o semblante confuso que não estou conseguindo decifrar. Eu sei, ele não acredita em mim.

- Ela me levou até uma casa grande... - Continuo - Com papéis de parede floridos em preto e vinho e me mostrou onde as armas eram guardadas, eu não sei se era pai dela de verdade ou só queria me dizer algo, mas entrei em um escritório com um armário de vidro cheio de armas. - Tento lembrar do sonho - Calibres doze, trinta e oito, quarenta, cinquenta... O que eu estou dizendo? - Desdenho de mim mesma - Nem sei se aquela casa era real.

- Ana... - Ele parece assustado.

- Eu sei Matt, nada disso é real, eu sou uma louca...

- É real sim...

- O quê? - Digo confusa e quase susurando as palavras.

- Era a minha casa e as armas eram do meu pai.

Meu coração dispara, tudo gira de repente, me sinto perdendo as forças e vejo apenas escuridão.

*****

Estou no carro, deitada atrás, alguém está dirigindo. Me levanto lentamente e me sento, ao encostar minhas costas no banco vejo Andy ao meu lado. Levo um susto, mas tento manter a calma - Como se fosse possível.

- Matt? - Me dirijo ao motorista, mas tem alguém ao lado dele. Uma mulher.

- Está tudo bem, já estamos chegando - O motorista não é Matt, é um homem que me parece familiar, mas não tenho certeza.

Ele, a mulher e Andy começam a cantar, eu reconheço a canção de ninar sombria, mas a letra está diferente:

- Seus olhos não irão se fechar...
Da escuridão não escapará...
Ela virá te buscar...
Trevas, trevas, quem lhe salvará?...
- Todos cantam juntos.

Ok, preciso sair do carro. Olho para Andy, ela me ignora, me viro para esquerda e dou de cara com a garota zumbi. Ela canta junto com os demais. Como saio daqui?

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