PISTA DOIS

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Oneida Lake, onde Matt me salvou daquela assombração que queria me afogar, onde tivemos uma breve conversa inicial. O que ele quer que eu descubra aqui? Sobre o que conversamos? Ele estava maravilhado com a vista e eu com ele. Conversamos sobre sentir-se perdido e sobre Andy e sua avó. Foi onde ouvi aquela canção de ninar doentia pela primeira vez: "Ana, sangue e morte atrás de você, não há como se esconder, ela virá te buscar, você não irá escapar". E então ela apareceu, primeiro no lago e depois ao meu lado e Matt me salvou, ele me salvou e agora eu preciso salvá-lo...

É isso! Eu devo ser sua salvação e não posso perder tempo, preciso encontrá-lo e se ele está enviando recados por Andy, ele corre perigo. As lágrimas começam a rolar. Matt, onde você está? Devo encarar a pressa como amiga, preciso correr, encontrar o caminho de volta para casa, para a luz, espero te encontrar nessa volta Matt, sua simples sombra me fortalece, mas só vou parar de chorar quando encarar seu rosto novamente.

Olho para o lago, ela está lá, me observando novamente, como da primeira vez, me preparo, ela pode surgir ao meu lado a qualquer momento, não a deixarei me levar para as águas novamente, não posso permitir que ela tenha o controle sobre mim. Olho para todos os lados e ela continua nas águas, vejo apenas seus olhos brancos e seu cabelo desgrenhado. As pessoas passam por mim, algumas ainda me olhando de forma estranha, talvez pensem que vou "tentar" me matar novamente.

- Você está no controle Ana, não deixe que ninguém te diga o contrário - Digo para mim.

Olho para o lago, ela sumiu, olho para a esquerda, nada, direita? Também não. Era apenas um recado de Matt para mim, ele apenas quer que eu o salve, que não desista. Me levanto ainda admirando o lago.

- Ei moça, você tem um cigarro? - Ouço uma voz doce e desconhecida.

- Ahnn, claro! - Digo pegando um cigarro em meu bolso e me virando para entregá-lo.

Mas antes de ver seu rosto sinto uma pancada forte em estômago, parece que fui atacada por um tronco de árvore imenso, voo metros a frente de onde estava, caindo dentro do lago. Sinto o chão e tento firmar as pernas, a água é turva e não tenho uma boa visão. Preciso sair daqui, estou sem ar por conta da pancada, engolindo água e não há ninguém na orla para me salvar. Me levanto rapidamente sentindo o chão de lama abaixo de mim e o ar acima da superfície, mas ao dar o primeiro passo algo me puxa de volta para o mesmo lugar, olho em todas as direções, tossindo engasgada, onde ela está? Tento caminhar e sou arrastada novamente, dou um giro de trezentos e sessenta graus e a voltar a olhar para frente dou de cara com ela, a velha amaldiçoada que tanto me assombra e assusta mais do que todas as outras aparições.

- Ele tudo sabe, ele tudo vê - Sua voz como a de mil homens - Acha que há salvação? - Estou presa, sinto mãos em minhas pernas, a água batendo em meu peito, estou sufocada pela pancada e dor, começando a afundar - Achou mesmo que ele não saberia? - Seu rosto quase colado ao meu, sinto cheiro de morte - Você não vai a lugar algum!

Ela grita e voa em minha direção, parece que vai atravessar meu corpo, mas o que acontece é pior, ela cai sobre mim e me afunda na água, sinto suas mãos queimando meu pescoço e a garota zumbi segura meus ombros me mantendo presa ao chão, submersa, tento segurar a respiração como posso e me manter viva ainda assim, mas não consigo por muito tempo, começo a soltar o ar em meus pulmões e não posso puxá-lo de volta, ela está sobre minhas pernas e meus braços estão presos por sua cúmplice, tento me sacudir, não posso respirar, suas mãos me queimam tirando o restante de vida que ainda existe em mim e além dela enxergo alguém, apenas me observa por debaixo das águas, distante, uma silhueta grande e escura, apenas uma sombra, é ele e ao seu lado Andy, ela olha dele para mim e ambos observam enquanto fantasmas acabam com a minha vida, estou perdendo os sentidos e vejo em meio à escuridão a garota zumbi com um caco de vidro começar a cortar meu braço então grito e estou sentada no gramado com um caco de vidro em mãos, uma frase escrita:

"Garota Morta".

E já é noite novamente.

Estou seca, nem uma gota de água, mas me sinto engasgada, um gosto horrível de água suja na boca. Sozinha aqui, ninguém me enxerga e choro.

Sabe aquela dor que você sente quando sabe que é verdade, mas não aceita e ainda assim corre atrás de respostas? Procuramos em becos sem saídas e nos molhamos em nossas próprias lágrimas, mas ainda assim não desistimos. A verdade dói, como a dor mais infernal que possa existir no universo, meu castigo é este? Eu nasci para me auto assombrar? Nem eu mesma sei. Eu escrevi isso? Elas escreveram? O que está acontecendo comigo?

O tempo agora está confuso. Meus olhos se secaram, minhas noites e dias estão voando, o sol não parece nascer e a escuridão permanece, a claridade se foi, meu espírito parece estar descolado do meu corpo assim como minha esperança e fé. Desde que Matt se foi, estou sem freios, preciso de seu sorriso, seu abraço, o céu de seus olhos...

Tudo está se tornando trevas sem sua presença e o tempo não é mais o mesmo. A luz dura segundos e as trevas duram uma eternidade, estou perdida em meus próprios pensamentos, não sei mais quem sou e nem eu mesma me entendo. Corro para casa entre olhares desconfiados, - o braço sangrando - entro para me livrar de tudo e de todos mesmo sabendo que isso não será possível. Fiquei ali uma tarde inteira, quase morri mais uma vez e agora tenho mais uma marca em mim, olho na TV, suas mãos queimadas marcam meu pescoço, não é a primeira vez que ela me marca neste local, mas antes era apenas um mancha que desapareceu em poucas horas, agora são bolhas, como a marca feita em meu braço e que ainda está secando. E para piorar tem ele, ele é real, o assassino dos pais de Matt, ele podia ficar embaixo d'água calmo, sem se mover, apenas observando elas acabarem comigo e agora eu tenho certeza, seja quem ele for, não é deste mundo ou pelo menos não sua alma e não quer que eu encontre Matt.

Mas irei encontrá-lo, mesmo que custe minha própria vida, não tenho mais nada a perder.

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