Lost in family frames

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Nunca me imaginei tentando planejar uma festa de aniversário para uma criança. Quando éramos Cinco, uma festinha era fora de cogitação, um luxo que não tínhamos, mas quando tive a certeza de que Maxon me escolheria, a quantidade de pessoas para organizá-las para mim era tão grande que eu não precisaria me preocupar com nada. Mas aqui estou, tentando decidir o que fazer nas condições limitadas que tenho.
Não há muitas pessoas para chamar, ou muito para oferecer, somente eu, Arthur, Merlin e Gaius e uma pequena troca de presentes. Eu os cozinhei um jantar e quando a hora do toque de recolher chegava, Merlin e Gaius já estavam de volta em sua casa. Davi gosta da confusão, quer sempre estar no meio da movimentação, não importa com quão sono esteja ou o quão doente, ele vai arranjar um jeito de aparecer para todo mundo. Ele gosta de atenção, assim como o pai adotivo.
_Ele foi dormir?- Arthur pergunta deitado na minha cama.
_Sim. - me deito ao seu lado. - Acabou de cochilar. - Apesar de ele querer continuar conosco mesmo depois de todos terem ido embora, ele ainda é uma criança e não aguenta por muito tempo.
_Eu nem consegui dar o meu presente para ele. - comenta triste e coloca a mão dentro da camisa, retirando uma caixinha de couro retangular.
_Você tem um presente?- me levanto subitamente, assustada.
_É assim tão difícil de acreditar?- ele sorri e a abre o envolto, uma adaga incrustada de pedras preciosas e entalhos artesanais. - Ele é meu filho, tenho deveres.
_É linda, Arthur. - lentamente a toco, com medo de poder quebrá-la. - Sabe que ele só tem um ano, não sabe?- ele ri.
_Eu sei, Gwenevere. Ela é comemorativa, apesar de poder causar grandes estragos se necessário. Vem sendo passada para os primogênitos herdeiros da minha família a gerações. - me explica e tenho certeza de que minha expressão de choque e surpresa foi grande.
_Você acabou de anunciá-lo como o príncipe herdeiro de Camelot?- ele assente sem entender o motivo de tamanha surpresa. - Ele nem é ao menos seu filho e você terá outros legais pela lei. Tem certeza de que quer fazer isso?
_Eu nunca tive tanta certeza na minha vida. Ele pode não ter meu sangue, mas o amo como tal e até que tenha idade para decidir se assumirá ou não, eu o treinarei para ser o guerreiro e o rei que nasceu para ser até que a morte me leve. - ele diz olhando fundo nos meu olhos, com tamanha convicção que por um momento esqueci de todos os problemas que essa novidade trariam.- Sem que meu pai saiba, é claro.- ele acrescenta.
_Isso é que é otimismo.- comento e ele me olha sem entender.- Você tem vinte anos e já está pensando é morte. É um pensamento muito mórbido.
_Não tem como não pensar. Estamos em guerra e todos os meus antepassados caíram lutando. É meio que uma tradição.
_Morrer como um guerreiro? É a coisa mais idiota que já ouvi. Sem ofensa. - ele ri da minha reação.
_Pode ser. - ele dá de ombros concordando.
_Você não está falando sério, está?
_É claro que não. - ele ri. - Quero viver o máximo da minha vida do lado de vocês. Morrer um velhinho chato e rabugento, mandando Merlin fazer todas as coisas para mim e aproveitando minha vida folgada. - ele me abraça forte, seus braços me aquecendo na noite fria.
_Você não consegue ficar sem estragar o momento, não é mesmo?- ele sorri abertamente, seus olhos brilhando na escuridão.
_É impossível estragar um momento tão perfeito como esse. Nem mesmo se eu colocar todos os meus esforços para fazer acontecer. - ele me puxa de volta para si e deito em seu peito.
_Você parece ter tudo planejado. O futuro, os problemas, os obstáculos, eles parecem que nem ao menos te preocupam. - soou aflita.
_Eu não planejei nada. Não tenho ideia do que poderá acontecer. Não sei se meu pai continuará vivo por muito tempo, se Morgana voltará, eu não sei de muitas coisas que acontecerão. - ele dá de ombros. - Mas sei o que quero. E rezo todos os dias para que o futuro seja exatamente como eu sonho todas as noites.
_E sobre o que sonha?- meu coração começa a bater mais rápido em expectativa. Estamos há um ano juntos e eu me vejo cada vez mais aprofundada em meus sentimentos por ele, mas sempre existe a voz dentro de mim, gritando que um de nós sairá com um coração partido no final, e talvez milhares de anos de distância.
_Eu e você. Nessa casa. Juntos. O cheiro da comida recém pronta no ar, o grito das crianças a fazem sorrir e suas covinhas aparecem no canto da sua bochecha. Davi e seu irmãozinho brincam com duas espadas de madeira e quando um deles se machuca, os dois correm até mim, se sentam no meu colo e choram. Um de culpa e o outro de dor. - ele olha para o teto, o rosto pensativo e sonhador e tenho a certeza de que ele revive as imagens em sua cabeça.
_Você? Vivendo humildemente nessa casa?- ele ri do meu tom irônico.
_Talvez possamos mudar o local e acrescentar Merlin na imagem. Admito que ter ele tem suas vantagens.- ele confessa.
_Não acha meio utópico? Existem tantas coisas que impedem que isso se concretize. Você é o príncipe, Arthur e...
_Por favor...- ele me interrompe.- Por isso trouxe a adaga, para dizer que independente do que aconteça comigo, conosco, eu o amo como meu próprio filho.-assinto de cabeça baixa e sinto seus lábios molhados em minha testa.
_Se não for eu, tenho certeza de que alguém dirá isso para ele quando for maior.- respondo sem jeito, ainda sem me recuperar de toda a conversa.
_Então me conte sobre a sua família.- ele se move na cama, fazendo com que seja impossível para mim sair de seu campo de visão.
_Eu já te falei sobre eles. Já contei toda a história da minha vida que eu consegui lembrar.
_Não uma história. Como eles são. Cor do cabelo, dos olhos, a personalidade, altura, a roupa que usam. Tudo.
_Porque você quer saber?- estranho e ele dá de ombros.
_Imaginá-los na minha cabeça é uma hipótese. Você sente muitas saudades?- assinto sentindo as primeiras lágrimas enchendo meus olhos.
Então eu digo. Até o momento não achei que houvesse muito o que dizer além dos detalhes básicos, mas a medida que começo é como se as palavras fluíssem naturalmente. Detalhes sobre seus comportamentos e atitudes que eu até aquele momento nem ao menos sabia que os notava. Seja a voz que May faz sempre que quer alguma coisa, ou as rugas na testa do meu pai toda vez que ele abre uma carta até como a luz bate no cabelo de Kenna durante a manhã. Ele fica admirado, seu rosto não consegue desmanchar um sorriso que permanece estampado mesmo depois deu adormecer em seus braços.
Arthur saiu cedo no dia seguinte e não apareceu nos outros dois seguintes. Procurei por ele em todos os lugares que consegui pensar, mas é como se ele tivesse tirado uns dias de férias e viajado para bem longe de nós. Realmente comecei a acreditar nessa ideia e passei horas me remoendo por dentro tentando imaginar o que eu teria feito para assustá-lo assim tão de repente, mas tudo mudou quando voltei para casa na noite do segundo dia. As velas estavam acesas em cima da mesa e um pequeno pedaço de papel em cima. O pego em minhas mãos e leio.

"Se algum dia tiver que escolher entre ficar e voltar para casa, não fique em dúvida. Se eu tivesse uma chance de ver minha mãe novamente aceitaria todas as condições para isso. Família não é sobre sangue, é sobre merecimento. Se lembre disso. E espero que ajude a matar a saudade. "

Leio o cartão com atenção, sem entender o real motivo para tanto, mas emocionada e desacreditada que ele prefere me ver feliz ao lado da minha família, mas longe de si, do que aqui e sofrendo de saudades.

" Olhe para a esquerda. Não se esqueça de iluminar. "

Deixo a carta cair no chão e me aproximo da parede, uma vela na mão esquerda, e ilumino o local. Pendurado na pintura mal feita, um quadro retangular com uma moldura esculpida em ouro. Me aproximo mais e consigo notas as semelhanças, meu pai e minha mãe estão sentados em uma cadeira, May no colo do meu pai, um sorriso sorridente em seu rosto, e Gerard no colo da minha mãe, não parecendo muito feliz em estar ali. Eu e Kota estamos atrás do meu pai, uma distância segura entre nós, como se a pessoa que houvesse pintado soubesse da nossa briga. Kenna está no meio e seu marido, James, ao seu lado, segurando um pequenino embrulho que imagino ser Astra, uma feição orgulhosa em ambas as faces.
Perco a conta do tempo que permaneci parada encarando a imagem, o óleo na tela, tão real e tão vívido, que muitas vezes toquei seus rostos na esperança de que fossem reais. Me deixo cair em lágrimas, uma mistura de felicidade por ter um resquício deles perto de mim e de tristeza por não poder tê-los por inteiro. Assim que consigo me deixar superar o choque, me afasto, mas noto o brilho bem ao lado do quadro pendurado. Me aproximo cautelosa e sorrio internamente. Outro quadro, mas dessa vez com uma legenda em baixo "Sua outra família" é o que está escrito. Nela, Gaius está sentado, sorrindo cansado e Merlin atrás dele repousa uma de suas mãos no ombro do guardião, com um clássico sorriso bobo. Do outro lado, Arthur me abraça por trás, eu pareço radiante segurando Davi, já grande, que acena pro ar. Retiro a pintura da parede para ver mais de perto e a observo atentamente, completamente extasiada.
Subitamente deixo a pintura em cima da mesa e corro para fora da casa, sem me importar com o toque de recolher. Corro procurando Arthur, e mesmo que não o veja ha dois dias, simplesmente sinto que ele estará ali. Não dou nem dois passos depois de sair da porta de casa e paro, o vendo se iluminar após sair da escuridão. O olho, ofegante, enquanto espero que me note. Ele está fazendo a ronda diária, procurando por anomalias e se surpreende ao me ver do lado de fora. Corro em sua direção, me jogando em seus braços e ele me rodopia no ar por alguns segundos.
_Porque fez isso?- seu rosto surpreso passa para um sorriso terno.
_Porque eu te amo. - ele despeja as palavras e abro boca em choque.
Estamos juntos há um ano, não é como se não tivesse notado que nossos sentimentos se tornam cada vez mais profundos, que planos para o futuro começam a ser traçados, mas dizer essas palavras significa dizer que eu tenho um motivo para permanecer aqui e significa que terei de escolher entre ele e minha família, assim como ele previu nos dias anteriores. Não sei o que responder, não sei se o amo, assim como não sei se esqueci Maxon. Arthur me deixa mais do que feliz, cada minuto ao seu lado é como o paraíso, ele me faz sentir leve e livre, e sofro por cada segundo que passamos afastados.
_Eu nunca achei que isso aconteceria, mas não posso impedir e também não guardarei mais esse sentimento quando o que mais quero é gritar para os Cinco Reinos que eu te amo. - ele preenche o silêncio. - Não preciso esperar, aguardar pelo momento certo, porque todo momento é certo para dizer o quão amada você é. Não preciso de certezas sobre seu amor, sei que está confusa, mas você me ensinou a expressar meus sentimentos, e é isto que estou fazendo, e é isso que eu sinto. Eu estou completamente e totalmente apaixonado por você, Gwenevere e eu não consigo suportar mais ficar longe de você. - ele leva a mão no coração, seu rosto transbordando emoções, mas eu continuo em choque. Ele assente com a cabeça em silêncio, como se soubesse minha resposta e não gostasse nada dela, então vai embora, deixando minhas palavras entaladas na minha garganta.
_Eu também te amo, Arthur Pendragon, mesmo que pense o contrário.- grito, minha voz abafada pelas gotas de água que começam a cair no céu.
Sinto frio, mas não consigo me mover, só observo quando ele se vira e me olha, seu cabelo encharcado assim como suas roupas e então corre pela lama em minha direção, me tomando em seus braços e selando nossos lábios. Corremos para dentro de casa, tentando inutilmente fugir da chuva, rindo como duas crianças. Ele não havia nem ao menos fechado a porta quando o beijei novamente. Ficou surpreso com a forma brusca com que me joguei em seus braços, mas assim que meus lábios tocaram os seus, a surpresa desapareceu instantaneamente dando lugar a outra coisa. Agarrei em seu pescoço tentando aproxima-lo mais de mim, suas mãos grandes em minha cintura fizeram o mesmo. Meu coração martelava loucamente dentro do meu peito e a certeza de estar em casa me sufocou tão intensivamente que calou definitivamente os gritos na minha cabeça que pediam que eu parasse. Não pensei em mais nada, só no fato de que ele me queria, mas nossos lábios se descolaram e suas mãos subiram para meus ombros.
_Arthur?- digo com dificuldade para respirar.
_Não posso fazer isso com você. Não posso desonra-la dessa maneira.- sua voz era instável e aflita.-Não podemos.
_Podemos, podemos sim!- tento recuperar a voz para explicar direito.
_Não, já espero há mais de um ano, podemos esperar mais...
_Não, eu quero você.- minha voz soa mais suplicante do que eu pretendia. Ele sorri, tentado, mas logo fecha a cara novamente.
_Mas é errado, Gwenevere.
_Não é errado! O que sinto por você é q coisa mais certa que já senti.- deslizo minhas mãos de seu pescoço para seus braços firmes.
Vejo a luta através de seus olhos, a moral e a honra duelando contra o desejo louco que sente. Vejo seus olhos escurecerem cada vez mais e a luta termina. Vejo a expressão em seu rosto, desesperada e faminta, e então ele volta a me beijar. Senti a urgência de seus lábios quando voltaram a tocar os meus, sua boca devorava a minha e suas mãos firmes me apertavam freneticamente. Fiquei sem ar. Ele percorria as curvas do meu corpo, libertando o desejo insano que estava adormecido dentro de mim. Uma verdadeira explosão ocorreu de mim, consumindo e transformando tudo o que encontrou pela frente. Mudando o meu eu, alterando minha essência e eu soube, naquele instante com toda a certeza, de que eu seguiria o conselho de Arthur, escolherei a família, minha casa, porque não há outro lugar onde eu queira estar além daqui.

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