Lost with the hunter's heart

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Pov Maxon
Não tenho um dicionário ao meu lado no momento, mas posso descrever todos os sentidos da palavra desilusão com a mesma rapidez dos momentos em que irrito meu pai. Falta de esperança é a base do meu ser no momento, é impossível conseguir imaginar que algum dia possa voltar a ser feliz quando sei que minha felicidade está no quarto do lado aos beijos com outro homem, e muito provavelmente muito mais do que isso. Descrença por ter a arrogância de imaginar que ela me amaria para sempre, mesmo separados.
Desapontado comigo mesmo, sei onde errei, mas não faço ideia de como remendá-lo, ou se ao menos deveria. Ela está feliz, posso ver pelo seu simples modo de agir, não seria egoísmo meu atrapalhar, mesmo que signifique minha miséria? Não estava prestando atenção no que acontecia ao meu redor. Sabia que guardas estavam arrumando as armas e os utensílios necessários para que pudéssemos adentrar na floresta para algo que nunca havia sido feito aqui antes. Não acredito que haja animais por entre as árvores, eles já teriam errado o caminho até suas casas e sem querer parado nos arredores do palácio, mas a única coisa que se vê na escuridão, é a sombra.
_Um besteiro!-Arthur exclama atrás de mim e me viro desinteressado para observar o que acontece. Ele está abraçado a uma arma, a bochecha colada na madeira, uma espécie de arco e flecha mecânico e mais desenvolvido. –Senti sua falta. –os guardas ao redor riem de sua atitude e voltam a conversar sobre guerras, estratégias e qualquer outra coisa que não me chamou a atenção no momento.
_Não se preocupem, não precisaremos de mãos extras. –os guardas tentam retrucar, o que sempre fazem quando os dispenso, mas logo aceitam com a possibilidade da ideia de uma folga temporária enquanto estamos ocupados.
Caminhamos em silêncio de primeira. Ele se escondia atrás de árvores e seus pés pisavam levemente no solo, quase sem fazer barulho algum. Sua cabeça se movimentava constantemente, os olhos antenados a tudo, o besteiro em punhos, na altura do rosto, pronto para disparar a qualquer sinal de ameaça. Eu andava solto, sem me preocupar em fazer barulho e sem acreditar que algo poderia acontecer a nós. Perdi a conta de quantos olhares raivosos atraí no caminho. Ele se empolgava, então eu estragava tudo pisando em um galho, tropeçando ou simplesmente rindo da situação, mas seu olhar feroz só me fazia rir mais ainda.
_Me desculpe, me desculpe. –digo na quinta vez. Ele se levanta do chão, onde estava agachado olhando o terreno à frente e caminha em minha direção com pouca empolgação. –Eu nunca fiz algo assim, para falar a verdade nunca entrei nessa floresta na minha vida! –ele me olha confuso.
_Vocês não fazem isso aqui? –nego com a cabeça e ele resmunga algo em uma língua incompreensível para mim. –Não queria pegar pesado, achei que estava acostumado. Não temos muitas coisas para fazer na minha época, além disso. –Ele dá de ombros e dá as costas para mim, olhando um ponto escuro entre as plantas. Ele semicerra os olhos e puxa o gatilho, ou o qual for o nome daquela alavanca.
_Porque fez isso?- pergunto realmente curioso. Se mostrar talvez seja uma possível resposta.
_Estou com fome. Não tomei café da manhã. –me lança um olhar bastante sugestivo, o que só faz com que sinta meu estômago embrulhar e um crescente nojo. Provavelmente devo ter feito uma careta, mas ele já não estava mais na minha frente, corria em direção à escuridão.
_Droga!- praguejo e corro para tentar alcançá-lo. Eu já estava perdido antes e não acredito que vou dizer isso, mas até que me sentia levemente mais seguro com ele e sua arma ao meu lado.

_Arthur! –grito e ouço meu eco na clareira. Sinto meu coração começar a pulsar de medo, meus ritmos cardíacos aumentam e minhas mãos suam. As seco rapidamente e volto a gritar. –Arthur!
_Aqui. –ele grita em algum lugar na minha esquerda, ou pelo menos acho que era. Corro por entre as folhas, que batem na minha cara e me impedem de ver qualquer coisa à frente. Tropeço em alguma coisa e rolo no chão, cuspindo terra, mas consigo ver, em meu campo de visão, a grande macieira na minha frente. Me levanto rapidamente e tento desamassar o terno e retirar a terra grudada. Provavelmente o terno não foi minha melhor das ideias.
_Deve estar com fome também. –uma voz surge de cima da árvore e preciso semicerrar os olhos para enxergar a silhueta de Arthur entre o verde.
Ele joga algo lá do alto, algo que só consigo identificar quando bate em meu peito com força e cai no chão. Seguro a maçã com verdadeira surpresa, retiro a flecha que a atravessa, a flecha que ele acertou no alvo, e a deixo cair no chão. Olho para o buraco na fruta com uma gota de medo pensando que se America estiver certa, talvez essa maçã se torne meu coração futuramente. Estremeço com o pensamento mórbido e resolvo mudar de assunto.
_Como chegou aí em cima? –grito para ele, que está encostado em um tronco e se diverte com as frutas.
_Habilidade. –responde arrogante.
_E a escada do lado de trás não interferiu em nada? –cruzo os braços, mas ele só da de ombros.
Reviro os olhos devido a sua atitude. Me pergunto como America especificamente o ama. A garota que conheci não suporta pessoas que se acham superiores, odeia que contem vantagem e não aguenta arrogância e prepotência. Porque, de todas as pessoas, ela foi se apaixonar por ele? Como ela o aguenta, me pergunto. O que ela viu nele? Tudo bem, ele é bonito com seus cabelos loiros e seus olhos azuis, mas é preciso mais do que beleza para se construir uma relação. Ele pode ser um rei, mas é preciso mais do que um trono para tornar-se um verdadeiro regente. Ele é só mais um príncipe egoísta que procura o próprio prazer em vez de se preocupar com a vontade e necessidade dos outros.
_Como se conheceram? Você e America, quero dizer. –ele pula da árvore com uma agilidade impressionável, flexionando os joelhos ao cair em pé. Ele pega a arma de volta, assim como as flechas na bolsa, e caminha em minha direção. Admito que estou realmente curioso, sei que provavelmente sofrerei ao ouvir a resposta, mas sei que é preciso. Se tenho que derrotá-lo, é necessário que o entenda, os entenda.
_Estava fazendo patrulha quando a vi se afogando. A retirei da água e lutei contra os homens que a atacavam. –ele parece não me notar enquanto me explica o que aconteceu. Seus olhos viajam para outra dimensão, relembrando o momento exato em que tudo aconteceu e quase, eu disse quase, me senti mal por interromper seus pensamentos.
_Se apaixonou nesse momento? –acelero meu passo para conseguir acompanhá-lo na caminhada.
Era meio-dia, mas a luz não conseguia ultrapassar completamente as largas folhas na copa das árvores, o que só deixava o lugar ainda mais horripilante do que parece do lado de fora, mas Arthur não parece incomodado com a falta de luz, com os barulhos estranhos entre os arbustos, ou com o simples fato da situação em que nos encontramos ser bizarra. Xingo mentalmente a pessoa que inventou essa ideia, a pessoa que infelizmente sou eu mesmo.
_Não. –ele sorri com o pensamento. –Merlin fez uma lavagem cerebral nela, o que a fez me odiar completamente, e eu também não via nada nela que qualquer outra pessoa não tinha. –dá de ombros e continua a caminhar um pouco a frente e deixo uma distância segura entre eu e ele, e o arpão em sua mão.
_E porque ela te odiava? Pelo o que sei sobre ela, não parece ser o tipo de pessoa que julga alguém rápido. –revejo minhas palavras antes de dizê-la para me certificar de que não entregarei nossa intimidade.
_Ela diz que sou o completo oposto do ex-namorado dela. Algo relacionado as piores características que um príncipe pode ter. Acho que foi isso que ela disse, não me lembro muito bem.
_E o que você sabe sobre o ex-namorado dela?- tento deixar minha curiosidade não transparecer e, felizmente, ele não parece notar.
_Não muito. Só que era um príncipe e que o pai dele não os permitia ficar junto. Nunca perguntei, não me interesso muito. –confessa e se aproxima de uma árvore, colando sua bochecha no casto e batucando no tronco.
_O que está fazendo? –ele ri da minha cara de susto.
_Procurando água. Esses tipos de árvores a possuem em seu interior, é só fazer um furo. –assinto sem dar a devida importância e retomo o assunto interior.
_Não se importa com o passado dela? –ele não se vira para mim, continua trabalhando no furo do tronco. Estava prestes a repetir minha pergunta achando que ele não havia escutado quando disse algo.
_Na verdade não. Deveria? É errado acreditar que mesmo se o passado retornar, ela ainda me escolherá? –fico sem resposta. Ele realmente acredita que seu amor é incondicional e que durará para sempre. Bem, eu não teria tanta certeza.
_É muita confiança que deposita nela. –ignoro meus pensamentos e resolvi dizer algo neutro. Ele me olha pensativo, como se tentasse descobrir o que quis dizer com essa fase, mas acaba por não encontrar nada.
_Não acredito que após tudo o que passamos juntos, tudo o que tentou nos separar, será agora que isso irá acontecer. –responde com convicção e quando encontra meu silêncio, continua. – Foram os melhores sete anos da minha vida, mas também os piores. Perdi todos que tinha e recebi uma nova família de volta nela. –anoto mentalmente a ideia de chamar a família de America para passar alguns dias conosco. Ela passou sete anos fora, suponho que esteja morrendo de saudade, mesmo que não admitirá isso para mim. –Contar tudo o que aconteceu em nossas vidas nesses anos demoraria mais tempo do que temos. –nesse momento um líquido claro começa a fluir do tronco, poucas gotas que logo se tornam um constante fluxo de água molhando a terra abaixo. Ele pega um cantil guardado e o enche.
Dou uma olhada em mim mesmo, o terno amassado e sujo, e me repreendo mentalmente por ser idiota, egocêntrico e não ter me preparado adequadamente para a situação. Enquanto Arthur é um camaleão, capaz de se adequar ao meio e aproveitar o momento, não consigo imaginar minha vida em seu século quando não sei nem ao menos diferenciar uma roupa de trilha da de reunião.

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