Lost in true and treason

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Pov América

O dia se passou como um grande borrão. Passei a melhor parte do tempo fingindo um luto que não possuo e escondendo uma culpa que me esmaga. Não falava com ninguém, me mantinha em silêncio na maior parte do tempo, longe de todos. As pessoas interpretaram isso como dor pela perda de uma amiga querida, mas qualquer um que me conheça consegue saber que a morte de Kriss não me afetou em nada, mas sim quem a matou, o que é um mistério para todos. Arthur conseguiu convencer Clarkson de que estava abalada demais para dar meu depoimento e que o incêndio se devia a uma vela ou uma lâmpada quebrada.

A família de Kriss chegou no mesmo dia para reconhecer o corpo, uma trabalho praticamente impossível já que cinzas foi o sobrou. Ouvir seus gritos de desespero, chorando na sala ao lado partiu meu coração por completo. "Você faz o que faz para sobreviver." Foi o que Arthur repetiu para mim diversas vezes durante o enterro quando ameacei chegar para seus pais e dizer que a culpa era minha.

_Quando isso vai parar? –perguntei descontrolada enquanto ele acariciava meus cabelos.

_Não vai. –sua voz é calma e confiante, mas sinto seu coração se apertar por me ver nesse estado. –A culpa vai sempre ficar com você. Só tem que agradecer por não ter sido você e torcer para não acontecer novamente. –não me senti muito melhor, mas sabia que era verdade.

_Não pode simplesmente dizer que as coisas vão melhorar? –ele sorri triste.

_Você odiaria se eu fizesse isso. –sorri com o pensamento. Realmente. Amadureci muito nos últimos anos e aprendi que as coisas nunca melhoram. –E eu não vou deixar que aconteça novamente. Nunca. É uma promessa. –deixei que o silêncio recaísse sobre nós e adormeci.

Acordei direto para o funeral. Estava adorável, ou o quão adorável um funeral pode ser. Todas as selecionadas apareceram, dei beijos em pessoas em que não conhecia e não sorri. Eu mais parecia uma estátua de gelo, parada, quieta e solitária, mas não me importei, era exatamente assim que queria passar o dia.

O tempo parecia ter mudado exatamente de acordo com o humor de todos. As nuvens cinza chegaram predizendo uma tempestade, os raios e trovões impediram todos de sair para rezar ao ar livre e a água batendo no chão impedia qualquer um de ouvir o que o padre dizia. Até Maxon parecia abalado. Imaginei que ele fosse comemorar, silenciosamente é claro, sua morte. Não é de conhecimento restrito que ele não a suportava mais, então não compreendi quando notei as lágrimas rolarem por suas bochechas. Ele poderia estar atuando como o pai, mas ele não é tão frio e calculista a esse ponto.

_Você não parece triste, Senhorita America. –Clarkson se encosta na parede onde observava a movimentação. Me contendo em simplesmente virar o pescoço por alguns segundos em sua direção para depois voltar a olhar os garçons.

_Talvez eu não esteja. –digo vaga para seu espanto. Maxon me olha abismado, sem acreditar que seja assim tão sem coração. –Porque eu estaria?

_Ela era sua amiga! –o viúvo retruca.

_Eu acho que não era. –bufo de cansaço. Ele continua a me olhar como se eu fosse um enigma a ser desvendado. –E você parece realmente triste. –paro de olhar as mesas pela segunda vez e encaro Maxon. –Achei que a odiasse. –sua expressão de confusão não me impediu de continuar observando-o.

_Algumas pessoas realmente se importavam com ela, odiando-a ou não. Nem todos são... desumanos e insensíveis. –ameaço retrucar, dizer algo sobre como estava morrendo por dentro, mas algo me conteve, então simplesmente sorri e me afastei.

Pov Maxon

Foram precisos três dias para eu superar sua morte. Provavelmente menos do que a maioria dos noivos levaria, ou qualquer outra pessoa desse reino. Eu imaginava que fosse continuar deprimido por bastante tempo, não por sua morte em si, mas pelo caos que isso causaria como consequência. Eu teria que encontrar outra esposa, aparecer para centenas de câmeras, observar minha mãe chorar por uma nora falsa e escutar meu pai com suas idiotices diárias resmungando que Kriss era uma péssima escolha. Mas três dias foi o necessário para eu ver o quão leve minha vida estava sem ela ao meu lado. Tudo ficava extremamente mais fácil e confortável. Só tinha uma coisa que me perturbava extremamente. America.

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