Lost under the stars

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     _Sabia que você é muito original?- o provoco.
_Já estou ficando sem desculpas para te ver. - ele reclama.
_Não está nada! Merlin é quem tem que te livrar e nas únicas vezes você disse que ia patrulhar a fronteira norte. Realmente não sei como sei pai não desconfia.
_É porque as coisas realmente estão tensas lá e, além do mais, ele acha que estou fazendo meu trabalho como príncipe, então deixe-o pensar o que quiser.- ele me abraça por trás e beija meu pescoço.- Vou ser só seu por uma semana inteira. O que poderia estragar?- sorrio com o pensamento de tê-lo 24 horas por dia ao meu lado.
É a manhã seguinte e tento me manter normal, mas o sorriso radiante em meu rosto não consegue passar despercebido por Merlin e Gaius, que me lançam olhares maliciosos antes deu deixar Davi com os dois para que possam tomar conta do meu, agora já não tão pequeno, filho. Minha perna se movimenta instintivamente, um claro sinal de nervosismo e excitamento, não só por todas as aventuras que me esperam nos dias a frente, mas o rei me chamou na sala do trono, disse que possui um trabalho para mim. Perguntei para Arthur se ele sabia algo sobre isso, mas que poderia encontrar um jeito de me tirar dessa para que possamos viajar. Simplesmente assenti e adentrei no cômodo.
Cavaleiros em suas capas vermelhas criam um caminho, um túnel de armaduras brilhantes até o rei, que lê algum documento em seu trono, em silêncio e alheio a qualquer outra coisa ao seu redor, menos o filho, que se porta ao seu lado, dando dicas e sugestões que ele acata alegremente. Ao contrário das outras vezes, o salão está decorado em vermelho e dourado, florido e perfeitamente limpo, esperando a boa primeira impressão de alguém. Arthur sorri para mim, um sorriso capaz de me dar motivações até mesmo para aguentar o rei.
_Gwenevere?- ele olha para mim e faço uma reverência profunda. - Tenho um trabalho para a senhorita. Hoje receberemos algumas visitas e gostaria que cuidasse de uma delas, que a acompanhe e a mostre os arredores. Arthur me disse que é a melhor criada do castelo. - ele ignora completamente o olhar de pavor e confusão que troco com Arthur e continua falando. - Não está feliz? Achei que gostaria de sair das cozinhas. - me recomponho imediatamente e forço um sorriso em agradecimento.
_Estou muito contente, Majestade, será um prazer e uma honra para mim. - ele sorri frio e se senta novamente.
_Me desculpe, pai, mas eu irei para o Norte, como havíamos combinado. Eu não tenho ficar para recebê-los, tenho?- Arthur se inclina sobre o pai e pergunta temendo pela resposta.
_É claro que tem, Arthur! Você é o príncipe! Esqueça o Norte, ela é muito mais importante.
_Ela?- Arthur pergunta surpreso e eu sussurro para mim mesma quase que ao mesmo tempo. Como se para reforçar o que dizia, o portão do salão abre e uma mulher caminha em direção do rei, o porte elegante, a aura majestosa e, é claro, a coroa em sua cabeça me fazem ter a certeza de que a convidada é muito especial. Seu rosto é jovial, não muito mais velha do que eu, os cabelos castanho-avermelhados estão presos, segurando a enormidade das pedras preciosas de sua coroa. Duas garotas correm atrás, segurando a calda de seu vestido grandioso. Ela caminha em passos lentos, para ter certeza de que todos olhem para ela e a admirem. Seu sorriso de canto é centrado e determinado, como uma rainha deve ser.
_Rainha Mithian!- Uther a saúda, os braços abertos em sinal de boas-vindas, e caminha em direção da garota, que faz uma reverência. O rei repete o ato e logo em seguida a abraça. - Sinto muito que tenha sua coroação ocorrido devido à um infortuno tão triste como esse.- ele limpa uma gota solitária que foge de seus olhos.- Mas espero que possa seguir em frente com o amor de Camelot, e o de meu filho também, é claro.
_O quê?- Arthur berra, sua voz se sobressaindo de todos os sussurros que tomaram conta da sala. Ele me olha discretamente, completamente incrédulo. Abaixo a cabeça, com a total certeza de que chorarei e tentando desesperadamente impedir que isso ocorra. Sempre soube que isso não daria certo, porque não dei ouvidos ao meu coração e simplesmente não me apaixonei?
_A rainha está aqui para o casamento, que acontecerá em dois dias. Você tem 48 horas para conhecê-la se desejar. Passeiem, cavalguem, eu não sei! Mas o casamento acontecerá, independente do que aceite.- Uther diz sua palavra final e sai do salão, levando sua carranca para outro lugar. Arthur abre a boca, horrorizado e imóvel. Lentamente recobra os movimentos e faz uma reverência para a antiga princesa, rápida e desleixada, e logo sai correndo atrás do pai.
_Majestade. - faço uma nova reverência ao vê-la confusa sem saber para onde ir. - Me desculpe o incomodo, nenhum de nós sabia que a senhorita viria. - ela me olha dócil e me levanta.
_Não se preocupe com isso. Se tem uma coisa que não espero de Uther é hospitalidade. - sorrio, pelo menos ela não gosta de Uther.
_Eu cuidarei da Senhorita pelos próximos dias. Tudo o que precisar é só me chamar, estarei do lado de fora de seus aposentos todos os minutos. - digo tentando fazê-la se sentir mais confortável. Eu provavelmente deveria odiá-la, afinal ela irá se casar com o homem pelo qual estou apaixonada, mas simplesmente não consigo. - Merlin, aqui, - o puxo em nossa direção e ele nos cumprimenta assustado. - é o criado do príncipe, ele lhe fará companhia enquanto checo se seus aposentos estão prontos para acomodá-la. - saio do salão rapidamente para impedir que Merlin possa fazer qualquer coisa.
Corro pelos corredores a procura de Arthur, em busca de conforto e explicações. Ouço sua voz exaltada atrás das portas de madeira, seu tom mais do que furioso. Checo e vejo que ninguém está por perto, então me inclino sobre a parede e colo meus ouvidos.
_Porque fez isso? Porque ela?- mesmo sem vê-lo sei que ele anda de um lado para o outro, tentando pensar.
_Você tem 20 anos, Arthur, hora de crescer e de assumir suas responsabilidades. - o rei responde frio. - Seus pais acabaram de morrer e deixaram um rico reino para a garota, que felizmente, ainda está solteira. Ela pode ajudar Camelot de jeito que nem podemos imaginar!
_Eu não vou me casar, não com alguém que nem ao menos conheço! Ficou insano?
_É claro que vai! Eu sou seu pai e acima se tudo, o rei. Fará o que eu mandar.
_Droga!- ouço o som de algo forte batendo no chão. Me assusto com medo de que a porta esteja sendo aberta, mas alguém deve ter jogado algo no chão.- Você pode ser o rei, mas não reina meu coração. Não irei me casar.
A risada do rei é gelada, repleta de sarcasmo e humilhação, um som que me dá arrepios na espinha e medo.
_Não me diga que se apaixonou novamente?- seu tom de provocação é claro. - Se eu souber que é isso, eu juro que farei a mesma coisa que fiz com a outra. Você irá se casar em dois dias. É minha palavra final. - ouço o som das botas e dos passos em direção da porta e rapidamente me levanto, arrumando a bainha do vestido e me mantendo ereta, fingindo que havia acabado de chegar e estava prestes a bater na porta. Uther me olha desconfiado, mas não diz nada. Arrisco me virar para Arthur, mas ele nem ao menos me vê, seu semblante abatido e acabado não permitem.
_O que faz aqui?- pergunta rude.
_A Rainha Mithian pergunta por seu quarto. O que devo dizer?- ele olha para o filho, em desafio.
_A estabeleça no aposento ao lado do príncipe. - responde grosso e vai embora.
Arthur se apoia na parede, estupefato, o olhar perdido no chão, incapaz de qualquer outra coisa. Tranco as portas do salão e caminho em sua direção, ainda incerta do que fazer, mas com a certeza de que não quero perde-lo.
_Conseguiu falar com ele?-pergunto depois do que pareceram horas de silêncio.
_Me desculpe, Gwenevere, mas eu tentei, juro que tentei. - ele segura minhas mãos incapaz de dizer mais.
_Eu sei...- me aconchego em seus braços e sinto seus lábios roçarem por meu pescoço.
_Eu não quero perde-la. Não acho que suportaria viver sem saber que está comigo. - ele sussurra para mim e sinto minhas pernas bambearem.
_Então não me perca. - digo determinada.
_Você ouviu a mesma coisa que eu? Eu vou me casar, Gwenevere. - assinto, já ciente do fato. Ele demora mais alguns segundos para entender o que eu falava, e me olha sem acreditar. Eu também não conseguia acreditar que disse algo assim, me rebaixar a esse nível, mas nesse momento eu aceito qualquer solução para não ter de me separar dele.
_Não posso fazer isso. - ele se separa.- Está louca? Seria desonrá-la em todos os sentidos possíveis! E não posso fazer isso novamente Além do mais, não conseguiria viver comigo mesmo sabendo que fiz isso com você. Eu quero você, Gwenevere, mas não desse jeito. Me desculpe, mas se isso significa nos separar, mas você ainda ter uma reputação e uma chance de ser feliz sem mim, então aceito de bom grado.
_Eu não quero ser feliz sem você. - retruco.- Por favor, Arthur, lute por nós. Estou cansada de ficar me esquivando por aí, me escondendo sem poder contar para ninguém para onde vou.
_Você não tem ideia do que meu pai faria se algum dia descobrir. - seu rosto é sombrio, e por um segundo realmente acho que manter nosso segredo seja a opção correta. Mas só por um segundo.
_Então está dizendo que não temos opção além de nos separarmos?- ele confirma com a cabeça e assinto desapontada.
_Eu quero lutar por nós, eu quero que todos os obstáculos para um "nós" finalmente acabem, mas as coisas não acontecem simplesmente porque queremos.
_ Então vou deixar tudo mais fácil para você. Não precisa lutar, nem ao menos tentar, afinal não existe mais um "nós" para isso. - saio da sala tentando me controlar para não deixar que as lágrimas rolem.
Corro até casa, minhas mãos tapando meu rosto, numa última tentativa de fazer a água continuar onde está, mas é inútil. As pessoas me olham na cidadela, nos corredores, em qualquer lugar. Bato a porta com força e caio no chão, em qualquer lugar, sem me importar com conforto ou nada. Me debruço sobre meus joelhos e começo a soluçar, fora do controle. Tento compreender o que diabos está acontecendo comigo. Há um ano e meio digo para mim mesma que não irei me apaixonar, que um dia voltarei para casa e não posso ter algo me puxando para baixo, mas não acho que meu coração me ouviu, que seja possível evitar. Quando disse que o amor é o mais inconveniente, nunca estive tão certa. De todas as oportunidades que tive para dizer o quando o amo e que não quero ter que imaginar minha vida sem ele, em nenhuma delas encontrei a coragem certa para dizer, mas agora, que sei que nunca mais o terei, a clara e pura certeza de meus sentimentos pulsam tão forte que é praticamente impossível ouvir minha respiração.
Ouço as batidas na porta e me levanto atordoada para ver o que está acontecendo. Não tem ninguém do lado de fora, mas me surpreendo ao ver que já está escuro e as estrelas já iluminam o céu. Olho ao redor novamente e acabo pisando em alguma coisa. Tomo o papel em minhas mãos e leio atentamente, com a ponta da esperança de que seja Arthur e um pedido de desculpas.

"Ouvi o que aconteceu. Me desculpe. Acho que tenho o remédio perfeito para te animar. Me encontre no telhado pela janela do quarto de Morgana. Merlin.
PS: Arthur encontrou outra pessoa para tomar conta de Mithian, então não se preocupe."

Releio uma segunda vez. Eu nem lembrava daquela rainha e do trabalho, mas fico agradecida que poderei continuar sem ter que vê-la ou falar com ela, pois tenho a certeza de que faria alguma besteira. Debato comigo mesma, não quero sair, mas sei que Merlin só quer ajudar e que tipo de amiga eu seria se o deixasse sozinha? Lavo o rosto com água gelada na esperança de que a cor volte ao meu rosto, visto minha capa e me escondo na escuridão até o castelo. A ala norte estava vazia, diferente de todas as outras vezes, sempre é a mais movimentada de todas, mas hoje parece que ninguém resolveu passar por aqui. Merlin deveria saber que ninguém viria aqui. Caminho despreocupada pelos corredores e atravesso a janela do quarto da minha amiga desaparecida com o pensamento de que sou louca por realmente estar fazendo isso.
Piso diversas vezes no mesmo lugar para ter a certeza de que é firme. Sigo o caminho das rosas no chão. Porque Merlin colocaria rosas vermelhas no chão? Subo a escadaria em direção do alto da torre norte, admirada e sem palavras com a vista. Sem vi o lugar de longe, mas nunca imaginei que sempre estive tão perto da entrada.
O chão do pequeno lugar circular, aberto com os ventos fazendo meus cabelo voarem, está ocupado com uma toalha rendada e dezenas de pratos de comida e garrafas de vinho. Centenas de velas iluminam o lugar. O caminho de pétalas termina ali, apesar de dar um volta ao redor da toalha. Consigo ver os fogos acesos das casas na cidadela, a floresta negra no horizonte.
_Eu falei com Mithian. - Arthur aparece encostado em uma das pilastras. Provavelmente não a coisa mais sensata a se fazer, um único passo em falso e ele cairia para o morte certa. - Disse que não queria me casar com ela. Ela ficou um pouco ofendida, mas quando disse que estava apaixonado por outra pessoa, ela respondeu que me entendia e que nunca me forçaria a um casamento sem amor. Ela vai embora amanhã. Sozinha. - completa, seu rosto escondido pela sombra do grande sino acima de nós.
_Que bom. - digo fria e de braços cruzados.
_O que quero dizer, Gwenevere. - ele pula do muro e se ajoelha na minha frente, um lindo buquê em suas mãos- é que eu errei e fui idiota.- ele engole o próprio ego.- Eu te amo, mais do que poderia imaginar e não quero ter que ver lágrimas em seu rosto novamente nunca mais. Partiu meu coração vê-la se afastar e mesmo que doa admitir, eu chorei. - sorrio internamente com o pensamento. - É uma maravilhosa sensação em minha alma quando você está ao meu lado e não a trocaria por nada, nem mesmo um novo criado. - sorrio, já não conseguindo controlar minhas emoções. - Por favor, Gwenevere...- ele suspira com os olhos marejados. Pego o buquê com uma das mãos e com a outra o levanto.
_Só porque deve ter dado um trabalhão para Merlin encontrá-las. - ele ri.
_Na verdade eu fiz sozinho. - o olho assustada e ele sorri envergonhado, o que é raro. - Eu trouxe isso também. - ele retira das costas uma caixa de veludo e me entrega, onde um colar de safiras me encara. - Sei que não gosta de jóias, mas é sempre bom para acalmar vocês. - sorrio. Perceptivo da parte dele.
_Eu adorei. - digo sincera.
_Isso significa...- ele não termina a própria frase, sabe o que sinto por ele, mesmo que eu ainda não tenha dito, sabe que a resposta é sim.- Ótimo, porque a comida já está esfriando.- me sento ao seu lado e aproveito o momento, desejando que demore para acabar. Me deito em seu peito quando já terminamos e observamos as estrelas de lá. Me impressiono com o quão diferente as constelações são em relação a Illéa.
_Você mentiu sobre ter perdido a memória, sobre sua história pro meu pai, o que mais esconde de mim?- ele perguntou casualmente, mas endureço. - Está bem? Ficou fria. - ele se levanta, o que me força a me sentar também, e olha em meus olhos.- Tem algo, não tem?
_Não sei como dizer isso, mas meu nome não é Gwenevere. - ele me olha sem acreditar.- Sou America Singer.- estendo minha mão para ele, amedrontada, mas ele a pega com delicadeza e a aperta.
_Não me importa como se chama. Seja Gwenevere ou America, você ainda é a pessoa mais maravilhosa que já conheci. - ele se inclina para me beijar e retribuo, sedenta por ele. - Mas como você prefere que te plchamem?- ele interrompe nosso beijo e o bufo brava, mas ele só ri.
_America. - dou de ombros.
_Então eu te amo, America. - ele sela nossos lábios novamente.
_Eu também te amo, Arthur Pendragon.- ele me olha surpreso, sem acreditar que alguém poderia verdadeiramente amá-lo, assim como não acreditou que eu pudesse beija-lo dois anos atrás.

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