Lost with a dead king

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Pov América

Grito de pavor. Um grito que poderia apavorar qualquer um. E teria continuado se minha boca não tivesse sido invadida pelas lágrimas e eu não tivesse engasgado nas gotas salgadas. Sinto minhas pernas fraquejarem enquanto corro na direção de seu corpo. Me jogo no chão, minha visão nebulosa, e permaneço estática enquanto observo o sangue se espalhar pelo chão. Observo, como se eu não estivesse ali, enquanto Merlin retira a espada fincada e a joga no chão, para logo se inclinar sobre o amigo e chorar.
_Até chorando você fica linda. - ouço uma voz fraca e levanto a cabeça para ver seus olhos azuis, agora quase sem vida, me encarando.
_Não fale. - tento me controlar. - Vamos te salvar. - ele sorri terno, como se a probabilidade da morte não o assustasse nem um pouco. - Me desculpe, Arthur, eu deveria ter contado. - rasgo a um pedaço do pano da camisa de Merlin e pressiono contra o ferimento. O rei arqueia de dor, mas não reclama.
_Porque não me contou?
_Não sei, você provavelmente teria me queimado na fogueira. - ele sorri fraco.
_Não sei o que teria feito.
_E eu não queria te colocar nessa posição. - ele ri, frio.
_Foi isso que te preocupou?- assinto com a cabeça e aperto suas mãos.
Rapidamente, ele começa a perder a consciência, mesmo que tente ao máximo continuar com os olhos abertos, ele se dá por vencido e mergulha em seu subconsciente. Aperto suas bochechas, grito em seus ouvidos, implorando para que ele permaneça comigo, que não me deixe, mas a dor é insuportável.
_Majestade, o exército recuou, vimos Lot fugin...- Gwaine e Percival adentram no salão, mas param imediatamente quando reconhecem o corpo que jaz semi-morto ao lado do trono que o pertence.- Majestade...
_Leve as crianças para o quarto, por favor, não quero que elas vejam isso. - não olho para trás para ver se acatam minhas ordens, mas ouço os choramingos de Brenda enquanto é levada para longe de nós.
_Tem que fazer alguma coisa, Merlin! Tem que salva-lo! Você disse que eu escolho o dia que ele morre? Pois bem, esse dia não é hoje! Faça alguma coisa, qualquer coisa! Não me importo, só o salve. - imploro fraca e sinto quando ele me abraça em consolo.
_Eu tentei, juro que tentei. Não há nada que eu possa fazer. Uma parte do metal continua em seu corpo e uma hora chegará em seu coração. Não sei posso retirar sem que ele sofra as consequências. A magia não funciona assim.
_Tem que funcionar! Você não pode ter tanto poder e não conseguir salvar seu amigo!- ele me olha magoado, mas nesse momento não consigo pensar nisso.
_Eu não posso salva-lo, mas posso te dar algum tempo. - o olho com expectativa. - Posso diminuir seu metabolismo, fechar a ferida, mas ele continuará a sangrar internamente.
_E quanto tempo tenho?- ele hesita em me responder, então sei que notícia boa não vem.
_24 horas?- suspiro.
_Como vou conseguir encontrar uma cura milagrosa que ninguém nunca ouviu falar?- grito desconsolada. Me deito em seu peito e me permito chorar.
_Detesto dizer isso, mas você precisa se recompor. Você é a rainha, precisa tomar conta desse reino, dos seus filhos. Sem ele o povo começará a olhar para você, precisa estar pronta. - o ignoro completamente.
_Merlin, o que é que sempre rivaliza com a magia? Aquilo que por muitos será considerado feitiçaria, mas na verdade é unicamente um fato?- ele me olha sem compreender onde quero chegar. - Qualquer tecnologia suficientemente avançada parece ser magia. - cito mais para mim mesma.
_Se importa em me explicar agora?
_É isso, Merlin! Existe um jeito de salva-lo!- pela primeira vez sinto uma pontada de esperança crescendo dentro de mim.
_Se eu tiver entendido corretamente, o que acho que não aconteceu, estamos há sete anos, America, sete anos! Procurando uma saída e não encontramos nada. Porque acha que vamos encontrar uma em um dia?
_Porque dessa vez não tenho outra opção. É a única saída. Talvez tenhamos entendido errado e aquele dragão idiota dizia que eu o salvaria, não o mataria!- ele me olha pouco convencido.
_Não acredito que seja isso.
_Não preciso que acredite, preciso que me ajude.
_A caverna de cristais. É o berço da magia, se tem uma pessoa que pode te ajudar, é o guardião do lugar. - ele se dá por vencido.
_Peça para Gaius arrumar as crianças, vou pegar mantimentos. - começo a me levantar, mas ele me segura antes.
_Você não pode levá-los. - o olho sem compreender. - Não sei se quando chegar lá, resolverá voltar ou não, mas independente disso, eles pertencem a esse lugar. São apenas crianças! Além do mais, vocês só têm um dia, não acha que levar duas crianças os atrasarão?- sei que ele está certo, sei que devo deixá-los para trás, mas não sei se consigo.
Se eu achava que a noite não podia piorar, estava completamente errada. Observar seus rostinhos enquanto perguntavam pelo pai e ter que mentir dizendo que está bem e que em poucos dias voltaremos foi a pior das ações. Os abracei até que se sentissem esmagados e chorei até Camelot já ter sumido de vista. Enquanto me despedia, Merlin carregou uma carroça com mantimentos e deitou o corpo de Arthur o mais confortavelmente possível e eu os puxava no cavalo. Eu não tinha ideia de para onde ia na grande maior parte do tempo, cavalgava na noite, sempre olhando para trás para ter certeza de que Arthur estava razoavelmente bem. Ele não acordou por horas, só abriu os olhos quando resolvi parar por um tempo para descansar.
_Eu estou vivo?- ele pergunta com a voz baixa, quase que não o ouço.
_Você acordou. - me sento ao seu lado e seguro suas mãos. - Achei que não abriria os olhos. - sorrio feliz por vê-lo consciente. Sinto uma lágrima de felicidade escorrer por minhas bochechas.
_Eu tive um sonho tão lindo. - comenta sonhador. - Eu estava nessa campina, completamente verde, estava sol, mas não aquele calor de exaustão, aquele calor que aquece nos dias frios.
_Não diga mais nada, por favor... Você precisa de toda a sua força.
_Eu já vou morrer, America, eu sinto essa coisa se movendo dentro se mim. E dói. Só quero que minhas últimas palavras possam expressar o quanto eu te amo. - beijo seus lábios frios rapidamente e noto, agora de perto, o quão pálido seu rosto está.
_Não desista ainda. Tenho um último truque na manga. - ele arregala os olhos.
_Mais? O que ainda esconde de mim?- hesito ao ver seus olhos me encarando.
_Se lembra quando me disse que eu era excêntrica? Que adoraria conhecer minha cidade natal e descobrir porque sou como sou?- ele assente enquanto falo. - Eles podem salva-lo lá. Temos tecnologias avançadas, médicos...
_Então estamos indo para o outro lado do mundo?
_Mais ou menos. - inspiro e tento encontrar as palavras certas para dizer. - Se lembra de como eu sempre acertava os eventos históricos? Eu falava sobre lugares e objetos que você nunca ouviu falar, te explicava sobre nossa cultura e o modo de vida. Ou quando eu costumava dizer que você é velho demais para mim.
_Aonde quer chegar?
_Você não é só três anos mais velho, não tenho certeza do número exato porque até hoje não sei em que ano estou, mas a diferença entre nós é de mais de mil anos. Venho do futuro, de uma época em que Camelot é uma lenda, em que você não passa de uma história. - eu não sei por que esperava uma reação diferente. Conheço meu marido muito bem para saber que ele não levaria isso a sério. Me senti até aliviada quando ele começou a rir de mim, mas logo parou resmungando da dor.
_Você não pode ter vindo do futuro. É impossível!
_Você acha? Depois de tudo o que testemunhou na vida, acha que é mesmo assim impossível?- ele parece ponderar por um momento e permanece quieto.
Tento pensar positivo, que ele está distante porque está imaginando meu mundo, minha vida, as possibilidades, não porque se cansou se todas as mentiras. Chegamos na caverna faltando uma hora para o prazo final. O ferimento já recomeçava a sangrar e Arthur já não parecia assim tão bem. O carrego por entre as pedras com muita dificuldade. Adentramos fundo até que as rochas pretas e úmidas dão lugar aos cristais, brilhando mesmo sem a luz do sol. Me cego por alguns instantes, mas logo me acostumo com a claridade.
_O que fazem aqui?- me viro para trás assustada e encaro o idoso.
_Precisamos de ajuda. Preciso viajar no tempo. - ele não me olha como se eu posso uma louca, pelo contrário, parece me achar muito sensata.
_Porque eu deveria ajudá-la?- penso por um momento.
_Porque eu não tenho outra opção. Eu aceito as consequências, qualquer uma, só nos ajude, por favor, preciso salva-lo.
Ele não me respondeu, permaneceu em silêncio. Olho ao redor e a claridade dos cristais parecem desaparecer, imagens começam a aparecer em todos eles, cada uma diferente da outra, aparecendo e desaparecendo mais rapidamente do que eu poderia imaginar. Imagens da minha vida, aqui e em Illéa, momentos de pessoas que nunca conheci, de épocas onde nunca estive. Estava completamente hipnotizada, não conseguia mover o olhar, as imagens pareciam que saiam da tela, era como se eu estivesse ali, no momento, como se fizesse parte daquilo. Então me vi na floresta, olhando a clareira e a portinhola no chão. Olho ao redor e encontro o corpo de Arthur no chão, sangue voltando a jorrar do ferimento. Toco sua pele fria e tento procurar por qualquer resquício de pulsação, mas não encontro nenhuma. O jogo nas costas, com muita dificuldade, e me arrasto pelas árvores tentando me lembrar do caminho de volta.
_Socorro! Preciso de ajuda! Alguém! Qualquer um!- berro o mais alto que posso. - Por favor! Eu preciso de ajuda!- continuo gritando, diminuindo a intensidade da voz a cada passo que dou, até que minha voz não passa de um mero sussurro. Deixo o corpo de Arthur no chão, minhas pernas queimando.
_Alguém pode me ouvir?- grito o mais alto que posso e me deito o chão, meus pulmões ardendo.
_Estamos aqui!- uma voz masculina ecoa ao redor. - Onde você está?
_Aqui! Estou aqui!- recomeço a gritar para que consigam seguir minha voz. Em poucos minutos a patrulha aparece, um grupo de cinco guardas em uniforme carregando em nossa direção. Então, para a minha felicidade, reconheço os olhos verdes enquanto desabo no chão de cansaço.
_America!- ele se inclina sobre mim e levanta minha cabeça. - Me tragam água. Agora!- logo sinto o líquido descer pela minha garganta. - Onde esteve? O que aconteceu?- ele me fuzila com perguntas.
_Depois. Ele precisa de um médico. - ele parece notar Arthur pela primeira vez. - Um médico. Ele vai morrer sem um. - Aspen parece despertar no momento, me levando em seu colo enquanto seus amigos seguram um Arthur inconsciente. Ele corre por entre as árvores com uma grande facilidade. Sinto minha mente vagar para outros lugares, sinto meu mundo girar enquanto observo a escuridão da floresta dar lugar ao grandioso palácio.
_Ajuda! Chamem o príncipe, médicos, qualquer um!- Aspen grita para os guardas na porta principal e rapidamente ouço os barulhos dos passos apressados.
_O que está acontecendo aqui?- Clarkson entra no saguão possesso.
_America?- ouço a voz dele, há metros de mim. Tão perto...
_Maxon... Salvem-no por...- não encontro forças para continuar

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora