Lost when Morgana finds out

91 5 0
                                    


Está escuro, a tempestade do lado de fora me amedronta. Ouço o barulho dos trovões pelo castelo, a luz dos raios pela janela molhada. Normalmente o barulho da chuva me acalmaria e eu dormiria calmamente com um sorriso no rosto, mas não essa noite. É como um instinto, um sentimento me alertando dos presságios que a tempestade trará junto com suas nuvens carregadas e dos muitos que cairão como a água no céu. Estou sentada do lado de fora do quarto de Morgana, é meu dever esperar que ela durma, garantir sua segurança até que ela durma, então finalmente poderei voltar para casa. Sempre soube que ela tem pesadelos, sonhos que quase não a permitem dormir direitos, que a acordam no meio da noite apavorada, mas hoje está diferente. Consigo ouvir o barulho de seu corpo de mexendo na cama, os resmungos e gemidos de dor.
_Trouxe umas cobertas para ficar confortável. - entro no quarto incomodada com sei sofrimento, mas ela não me escuta, continua se remexendo. Deixo os cobertores no canto da cama e vejo a vela em sua cabeceira acesa. Paro por um momento. Tenho certeza de que a apaguei na hora de sair. Dou de ombros e sopro, extinguindo a chama e levo a vela em direção da janela, por precaução para que não acenda novamente e vou dormir.

_Explique de novo, por favor, Gwenevere. - Arthur pede novamente e recomeço.
_Voltei para deixar as cobertas. Havia uma vela, mas a apaguei.
_Tem certeza?- Uther me interrompe e estremeço.
_Eu a apaguei, Majestade, eu juro. - abaixo a cabeça em respeito e medo.
_Ela é serva de Morgana há meses, a que mais durou, se diz que apagou, eu acredito. - Arthur diz para o pai e sorrio em agradecimento. Uther conforma com a cabeça e anda pelo quarto em silêncio, analisando o cômodo queimado.
Era madrugada quando os guardas ouviram os gritos de terror e forçaram a entrada para o quarto da protegida do rei, a encontrando deitada na cama, dormindo tranquilamente, mas ao redor, o quarto todo estava em chamas, com uma única vela derretida na janela, a vela que eu deixei lá apagada.
_Ela poderia ter sido queimada viva. - constata olhando a cortina queimada.
_Raios atingiram o castelo ontem, podem ter começado o incêndio.
_Talvez. - Uther não parece acreditar na proposta do filho.
_Que outra explicação teria?- retruca.
_Alguém incendiar deliberadamente. - sussurra mais para si mesmo e troco olhares amedrontados com Merlin, que permanece quieto ao meu lado. Uther vai embora, seguido do filho, me deixando com Merlin e nossas suposições.
_Eu falei com Gaius. - diz finalmente quando nota que não há mais ninguém no quarto. - Morgana correu até ele em busca de ajuda. - o olho com expectativa. -Ele não fez nada, está amedrontado demais de Uther, amedrontado com a magia. Mas Morgana, não tenho palavras para descrever o quão aterrorizada está. Sabe que foi magia, sabe que foi ela, mas precisa que alguém confirme e a aconselhe.
_Então faça isso! Ajude sua amiga. Você sabe o que ela está passando, a entende.
_Gaius me mando ficar de fora. - resmunga.
_E desde quando você faz o que ele manda?- retruco e ele me olha convencido.
_Quer finalmente conversar com um dragão?- ele me pergunta subitamente e abro um sorriso animado.
_Com certeza!- ele segura minha mão e corre pelos corredores do castelo, atravessando túneis secretos e calabouços, se despistando de guardas e qualquer outro visitante. Descemos e descemos escadas até que finalmente chegamos em um portão de ferro cheio de cadeados e correntes, que Merlin abre facilmente, até que chegamos em um penhasco. A queda é grande, quase nem é possível ver o chão do lado de baixo. Um círculo deformado, um buraco gigante bem debaixo do castelo, como ninguém nunca percebeu isso? Merlin caminha até a beira e eu permaneço praticamente escondida atrás das rochas e pedras. Então ele aparece, brilhando dourado, voando majestoso, maior do que qualquer outra coisa que já havia visto na minha vida. Seus dentes são maiores do que eu! Me pergunto como Uther conseguiria manter um animal tão grande como esse preso debaixo do castelo, mas vejo a grossa corrente em uma de suas patas, limitando todos os seus movimentos.
_Eu preciso de ajuda. - Merlin grita assim que o dragão para em uma rocha, proporcional ao seu tamanho.- Sabe onde estão os Druidas?
_Primeiro precisa me dizer por que os procura. - o animal responde em uma voz rouca e áspera, cheia de tristeza.
_Isso não importa.
_Importa para mim. - o animal retruca e poderia imaginá-lo rindo de Merlin.
_Preciso pedi-los algo. - responde vago.
_Eu vivi milhares de anos, vi civilizações nascerem e caírem. Não pense que pode mentir para mim. - estremeço ao ouvir sua voz. Merlin parece pensar se realmente vale à pena pedir ajuda dele.
_Alguém com quem me importo precisa da ajuda deles. - grita de volta.
_Fala da bruxa, Lady Morgana. - o dragão parece entender tudo, e dessa vez realmente ri, um som bizarro e alto.
_Ela não é uma bruxa. É minha amiga. - tenta defendê-la.
_Não pode confiar nela. - o dragão não parece se importar com seu pedido. - Seria melhor se a bruxa não soubesse seu verdadeiro poder. Não me ouviu no passado e isso trouxe graves consequências. Não irei te dar o que procura. -Continua. - Se quiser continuar com isso que faça sozinho. - Merlin assente, decepcionado e se vira para ir embora, sem dizer mais nenhuma palavra. - E não ache que pode ir embora sem falar comigo.
Estava me esgueirando por entre as rochas para ir embora, mas quando ouço sua voz, simplesmente sei que é para mim e gelo em meu lugar. Meu olhar se encontra com o de Merlin e ele tenta me acalmar. Inspiro e tento recobrar a vontade. Me levanto do meu esconderijo e quase que hipnotizada caminho até a beira do precipício.
_Esperei por muito tempo por esse momento, feiticeira perdida. - me sinto um inseto na sua frente e consigo sentir seu bafo de dragão, o que não é nada agradável. Olho para Merlin em busca de ajuda e ele dá de ombros.
_Merlin pode ter citado que o senhor poderia me ajudar a voltar para casa. - o olho determinada.
_Sinto muito, jovem, mas não posso intervir no destino. Até que cumpra o seu, nada poderei fazer para ajudá-la voltar ao seu tempo.
_O que quer dizer com o meu destino? O que eu tenho que fazer para voltar?- grito perdendo a cabeça. - Se eu fizer essa porcaria você me ajudará?- recebo o silêncio como resposta. - Me responda! O que tenho que fazer?- sinto a raiva aflorar.
_O destino é uma coisa complicada para se lidar, não se pode mexer com ele. Os dois possuem um futuro grandioso e destinos interligados ao do jovem príncipe. Você, jovem feiticeira, continuará perdida até que decida quando o do jovem mago terminará, mas se lembre que suas escolhas determinarão o futuro, a sua época. Não cometa os mesmos erros que seu amigo. - diz simplesmente, me deixando mais confusa do que jamais estive, e voa para longe, sumindo na escuridão.
_Volte aqui! Me explique direito.- grito em vão, ele já se foi.
_Vamos, temos que voltar. - Merlin puxa meu braço para subir a escadaria, mas não consigo deixar de olhar por trás do ombro, esperando por respostas.

POV Morgana.
Cambaleio pela floresta, sozinha. Olho ao redor a qualquer sinal de barulho, sempre em busca de alguém a espreita, mas nunca há ninguém. Pareço um porco assustado correndo para o abate. Estou mais pálida que o costume, meu corpo treme e praticamente não consigo me manter em pé sozinha. Me arrasto pela terra a procura daqueles que poderão me ajudar. Merlin me disso que Druidas ajudam pessoas como eu, que me aconselharão e me explicarão o que está acontecendo comigo. Eu não posso ter magia, não posso! Uther descobrirá, eu morrerei e todos que estiverem ao meu redor sofrerão também. Eu posso estar louca, é bem provável, eu só pensei que o fogo estava apagado quando na verdade estava aceso e o vento começou o incêndio. Eu não tenho magia, posso viver normalmente, certo? Repito para mim mesma várias vezes na tentativa de verdadeiramente acreditar, mas não consigo.
Eu sonhei com Sophia, tive uma visão, vi exatamente o que aconteceria, como muitas vezes antes e depois. Isso não pode significar nada. Achei que Gaius poderia me ajudar, que de todas as pessoas ele saberia dizer o que acontece comigo, mas ele não se importou. Eu não preciso de remédios e poções, não estou doente para isso. Só estou com medo. É tão difícil assim não querer ficar sozinha?
Adentro na floresta escura, já fraca e sem me aguentar em pé. Minhas pernas fraquejam e sou derrubada no chão, sem forças suficientes para levantar. Sinto a dor em meu pé esquerdo, mas não faço nada por ela. Meu rosto está colado nas folhas secas, tentando inutilmente respirar. Lentamente fecho as pupilas, e inconscientemente me jogo em um sono escuro.
Vejo a luz ao redor, os gritos juvenis, os passos. Abro os olhos devagar, sem ter certeza do que encontrarei quando finalmente estiverem abertos. Sinto minha cabeça latejar e levo minha mão até ela. Olho para frente e vejo o homem me encarando. Não devia ter mais do que quarenta anos, vestia panos e trapos sujos, mas possuía um sorriso amigável no rosto. Me levanto assustada e amedrontada.
_Não vou machucá-la. - diz suavemente quando nota meu desespero. Relaxo, mas ainda atenta a qualquer coisa. Com a movimentação sinto meu pé machucado gritar de dor. - Machucou o pé. Tente não movê-lo. - aconselha.
_O que aconteceu?
_Você desmaiou no mato. Vim para ajudá-la. - sinto minha respiração acelerada. - Meu nome é Aglain. - tento me afastar, mas ele me segura antes. - Relaxe, Morgana. Está segura agora.
_Como sabe meu nome?
_Eu disse. - uma voz infantil surge do outro lado da tenda e me viro, sem me preocupar com meu pé e vejo o garotinho druida que salvamos meses atrás em Camelot, aquele que tentei desesperadamente ajudar, aquele pelo qual menti para Uther sobre o paradeiro.
_Você?- sussurro e ele sorri.
_Quando desmaiou ontem, Mordred sentiu seu sofrimento. - Então esse é o nome dele. - Na mente dele. - alterno meu olhar entre os dois, meu rosto em uma mistura de terror e choque. Como isso é possível?
_Olá, Morgana. - ouço sua voz doce em minha mente.
_Ouviu isso? Como fez isso?- grito para o outro homem.
_Nem sempre precisamos usar palavras para nos comunicar. - responde misterioso.
_Posso tomar conta de você, como tomou de mim. - Mordred se senta ao meu lado alegre e me abraça. Sorrio agradecida.
_Me desculpe pelos olhares. Somo temerosos. Seu Rei nos mataria. - Aglain diz enquanto me mostra o lugar.
_Não apoio o ódio de Uther pela magia. - retruco.
_Não. Já imaginava isso. - sorri. - Esta floresta é perigosa. Por que está tão longe de Camelot?
_Estou procurando respostas. - manco tentando acompanhá-lo. - Espero que os druidas possam dá-las a mim.
_O que gostaria de saber?- sentamos em uma pedra afastada.
_Porque consigo saber o futuro em meus sonhos? Porque sou capaz de iniciar incêndios com minha mente?- deixo todo o medo, a frustração e o temor fluírem enquanto falo.
_Pessoas capazes disso existem cada vez menos. Você tem um dom, Morgana, mas também a Visão. É bastante raro, até mesmo entre Druidas. É especial.
_É magia?- pergunto com medo da resposta.
_De um tipo, é. Levará anos até que consiga entendê-la completamente até que aprenda a usá-la. Não é algo a temer. - completa rapidamente ao notar meu desespero.
_É, se tiver Uther como guardião. - retruco. - Se ele descobrir, irá me matar.
_Não vamos deixar isso acontecer. - afirma com convicção. - Está segura aqui, podemos ensiná-la sobre todos os seus dons, sobre tudo o que precisa saber.
_Eu gostaria. - murmuro.
_Não deveria ter medo. Deveria sentir pena.
_Pena? Por quê?
_ Porque Uther é um homem me pedaços consumido pelo medo. Seu ódio pela magia consome a bondade do coração.
_Sempre me foi dito que magia é má. - mudo de assunto rapidamente. - Que corrompe sua alma.
_Não é só porque ele não aceita, que isso seja verdade. Com o tempo aprenderá que a magia não é algo negro a ser mantido em segredo. Pode ser uma força para o bem. - sorrio aliviada. Sinto todo o estresse, todas as emoções e temores que sempre me pesaram os ombros, gradativamente desaparecerem. Sinto a garota amedrontada e medrosa flutuar para longe e, naquele momento, prometo para mim mesma que nunca mais deixarei Uther fazer mal a ninguém, mago ou não.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora