Lost and leaving

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Pov Merlin

Não sabia exatamente como gostaria de ser enterrado, muito menos se tinha algum desejo específico para um momento como esse. Para falar a verdade acho que não havia nem pensado por um segundo que poderia realmente morrer. Nenhum de nós pensou. Esse acontecimento sempre foi uma sombra se escondendo atrás de nós, só capaz de aparecer quando virávamos para trás. Quase nunca virávamos para trás. Sei que America gostaria de estar aqui, dizer seu adeus propriamente, mas também sei que se ficasse, partir se tornaria muito pior e nenhum de nós acredita que ela possa conseguir. Só espero que meu eu do futuro consiga ajudá-la a superar tamanha perda.
Gargalho com o pensamento. O eu do futuro. Só pode ser brincadeira, porque mesmo que magia seja real, imortalidade não. Deuses não existem, mas era exatamente isso que as pessoas me faziam parecer. E odeio isso. Porque assim como ele tenho ossos rachados, sangue escorrendo por ferimentos e um coração diversas vezes quebrados. Mil anos. Essa é a quantidade de tempo que vou ter que esperar. Eu envelhecerei? Vou passar centenas de anos da minha vida debilitado e deitado em uma cama incapaz de me levantar por causa da minha idade? Ou simplesmente vou estagnar em uma idade e nunca mais envelhecer?
Porque pensando agora, em sete anos parece que não envelheci muito. Provavelmente pura paranóia minha no momento, mas pensar no futuro me impedia de pensar no presente e no corpo de Arthur que carregava pelo campo de batalha na esperança de que ninguém notasse. O dia estava escurecendo e o cheiro de morte impregnava minhas narinas. O exército de Morgana, pelo menos o grupo sobrevivente, se rendeu. Isso gerou uma grande questão sobre matá-los ou não, o que levou à procura de Arthur. Só o rei pode tomar uma decisão como essas, mas a essa hora todos nós já estávamos longe. Kilgarrah havia levantado vôo com Maxon e America enquanto eu carregava o corpo inerte de Arthur para longe.
Sabia que todos mereciam dizer adeus, todos ali tinham o direito de se despedir de seu rei e amigo. Talvez fosse puro egoísmo meu, mas eu não co segui suportar a ideia de levá-lo se volta para casa. Me sentia parcialmente culpado por Gaius, mas não me permiti pensar nisso no momento. Concentrei toda a minha força nos meus humildes músculos. Não aguentei. Não tinha exatamente um lugar exato para ir além de me afastar. Quando desabei no chão sem suportar levantar, soube que seria ali. Olhei ao redor, precisamente para o lago alguns metros na minha direita, o reconhecendo. Através da neblina a torre ainda era visível na Ilha dos Abençoados, um lugar nada abençoado que tive muitas vezes de ir para salvar a vida do idiota morto ao meu lado. Não consegui deixar de rir da ironia, porque novamente o destino estava brincando comigo. Enquanto observava a escuridão se aproximar, me peguei pensando no que fazer. Ele está morto e como vou saber quando voltará? E se ele renascer e nunca ficar sabendo?
Posso tirar umas férias e viajar e nesse exato momento ele aparece e morre alguns dias depois porque eu não estava lá para salva-lo! Essa ideia me apavora. Sabia o que tinha de fazer, o barco na margem do lago parecia me apressar, mesmo assim eu enrolava. Porque queimá-lo era remover qualquer traço de sua existência. Quando finalmente senti que conseguiria me levantar, usei o resto da minha energia para puxá-lo até a borda do lago. Depois de diversas tentativas, muitas caídas na água e momentos que eu teria aproveitado se não fosse a atual situação, consegui ajeitá-lo na madeira.
Então comecei minha jornada para procurar flores. Não tinha pressa, mas me preocupava de alguém curioso aparecer para ver o corpo. Felizmente isso não aconteceu. A cada cinco minutos, quando me aproximava com a mão cheia de flores, tinha a esperança de que ele fosse magicamente aparecer acordado e reclamar do calor, mas a única coisa que encontrei foi um dragão idiota comendo minhas flores. Não tinha forças ou paciência para discutir algo tão simples como seu jantar. Mesmo que tivesse passado horas caminhando por entre a floresta para coletá-lo.
_Eles se foram? –perguntei sem muito interesse.
_Fiz o que mandou, deixei-os na caverna. Não disse nada sobre ter certeza de que se foram. –bufo cansado, ignorando completamente sua fala.
_Não queime-o. –sua voz me acorda.
_Perdão?
_Nós, dragões, vivemos centenas de anos. Eu, inclusive, estou nessa terra há mais tempo do que posso me lembrar. Estou ficando velho, Merlin, e como seu amigo bem disse antes de partir: a sabedoria vem com a idade. –seu jeito de explicar dando voltas e voltas me irritava profundamente, mas atualmente sinto falta. –Existe um jeito de preservar seu corpo. Carregue aquelas pedras e as deposite no barco, cubra o corpo com elas. –por horas fiz o que ele mandou. Não recebi sua ajuda, fiquei me perguntando por que ainda escutava seu maldito conselho, mas quando finalmente terminei, sentei na grama exausto tentando compreender o sentido de tudo aquilo.
_Agora veja, jovem mago. –senti o vendo quando suas asas começaram a trabalhar, senti o calor quando sua boca gigante se abriu e fogo saiu para queimar o barco. Me levantei, ultrajado, e gritei para que parasse, que queimaria seu corpo e o barco junto. Ele não me deu ouvidos e agradeci por isso, pois quando parou, vi a lua refletir ao redor do corpo de Arthur. Onde antes havia pedra, agora havia uma camada de algo transparente e brilhante.
_Diamante. Vai ouvir falar bastante dessa pedra em poucos séculos. –o olhei abismado, sem ter certeza do que dizer. Com uma única lágrima e um único gesto de mãos, o barco navegou sozinho lago à dentro, sumindo na névoa. –Um agradecimento é sempre bem recebido.
_Não tem outra pessoa para irritar, não? –ele ri. Uma risada pesada capaz de aquecer qualquer um, e quando digo aquecer quero dizer literalmente. Fogo saiu de suas narinas e as árvores mais próximas de queimaram por completo.
_Eu gosto de você, jovem mago. Por isso lhe ajudarei. –não conseguia saber como ele poderia me ajudar em um momento como esse, mas ainda assim larguei o que fazia e prestei atenção. –Siga seu último desejo, tome conta de seus filhos
. _Eu vou, prometi para ele. –estava impaciente. Esperava algo sem sentido e desnecessário, mas ainda guardava a esperança de um caminho a seguir.
_Você não entendeu, Merlin. Todos os seus descendentes. Haverão milhares espalhados pelo mundos nas próximas centenas de anos e será seu trabalho cuidar para que a linhagem Pendragon sobreviva ao tempo.
_Como espera que eu tome conta de milhares de pessoas em lugares diferentes? –me desespero, grito, o xingo.
_Você saberá quais merecem sua atenção. –sua resposta não me satisfez. –E estará lá quando ele voltar. O destino sempre está certo.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora