Lost in forgiveness

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Pov Merlin

Os portão da cidadela se abriu sob o foço quando os sentinelas viram nossa aproximação. Os cascos dos cavalos batiam na pedra fria e normalmente não fariam muito barulho, mas era madrugada, o lugar estava silencioso e imerso na escuridão, o que atraiu muitos olhares curiosos. Pessoas saiam das casas trajando nada mais que roupas de baixo para poder presenciar a agitação. Arthur nem sequer os olhou enquanto cavalgava pelas ruas do burgo até o pátio principal. Eu completamente entendia sua necessidade de privacidade em um momento como esse, todos pareceram compreender também, ou simplesmente se cansaram e voltaram para suas camas, porque sumiram pelas portas do mesmo jeito súbito em que apareceram. Criados apareceram assim que estávamos ao pé da escadaria, seguraram os cavalos enquanto descíamos e os levaram para o estábulo. Arthur segurava Brenda no colo, que impressionantemente ainda dormia, e a passou para os braços finos de Gaius, que havia acabado de aparecer na entrada principal, seu rosto transbordando alívio.
_Poderia, por favor, leva-la para seu quarto?- o curandeiro assente rapidamente.
_Quer que peça para algum soldado guardar a porta?- Arthur nega enquanto olha para o chão e anda em círculos.
_Não, não há necessidade. Subirei e ficarei com ela até a manhã.- dispensa o médico com um gesto de mãos e ele cambaleia segurando a criança para dentro do edifício.
Mordred parecia extremamente incomodado. Sua última visita a cidade havia garantido a execução de seu pai e ele quase havia seguido o exemplo se não fosse pela antes dócil e prestativa Morgana, que havia convencido todos de que não havia nada a temer no pequeno garoto. Mas esse garoto havia crescido e a intuição em meu corpo gritava desesperadamente que ele deve ir embora. Garotos crescem, fazem suas escolhas e possivelmente escolhem ficar ao lado da pessoa que fez de tudo para salva-lo, e caso essa fosse sua escolha, eu teria de lidar com mais um inimigo. Um poderoso.
Seus olhos percorriam as linhas da construção, se viravam para Arthur algumas vezes, então voltava a admirar a vila abaixo. Não dizia nada, nenhum de nós dizia, e eu não entendia o motivo. Não sabia nem porque estávamos do lado de fora ainda, mas Arthur parecia ter algo a dizer, algo que o incomodava. Tinha certeza de que estava pior do que ele. Provavelmente minha pele estava pálida e fria, porque eu havia acabado de ver um fantasma, um que assombrava meus pesadelos todas as noites, um que me fazia acordar gritando e depois desejar ter escutado o velho dragão, um que fazia todo o meu ser tremer em medo. Porque a espada pertencia a ele e não havia mais tempo para mudar o destino, ele se estabeleceu e Mordred cumpriria sua parte.
_Eu tenho uma proposta.- Arthur se pronuncia finalmente. Mordred levanta o olhar para o rei, alguns degraus acima do jovem, que faz uma reverência.- Você salvou minha vida, mostrou seu valor e merece uma posição digna de tal ato.- Mordred olhou ao redor, como se para ter certeza de que falava de si.- Você cresceu e se tornou um guerreiro formidável, merece ser recompensado.- escondo minha expressão de surpresa.- Ficaria honrado em tê-lo ao meu lado nas próximas jornadas.- Detrás de Mordred, sinalizo para Arthur não fazer o que está prestes a fazer, mas ele obviamente não me escuta.- Gostaria de possuir a honra de tornar-se um Cavaleiro de Camelot?- suspiro de cansaço.- Eu teria um discurso pronto, mas na verdade estou com preguiça e com muito sono.- os dois riem e o jovem se ajoelha, pronto para o juramento.- Qual a graça de fazer um juramento quando não há ninguém para ver?- toca no ombro do Druida, que se levanta.- Faremos uma celebração apropriada pela manhã. Descanse agora, Merlin lhe mostrará seus aposentos.
Assinto de mau grado e sigo pelos corredores em silêncio, sem ter certeza de para onde leva-los. Escolhi um quarto qualquer no corredor de Gwaine e Percival e lhe mostrei os arredores, ou pelo menos o que dava sem ter de sair do caminho para o cômodo. Abri a porta e esperei que entrasse, mas ele permaneceu do lado de fora, me observando.
_Você não gosta muito de mim, não é mesmo?- não respondo. Não sabia se deveria desmentir ou admitir a real verdade, então não disse nada enquanto esperava por seus próximos passos.- Eu verdadeiramente acredito no trabalho de Arthur, espero que um dia enxergue que não sou seu inimigo aqui.- continuei em silêncio e ele resolveu entrar. Fechou a porta e eu ainda não sabia o que fazer.
Não demorou muito para que descobrisse. Corri para o corredor principal e bati na porta de America. Provavelmente não minha melhor ideia. Ela poderia estar dormindo, Maxon poderia estar ali ou poderia estar vazio, mas seu rosto assustado abriu a porta e me recebeu com um abraço. Ela estava desesperada, conseguia ver, mas feliz em me ver novamente.
_Vocês estão bem? Brenda está bem? Onde ela está? Preciso ver ela.- começa a me bombardear com perguntar e espero que ela pare para poder fazê-la se sentar na beirada e respirar.
_Está bem, dormindo e em seu quarto.- ela ameaça se levantar, mas a sento novamente. Puxo uma cadeira e fico na sua altura.
_O que está acontecendo?- me pergunta hesitante com minha estranha aproximação. Eu não tinha certeza de como pronunciar aquelas palavras, não é fácil dizer que aquele sonho estava prestes a se tornar realidade.
_É Mordred...- começo enquanto observo um ponto fixo no chão.
_Mordred? Aquela criança? Porque quer falar dele? Eu preciso ver minha filha, Merlin!- se levanta, mas eu estava no caminho até a porta, e eu não me moveria.- Pode, por favor, me dar licença?
_Crianças crescem, America. Se passaram quase nove anos! Ele é alto, forte, está crescido e muito habilidoso.- ela se senta, a semente da ideia finalmente começando a crescer em sua mente.- Arthur está ferido, eu não sei...
_Não termine a frase.- me interrompe. Seus olhos estão fechados e não ouso atrapalhar seu momento de pensamento.-Isso significa que...- não precisa terminar a frase para jogar em minha direção nosso maior temor.
O trabalho de anos estava finalmente acabando. E eu falharia. Tentei repassar na minha mente onde havia errado e eu sabia exatamente quando fora esse momento, embora, pensando agora, não conseguia saber se voltando atrás faria algo diferente. Uma criança que havia acabado de ver o pai ser enforcado não merece o fim que eu deveria ter lhe garantido, nenhuma criança merece, mas Arthur pagaria com a minha vida por minha hesitação. Sempre acreditei que havia alguma saída, que ao longo do caminho encontraríamos um jeito de prevenir o que inexorável, mas aparentemente nove anos depois eu me deparava na situação em que havia me visto em um dos meus primeiros dias aqui. Sem um plano ou qualquer fonte de esperança para por um fim nesse desastre.
_Não faz sentido.- America continua.- Não entendo...- sua frustração me representava no momento.
_Seus fios sempre estiveram interligados, o dragão me avisou e nós nos recusamos a acreditar.- me largo na cadeira, deixando o pensamento no ar.- Ainda podemos acabar com isso.- me levanto, determinado.- Ele só tem que desaparecer.
_Desaparecer... Você quer dizer...?- nenhum de nós tinha a coragem de dizer a palavra, nenhum de nós tinha a coragem para fazer o que estávamos pensando, mas era o único jeito.- Ele não fez nada, Merlin!
_Ainda.- retruco.- É o único jeito.- ponho na cabeça que se repetir essa frase para mim mesmo centenas de vezes eu me sentirei melhor em relação ao que terei de fazer.- Mordred precisa morrer.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora