Lost in happily ever afters

85 7 0
                                    


POV Arthur
Não existem palavras para descrever o caos em minha mente. Estou em um labirinto sem saída, me despedaçando. São tantas coisas que não imagino como aguento. Meu pai está morto, minha irmã é uma louca procurando por vingança e ainda tenho que tomar conta de um reino, mesmo que eu não tenha ideia do que fazer na maior parte do tempo. Bufo de cansaço e me recosto na cadeira enquanto olho para os documentos à minha frente. Como as pessoas esperam que eu consiga fazer tudo, ser tudo , quando a única coisa que sou, sou eu mesmo. Só um príncipe metido a besta que não tem nada de especial. Então porque as pessoas esperam tanto de mim?
_Como está segurando?-levanto a cabeça e a vejo na porta, sorrindo pra mim, mas a preocupação evidente em seus olhos. Então entendo, provavelmente pela primeira vez desde que Morgana sumiu depois de destruir o coração do castelo, o motivo pelo qual ainda estou aqui lutando para construir um lugar onde sei que ela se sentiria orgulhosa de estar. Todas as nuvens nebulosas na minha cabeça imediatamente somem quando a vejo, ela é um raio ruivo na minha vida iluminando todas as minhas manhãs. Minha irmã pode ter destruído a alma desse reino, mas ela nunca conseguirá acabar com a minha, porque America é a batida do meu coração.
_Não estou. - respondo sincero e ela se aproxima com um sorriso triste.
_Precisa de ajuda?- nego com a cabeça.
_Sabe que amo suas ideias, de verdade, mas dessa vez preciso fazer isso sozinho. Pela minha própria sanidade.
_Você não precisa fazer isso agora... O que for que esteja planejando pode esperar. Você acabou de enterrar seu pai, Arthur, ninguém espera que receba responsabilidades agora. Todos estamos de luto. _Eu definitivamente não te mereço. - ela ri.
_É exatamente por isso que você merece. - ficamos em silêncio enquanto acaricio seus cabelos e ela se aconchega em meu colo. - O que está fazendo mesmo?- ela me encara com seus grandes olhos azuis.
_Preparativos para a nossa coroação. Música, enfeites, essas coisas...- dou de ombros e ela para de sorrir.
_Nossa?
_É, nossa. - reafirmo sem entender o motivo. Ela sabe que a amo, sabe que quero passar o resto dos meus dias ao seu lado, porque a dúvida repentina?
_Tudo bem. Eu... eu vou.. preciso ir ver Davi.- ela diz rapidamente e sai pela porta mais rápido ainda. Encaro a madeira por alguns instantes tentando compreender o que havia causado aquilo? Eu disse alguma coisa? Repasso as últimas palavras na minha mente, mas não consigo ver nada de errado. Acordo com a batida da porta e levanto os olhos rapidamente com a esperança de vê-la para que eu possa pedir desculpas, mesmo que não saiba o que fiz, mas ela só Merlin.
_O que aconteceu? Porque ela saiu brava batendo os pés?- ele se senta na outra cadeira e dou de ombros. - O que você fez?
_O que eu fiz? Eu não fiz nada!- me defendo, mas ele não parece convencido.
_Você tem que ter feito alguma coisa, ela não ficaria assim do nada. - penso por um momento.
_Eu só disse que estava preparando as coisas para nossa coroação, nada demais...
_Droga, Arthur! Você é idiota a esse ponto?- ele me encara, abismado. - Você não diz simplesmente que você vão se casar e que vai torná-la sua rainha.
_Não?
_Não!-ele grita de volta.
_Então o que eu faço?- ele bufa.
_Isso é para você decidir...- ele se levanta.
_O que? Você não pode simplesmente ir embora sem me dizer nada!
_Você é o rei, Arthur, acho que pode descobrir sozinho.- ele fecha a porta atrás de si e caio na cadeira.
POV America
_Bom dia, atrevida. - ouço sua voz rouca em meu ouvido e estremeço.
_Só mais um pouquinho...- resmungo e me viro de costas para ele, puxando as cobertas até a altura da testa, mas ela não fica ali por muito tempo. Abro os olhos assustada depois de não sentir mais os lençóis sobre mim e me sento para ver Arthur em pé ao meu lado e as cobertas no chão.
_Porque fez isso? Está frio.
_Porque vamos sair. - o olho sem entender, mas ele não explica.
_Para?
_Você vai descobrir quando chegarmos. Vamos, se levante. - o olho desconfiado e ele ri da situação. - Vamos, America, sem preguiça. - seu sorriso é tão contagiante que me animo na hora. - Temos muitos lugares para visitar hoje.
_Temos?
_Sim. Vou levá-la para um lugar especial. - bato palminhas e esqueço completamente todo o ocorrido de ontem.
Eu o amo, quero me casar com ele e construir uma família, porque preciso de um pedido e uma declaração quando sei que nunca fui tão amada? Com todo o estresse e os acontecimentos da última semana entendo perfeitamente sua atitude prática e rápida, e quem seria eu para privá-lo de sua última fonte de felicidade? Acaricio o focinho de Eclipse e ele relincha para mim. Sorrio ao vê-lo e percebo o quanto sinto falta da liberdade, se sentir o vento balançando meus cabelos enquanto fujo para um lugar qualquer. Os últimos dias passaram como um borrão e tudo o que quero é me livrar dessa morbidez que cercas as muralhas da propriedade.
_Se importa em ir comigo?-Arthur aparece trazendo seu garanhão. - Quero ficar o mais perto possível de você. - ele explica e dou de ombros.
_Te vejo depois amigão. - beijo sua pelugem e o guardo de volta na baia. - Mas só se eu for na frente.- Arthur parece ponderar, mas logo me pega no colo e me coloca sobre a cela. Fecho os olhos e aspiro o ar puro. Sinto os braços fortes de Arthur ao redor da minha cintura, me impedindo de desequilibrar. Nunca me senti tão leve e despreocupada. A sensação de liberdade é nostálgica e me faz querer aproveitar todo e qualquer segundo ao máximo. Ouço o som da ferradura nas pedras, os pássaros piando de todos os lados e o farfalhas das folhas enquanto atravessamos por entre a mata. Sinto o cavalo desacelerar a abro os olhos curiosa para saber onde estamos, gargalhando ao olhar para as cascatas. Arthur sorri ao notar minha reação e pula, para depois me pegar no colo novamente e me descer do cavalo.
_Não acredito que me trouxe aqui. - sorrio maravilhosa enquanto começo a subir nas pedras como uma criança aventureira.
_Achei que seria legal relembrar o momento. - ele sorri malicioso e retira os sapatos, assim como a blusa e se joga na água. Ele fica emerso por mais tempo do que o necessário e começo a me preocupar quando não o vejo submergir. Me ajoelho nas pedras para olhar atentamente as águas e procurar alguma reflexo de seu corpo, mas não vejo nada.
_Arthur?!Arthur?!- me desespero. - Onde você está? Por favor, apareça. - o xingo mentalmente enquanto continuo gritando por seu nome. Vejo a sombra no fundo, um borrão distorcido e me inclino mais para perto, os olhos semicerrados, e a última coisa que me lembro é de estar em baixo da água gelada, as bolhas ao meu redor enquanto nado para o ar. Balanço desesperadamente os braços e as pernas e encho meu pulmão de ar, respirando ofegante.
_Você é ridículo, Arthur Pendragon!- finjo estar brava e ele ri ao meu lado.
_Não era você que queria que eu me juntasse a você?
_Há três anos atrás.- retruco.
_Nunca é tarde demais. - ele se aproxima e me beija. Um beijo cheio de paixão e saudade. Desde que Uther descobriu sobre nós tivemos que tomar extremo cuidado, o que significa que não nos víamos o necessário e mesmo quando ele se foi, as coisas estavam tão confusas, que a distância entre nós só aumentava. E eu não podia ver a hora de voltar para seus braços. O dia passou mais rapidamente do que eu ansiava. Fizemos um piquenique na beira da cachoeira e quando percebi, já estava escurecendo. Saio da água e olho atentamente para minhas roupas encharcadas pesando sobre meu corpo.
_E agora, espertão? Morro de frio com essa roupa?- resmungo, apesar dele saber que é pura provocação.
_Eu disse que voltaríamos um dia para pega-las. - ele se abaixa nas rochas e retira um amontoado de roupas, as jogando para mim. As troco rapidamente e me aqueço com sua capa vermelha, que voa com o vento.
_Não estamos indo para casa?-pergunto hesitante ao não reconhecer o meio ao redor. Não está completamente escuro ainda, mas logo estará. O cavalo para em uma clareira aparentemente desconhecida para mim e Arthur desce.
_Só uma parada antes de irmos. - ele estica a mão e a pego. Adentramos nas árvores e paramos no barranco. Ele me olha com expectativa, mas não consigo compreender.
_Se lembra desse lugar?- ele pergunta enquanto começa a descer o morro com cuidado, me segurando para que eu não caia.
_Eu deveria?- ele continua em silêncio quando me guia ladeira à baixo até a margem de um pequeno lago.
_Aqui- ele se abaixa nas rochas perto aos arbustos- foi onde te conheci.
_Mas você me conheceu...- Ahh.- pela primeira vez compreendo. Já fazia tanto tempo, quase quatro anos, e tanta coisa aconteceu nesse meio tempo que eu nem ao menos me lembrava de quando quase afoguei e permaneci desacordada, completamente vulnerável, à mercê de um grupo de saxões até que ele aparecesse.
_Você faz isso bastante? Salvar donzelas em perigo?- me sento ao seu lado, nas folhas e galhos do chão.
_Não. Mas você não é uma donzela comum, não é mesmo?- ele sorri satisfeito e o abraço, me deitando em seu peito enquanto observamos a lua cheia no céu chegar em seu ápice.- Porque você me odiava?- ele corta o silêncio e fico sem saber como responder.
_Você me lembrava dele. Vocês é tudo o que ele não era e eu via você como um conjunto de todos os ideais e personalidades que um príncipe não deveria ter. Me desculpe, eu não deveria falar sobre ele...
_Não se preocupe, não me importo. Se não fosse por ele, você não estaria aqui. Se não fosse por ele eu provavelmente seria um a pior pessoa do mundo, um arrogante prepotente que não liga para ninguém. - sorrio satisfeita.
_Acho que está na hora de ir, já é noite. - me levanto preguiçosa e estendo minha mão.
_Agora?
_Davi deve estar perguntando por nós. Cavalgamos de volta para Camelot em silêncio, o peso das palavras entre nós. A cidade estava deserta, o toque de recolher já havia passado e somente guardas marchavam pela cidadela em suas rondas. Todos paravam para nos prender, mas sempre saiam envergonhados por constatarem que era o rei. Deixamos o cavalo nos estábulos e caminhamos silenciosamente pela cidade escurecida.
_Eu tinha preparado um jantar, mas acho que deve estar cansada. - ele comenta, sua voz falha.
_O que houve com você hoje? Está tão... diferente.
_Não estou diferente, só quero aproveitar meu tempo com a garota que amo.- ele sabe que não pareço convencida, então muda logo de assunto.- Quero te mostrar uma última coisa. Prometo que essa será a última. - ele praticamente implora, então cedo.
Ele me guia pelas escadarias, por corredores silenciosos e quartos abandonados, dando voltas e voltas pelos arredores sem nunca chegarmos ao lugar. Já estava ficando impaciente quando finalmente me dei conta de onde estávamos.
_Porque pegar o mais longo dos caminhos?-pergunto desconfiada enquanto subo os últimos degraus até a torre dos sinos, a mesma torre onde ele veio me pedir desculpas. O que aconteceu para ele querer relembrar nossos momentos mais marcantes?
_Precisava de uma distração até que tudo estivesse pronto. - ele responde vago enquanto me inclino sobre o parapeito. O olho esperando por uma resposta, mas ele só balança a cabeça, me indicando que eu deveria olhar para baixo. Então o faço. Todas as luzes da cidadela foram apagadas, todos os fogos do castelo morreram, mas sobre o calçadão de pedra da cidadela, centenas de velas, ou pelo menos imagino que sejam, estão depositadas no chão, brilhando mais do que a lua, formando a frase que espero ouvir há meses. Levo a mão à boca, em choque e desacreditamento, enquanto sinto as primeiras lágrimas escorrerem por meus olhos. Me viro para trás lentamente e o vejo ajoelhado na minha frente, um magnífico colar em suas mãos, as pedras nos adornos brilhando mais do que o fogo.
_É o que fazem na sua terra, não é? Se ajoelhar?- ele pergunta hesitante, acreditando que está fazendo errado. Ameaça se levantar, mas o impeço.
_Sim, sim...- tento limpar meu rosto e ele sorri radiante.
_Eu nunca esperei pelo amor, conhecia meu destino desde que nasci, o máximo que podia esperar era uma amizade com minha esposa. Então você apareceu, tão deslocada e excêntrica e eu simplesmente não conseguia acreditar no tamanho da minha sorte. Você me ensinou a ser uma pessoa, um príncipe e um rei melhor, aprendi que é melhor ser amado do que temido, você me mostrou o mundo como ele realmente é, me enlouqueceu tantas vezes que é praticamente impossível contar. Virou minha vida ao avesso, trouxe confusão e paz ao mesmo tempo. Você é tudo o que sempre sonhei e tudo o que sempre tive a certeza de que não conseguiria. Alguém uma vez me pediu para descrever minha casa, então eu comecei a falar sobre o seu cabelo e o som da sua voz, sobre como sua pele toca a minha e a maciez de seus lábios. Só então eu percebi que esse alguém esperava um lugar.- rio para mim mesmo.- Por três anos eu a fiz se esconder, a coloquei sob perigo mais vezes do que consigo contar, a privei da chance de ser feliz e me arrependo profundamente por não ter feito isso- ele aponta para si mesmo- antes. Estava com medo, aterrorizado para falar a verdade, ninguém nunca me amou como clama me amar e estava tão amedrontado de te perder que nem ao menos percebi que estava sugando sua chance de felicidade. -ela tenta argumentar, mas recomeço antes. - E eu te amo por me esperar. Por aguentar todos esses anos com nada a não ser promessas. Então, por favor, me dê a honra de me tornar seu rei, seu esposo seu confidente e acima de tudo, seu amor. Me dê o prazer de poder acordar todas as manhãs ao seu lado e poder gritar para o mundo que finalmente você é minha e que nunca a deixarei...
_Sim. Sim, sim, sim. Um milhão de vezes sim!- me ajoelho no chão e o abraço.
_Mas eu nem terminei!-retruco e ela sorri.
_Tenho certeza de que pode terminar depois, temos muito tempo.- ele seca minhas lágrimas com delicadeza enquanto o observo.
_Fico feliz que tenha aceitado. - suspira. -Não sei o que faria se tivesse dito não. Já encomendei as flores e os músicos para amanhã e não acho que eles gostariam de serem dispensados.
_Amanhã? Vamos nos casar amanhã?- pergunto surpresa.
_Algum problema?
_Não. -nego com um sorriso. - Nenhum. Está perfeito. - nos levantamos e lentamente ele prende o colar em meu pescoço, e me assusto com o peso. Jogo o cabelo para trás, para que ele possa ver como ficou e o beijo profundamente como se fosse a primeira vez, com a total certeza de que nada poderá estragar nosso felizes para sempre. Mas é claro que eu estava errada.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora