Lost with your Royal Highness

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Loucura define bem os dias que se passaram. Eu não entendia completamente o que estava acontecendo, mas notei a mudança nos ares imediatamente. Se os funcionários já eram rígidos e tensos com Clarkson perambulando no palácio, eu não conseguia imaginar o que estaria para acontecer que poderia ser pior do que ele. Perguntei para todos, mas parecia que ninguém parecia realmente saber exatamente o que acontecia. Quase como se Clarkson quisesse impedir que alguém arruinasse o que for que planejava. Criadas corriam pelos corredores carregando amostras de tecidos e documentos, o salão das mulheres estava fechado e a rainha passava o dia inteiro no interior resolvendo algo que permaneceu em segredo até o último segundo.
_Posso saber o que está pensando? –Ouço sua voz me chamando de volta para a racionalidade.
_Tentando descobrir o que estão escondendo já que não quer me contar. –sorrio brincalhona.
A tensão entre nós melhorou nos últimos dias, não brigamos, não discutimos, é como se fossemos grandes amigos, como se nada nunca houvesse acontecido. Mas aconteceu. E uma parte do meu coração não consegue parar de me relembrar esse ponto. "Eu te amo, America. Não quero que sejamos estranho um para o outro. Sei que seguiu em frente, criou sua família e não vou roubar a mulher de outro homem, tenho minha honra. Também sei que não confia em mim, e estou aqui para prometer que vou fazê-la confiar em mim novamente, passo a passo." Foi o que me disse quando me chamou em seu escritório ontem à noite.
Eu tinha um discurso inteiro preparado para o culpar por tudo de ruim que aconteceu na minha vida,mas quando chegou a hora eu simplesmente não consegui. Toda a raiva que senti, a traição do que ele fez comigo se foi instantaneamente quando olhei fundo em seus olhos e vi seu coração despedaçado. Então soube que a culpa era minha. Por um momento eu simplesmente não conseguia encontrar um ponto em tudo isso. Fingir que sou uma pessoa que claramente não sou, não perdoá-lo quando já fiz as pazes comigo mesma e continuar pretendendo que tudo o que aconteceu conosco nunca existiu é tolice. Sete anos podem ter se passado lá, mas pouco mais de dez dias se passaram aqui. Não se cura um coração partido em dez dias.
_Me desculpa em relação a isso, mas acho que gostará do que verá. –ele sorri travesso e estica sua mão. A pego com delicadeza e ele me guia pelos corredores em direção a entrada principal. Arthur está ali, confusão em seu olhar. Fico em dúvida se não entende o motivo de estar ali ou o porquê de me ver de mãos dadas com um príncipe que não é ele.
Me despeço de Maxon, um constrangimento palpável pela minha parte e me aproximo do meu marido, não perto o suficiente para matar a saudade. Todos os outros já estão ali, aqueles considerados importantes o bastante para testemunhar o que está para acontecer, o que significa que Merlin e seus icônicos comentários não estarão ao meu lado para me fazer suportar a noite dessa vez. Ficar no mesmo cômodo que Arthur estava se tornando insuportável. Não podia permanecer ao seu lado por tempo demais ou as pessoas perceberiam, não podia sorrir ou qualquer um notaria a paixão em meu coração e tinha que me contentar com olhares roubados entre refeições e conversas tediosas. A única parte do dia em que podíamos finalmente ficar junto é quando foge de seu quarto para se juntar ao meu e, quando acordo pela manhã, o prazer de tê-lo em meus braços se substitui para tristeza ao saber que terei de esperar mais um dia inteiro para vê-lo novamente.
Com tão pouco tempo ao seu lado, todas as chances em que tentei mostrar a verdade e me desculpar novamente por ter mentido foram interrompidas antes mesmo que eu começasse a dizer algo. E durante a noite que compartilhávamos eu simplesmente não conseguia acabar com o momento. Os borrões pretos no horizonte logo se transformaram em carros blindados, levantando uma vaga névoa de poeira por onde passava, até atravessar o chafariz e parar exatamente em frente à escadaria principal. Eu conseguia ver as bandeirinhas penduradas no capô, dançando conforme o vento, mas não conseguia acreditar que poderia ser realmente o verde e o vermelho que vi, aqui mesmo, meses atrás. Olho para trás, para Maxon, que, enquanto todos observam os convidados, sorri para mim e levanta a taça de champagne, em algum tipo de saudação. Sustentei seu olhar pelo o que pareceu segundos, e só quando senti mãos delicadas em meu ombro percebi que já havia passado muito mais do que isso.
_Nicoletta! –a abraço, ainda em choque. Ela me olha arregalada assim que nos separamos. Pelo visto a notícia de eu estar ali também era novidade para ela.
_America! O que faz aqui? Sinto muito por trazer o assunto à tona, mas achei que tivesse perdido. – sussurra para mim ao me abraçar novamente.
_Eu perdi. – a respondo de volta. – ela troca olhares entre mim e a garota a qual tem a cintura envolvida pelo noivo.
_Então o que diabos está fazendo aqui? Por favor, me diga que não é mais um de seus planos idiotas. – rio da lembrança de quando pedi que financiasse rebeldes. Eu havia esquecido desse detalhe completamente.
_Não se preocupe, te atualizo de tudo depois. –pisco em sua direção quando ela se afasta para fazer uma reverência aos monarcas illeanos e duas figuras escandalosas aparecem no meu campo de visão. _America! –as duas princesas pulam em mim, o que me faz rir da situação e da provável cara de Clarkson nesse momento, que infelizmente não consigo ver. Olho de relance para o lado e vejo Arthur encostado na parede nos observando, sempre nos cantos escuros e solitários, admirando ao longe. Sorrio de volta para ele e começo a me concentrar nas duas mulheres abraçadas a mim. – Você prometeu que nos visitaria! –Orabella grita para que todos possam ver e tem a ousadia de piscar para o rei nesse momento.
_Temos tantas coisas para contar! Encontramos muitos gatos no caminho até aqui e ficamos pensando para quem poderíamos apresentá-lo... –Noemi não consegue deixar sua excitação escondida. Sou levada pela animação das duas e me sinto imediatamente contagiada.
_Então você nos veio em mente! Tenho certeza de que vai adorar as escolhas que... –Orabella é interrompida pela gargalhada ao nosso lado. Elas olham sem compreender para Arthur rindo. No começo achei que algo tinha acontecido, então percebi que ele havia ouvido a conversa e ria da minha reação a proposta oferecida pelas italianas.
_Eu gostaria muito de vê-las tentarem, senhoritas. –ele sorri encantador, um sorriso que faria qualquer coração derreter, o meu inclusive. Precisei olhar para o chão para que ninguém me visse corar. Ele caminha em nossa direção e beija a mão das duas, que soltam suspiros apaixonados. –Tentei apresentá-la a alguns amigos, mas ela descaradamente os rejeitou. –mente descaradamente, aproveitando seu momento de brincar com a minha cara. Hesito ao olhar em sua direção, ainda com medo de que algo como o que aconteceu com Kriss se repita, mas ao olhar fundo em seus olhos me esqueço de qualquer problema.
_E o senhor, quem seria? –as duas praticamente brigam para ver quem ficará mais perto dele.
_Um ninguém. – responde humildemente.
_Esse é o Duque de York, nosso mais novo aliado. –Clarkson praticamente abraça meu marido, que não faz nada além de sorrir de volta. Tenho a impressão de que ele diz isso especificamente para a princesa italiana, que deve ter vindo exatamente por esse motivo. Aliança.
_Como nunca ouvi falar do mais novo Duque de York? –Nicoletta o olha ainda não convencida. Por um momento jurei que ele correria em direção ao seu quarto, mas a faísca em seus olhos foi maior e ele só sorriu, interpretando o papel de sua vida.
_Culpa do meu pai provavelmente. Me cortou de sua vida quando ainda era pequeno e também não fazia questão de seguir seu caminho. –Nicoletta continua em silêncio, o observando minuciosamente.
Ela é a princesa italiana e, ao contrário do rei de Illea, é inteligente e esperta o suficiente para conhecer possíveis futuros aliados e inimigos, pessoas poderosas que poderiam ou não ajudá-la. É claro que conhece o poderio inglês e seus integrantes, obviamente sabe que Arthur não faz parte desse núcleo. Tensão entre os dois continuou até que Orabella e Noemi voltaram a gritar alguma coisa. Voltei a ouvi-las contar sobre suas férias nas ilhas do pacífico, sobre as praias paradisíacas e os surfistas até que Clarkson anunciou um jantar especial em comemoração à chegada da princesa italiana e todos fomos nos arrumar. Estava atrasada, como sempre, então Mary, Lucy e Anne correram para me aprontar, fazendo seu trabalho até bem demais.
Desci para o Grande Salão só para descobrir que a princesa illeana também estava. Meu vestido não era muito comparado ao seu. As faixas azuis escuro descem por minhas curvas até encontrar no chão, a manga chega até os meus pulsos, cobrindo tudo. O dia não está frio em si, mas achei que depois do meu incidente com Arthur e o biquíni colocar algo mais ousado faria sua cabeça explodir e, ao contrário do vestido recheado de brilhantes de Kriss, o meu era liso e opaco, mas nem por isso menos bonito. Eu me sentia bem nele, me sentia bonita, e para mim isso era o suficiente.
Estava orgulhosa do trabalho das garotas que, em tão pouco tempo, conseguiram fazer com que a cauda do vestido me ajudasse a parecer uma sereia, ou pelo menos até o rasgo lateral. Ouvi o barulho sem compreender exatamente o que era aquilo. Então senti a brisa em meu quadril, que mesmo por entre os corredores parece ter encontrado um jeito de entrar, e vi minha pele desnuda entre os vários tons de azul. Levanto o olhar, chocada com tamanha barbaridade, e vejo o pedaço arrancado do vestido nas mãos de Kriss. Ela parece assustada consigo mesmo, mas logo sorri maliciosa.
_Isso é por me desafiar. Nunca mais ache que possa me fazer de idiota. – ela joga o pedaço de tecido para mim, que flutua até cair no chão, aos meus pés e sai.
Eu tinha certeza de que todos a essa hora já deviam estar no Grande Salão e consegui impedir as lágrimas de descerem. Eu não sou mais aquela garota, aquela que chora por um vestido rasgado, eu amadureci, cresci o suficiente para saber que ninguém me derrubará antes que eu o derrube primeiro. Uma parte do tecido no chão é o menor dos meus problemas. Retiro os saltos e corro de volta para meu quarto, jogando os sapatos em um canto qualquer e abrindo o armário a procura de algum kit que possa remendar esse estrago. Não encontrei minhas criadas em lugar nenhum, mas, no escuro do fim do armário, achei o vestido que nem ao menos sabia da existência.
Não é meu estilo preferido, mas não é como se eu tivesse mais opções. Eu só conseguia pensar na vergonha que eu passaria ao adentrar no salão vestindo isso. O vestido vermelho que usei para seduzir Maxon durante a seleção não se compara em nada com esse. Por um momento achei que tivesse entrado no quarto de Celeste, mas era o meu mesmo.
Hesitante, o vesti e, desconfortavelmente, desci para o ninho de cobras. Todos conversavam descontraidamente até me notarem. Qualquer um que abrisse as majestosas portas entalhadas em ouro do salão receberia uma atenção grande, mas o choque foi maior do que eu estava esperando. Olhei para baixo, para mim mesma, talvez eu tenha passado dos limites, pensei, mas ao olhar o rosto fumegante de Kriss eu soube que tinha acertado em cheio. Ouvi os sussurros isolados, os ignorei e me dirigi ao meu lugar na mesa, mas sem andar dar a volta ao redor dela para para atrás da princesa.
_Está estonteante, America. –Celeste confessa com um sorriso malicioso. Eu não sabia o que ela imaginava ser o motivo para eu estar vestindo essa obra de arte, mas todos pareceram concordar com o comentário.
_Obrigada. Vossa Alteza me ajudou a escolhe-lo, não é mesmo Kriss? –sorrio triunfante enquanto ela desce o álcool pela garganta, para logo me sentar ao lado de Arthur. Demorou um pouco para que todos conseguissem se recuperar da minha chegada e voltassem a conversar entre si. Minha mãe, sentada ao meu lado, não parecia nada animada com minha escolha de roupa, mas também nada disse. Arthur, na minha esquerda, não me dirigiu uma palavra durante todo o jantar. Eu não entendia o que estava acontecendo, tentava puxar conversa e ele me respondia com respostas vagas para logo em seguida se voltar para a comida que nem ao menos gostava.
_O que aconteceu? –chuto, nada delicadamente, sua perna por debaixo da mesa. Ele faz uma careta de dor, mas logo a reprime, abrindo um sorriso.
_O que aconteceu foi esse vestido. –diz ainda de mau humor. Eu realmente já estava ficando de saco cheio de seu ciúmes obsessivo. Senti a semente da irritação plantada em mim. A raiva me subiu a cabeça. Ele não pode brigar comigo por causa das roupas que uso, sou independente e mesmo que seja meu marido, mesmo que seja de um milênio completamente diferente, as coisas não funcionam assim, não aqui. –Eu só quero te agarrar e rasgar ele inteiro. –então subitamente seu humor muda completamente, ele sorri vermelho, tentando esconder a vergonha por ter dito isso em voz alta, alta num sussurro quase inaudível. Sinto meus músculos relaxarem imediatamente e a raiva se esvai momentaneamente.
_Eu avisei que tinha coisas piores guardadas no armário. - sorrio maliciosa.
_E eu prometo que jamais vou duvidar de você. Você devia usá-lo mais vezes. –seu olhar decai para meu corpo perfeitamente ressaltado pelo tecido. –Acho que tenho que concordar com Merlin ao dizer que amo esse século. –ele se inclina mais em minha direção, sua respiração quente em meu pescoço me faz tremer, sua voz rouca agita meu coração, sua barba roçando na minha pele. Eu tinha me esquecido completamente que estávamos em um lugar público, que era minha mãe quem estava sentada ao meu lado e que muitas pessoas poderiam estar vendo essa cena.
Então quando Arthur subitamente se afastou, com um sorriso travesso no rosto e não se virou para mim o resto da noite, eu soube exatamente o que ele queria. Maxon parecia saber também, porque, mesmo que tentasse disfarçar, seu olhar se decaia sobre mim todo o tempo. Ele não parecia muito satisfeito e imagino que não deva ser fácil para ele suportar uma cena como essa na sua frente, mas não existe outro jeito.
Sua mão se levanta lentamente em direção da orelha e logo volta a segurar os talheres. Ele só desgrudou os olhos de mim quando repeti nosso sinal. Estava esperando as pessoas do lado de fora, morrendo de vontade de correr de volta para o quarto e tirar essa abominação a que se chamam de vestido, mas ainda tínhamos uma noite inteira pela frente, afinal, a família real italiana está aqui e se tem um grupo que goste de uma festa, esses são a família de Nicoletta. Estávamos nos encaminhando para onde a festa realmente aconteceria quando ela me chamou em um canto.
_Você parece amiga do duque. –Ela diz a última palavra com certa amargura. –Então poderia, por favor, me explicar porque Clarkson acredita que ele é um quando claramente não é?
_É complicado... –olho ao redor na tentativa de ver alguém que possa me tirar dessa situação, mas estamos sozinhas. –Ele não é um duque, é rei. –sua sobrancelha arqueia, ainda sem acreditar na minha história. –É um reino pequeno, um arquipélago no Pacífico. Houve um golpe de estado e ele está se refugiando aqui. Você mais do que ninguém entende o perigo. –ela abre a boca de susto. – Clarkson não sabe e nunca poderá ficar sabendo.
_E você sabe por quê? –ela me estuda por alguns segundos e começa a falar antes que eu possa responder. –Coisas de rebeldes, sei. –ela entrelaça seu braço ao meu e continuamos conversando. – Então me conte sobre o outro homem que está apaixonado por você. – a olho confusa. –Vi a troca de olhares entre você e Maxon. –Troca de olhares entre eu e Maxon? Houve uma troca de olhares entre eu e Maxon? Eu estava tão louca ao ponto de não saber nem o que estava fazendo ou o sentido que dava às minhas ações? Porque se troquei algum olhar expressivo com ele com certeza não posso ter demonstrado mais do que simples afeto e carinho.
_O que está acontecendo entre vocês dois?
_Ele está tentando reconquistar minha confiança depois de não ter me escolhido. Trouxe minha família até aqui, você, tortas de morango... Quem sabe o que fará em seguida.
_E você vai aceita-lo de volta? É o que vocês querem, não é? Voltar um para os braços do outro? Porque vocês claramente se amam.
Será que as pessoas não notavam o quanto eu mudei? Maxon é meu passado, posso tê-lo amado um dia, mas isso não justifica as pessoas encontrarem coisas onde não existem. Talvez não haja nada, só seus subconscientes trabalhando para ver aquilo que querem ver. Eles querem que eu o ame, que fiquemos juntos. Ou talvez, só talvez, eu realmente não tenha mais tanto controle sob meu coração quanto eu achava que tinha.

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