Lost in our last dance

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  Nunca havia visto aquele salão tão cheio. Aristocratas, senhores de terras, reis, rainhas e príncipes vieram celebrar conosco, mesmo que a maioria deles fossem simplesmente curiosos querendo ver os reis que haviam sumido por quase dois anos. Não os culpava por serem intrometidos, pelo contrário, sua presença era mais do que bem-vinda. Chefes tribais viajaram um longo caminho do continente até Camelot, apesar de eu ter quase certeza de que a maioria deles possuía segundas intenções em estar ali, afinal eles sempre tem. Até nossos maiores inimigos, depois de Morgana, dançavam em nosso salão, bebiam de nossa cerveja e acabavam com nossa comida. Não queria convidá-los, mas Arthur insistiu, então cedi. Por isso observava enquanto eles, anglos, saxões, frísios e jutos, se juntavam naturalmente a todos os bretões.
Estava preocupada que fossem arrumar encrenca, isso sempre acontecia no fim, depois de beberem é praticamente impossível controlá-los, apesar de que na maioria das vezes a situação se torna engraçada, mas ainda assim ordenei que suas espadas e armas fossem deixadas do lado de fora. Bebida e espada definitivamente não é uma combinação legal. Nós quase nunca usamos esse salão, permanece empoeirado e fechado a maior parte do ano, mas hoje ele brilhava na noite. Os lustres de cristal reluziam a luz das centenas de velas espalhadas pelo lugar, o leão dourado de Camelot aparecia pendurado em diversos tamanhos e modelos pelo lugar. Em um canto, os músicos animavam a noite e dezenas de malabaristas atravessavam o salão fazendo o que fazem de melhor: chamar atenção.
Sempre os adorei, pelo simples fato de que só de estarem ali alegravam a festa e melhoravam meu humor completamente, e também por mostrar o quão diferente as festas são em comparado à minha antiga casa. Merlin era um desses hoje e queria deixar claro que foi sua própria escolha. Ele andava pela multidão, fazendo borboletas apareceram e soltando fogo pela boca. Todos já estavam bêbados demais para reparar o quão impossível aquilo é, mas eu sabia o real motivo para estar fazendo aquilo. Além de vestir as roupas espalhafatosas de bobo da corte, ele queira, mesmo sendo um pequeno passo, demonstrar para Arthur os benefícios da magia.
Brenda e Davi corriam por entre as pernas dos convidados, os derrubando, e nem sequer olhavam para trás para ver o que haviam causado. Eles estavam felizes, todos podiam ver seus sorrisos iluminando seu rosto, e isso me alegrava mais do que eu poderia admitir. Eu não sabia o que havia acontecido com eles durante o tempo em que permanecemos longe, mas imagino que não tenha sido o dos mais felizes. Arthur tentou fazer com que os dois parassem por um tempo, mas falhou miseravelmente, até que desistiu. Foi a escolha certa a se fazer.
No lado oposto ao da porta, poucas pessoas se sentavam na mesa em forma de "C", Arthur era um deles, meu marido ria alto enquanto conversava com os homens ao seu lado, e eu não tinha ideia de quem eram, mas parecia não prestar muita atenção em quem quer que fosse. Seus olhos analisavam o salão atentamente, o estudando, quase como se para guardá-lo na memória. Então seu olhar repousou em mim e Maxon, e ele sorriu alegre antes de voltar sua atenção para as pessoas ao redor.
_Isso é... diferente. –completa com um meio sorriso. Encontrei Maxon encostado em uma das paredes laterais, escondido pela quantidade de pessoas. Eu não sabia interpretar seu olhar, mas esperava que estivesse gostando.
_Eu gosto, não é tão parado, algo sempre acontece. –ele gargalha, consentindo.
_Realmente, Merlin foi de rei à bobo da corte em poucos dias! Ele parece estar se divertindo ali. – aponta com a cabeça para o moreno correndo atrás dos sobrinhos. –Era para ela que me apresentaria? –sigo seu olhar para Mithian, também observando o criado. Assinto, triste.
_Eu não sabia que ela já estava comprometida. –ele dá de ombros e volta a observá-la.
_Ela é maravilhosa. –comenta com um suspiro e tive uma vontade enorme de perguntar como isso aconteceu. –Ela me contou como conheceu vocês.
_Não foi uma das minhas noites favoritas. –confesso, me lembrando do dia em que terminei com Arthur por acreditar que ele se casaria no dia seguinte, de como chorei durante a noite inteira. –O que está achando daqui? Honestamente. –ele olha ao redor por um momento, fugindo dos meus olhos, então inspira fundo.
_Tirando o fedor constante. –sorrio, realmente a falta de saneamento básico faz muita diferença, mas não existe muita coisa que eu possa fazer com isso. –e minha saudade de casa, eu gosto de alguns aspectos desse lugar. –permaneço quieta, esperando pelo resto da sua resposta. –Essa alegria... é tão diferente de onde viemos. Arthur odeia a maioria das pessoas nesse lugar e ainda assim estão rindo e se divertindo juntos. É admirável. –completa.
_Eu sinto falta de casa também, é impossível evitar. –seguro as lágrimas só de pensar que nunca mais os verei.
_Me desculpe. –sorrio ao ver seu desconforto quando ameaço chorar.
_Você não tem que se desculpar, a escolha foi minha. Eu até escrevi cartas para eles, explicando o que havia acontecido. Só espero que entendam.
_Eles vão. –me acalma depois de fazer uma careta. Olho para trás para ver o motivo para seu desgosto a tempo de sentir os braços de Arthur ao redor da minha cintura.
_Por favor, me salve. –implora em um sussurro. Estremeço, mas sorrio. –Posso roubá-la só por um instante? –sua voz se dirige para Maxon, que assente sem animação.
Arthur segura minha mão e me guia por entre a multidão até o centro do salão. Eu não sabia se ele tinha esse final como objetivo principal, ou se foi uma pura coincidência a música lenta ter começado assim que colocamos nossos pés na pista, só sei que ele me tomou nos braços dançamos juntos. Mesmo tendo prometido, em sete anos não consegui aprender a dança desse lugar. Arthur tentou, talvez mais vezes do que o essencial, e eu simplesmente não conseguia. Demorei muito tempo para conseguir não pisar nos pés dos meus parceiros em Illea, é pedir demais que eu aprenda uma segunda. Ele não parecia se importar, achava até fofo o meu desastre, e acho até que prefere a valsa à qualquer outra das muitas danças que existem aqui. Geralmente os convidados nos acompanhariam no centro, mas nenhum deles conhecia os passos, então permanecemos sozinhos, rodopiando no salão, música após música. No começo as pessoas pararam para nos ver, bateram palmas, mas quando viram que as coisas não seriam rápidas, voltaram para seus próprios afazeres.
_Tenta adivinhar quantas propostas de casamento recebi para Brenda até agora? –eu não sabia, mas podia imaginar que eram muitas, até porque eu também havia recebido várias.
_Eles vão fazer filas por ela. –admito parcialmente preocupada. –Vai aceitar alguma? –engulo em seco, amedrontada pelo futuro da minha filha.
_Algumas são muito tentadoras, admito, mas se tem uma coisa que aprendi com você é que felicidade vem primeiro. –sorrio, aliviada, e me encosto em seu peito. –Conversei com Davi, disse para ele que nunca deve vender uma mulher, que um bom rei deve poder resolver seus problemas sozinho.
_Ele é esperto, Arthur, nunca faria isso com a irmã. –retruco.
_Eu sei, ainda assim é bom garantir. –sua mão em minha cintura estava firme e nossos rostos quase se tocavam de tão perto que estavam. Conseguia sentir sua respiração acelerada enquanto a música decorria e seus olhos brilhantes não descolavam dos meus. Permanecíamos a maior parte do tempo em silêncio, simplesmente nos olhando enquanto dançávamos. Eu tinha consciência dos olhares de Maxon e de todos ao redor, embora eu não me importasse. Arthur é meu marido e tenho total direito de ser feliz ao seu lado.
_Eu já disse o que senti naquele dia? Quando dançamos pela primeira vez. –sua voz rouca em meu ouvido me faz acordar, e ele se afasta o mínimo possível para que eu possa observar os traços do seu rosto. Nego, ansiosa para ouvir suas palavras. –Eu me lembro de ter acordado naquela manhã tentando relembrar a noite que podemos ou não ter passado juntos. –ele me gira em meu próprio eixo e me puxa de volta rapidamente. –E de como eu queria poder ter uma memória para passar meus dias a repassando em minha mente. A noite, obviamente, não estava decorrendo do jeito que eu imaginava...
_Agora pelo menos eu sei que nunca devo deixar que chegue perto da cozinha. –interrompo para seu sorriso.
_Era difícil para mim admitir o que sentia por você, ainda mais depois dela. Eu não queria te colocar em perigo, mas eu simplesmente não conseguia evitar. Então você me chamou para dançar e eu soube que você se sentia do mesmo jeito. –ergo uma sobrancelha e ele sorri terno, beijando minha testa rapidamente. –Eu conseguia sentir seus batimentos quando a deixei cair, meu coração palpitava e eu só conseguia pensar que estava finalmente acontecendo. Eu fiquei surpreso quando me beijou de volta, estava esperado um tapa ou algo do tipo.- gargalhamos.
_Fico feliz que não tenha correspondido às expectativas.
_Então você me beijou de volta, as coisas esquentaram e eu só conseguia pensar... Uau. –tenho certeza de que corei. –Eu não tinha ideia do que fazia na maior parte do tempo, só queria que aquele momento durasse.
_Então Merlin apareceu. –ele faz uma careta à menção do nome do amigo, mas logo sorri e me puxa mais para perto, o que parecia impossível.
_Como foi mesmo? –ele faz uma expressão de dúvida e logo sinto a gravidade fazendo efeito sob meu corpo, que cai para ser segurado por seu braço. Ofego, mas encontro seu rosto bem próximo ao meu, como da outra vez. –Então eu te segurei, me aproximei e finalmente... –ele não terminou sua frase. Nossos lábios se tocaram antes que pudesse terminar e senti a nostalgia me invadir. Eu ouvia os gritos ao redor, mas não lhes dei atenção. As mãos de Arthur passeavam por meu corpo enquanto eu perdia completamente a noção do tempo. Eu torcia e rezava para o ar não se fazer necessário, e as coisas estavam indo bem até que senti meu vestido ser puxado. Me separei assustada, relutante em abrir os olhos. Então olhei para baixo, para Brenda, nos encarando e de braços cruzados. –Te beijei.- completa ofegante antes de notar nossa filha.
_O que houve, amor? –me agacho para ficar do seu tamanho.
_Nada, mamãe, só queria atrapalhar. –ela sorri travessa e corre para longe.
Arthur sorri e me beija rapidamente antes de se afastar puxado por alguém. Eu não tinha muita noção de para onde ia, só queria sair do centro. Ainda corava e tentava esconder minha vergonha quando Mithian apareceu em meu campo de visão. Ela conversava com um grupo de homens e mulheres que eu particularmente achava que deveria conhecer, mas ainda assim me aproximei. Todos fizeram uma reverência e eu fiz o mesmo, podia não saber quem eram, mas a possibilidade de serem pessoas importantes era muito grande. Demorou um pouco para que finalmente conseguisse puxá-la para um canto.
_Aquilo foi um baita show. –abaixo a cabeça, envergonhada com sua provocação. Está vendo aquele homem? –ela aponta com a cabeça para o guerreiro ao lado de Arthur. Era velho, pelo menos para os moldes dessa idade, quarenta anos ou mais, o cabelo ralo começava a desaparecer e a barriga era bem evidente. –Seu nome é Oswald, Rei Oswald agora. Ele é o anglo que derrotou Odin e tomou suas terras. –assinto em compreensão. Agora eu entendia o motivo para a súbita amizade entre Arthur e o novo rei. –Vou me casar com o filho dele. –Engasguei com a notícia. Tentei diversas vezes perguntar algo que faria o mínimo sentido, mas não consegui. Estava transtornada.
_Já era tempo de seguir em frente. –dá de ombros. –Eu e Merlin nunca daríamos certo, e, além do mais, Eldred é uma boa pessoa, eu gosto dele.
_Fico feliz por vocês. –tento soar o mais sincera possível, porque temia a reação de Merlin quando ele ouvisse a notícia. –Mas você...
_Ele sabe. –me interrompe.
_Tem certeza mesmo de que não daria certo? –ela sorri triste e confirma.
_Eu tenho meu reino e ele tem o dele, nenhum de nós está disposto a abrir mão disso para ficarmos juntos. Ele me contou sobre seu destino e eu não tive opção além de aceitar. Que tipo de casamento teríamos se não podemos ficar mais de um dia no mesmo lugar? –não respondo, já tinha compreendido. Mithian é mais velha do que Merlin dois anos, e enquanto ela já foi casada duas vezes, nunca vi meu amigo dizer que já havia tido uma outra namorada que não fosse ela. Eu achava essa relação engraçada e não entendia como poderia funcionar, mas funcionou, e talvez se Arthur tivesse morrido quando foi destinado a morrer quase dois anos atrás, eles estariam casados.
_Eu acho que deveria falar com ele, não é mesmo? –assinto e a observo enquanto caminha até seu futuro sogro. Observo de longe a plateia batendo palmas para os artistas, meu filho dançando ao lado de uma garota, Brenda cutucando Percival em uma tentativa desesperada de fazê-lo se irritar. Procuro por seus cabelos loiros e o encontro ao lado dos músicos, onde uma garota o ensina a dançar. A cena estava razoavelmente engraçada e Maxon parecia estar verdadeiramente se divertindo. Eu sabia quem era a garota e me perdi ao tentar imaginar qual seria a diferença de idade entre eles. Ao contrário das outras, ela não se jogava nele, parecia aproveitar sua companhia, soltando risadas constantemente. Me senti aliviada imediatamente por saber que ele é capaz de ser feliz aqui.
_Posso falar bem dele para o pai dela se ele quiser. –pulo, assustada, quando ouço sua voz em meu ouvido, mas era só Arthur, sorrindo enquanto observava a mesma cena que eu.
_Eu acho que ele consegue uma garota sem a sua ajuda. –ele dá de ombros.
_Eu vim aqui com uma proposta. –o olho, curiosa, e espero que continue. –Nós deixamos essa festa e vamos para nosso quarto fazer nossa própria festa. –ele me olha sugestivo e não consigo deixar de rir.
_Somos os anfitriões, não podemos sair. –retruco, ainda que tentada a aceitar. Ele faz biquinho e me observa por alguns segundos antes de voltar a implorar.
_Devia ter pensado nisso antes de colocar esse vestido. –olho ao redor, sem procurar por algo especificamente, e quando percebo que ninguém está nos notando, assinto. Arthur segura uma das minhas mãos e silenciosamente lutamos por nosso caminho até o portão. Eu estava esperançosa de que conseguiríamos sair sem ninguém nos notar, mas Merlin já nos esperava do outro lado da porta. _Era só uma questão de tempo antes de vocês saírem. –diz assim que nos encontra.
_O que quer? –Arthur não tentou parecer sutil.
_Um mensageiro chegou. Aparentemente você calculou errado a raiva de Morgana. –explica. _Quantos dias? –Arthur pergunta sério.
_Dois dias. Se tivermos sorte. –e com essas poucas palavras a festa acabou, pelo menos para nós. Porque em dois dias Morgana apareceria em Camlam e em dois dias Arthur estaria morto. Eu tinha 48 horas para salva-lo e não sabia nem por onde começar.



Desculpaaa a burra aqui perdeu a senha do watt  

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