Lost in visions

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 A água estava turva. Era quase impossível ver qualquer coisa. Sabia que estava debaixo da água, mas não me sentia molhada, era como se houvesse uma camada de ar ao meu redor. Olho para o alto e consigo ver o azul do céu, desbotado pelo marrom do rio. Sinto um enorme impulso de respirar, a necessidade incansável de sobreviver, então começo a me mexer, balançar os braços em desespero para subir, mas a água parecia não acabar. Nadava e nadava, mas era como se eu não saísse do lugar. Me desespero. Bolhas saem da minha boca e balanço a cabeça a procura de algo que possa me ajudar, alguém para me socorrer, mas encontro meu pior pesadelo.
A prata brilha na água escura e é impossível não olhar. O corpo afunda, lentamente, e seu rosto pálido me faz estremecer. Ainda está vivo? A capa vermelha flutua na água, fazendo com que a demorada viagem até o fundo, demore mais. Os olhos de Arthur não se abrem, completamente inertes. Ele não respira. Me desespero. Olho para o alto novamente, em busca de ajuda, e a claridade parece iluminar um canto da margem, uma garota, de cabelos ruivos claro, ou seria loiro? Seu rosto é pálido e se não fosse por sua expressão fria e determinada, poderia jurar que via um anjo. O capuz sobre a cabeça só a dá um ar mais misterioso, seus olhos brilham, do mesmo jeito que havia visto várias vezes em minha vida quando um feiticeiro diz algo, e sua mão estendida em minha direção simplesmente confirma minha intuição de que a garota é razão de tudo isso.
Nado em direção de Arthur, sinto meus pulmões arderem, gritando por oxigênio, mexo meu corpo e luto contra qualquer coisa que impeça que eu o alcance. Quando finalmente toco sua bochecha sem vida, acordo.
Inspiro profundamente. Recuperando todo o ar e o susto do terrível pesadelo. Meu coração bate mais rápido do que posso acompanhar, meus sentidos estão ampliados, meus olhos arregalados e suo frio.
_Arthur.

_Meu nome é Alfric, herdeiro de Tirmawr. Essa é minha filha, Sophia. - o homem se apresenta, assim como a bela garota ao lado.
_Você está bem longe de casa. - Uther constata, a curiosidade visível em seus olhos. -O que o traz à Camelot?
_Nossa casa foi saqueada por assaltantes. Mal conseguimos escapar, somente com alguns bens que conseguimos carregar. - o velho explica. A filha sorri, doce, esperando que o rosto sereno consigo convencer o rei de que não há nada a temer, enquanto o príncipe a observa de perto, tentando compreender a história da dama que havia acabado de salvar, como muitas outras vezes antes.
_O que vai fazer?
_Viajamos para o oeste, para Caerleon onde nossa família mora, onde espero construir uma nova vida
_Deve ficar aqui, descansar da viagem, uma família nobre como a sua é sempre bem vinda à Camelot. - Uther diz a palavra final e Arthur comemora em silêncio. A família faz uma reverência e se retira do salão.

_Quem é aquela?-atravesso o corredor, com a certeza de que havia acabado de ver um fantasma.
_Sophia Timawr. - Merlin responde como se o nome não fosse nada demais. - Nós a resgatamos na floresta. Bom, foi o Arthur que fez quase tudo.
_Ela não pode ficar aqui. -ignoro tudo o que ele disse.
_Bem, o rei disse que ela e o pai são bem-vindos em Camelot. Está tudo bem?- a observo sumir no fim do corredor e tento entender o que acabou de acontecer.
_Sim. - minto e sorrio, tentando o convencer. -Obrigada. - vou embora antes que mais perguntas apareçam.
Corro pelos corredores atrás da única pessoa que pode me ajudar. Passo o trajeto pensando nas possibilidades, se estou louca ou se realmente acabei de ver o que vi. Gaius está em sua mesa, mexendo poções, como sempre. Ele se assusta ao me ver, mas logo abre um sorriso alegre.
_Desculpe, não quis interrompe-lo.
_Não se preocupe, minha filha, minha paciente preferida é sempre bem-vinda. - abre os braços e aceito seu abraço reconfortante.
_O que a traz a este cantinho escuro?- me debato, com a incerteza se contar realmente é a coisa certa a se fazer.
_Tive outro sonho. - nos últimos anos quase não consigo dormir. Sempre sou assombrada por lembranças ou simples imagens que nunca parecem ter nada a ver com nada. Gaius prepara poções, para me ajudar a passar por meus pesadelos. Ele me olha com expectativa, esperando que eu conte o que for que tenha visto. - Eu vi Arthur deitado de baixo da água, se afogando. E tinha essa mulher em cima dele, o vendo morrer, e ela está aqui em Camelot.
_A nossa mente nos engana. - me interrompe. - Pega fotos de todos os dias e os transforma em fantasia.
_Mas eu tive esse sonho antes de ela vir para Camelot!- tento argumentar.
_Deve estar enganada- persiste.
_Eu sei o que vi. Foi tão real, tão vívido. Eu o vi morrer, Gaius. Ela vai matá-lo.
_São apenas sonhos, Morgana, nada mais. - suas mãos em meu ombro tentar me acalmar, mas a cada palavra que sair de sua boca, mais determinada fico a provar de que não sou louca. Sophia está mentindo e mesmo que ninguém acredite em mim, eu preciso descobrir a verdade. - Está tomando o sonífero que fiz para você?
_Não adianta em nada. - ele se afasta e pego um fraco verde na mesa. - Experimente esse, induzirá um sono mais profundo. - tomo o jarro em minhas mãos e saio do cômodo sem dizer mais nada.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora