Lost in a broken heart

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Pov Maxon _
Lâmpadas? Televisão? Um fogão, geladeira... Nada?- Arthur nega com a cabeça.
_Nada. - reafirma.
_Como? Por quê?- não consigo conter minha surpresa. É a primeira vez desde que America chegou que consigo finalmente baixar a guarda.
Os dias estiveram tensos desde seu reaparecimento e, embora não possa estar mais feliz por poder vê-la novamente, não consigo tirar a sensação de que a garota que desapareceu uma semana atrás não é a mesma que voltou. Ela parece diferente, tirando seu novo sotaque arrastado toda vez que tenta esconder quando diz algo com a letra "r" e seu novo vocabulário polido e bem educado, é uma aura ao seu redor, de maturidade e magnificência, que mesmo que ninguém note, eu noto.
Perdi a conta de quantas vezes toquei a orelha, de quantas vezes fui ignorado e cada vez mais possuo a certeza de que ela me evita. Seja nas horas das refeições, no corredor ou até mesmo quando insisto em visitá-la em seu quarto. Sei que tive parte da culpa, não a escolhi e admito que errei, mas como posso me desculpar se ela nem ao menos troca uma palavra comigo?
_Meu pai não gostava de tecnologia. - a essa hora todos na mesa encaram o duque.- Ele costumava dizer que para ser um verdadeiro líder e guerreiro, era necessário aprender como os verdadeiros líderes e guerreiros viveram, lutando para sobreviver, sem qualquer regalia do mundo atual.- olho para o homem na minha frente intrigado. É como se ele tivesse vindo de um mundo completamente diferente, não de Londres.
_Ele parece um homem sábio. - meu pai elogia e sinto a comida se remexer no meu estômago. Reviro os olhos de nojo. Alguns poderiam dize que é inveja, talvez realmente seja.
_Ele tinha seus momentos. - responde com um sorriso fraco e abaixa a cabeça. A mesa cai no silêncio, a informação da morte do pai pesa na consciência de todos por ter trago o assunto à tona.
_Porque não o levo e lhe apresento ao computador? Tenho certeza de que ficará fascinado!- olho para meu pai em busca de aprovação, afinal, na última vez em que estive naquela sala com America, acabei por declarar um novo feriado nacional e provocar muita confusão.
_Não sei o que seria, mas não possuo nada planejado para o fim da tarde. - ele sorri em direção do meu pai, que assente. Sinto a mesa balançar e Arthur pular na cadeira, uma expressão de dor no rosto.
_Porque pisou no meu pé?- ele ralha em baixo tom para a garota ao seu lado, para America, com intimidade.
Ela simplesmente olha para meu pai e ele parece compreender. Então, como se tivesse esquecido completamente do ódio, da raiva, e de qualquer outro sentimento ruim que tivesse pela ruiva na sua frente, meu pai aceita de bom grado que America nos acompanhe. O resto do almoço percorreu normalmente. Não comi mais, dediquei meu tempo a observar o duque de York. É impressionante quantos segredos uma pessoa pode guardar sem que ninguém perceba, talvez nem ela mesmo saiba sobre o que mente, mas cada vez mais, a cada sorriso e a cada fala, percebo que há muito mais do que os dois realmente nos disseram.
A mentira parece, para eles, tão normal quanto a respiração, e embora tente me convencer do contrário, ela não poderia, não conseguiria me esquecer em apenas sete dias, nosso amor foi mais do que isso, sei que foi. As piores mentiras são frequentemente ditas em silêncio, e seus olhares me provam que há mais que não sei. Tento compreender a que ponto chegamos, recapitular minha vida na semana passada, quando as coisas eram tão mais simples.
É como se eu fosse um terceiro observando a mim mesmo, sentado, quase hipnotizado, enquanto ele está envolvido em uma conversa animadora com America e minha mãe, quando tenta delicadamente dizer para Kriss que não quer conversa, mas ela não a ouve, ou quando meu pai sorri, um traço de gentileza que nunca havia visto antes, e me pergunto até onde seu sorriso para de ser interesse e se torna real admiração.
Caminho alguns passos a frente, sem o ânimo necessário para nem ao menos tentar entender sobre o que falam. Eles me seguem durante todo o caminho, trocando poucas palavras, como se tivessem medo de algo acontecer caso comecem a dizer demais, como se pudessem dizer algo sem a percepção de que disseram e ver que foram longe demais. Empurro o quadro escondido e ofereço minha mão para America, para ajudá-la a subir o degrau, exatamente como da outra vez, exceto pelo fato de que ela não a segurou, ultrapassou a parede e ascendeu as luzes como se houvesse feito isso diversas vezes. Engulo em seco meu orgulho, e fecho a entrada assim que o último passa por ela. America está observando os livros, os diários de Gregory Illea e Arthur permanece no meio da sala, inseguro de para onde ir.
_Está diferente. - ela comenta.
_Sim. - me dirijo até o computador e começo a digitar à procura de um livro que sei que ela gostará.- Trouxemos coisas novas para guardá-las. Encontramos essa tumba nas masmorras, cheias de livros e quadros antigos. - explico ainda olhando para a tela.
Me levanto e pego um dos livros na prateleira, um diário muito mais antigo do que qualquer outra relíquia que esse palácio possui. Caminho em sua direção, em pé em frente a uma das pinturas recentes. Ela não se mexe, não pisca enquanto olha a tela. Tento compreender o que há de tão interessante que explique tamanha admiração ou que mereça tamanha atenção.
_É uma das obras que encontramos. Estava junto com esse livro e outros artefatos. - ela não parece me ouvir, não parece nem mesmo me notar ao seu lado. - Nossos historiadores acreditam que pertencia ao início da Idade Média, algo relacionado as Lendas do Rei Arthur.- me viro de reslaio para poder observar seu rosto, sua silhueta brilhando com a pouca luminosidade.
_Arthur?- ela murmura fraca e me desespero ao notar as gotas salgadas escorrendo por sua bochecha rosada.
_Sim, a história...- começo a explicar, entusiasmado por ela finalmente falar comigo e na tentativa de mudar de assunto e fazê-la esquecer o que foi que a deixou tão deprimida. Não percebi que ela não falava comigo.
_O que houve?- o duque se dirige para nós quando ouve seu nome e se aproxima quando não recebe resposta. - Ai Deus. - ele permanece estagnado quando nota a pintura pendurada. - Esse é o quadro que pintei para você?-America assente tentando controlar as lágrimas. Ele se aproxima dela e a abraça, seus braços a envolvendo completamente enquanto ela chora em seu peito. O que ele quer dizer que ele pintou? Isso esteve guardado durante séculos, escondido para só agora finalmente sair da cripta. Ele não pode ter pintado.
_Nossos filhos, Arthur... Eu não sei se consigo suportar. - os dois se afastam, o mínimo possível para se encararem. Me sinto um estranho, um terceiro participando de um momento íntimo do qual não pertenço, um terceiro para os dois, que parecem nem ao menos notar que estou ali
_Eles estão bem, Merlin está tomando conta dele. Não tem o que se preocupar. - ele segura as bochechas de America com as mãos e a obriga a olhar para seus olhos. Abro a boca em pura confusão. As coisas já não faziam sentido antes, agora muito menos. Gaguejo diversas vezes na tentativa de encontrar as palavras certas, mas acredito que não haja a coisa certa para se dizer nesse momento
_Ele está aqui, Arthur! Como acha que ele pode estar em casa tomando conta das crianças se ele está aqui conosco?- America consegue se livrar de seus braços.
_Você mais do que eu sabe que duvidar dele não é a coisa mais sensata a se fazer. - ela suspira cansada e se deixa cair na poltrona mais perto enquanto ele se ajoelha para ficar de seu tamanho, tomando-lhe as mãos. - Confia em mim?- ela assente. - Alguma vez estive errado?- ela ameaça começar a dizer algo, mas ele a interrompe. - Não responda, sei que estou sempre errado quando se trata de você. - ela abre um mínimo sorriso que parece ser o suficiente para ele. - Quando voltarmos verá que eles nunca estiveram melhores. Davi provavelmente utilizou esse momento sem nós para fazer tudo o que proibimos que faça.
_Você está certo. - confessa.
_Ei, eu te amo. - ela sorri. Parte de mim sorriu por ter a certeza de que ela não responderia, ela não pode amá-lo, ela me ama, sei disso, há uma semana atrás ela me disse, aceitou se casar comigo. Não pode ter mudado de ideia. Mas obviamente eu estava errado e ela respondeu, ruindo todas as minhas estruturas e desabando todo o meu peso.
_Sabe que também tem amo, mas um dia é um ano e...- ela começa a protestar, mas não segue em frente. Ele a beija antes. Me remexo e sinto o desconforto em meu coração. Abaixo a cabeça tentando não parecer tão abalado e seco a primeira das muitas lágrimas que se seguirão.
_Eu adoro quando não para de falar. - ouço ele dizer e imagino que agora já possa olhar. Os dois sorriem e ele a ajuda a se levantar e é então quando finalmente parecem me notar. Encaro America tentando procurar algum sinal de arrependimento, tristeza, qualquer coisa que signifique e que desminta tudo o que vi, mas só reconheço a pena em seu olhar. Engulo em seco e tento me recompor, mesmo que pareça impossível.
_Eu já vi esse livro antes. Não é seu diário?- olho ao redor e só então percebo que continuava segurando o diário. Dou de ombros e entrego para Arthur sem qualquer entusiasmo.
_Por favor, não leia isso. - America tenta pegar o livro de suas mãos, mas isso só o faz querer lê-lo mais.
_Por quê? Escreveu mal de mim nas primeiras páginas?- ele zomba e abre o caderno empoeirado. _No livro todo, na verdade. - confessa envergonhada. Ele aparece surpreso e arregala os olhos cada vez mais enquanto passa o olhar pelos escritos.
_ "O príncipe mais babaca que existe. A síntese de todas as coisas ruins. Irritante, egoísta e um verdadeiro idiota."- ele gargalha. - Fez sozinha ou Merlin te ajudou? Ele poderia ter complementado bastante sua lista de adjetivos. - ela lhe mostra a língua e arranca os papeis de sua mão.
_Como isso veio parar aqui?- quase não noto que ela fala comigo. - O quadro e o diário? Como estão aqui?- uma súbita raiva me sobe a cabeça. É isso que a preocupa? Um quadro inútil e um diário estúpido?
_Acho que temos questões mais importantes do que um diário. - respondo calmamente tentando não expor meus reais sentimentos. - Vocês mentiram. Aposto que nem é britânico, muito menos um duque! E você...- me aproximo de America, mas ele bota entre nós de um jeito protetor.
_Nada disso foi culpa dela. - diz em um tom ameaçador. -Eu estava ferido e a única coisa que ela tentou fazer foi me ajudar. Só mentimos porque conhecemos seu rei, seu pai, bem o bastante para saber que viraríamos ratos de laboratório. Não, não sou britânico e não sou duque, acho que isso... _Me desculpe, Maxon. - America o interrompe e dá um passo a frente em minha direção. - Nós queríamos contar, eu queria contar. - acrescenta rapidamente. - mas não podíamos... Não espero que entenda, mas peço que mantenha segredo. Conhece seu pai, sabe que me odeia, o que acha que ele faria se descobrisse que mentimos?- não respondo de imediato, nesse momento não consigo pensar em meu pai.
_Não precisa fazer isso por mim, porque tenho a sensação de que não o agrado muito, mas faça isso para ela, sei que é sua amiga e sei que...- parei de prestar atenção no que ele dizia quando ouvi a palavra "amiga". Então ele não sabe o que aconteceu entre eu e America, não sabe sobre nosso amor e tudo o que passamos. Não é a toa que ele não parece em nada desconfortável ao meu lado. Um pequeno sorriso brota em meu rosto. Ainda há esperança. Ela mente para ele como mentiu para mim, e não acredito que ele vá perdoá-la quando descobrir a verdade.
_Não vou contar. - anuncio. - Guardarei seu segredo. - continuo de mau grado.
_Será que eu poderia ficar com isso?- ele balança o diário na mão e olha para mim em busca de resposta. - Prometo tomar cuidado. - fico tentado a dizer não, mas se ele realmente diz a verdade, se aquilo realmente for tiver sido escrito por America, o que ainda não entendo por completo, então não sou eu que lhe devo uma resposta.
_Tanto faz. - ele assente. Os dois se abraçam rapidamente e ele some pela pintura na parede.
_Se importa em me explicar agora?- deixo a hostilidade transparecer na minha voz, mas ela não parece ligar.
_Estou atrasada, mas vá até meu quarto a noite, enquanto Arthur estará com Merlin, e lhe explicarei o que quiser. Prometo. - me perdi no meio, minha mente viaja para a imagem dos dois, que aparentemente dormem juntos todas as noites
_Ele não estará lá? Porque normalmente ele estaria?- pergunto direto. Ela ameaça abrir a boca para responder, mas permanece calada, sumindo ainda em silêncio. Urro. Raiva, ódio, tristeza, chame como quiser. Passo os braços pela mesa, jogando tudo que estava em cima no chão, quebrando vasos e porta retratos, espalhando folhas e documentos. Chuto cadeiras ou qualquer outra coisa que encontro pela frente. Estou cansado. Vazio. Desgastado, meu coração despedaçado. Imagino que é assim que ela se sentiu quando não a escolhi, e por um momento me permito chorar de dor, não por mim, mas por ela. Talvez eu mereça o que está acontecendo, talvez seja o karma agindo contra mim, tornando as coisas finalmente justas, talvez minha vida simplesmente não esteja fadada à felicidade.
Me encosto na parede e escorrego até o chão, em um canto qualquer do cômodo. Abraço minhas pernas, exatamente como uma criança e recosto a cabeça nos joelhos, parando somente quando já não possuo mais lágrimas, quando, mesmo tentando, as lágrimas de tristeza deram lugar a raiva e mesmo que deseje passar os próximos meses no canto escuro, choramingando sobre minha vida, é hora de explicações.

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