Lost in memories

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  Dor. Tontura. Mau estar. Confusão. Todas são palavras que descrevem o que senti no momento que abri os olhos. Meu primeiro instinto é respirar. Me sinto como se tivesse ficado 5 minutos de baixo da água e pudesse absorver toda a camada de ozônio.

Estou deitada. Não sei como fui parar ali, porque estou ali, ou ao menos quem eu sou. Não sei a minha aparência, minha idade ou meu nome. Eu só sei que não tenho forças para me levantar. Mexo minhas mãos e elas se agarram na terra molhada. Olho ao redor e o máximo que consigo ver são árvores. O chão está repleto de folhas e galhos, o que me deixa bastante desconfortável. Ouço o barulho dos pássaros em todo lugar. Se a ocasião não fosse essa acho que já teria corrido atrás deles. Não sei do que gosto, mas definitivamente parece algo que eu faria. Os feixes de luz atravessam as folhas verdes e me permitem ter uma clara visão do lugar ao redor, mas não há muito o que vem além de grandes troncos marrons e frutos caidos.

Minha roupa é totalmente estranha. Não sei se ela é normal, mas meu instinto é estranhar. Pareço estar coberta de panos cinzas, remendados e grossos. Essa junção parece criar um vestido e se a noite fosse fria, eu não me daria bem. Fecho os olhos novamente e respiro fundo. O ar é puro e me dá energias. Reúno toda a minha força e me levanto. Estou descalsa. Ótimo. Me olho a procura de ferimentos, mas não tenho nem mesmo um arranhão.

Me desespero. Estou com medo e sem saber o que fazer. O sol está se pondo e eu não tenho lugar para ir. A floresta não parece pequena e eu não tenho ideia do que fazer a seguir. Olho para os lados, mas tudo parece igual aos meus olhos. Uma lágrima escorre por minha bochecha e trato logo de limpa-la. Se quero sobreviver, preciso ser forte e encontrar algo para me aquecer. O sol ainda nem se pôs e meus braços já se tremem. É quando noto a fogueira. A fumaça sobe além das árvores e some no céu. Consigo ver as colinas com as árvores fechadas a quilômetros de distância e o fogo flutuando atrás. Seja lá o que for, está longe, muito longe, mas é a minha melhor chance. Quem quer que esteja ali poderá me ajudar.

A noite cai e eu apresso o passo. Me abraço, tentando conter todo o calor dento de mi, mas parece impossível. Cambaleio sem forças, minhas pernas parecem ter perdido toda a energia. Não a toa, não como nem bebo nada desde que acordei e quem sabe quanto tempo antes disso, Não sei mais onde a fogueira está, ou se pelo menos está acesa. Eu só sigo o meu instinto. Não é o melhor mapa, mas é a única coisa que me sobrou nesse momento. O único barulho que ouço e o da minha respiração pesada. E da minha barriga. Vasculho algumas árvores, mas nenhuma delas parece ter algo comestível. Praguejo em silêncio e continuo andando pelo mato.

Meu pé sangra e minha perna está toda arranhada. Tebto desviar de galhos, mas eles parecem estar em todos os lugares. Minha roupa está rasgada e acaba se tornando um empecilho na viagem. Quem quer que tenha feito isso comigo podia ter se preocupado em me dar um sapato. Meu cabelo está cheio de terra e minha boca seca. Em nenhum momento encontrei sinal de água. Olho para o céu com esperança, com fé de que as nuvens cinzas do alto me abençoarão e deixarão suas gotas respingarem para mim, mas vejo as estrelas claramente. Eu poderia permanecer olhando para o céu estrelado por bastante tempo, mas minha barriga ronca e sei que tenho que continuar. Me agarro aos panos que me cobrem, mas nenhum deles consegue me esquentar.

Praticamente me arrastava para conseguir subir o morro. Já tinha desistido de qualquer chance de água ou comida. As estrelas já brilhavam e o lua já está em seu ápice, mas o sono não veio. A adrenalina me percorre, mas ela não impede que eu me jogue no chão de cansaço. Fecho os olhos e deixo que as lágrimas tomem conta de mim. Provavelmente pareço uma louca, uma mendiga maltrapilha, mas eu não ligo. Só quero ir pra casa, onde quer que seja.

Está escuro, mas meus olhos parecem se adaptar facilmente. A luz da lua é intensa e parece iluminar todos os lugares. Estou quase dormindo quando ouço os barulhos, abafado pela distância. Me levanto imediatamente. Corro para dentro das árvores, com a esperança de que esteja escuro o suficiente para me esconder. Me jogo de trás de um arbusto qualquer e boto o rosto para fora e observo enquanto quatro homens em cavalos entram na clareira onde estava. Eles possuem grandes barbas e pouco cabelo. Seus rostos estão todos sujos e as armas que empunham não são bonitas. Grandes machados e espadas estão penduradas em suas cinturas. Eles são grandes. Essa é a palavra. Grandes e corpulentos. Um arrepio me sobe assim que os olho. Eles exalam fúria e selvageria. Consigo ver o olhar sedento por sangue daqui. Não sei quem são, ou o que querem, mas não quero que me encontrem de jeito nenhum. Eles conversam um pouco e, em um ato de medo, dou alguns passos para trás, tentando me esconder mais ainda.

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