Lost in the gardens

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Pov Arthur
_A Senhorita America nos contou uma grande história hoje mais cedo. - o homem que suponho ser o rei comenta com um sorriso de lado. Faço o mesmo, é sempre bom cair nas graças do anfitrião, independente de quem for. E nesse caso tenho a leve sensação de que America não está nesse patamar e de que não se importa também. Ela é madura o suficiente para sofrer as consequências de seus atos e imagino que faria o mesmo se fosse ela, esse rei não parece ser muito amigável.
_Realmente foram dias muito cansativos. - nem mesmo olhei para ele, o que poderia passar como uma grande falta de educação, mas estava ocupado demais prestando atenção na refeição. Nunca havia comido tão boa assim! Arriscava em alguns momentos olhares para America, sentada ao meu lado, e a via sorrir da minha reação de entusiasmo e paixão todas às vezes. Criados aparecem com novos pratos e os depositam na minha frente. –Obrigada. Muito obrigada, obrigada mesmo. - sorrio e digo para cada um deles que passa por mim, e eles sorriem agradecidos. Imagino que as pessoas ali não os agradeçam o suficiente.
_O que está fazendo?- America sussurra impressionada. Olho ao redor tentando entender o que ela quer dizer.
_O quê? Você me mandou ser educado e agradecer a todos. Estou fazendo exatamente o que pediu. E até que não é muito ruim assim. - dou de ombros e volto a agradecer.
_Eles adoram convidados. Ficamos muito sozinhos por aqui. - a lady sentada ao lado do rei, e presumo ser a rainha, diz com um sorriso gentil. - Acho que não fomos devidamente apresentados, sou a Rainha Amberly. - levo sua mão delicada em direção da boca e deposito um pequeno beijo, sem retirar meus olhos de seu rosto corado.
_É um nome lindo. - ela fica mais vermelha. - Eles possuem grande admiração pela Senhorita, não é sempre que se pode ver empregados tão dedicados. - ela sorri grata pelo contemplamento. Olho para o lado de soslaio e vejo a boca semi aberta de America, de susto.
_Como andam as coisas em seu país? E o Rei George? Ele não respondeu minhas últimas cartas. - o homem apoia os cotovelos na mesa e me encara descaradamente.
_Normais. Eu não sei quanto às cartas, ele têm estado muito ocupado nos últimos meses, mas assim que voltar prometo interceder por Vossa Majestade. - minto. Não entendo nada do que ele fala, mas ele parece satisfeito.
_York é um ducado muito rico?- noto o interesse subtendido em suas palavras. -É o território que administra, não é?- pergunta mesmo já sabendo a resposta.
_Sim, Majestade. Não nos falta nada. - ouço uma risada estridente na minha diagonal e vejo uma morena sorrindo forçadamente em minha direção.
A olho hesitante e observo conversar com o garoto ao seu lado, seu noivo, se compreendi bem as aulas de America. É normal que uma garota pisque muito mais do que necessário, jogue o cabelo pros lados tantas vezes que não compreendo como ainda não caiu na comida ou deu alguma dor no pescoço e se incline para frente a cada cinco minutos mostrando o decote do vestido? Estava tão absorto tentando compreender o que aquilo significa que nem ouvi o monólogo do rei sobre alguma coisa pela qual não dou a mínima.
_... adorar comercializar conosco. Estamos em um período de crescimento econômico e nossos industriais não poderiam estar produzindo mais!
_Tenho certeza que sim. - responso sem muita animação. - Mas preciso da permissão do meu rei primeiramente. - ele resmunga e permanece em silêncio.
_Então, Arthur, posso te chamar assim?- ela toma meu silêncio como uma afirmação. - É casado?- sinto America se remexer ao meu lado. A olho tentando e ela tenta esconder a raiva e a irritação. Passo minha mão por sua perna, em um claro sinal de que ela pode relaxar, mesmo que eu não entenda completamente os motivos para sua súbita mudança de atitude. Ela sorri aliviada e segura minha mão debaixo da mesa.
_Na verdade, sou sim. - Kriss, acho que esse é o nome dela, sorri desapontada.
_Você não usa aliança. -ela constata.
_No meu país temos outras tradições. - termino a conversa. Já estava começando a ficar nervoso com todo o interrogatório.
As bajulações do rei e as tentativas fracassadas da princesa de começar uma conversa estavam me deixando completamente constrangidos. Não que não estivesse acostumado, dezenas de garotas aparecem para mim todos os dias acreditando que um dia eu possa amá-las e esquecer minha esposa e centenas de conselheiros e nobres rabugentos aparecem em conselhos para não fazer mais do que simplesmente concordar com tudo o que digo. E detesto esse tipo de gente. Então assim que o rei e a rainha se retiraram, soube que tinha que fugir antes que qualquer outra coisa aparecesse e me ocupasse por mais tempo.
_Poderia me dizer onde é meu quarto? Estou meio perdido. - confesso. - Por favor. - acrescento de última hora pela falta de costume. O guarda me guia até a porta no segundo andar e some antes mesmo que eu pudesse agradecer. Suspiro aliviado e giro a maçaneta.
_Por favor, America, me diga que não terei que...- começo a dizer assim que adentro o quarto, mas paro assim que só ouço e silêncio e nada vejo. Olho ao redor por um momento a procurando, então me lembro de que ela não estará ali.
Xingo todo mundo mentalmente. E principalmente America. Porque ela mentiu? Agora tenho que dormir em um quarto sozinho do outro lado do corredor sem ela. Ela é minha esposa, já desacostumei em não envolver meus braços por seu corpo todas as noites frias, e não estou com nenhuma vontade de conhecer a sensação de acordar sem seu rosto mau humorado e seu cabelo ruivo roçando em meu peito. Abro a porta que dá para o corredor e olho para os dois lados. Ninguém, o corredor está vazio. Ótimo. Fecho a porta e saio furtivamente até a porta há alguns metros de distância. Não bato, simplesmente entro e a tranco por dentro, prometendo que farei isso por todos os dias seguintes.
O cômodo está completamente escuro, um total breu. Ouço sua respiração leve e caminho até a cama com cuidado para não tropeçar em nada, o que é praticamente impossível para mim. Tiro minhas roupas, odeio essa corda amarrada no meu pescoço, parece que estou indo pra forca! Dizem que se chama gravata. Me deito confortavelmente debaixo das cobertas e a abraço. Não havia passado nem um segundo que a tinha abraçado quando ela pulou assustada e se sentou na cama.
_O que está fazendo aqui?- pergunta com a respiração ofegante, se recuperando do susto.
_Eu te amo e não vou passar uma noite sem você. - ela sorri e se deita novamente, meus braços ao seu redor. - Também queria uma ajudinha com esse machucado. - me deito de barriga para cima, ela levanta minha camisa o suficiente para poder observar o ferimento.
_Voltou a sangrar. Acho melhor ir até a enfermaria. - resmungo. - Tudo bem, acho que deve ter um quite ou algo do tipo em algum lugar. - ela acende a luz e se levanta. Em pouco tempo volta com uma pequena caixa de madeira e uma cruz desenhada na parte de cima.
_Eu não sei como sobreviveu. Isso está horrível. - ela faz uma careta e me arranca um sorriso.
_Seu toque é mágico, sabia?- comento sorridente, agora não mais sentindo dor. E penso na possibilidade dela realmente estar usando mágica. Ela troca as ataduras que o doutor fez, ou imagino que tenha feito isso, me chame de fraco, mas ironia ou não, detesto ver sangue, e logo retira a blusa por completo para que não possa incomodar o ferimento enquanto o limpa e sei lá mais o que. Arqueio de dor e só relaxo quando engulo o remédio que em teoria deveria diminuir minha dor e sinto meus músculos mais leves.
_Alguém pode nos ver. - compartilha seus temores. Beijo sua testa para tranquilizá-la.
_Não se preocupe, a chave está na cabeceira. - ela sorri divertida, agora mais relaxada. - Aqui ninguém vai nos interromper. - beijo seu pescoço como sempre, mas ela logo se afasta e me olha bravo.
_Você está ferido, então sem gracinhas!- ordena e assinto. Não sei quando dormi, mas sei que pela primeira vez em muito tempo dormi sem preocupações.
Pov America
A primeira coisa que ouço é a batida na porta. Primeiro imagino que não seja nada, então volto a me deitar ao lado do meu marido e fecho os olhos novamente. Então ouço novas batidas. Me sento no colchão, assustada, e as ouço uma terceira vez.
_Arthur, Arthur. - balanço seu corpo e sussurro seu nome para que acorde. -Acorde!- ele abre os olhos, sonolento, e me lança um olhar que diz que sou louca por estar acordada, e mais ainda por tentar acordar ele. - Tem alguém na porta. - ele olha para a porta fechada que segue com uma nova série de batidas.
_America? Está acordada?- reconheço a voz de Maxon do lado de fora. O xingo mentalmente.
_Estou indo! Só um minutinho. - grito de volto e começo a empurrar Arthur para fora da cama.
_Cadê minhas roupas?- ele olha ao redor e me encara. - Cadê as suas roupas?! Fizemos algo pra você estar vestida assim? - ele parece perceber, pela primeira vez, que estou só de camisola e ela é um pouco curta e transparente. Jogo para ele suas roupas, que estavam no pé da cama e ele começa a se vestir rapidamente e desajeitadamente.
_Não, é só meu pijama. Você tem que se esconder!- olho ao redor procurando um lugar que possa ser suficientemente grande para ele. Começo a empurrá-lo em direção do banheiro, mas desisto de última hora. Maxon não é idiota a esse ponto.
_America? Você está bem?- Maxon continua gritando.
_Sim! Só estou trocando de roupa. - digo qualquer coisa. - A janela!- abro as portas de vidro que dão para a sacada com vista pro jardim e Arthur se inclina sobre a sacada, prestes a pular, mas sem antes me dar um beijo antes.
_Eu te amo. - ele diz antes de se separar de mim e pular em direção do chão. Nem vi se ele estava bem, afinal a distância não era tão pequena assim, mas confio em suas habilidades de macaco. Pego um roupão no banheiro e ajeito minimamente a cama para que pareça que havia somente eu aqui, então abro a porta.
_Você não é muito graciosa quando acorda. - comenta confuso e o olho em silêncio. - Posso entrar?- abro espaço para ele, que adentra no cômodo. Passo rapidamente pelo espelho e noto que realmente pareço um caco. - E não muito organizada também. - ele olha ao redor todas as coisas caídas no chão que Arthur derrubou durante a noite.
_O que veio fazer aqui, a propósito?
_Eu não sei. Queria te ver. - o olho desconfiada, mas ele não diz mais nada.- Gosta da vista?- não entendo de primeira, mas o vejo observando as cortinas se mexendo devido ao vento vindo da sacada aberta. Fico tensa por um momento. Se ele resolver ir até ali fora e Arthur ainda estiver ali, não sei quanto tempo ele demoraria pra ligar os pontos.
_É lindo. - admito hesitante.
_Acho que te acordei, não é mesmo?- assinto. - Vou te deixar se arrumar. Te vejo no café.- e sai pelo porta do mesmo jeito súbito que entrou.
Pov Arthur
Fiquei alguns segundos caído no chão me recuperando da dor. Tantos outros lugares, ou até mesmo os clássicos debaixo da cama, dentro do guarda-roupa, mas obviamente eu tinha que pular pela janela. Me levanto com dificuldade e olho o jardim ao redor tentando me localizar. Tento limpar a poeira e as sujeiras grudadas na minha nova roupa nova e baixar o cabelo para que fique pelo menos apresentável. Então começo a caminhar paralelo aos muros do palácio na tentativa de encontrar alguém que possa me ajudar a chegar até a porta principal.
_O que está fazendo aqui?- um soldado aparece. -Quem é você?- ele não parece muito amigável.
_Arthur. - respondo hesitante e em dúvida do que mais poderia estar fazendo aqui. - E você...
_Soldado Leger. O que faz aqui?
_Dormi no jardim. - sorrio constrangido na maior cara de pau. - Não me dei conta e estou voltando para meu quarto agora para me trocar pro café. - continuo na tentativa de enrolá-lo. Não deve ser muito difícil, passei anos fazendo o mesmo com meu pai. Ele me olha desconfiado, mas consente e some em algum lugar atrás de mim. Gargalho. Esse lugar é muito melhor que Camelot. Podem até avançar tecnologicamente, mas ainda caem nas mais simples mentiras.

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