Lost with bad movies

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_Por favor, America, eu te imploro. Nunca te pedi nada antes. - o olho com uma sobrancelha levantada e ele continua a implorar. - Eu não aguento mais as dores, eu to falando sério, se você soubesse como é viver com oitenta anos, estaria implorando também. - ele me olha, seus grandes olhos castanhos arregalados e sei que vou ceder. - Você está me devendo uma. Minhas costas ainda doem pela aquela cadeira!- ele faz uma cara de ultraje e abro o mínimo dos sorrisos.
_Tudo bem, eu falo com eles. - ele comemora não muito silenciosamente. - Mas tem que prometer que se comportará com Arthur e vai ter que concordar com tudo o que eu disser. Se descobrirem que você é você e não quem eu disse que é, eu não tenho ideia do que poderia acontecer.
_Não se preocupe. Muito obrigada!- ele me abraça forte.
Maxon saiu do quarto faz pouco mais de uma hora e pude finalmente respirar aliviada. Olhei pela sacada e relaxei ao notar que Arthur não está morto e caído no chão. Se ele teve forças o suficiente para levantar depois disso, tenho certeza de que voltará para seu quarto bem. Tinha acabado de me trocar quando Merlin apareceu, esbaforido, entrando no quarto. Eu estava esperando minhas antigas criadas, mas por algum motivo elas não apareceram ainda. Provavelmente a mandarão depois, Maxon sabe o quanto elas significam para mim, mas minha súbita chegada deve ter apavorado todos e ainda precisam de um tempo para se acostumar. Tudo bem, consigo trocar de roupa sem ajuda. Ele não estava mais enrugado e corcunda, era o Merlin, o brincalhão e ativo Merlin, com os cabelos castanhos desgrenhados e o sorriso irônico cotidiano.
A primeira coisa que fiz foi me assustar. Ele não deveria estar ali, mas ali estava. Ele não veio conosco, ninguém o viu aparecer, e com certeza começarão a suspeitar quando o verem ali e começarem a se perguntar de onde veio o jovem garoto. Pediu que inventasse uma desculpa para o rei dizendo que ele veio depois, que era um amigo da família, qualquer coisa que o livrasse de ter que se fantasiar do "eu velho" dele. E como a completa idiota que sou, concordei.
_E eu achava que meu dia não poderia piorar. - uma voz rouca ecoa no fim do corredor e me viro assustada por acreditar que as coisas, mesmo a essa hora da manhã, já haviam começado a dar errado, mas era só Arthur.
_É ótimo também saber que está vivo. - Merlin responde no mesmo tom de voz.
_Ele ficará conosco?- meu marido sussurra para mim e assinto. - Ótimo! Vou pedir para o rei que dispense meu mordomo, afinal você está aqui para infernizar minha vida. - Merlin faz uma careta.
_Vou inventar uma desculpa para fazer Mikail sumir. - diz rapidamente e some pelo corredor.
Ficamos em silêncio por um momento, embora eu não soubesse o real motivo, porque nem ao menos nos movíamos, então reparei que ele me encarava, sua boca ligeiramente aberta, a sobrancelha levantada e a feição em uma mistura de susto e descrença.
_Porque está me olhando assim?- tento não parecer muito assustada. - O que houve?- olho para minha roupa imaginando que possa estar rasgada ou manchada, mas não, não há nada de errado com ela.
_Cadê o resto das ruas roupas?!- pergunta como se fosse óbvio o motivo. Sorrio. Já era de se esperar. - Eu vejo seus braços e suas pernas, seus ombros e parte...-ele fica vermelho, pigarreia e sussurra. - dos seus seios. - ele se recompõe rapidamente. - Você não vai sair assim!- fecha a cara subitamente ao notar meu rosto de divertimento. O beijo, mas ele se afasta.
_Sei que para você isso é um absurdo, mas mulheres se vestem assim nos dias atuais. - ele me olha com total descrença. - Me lembre de procurar para você um programa de moda quando voltarmos. - ele não compartilha da minha piada. - Não seja ciumento, eu te amo. - passo meus braços por seu pescoço e me aproximo o suficiente para ficarmos colados, mas o mínimo possível para que ainda consiga observar seu rosto.
_Mas se alguém te olhar...
_Você irá controlar seus instintos e agir como um cavalheiro. - ele assente não muito satisfeito com a resposta. -Além do mais, isso. -olho para o conjunto que visto. - não é nada comparado as outras peças em meu guarda-roupa. - ele pigarreia assustado.
_Não?- sua voz vacila
_Não. Agora vamos tomar café. - o puxo pela mão e o guio até o grande salão.
A hora que se passou não poderia ter sido mais surpreendente. Eu acreditava que não poderia esperar qualquer coisa nova de Clarkson que não fosse mais atrocidades, então imaginem minha surpresa ao encontrar um educado e prestativo rei que se ofereceu a fazer tudo o que requisitei. Talvez não tenha sido exatamente desse jeito. Na verdade ele fez tudo o que Arthur pediu, não fez nenhuma pergunta sobre Merlin e o aceitou com uma facilidade invejável. Tentava compreender como meu marido conseguiu tal feito, mas a resposta é tão simples que me senti idiota por não ter percebido antes. Arthur é mestre no jogo do interesse, nunca vi alguém conseguir dobrar e manipular um interesseiro com tanta facilidade quanto ele.
_Infelizmente possuímos uma reunião agora, mas tenho certeza de que todos vocês conseguirão se manter entretidos em nossa ausência.- Clarkson anuncia já de pé e Maxon se levanta nada entusiasmado.- Certeza de que não gostaria de nos acompanhar?- Arthur sorri falso.
_Seria uma honra, Majestade e me sinto lisonjeado pelo convite, mas não me sentiria confortável. - Por um momento imagino ter visto uma sombra passar pelo rosto de Maxon, algo parecido com o nojo e a frustração. Os dois se vão sem se despedir e deixam nós quatro no mais absoluto silêncio. _Eu poderia te fazer companhia. Tinha planos, mas nada que não possa ser desmarcado. - Kriss corta a quietude e se vira para nós com um sorriso de orelha a orelha.
_Não se preocupe, Kriss, posso fazer o mesmo. - deixo com que as palavras voem naturalmente para fora da minha boca e me repreendo mentalmente assim que tomo real consciência de que as disse.
_Só acredito que, por ser a futura princesa, deveria cuidar dos convidados. - retruca.
_Muito obrigada, Alteza. Não poderia ter recebido uma melhor recepção de boas-vindas, mas America é uma amiga antiga e adoraria sua companhia. - Arthur interrompe nossa troca de olhares furiosos e o fogo imaginário, que antes queimava tudo entre nós, desaparece. Sorrio satisfeita e Kriss encontra na primeira oportunidade uma chance de sair da mesa. Fazemos o mesmo.
_Temos horas livres. O que planejou para nós?- ele me pergunta depois do momento constrangedor em que segurou minhas mãos e quase me beijou, mas depois percebeu que havia dezenas de pessoas ao nosso redor e se afastou constrangido. Eu realmente não tinha pensado em nada de especial, não há muitas coisas para se fazer aqui.
_Acho que vai adorar!- o guio até a sala de cinema enquanto ele passa todo o trajeto tentando compreender para onde o levo. Faço pipocas para nós enquanto ele me observa admirado, seus olhos brilhando de excitação.
_Tem certeza de que é bom?- pergunta pela décima vez com uma careta. Estou segurando uma única pipoca no ar em frente à sua boca, mas ele se recusa a engolir.
_É uma das melhores comidas que existe!- deixo minha empolgação fluir. - Prometo que não se arrependerá. - ele abre a boca lentamente e leva uma quantidade suficiente de pontos brancos aos lábios. Ele olha para o teto enquanto mastiga, fazendo caras de aprovação e outras não tão agradáveis enquanto o olho com expectativa. - Então?
_Temos milho em Camelot?- assinto com a cabeça. - Acho que terei de pronunciar um feriado nacional da pipoca. Estou falando sério, nosso povo precisa conhecer isto! É maravilhoso! Eles nos amarão! Seremos conhecidos como os reis da pipoca! Poderia viver com isso. - gargalho. Me acomodo entre seus braços enquanto esperamos pelo filme começar.- Então é como uma televisão só que...- a imagem começa a passar pela tela e ele fica embasbacado.- Gigante.- termina praticamente hipnotizado.
Escolhi um filme perfeito para a ocasião. Admito que desde que o conheci, morria por dentro me perguntando o que ele diria quando visse o filme e outras diversas adaptações. A Espada Era a Lei é um dos, senão o mais, conhecido de todos os filmes que retratam a vida do grande Rei Arthur e, apesar de ser um desenho para crianças e um tanto quanto antigo, não são esses os motivos que farão Arthur odiar o filme. E é exatamente por isso que estou mostrando isso a ele. Sua primeira reação foi estranhar. Ele me olhou perguntando onde estavam as pessoas, mas eu nada respondi. Ele demorou um tempo para finalmente entender sobre o que o filme falava, e não ficou nada feliz quando descobriu quem ele era na história.
_Desde quando tenho onze anos e sou magro e delicado? Eu tenho voz de garota!- grita exasperado depois de ter jogado todo o balde de pipoca pelos ares. Ele me encara furioso, mas uma ponta de curiosidade me mostra que ele não está tão bravo assim. Ele passou as próximas uma hora e vinte com a boca aberta, completamente chocado, encarando a tela sem piscar, só mudando o campo de visão para olhar para mim e gritar xingamentos.
_Quem é aquele vilão? E Merlin é um velho? Com magia?- tranquei nesse momento. Tinha esquecido desse detalhe, mas com todo o resto, ele não parecia nem acreditar que isso poderia ser uma possibilidade.- Isso é horrível! Está completamente errado! Uma coruja está falando? Que diabos é isso?- rio.
_É um filme para crianças, não podem passar a realidade, é uma ilusão. Até porque ninguém conhece a verdade. - dou de ombros.
_Acho que é fácil imaginar que EU NÃO TENHO PERNAS DE VARETA! E porque esse velho está me chamando de gafanhoto? Eu nem sei o que é um gafanhoto!- ele para para respirar pela primeira vez desde que começou a falar.- Acha que pode criar uma coruja falante para mim?
_Eu adoro esse filme!- me assusto ao ouvir uma voz atrás de nós. Me viro no escuro para ver Merlin, segurando um balde de plástico e nos encarando inocente.- Adoro como te retratam sendo o servo. Enfim justiça!- suspira e Arthur bufa.
_Eu não ficaria tão feliz. Você é um velho corcunda completamente maluco. - Merlin dá de ombros. _Pelo menos eu não sou uma garota. - Arthur ameaça se levantar, mas o seguro na cadeira.
_É só um filme. - reitero.
_Que o mundo inteiro assistiu!- se joga na poltrona se dando por vencido. - Todo mundo acha que sou uma fraude.
_Pelo contrário. - ele me olha surpreso. - Você é uma lenda, um herói para muitos. As pessoas até hoje o admiram, escrevem músicas e livros sobre você, entregam suas vidas para tentar compreender o que realmente aconteceu e morrem sem descobrir. Você é nosso maior mistério, mas também nosso maior mito. Pense o que quiser, as pessoas nunca se esqueceram.
_Sim, mas parecem ter se esquecido do quão idiota você é. - Merlin complementa e sorri confiante. _E você é um homem morto. - ele dá de ombros.
_Sempre fui.
_Podemos, por favor, ver o filme?- eles assentem de má vontade.

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