Lost with the dead stupid bitch

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    O dia estava perfeito até ouvir o som das badaladas. Estava no quarto de Arthur, já era noite, e tentávamos de qualquer jeito fazer Davi dormir, ou pelo menos eu tentava, o príncipe só animava cada vez mais o garoto, que fugia do pai tentando correr para não ser agarrado. Já estava começando a me irritar, apesar do sorriso em meu rosto simplesmente não conseguir desaparecer. Até os sinos tocarem. Paro de brigar com os dois e ouço atentamente. Uma batida, seguida de uma segunda, um espaço de silêncio e uma terceira batida. Abaixo o olhar e encontro o de Arthur, que segura nosso filho, amedrontado.
_Três badaladas? O que significa três badaladas?-grito desesperada, o semblante em seu rosto começando a me assustar.
_Temos que ir. Agora!- ele segura minha mão e carrega Davi com o outro braço enquanto nos guia pelos corredores mais depressa do que eu achava ser possível.
_O que diabos está acontecendo?- ele me entrega Davi e pega a espada de um homem morto no chão. Viro a cabeça de meu filho para que ele não veja a cena e ele chora baixinho em meu ombro.
_Ataque. Temos que encontrar um lugar seguro.- ele corre na frente para atacar qualquer rosto inimigo que aparecer e nos garantir uma passagem segura aonde quer que estivermos indo. O lugar estava um completo caos, via o vermelho da capa de cavaleiros se misturando ao sangue e o cheiro me deixou tonta imediatamente, mas precisava correr e manter meu filho a salvo.
_Você está bem.- Merlin diz, quase que desapontado, ao nos ver, mas sei que sorriu aliviado por dentro. Viramos em um corredor, dava para ouvir o barulho da luta de longe, mas Gwaine e Percival não precisavam na nossa ajuda, da ajuda de Arthur, conseguiram muito bem imobilizar seus oponentes.
_Também estou radiante que esteja aqui na minha frente sem nenhum arranhão.- Arthur responde no mesmo tom e os dois se abraçam o mais discretamente possível.
_O que aconteceu?- Arthur pergunta assim que conseguimos entrar em um c6omodo seguro e trancar a porta.
_Morgause apareceu com um exército. Estava na patrulha quando os vi chegar. Não tínhamos a menor chance, eles são muitos.- Gwaine explica com uma dor visível em seu olhar.
_E o que fazemos? Não é como se pudéssemos lutar contra todos eles.
_Nós íamos pelos túneis até a sala do trono. A vi com soldados entrarem no salão. Tem um lugar escondido onde poderemos assistir.
_E meu pai?- os três trocam olhares e sei que a notícia é ruim.- O que aconteceu com o rei?
_Me desculpe, Arthur, mas ele foi pego. Não sei quanto tempo aguentará.- Merlin abaixa a cabeça para dizer, incapaz de olhar os olhos frios de Arthur no momento.
_Temos que ir atrás dele. Ele é o rei, não pode ficar para trás.- todos concordam.
_E Davi? Ele só tem três anos! Vai arriscar sua vida ficando aqui mais um segundo? Temos que tirá-lo daqui! Uther pode se cuidar até que contra-ataquemos.
_Nós o tiraremos daqui e o levaremos até um lugar seguro. Prometo.- Gwaine dá um passo para frente e o entrego meu filho, hesitante. Os dois rapidamente saem do quarto e desaparecem no fim do corredor. O rosto vermelho e inchado do choro, o terror em seus olhos é uma imagem que nunca esquecerei.
Nos esgueiramos por pequenos corredores e por túneis escuros até que, no final do cubículo, uma pequena luz oval não iluminava nada o local. Nos deitamos no chão, todos tentando ter uma possível vista do que acontecia do lado de baixo. Centenas de homens em preto, capacetes na cabeça, enfileirados enquanto Morgause atravessa e se posta ao lado do trono, logo em seguida dois guardas negros carregam o rei, que tenta inutilmente se desvencilhar dos braços fortes, mas é facilmente jogado no chão como um lixo. O sorriso de Morgause é vitorioso, ela aproveita e saboreia cada segundo, como se fosse o dia mais feliz de sua vida.
_Bem, Uther.- ela começa com um ar de superioridade e Arthur se remexe ao meu lado.- Como os poderosos caíram. Acho que não vai precisar mais disso.- ela lentamente, enquanto ele tenta se soltar, retira a coroa de ouro de sua cabeça e a analisa atentamente.
_Isso é ilegal. Não pode fazer isso, não tem direito ao trono.- os dois se entreolham, fagulhas saindo dos dois olhos.Ela sorri divertida.
_Não, não tenho.- ela concorda.
_Mas eu tenho.- Morgana sobe no palanque, caminhando majestosamente. Arrisco um olhar para Arthur e vejo a traição estampada, ouço o barulho de seu coração se quebrando no peito.- Eu sou sua filha, afinal de contas.- ela completa, seus olhos cinzas frios como a neve. Olho para Merlin, mas ele dá de ombros, surpreso como eu.- Não fique tão surpreso. Sei há algum tempo.- Uther abaixa a cabeça, mas por estar de costas, não consigo ver exatamente sua reação. Morgana se senta, graciosamente, no trono, sem nem uma vez desviar o olhar da coroa a sua frente. Dois guardas seguram o bispo, que cambaleia e segura a coroa.
_Eu, pelo poder investido em mim, coroou você, Morgana Pendragon, Rainha de Camelot.- os soldados se abaixam em uma perfeita reverência, mas ninguém diz nada, nem Uther, que parece ter perdido todas as suas forças. A quietude tensa é quebrada quando os portões se abrem com força e dez guardas negros entram, meu filho em um colo e Gwain e Percival, quase desacordados, sendo carregados.
_Não!- solto um grito, que por pouco não foi ouvido por todos. Me levanto, mas duas mãos me fazem deitar-me novamente.
_Como acha que poderá salva-lo se estiver morta?- Merlin me pergunte, mas não consigo raciocinar.
_Ela não fará nada com ele, Morgause não deixará. O tiraremos de lá.- Arthur assegura e me admiro com sua capacidade de encontrar forças quando seu mundo acabou de ruir.
_Meu sobrinho favorito. Não chore, não farei nada contra você.- minha antiga amiga ignora completamente os dois homens feridos no chão e dá um abraço em meu filho, que simplesmente não corresponde.- Me abrace, peste.- ela ordena, mas ele continua parado. Não há mais lágrimas em seus olhos. Morgana se levanta, possessa, mas parece acalmar com o toque de Morgause.
_Não se preocupe docinho, cuidaremos de você e o educaremos para ser o futuro rei de Camelot.- entendi as entre-linhas, e não podia deixar isso acontecer.
_O filho de uma serva?- Uther parece esquecer sua posição e ri.- Vai coroar o filho de uma serva como príncipe herdeiro?- Morgana não se abala, sorri.
_É aí onde você erra, papai.- ela faz uma careta.- Sua ignorância o fez cair. Sua estupidez ao não perceber quem eu realmente sou, sua burrice ao não enxergar o amor quando ele está tão óbvio na sua frente. Seu amado filho é o papai. Mesmo que você tente, não conseguiu separar o verdadeiro amor.- ela faz uma cara de nojo.- E olha onde estamos agora. Você tentou mata-la, acreditou que ela havia enfeitiçado seu querido filhinho e tudo o que conseguiu foi aproxima-los ainda mais. - ela disse mais, tenho certeza de que disse, mas senti os braços me puxando para trás enquanto inclinava o rosto para tentar enxergar, mesmo que não houvesse mais luz para isso.
Caminhamos à luz da lua por horas no completo breu. Meus pés já estavam cansados, eu já tremia de frio, então Arthur me levou no colo, o calor de seus braços me aquecendo, mas continuamos andando e não sei dizer o exato momento em que dormi.
Acordei com uma tremenda dor nas costas e olhei ao redor. Estou na mata, em meio de árvores e arbustos, uma fogueira apagada ao meu lado e a capa vermelha de Arthur me cobrindo. Olho ao redor e não vejo ninguém. Me levanto e começo a andar, provavelmente não a melhor das ideias, mas as coisas não podem piorar afinal. Atravesso uma clareira e vejo as barracas, dezenas, talvez até centenas delas, enfileiradas, milhares de pessoas atravessando, conversando umas com as outras, mas nenhum sinal de Arthur ou Merlin. Atravesso o acampamento, e no fundo, o vejo, inclinado sobre uma mesa de madeira, dezenas de homens ao seu redor. O olho atentamente, e quando me percebe, suas rugas de preocupação se transformam em um sorriso brilhante. Todos abrem lugar para mim e o beijo lentamente. Acho que não tem mais motivos para esconder.
_Está bem? Conseguiu dormir?- nego e ele beija o topo da minha cabeça, me abraçando.
_O que é tudo isso?
_Pessoas que conseguiram fugir antes de toda a confusão. Depois que adormeceu ontem encontramos um grupo fugindo e viemos parar aqui.
_E o que é isso?- olho curiosa para os troncos de madeira, com diversas frutas e folhas em cima.
_Era pra ser um mapa.- ele ri.- Passamos uma noite pensando no que fazer. Atacaremos pela manhã.
_Você não dormiu e quer lutar amanhã?- ele me olha sem entender.- Como acha que vai conseguir se manter em pé?
_Já passei por situações piores...
_Tenho certeza de que eles podem se virar sem você por algumas horas. -o interrompo-Agora vá dormir!- ele me olha espantado.
_Amo quando você fica mandona.- ele me dá um rápido beijo e sorri antes de desaparecer entre as árvores.
O resto do dia passou como um borrão. Homens e mulheres andando de um lado para o outro, fabricando armas e armaduras para a batalha que se desenrolaria no dia seguinte, e quando vi, já era madrugada e nos esgueirávamos pela noite até os túneis, até as entradas dos bosques. Arthur tentou me convencer de todas as maneiras a ficar, sei que ele sabe que consigo me virar sozinha, mas sei que ele não suportaria a culpa se algo acontecesse comigo ou com Davi.
O grupo é pequeno, cerca de quinze homens, o mínimo necessário para que possamos entrar nas masmorras sem sermos notados, debilitar os guardas silenciosamente e soltar os presos, para que enfim possamos dar o sinal e abrir os portões para todos os outros. Muitas coisas podem dar errado, mas não acho que exista outra maneira. Haviam somente dois soldados guardando os prisioneiros, Morgana nos subestimou ao acreditar que mais pessoas não seriam necessárias.
_Vão atrás dos outros! Eles não podem soar o alarme.- Arthur grita o comando e todos nos deixam para correr atrás do soldados restantes.
_Você não teria a chave, teria?- Arthur o olha, impassível, e pega as chaves do corpo desmaiado no guarda e joga para o amigo, que logo se apressa em abrir em celas. Gaius, Gwaine, Percival... perco a conta da quantidade de pessoas que vejo saindo dos corredores, o semblante faminto e cansado.
_Sigam pelos túneis, há mais ou menos um quilômetro pela mata encontrarão um acampamento. Serão bem tratados lá.- Arthur anuncia e a maioria não hesita em fazer o que pede, embora alguns insistam em continuar conosco. -Onde está o rei?- Arthur procura pelo pai na multidão, mas não vê seu rosto. Adentramos no corredor e o vemos sentado no chão, em meio ao feno, o rosto sangrando e sem vida.
_Não vai vir?- Uther meramente levanta a cabeça.- Então vai desistir? Vai deixa-la ganhar depois de tudo o que fez?- Arthur berra, sem conseguir acreditar que o pai possa estar nesse determinado estado.- Sempre soube que não tinha um coração, mas não achei que fosse um covarde também.
_E eu achei que tivesse te educado melhor.- ele me olha com desprezo.- Depois de tudo o que sacrifiquei para você, é assim que me retribui? Desonrando meu nome? Humilhando seu reino com ela?- a essa hora ele já está levantado, nem parece que a segundos atrás parecia morto.
_Ela é uma pessoa melhor do que eu e você nunca seremos. Você pode ser meu pai, mas eu faço minhas próprias escolhas e se é isso que estiver pedindo, para que eu escolha, será sempre ela. Eu não preciso que aceite, porque sei que não vai, mas preciso que mexa seu traseiro ou eu juro que te deixo para trás em sua cela, porque é isso que você merece.- seguro seu braço com delicadeza e consigo sentir sua respiração voltar ao normal.
_Temos que ir.- sussurro para ele e começamos nosso caminho bem na hora que o alarme começa a encher nossos ouvidos.- Quanto tempo até os guardas nos alcançarem?
_Cinco minutos.
Gritamos ao abrir os portões do salão, esperando encontrar centenas de soldados no caminho até o trono, mas o lugar estava vazio a não ser por Morgana em seu trono e a irmã do lado, nos olhando com expectativa, como se nos esperar fosse a única coisa que tivesse para fazer no dia. Ouço a marcha atrás de nós e me viro para ver o batalhão chegar. Ótimo, estamos cercados. Como se as coisas não pudessem piorar. Puxo Arthur e selo nossos lábios, quem sabe pela última vez e observo quando ele se joga na formação, sem ter certeza se alguma hora ele sairá.
Morgana não precisou de muito para nos jogar longe. Com um único movimento de mãos, Uther bate na pilastra com força e desmorona no chão, desacordado. Fico sem saber se está vivo, mas não me importo. Me levanto pesadamente, cambaleando devido à batida. Sou deixada de lado da luta quase que imediatamente, com Uther desmaiado e Arthur ocupado demais tentando afastar os soldados de nós, os dois eram uma presa fácil para as duas irmãs, que não parecem ter pressa nenhuma em acabar com o trabalho. Pego uma espada de um homem qualquer no chão e me jogo em cima de Morgana, a pegando de surpresa, mas ela se desvia e sinto meu pescoço se contrair, clamando por oxigênio. Levo minhas mãos ao pescoço, mas sinto enquanto perco a consciência. Vejo Merlin ocupado demais ajudando Arthur a sair dali vivo. Estou sozinha nessa. Olho ao redor procurando por qualquer coisa e encontro uma série e capacetes caídos, mas com pouco ar demorei mais do que pretendia para conseguir me lembrar do feitiço, e assim que consegui, todos voaram até a cabeça da Rainha, que cai no chão desacordada.
_Não!-Morgause grita e caio no chão tentando me recompor. Inspiro fundo para recuperar todo o ar e a observo correr em minha direção, mas ser impedida pela parede de fogo que aparece em sua frente, a impedindo de continuar. Pego a espada no chão e caminho em sua direção, lentamente, parando na sua frente no momento em que ela consegue acalmar as chamas e corre direto para a ponta do metal, que atravessa sua barriga. Seu corpo inerte permanece no chão, pálido e frio.
_Isso foi pelo meu filho, sua vadia estúpida.- os sons da luta parecem um eco longe em minha mente, só consigo observar o corpo de Morgause em minha frente, um poço de sangue ao redor, a espada vermelha em minha mão, e me perguntar o que foi que eu fiz. Sou acordada pelo grito de ódio, um berro que ecoa pelo lugar, cheio de tristeza e luto. Me viro assustada a tempo de ver Morgana retirando sua espada do corpo de Uther, que jaz semi-morto no chão. Arthur olha para trás e vê o que acontece ao lado, então entende, que de todos os sacrifícios que o pai disse ter feito, esse foi o maior.
Olho para o teto e vejo as rachaduras, o que me dá uma ideia. Qual o feitiço para destruição? Em alguns segundos o teto começa a cair, Arthur puxa o corpo do pai para fugir dos escombros e Morgana some do outro lado, sem outras opções além de fugir. Corro até o príncipe, que chora debruçado sobre o corpo sem vida do pai.
_Ele pediu para ver o neto.- diz embargado de lágrimas.- Suas últimas palavras e ele pediu para conhecer Davi.
_Todo o sentimento que ela guardou, os sonhos que não decifrou. Ela está perdendo a cabeça, caindo na escuridão, está completamente perdida por dentro.- Merlin sussurra para mim enquanto vemos Arthur chorar, sem saber o que podemos fazer para ajudar.- E é minha culpa.  

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