Lost in ancient London

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De manhã, o acampamento na floresta era uma confusão úmida de cortinas chamuscadas, tendas destruídas, pilhas de forragem, tudo destruído por um ataque surpresa inimigo. Não existia alternativa senão a retirada. Teria de voltar para trás para se reagrupar.
_Não, não vamos recuar - ordeno. Os generais, convocados para uma reunião de emergência sob um toldo ligeiramente queimado, afastavam as moscas que esvoaçavam em volta do acampamento.
_Vossa Majestade, por esta estação, perdemos - disse-lhe calmamente um dos generais. - Não é uma questão de orgulho nem de força de vontade. Não temos tendas, não temos abrigo, fomos destruídos pela má sorte. Temos de voltar e abastecer-nos novamente, voltar a montar o cerco. O seu marido - acenou com a cabeça para o homem loiro e bonito que estava ligeiramente fora do grupo - sabe que é assim. Todos sabemos. Voltaremos a montar o cerco, eles não nos derrotarão. Mas um bom general sabe quando tem de retirar. - Todos os homens assentiram com a cabeça. Travamos uma batalha silenciosa, todos me olhando apreensivos. Não olho para Arthur em busca de apoio, não preciso.
_De fato, é uma questão de orgulho - corrigi-o. - Estamos a lutar contra um inimigo que conhece o orgulho como nenhum outro. Se jogarmos nossas espadas ao chão, e fugirmos com as carpetes queimados enrolados debaixo do braço, vão rir até se agruparem novamente e nos massacrarem, então rirão novamente. Não posso permitir. Por isso, temos de avançar. O rei voltou a cabeça com um sorriso espantado, mas não manifestou opinião contrária. Quando os generais olharam para ele, fez um pequeno gesto com a mão.
_A rainha tem razão - afirmou. - A rainha tem sempre razão.
_Mas não temos tendas, não temos acampamento!- Ele dirigiu a questão a mim.
_Construiremos um acampamento- decido.
_Vossa Majestade, destruímos tudo o que existia nas várias milhas ao redor. Não temos tecido. Não temos tela. Não há cursos de água. Não há colheitas nos campos. Rebentamos os canais e colhemos as culturas. Acabamos com tudo; mas somos nós que estamos destruídos.
_Construiremos em pedra. Presumo que temos pedra?- Arthur disfarça uma breve gargalhada com um som de quem limpava a garganta.
_ Estamos rodeados por uma planície de rochas áridas, meu amor - afirmou. - Se há algo que temos, é pedra. - diz com um sorriso sarcástico.
_Então, construiremos, não um acampamento, mas uma cidade de pedra.
_Não é possível fazer isso.- um dos homens retruca.
_Vai ser feito. - ordeno e ouso um rápido olhar para Arthur, que finalmente se levanta.
_Vai ser feito! - Me lança um sorriso rápido e cúmplice. - São seus deveres velarem para que a vontade de minha esposa seja cumprida, e a minha também.
_Sim, vossa Majestade. - eles ensaiam reverências perfeitas e deixam a tenda parcialmente queimada. Arthur espera que todos sumam do campo de visão para caminhar até mim.
_Uma cidade de pedras?- ele me pergunta com um sorriso brincalhão. - Eu disse que um dia suas ideias nos arruinariam. - ele me abraça e beija o topo da minha cabeça.
_É tão estressante. - confesso ao bufar de cansaço.
_Eu sei, mas prometo que farei o que puder para diminuir o peso sobre seus ombros.
_E como vamos chamá-la? Nossa cidade?- ele silencia-se para pensar por um momento.
_O que acha de Arthur? É um nome maravilhoso!- reviro os olhos e o vejo sorrir. - Londinium! _Londinium? Que péssimo nome!- gozo de sua ideia e ele ri.
_É a junção de duas palavras celtas, significa cidade ou fortificação do lago. Não sei, não prestei muita atenção nas aulas de latim. Acho que faz sentido considerando que a região era coberta por lagos, que ela se tornará uma cidade-forte e que estamos lutando contra Morgana, uma seguidora alienada da religião celta.
_Você pensou nisso tudo só nesses poucos segundos?-abro minha boca admirada. - Não sabia que você pensava. - ele abre um meio sorriso. - O que acha da variação Londres?-sugiro.
_Admito que soa melhor.- confessa.- Tudo bem, soa muito melhor.
_Foi o que pensei.

Pov Arthur

_Quanto tempo acha que demorará?- pergunto para ela enquanto nos arrumamos para dormir.
_Eu não tenho ideia. - ela confessa sorrindo. - Você é o homem, você é quem deveria saber. - a abraço por trás.
_Quando foi que me viu fazer algo assim? Nem sabia que era possível!- exclamo e começo a beijar seu pescoço, mas ela logo se esquiva de mim, como todas as noites anteriores.
_Estou cansada, Arthur, o dia hoje foi cansativo. Podemos só dormir?- consigo ver a decepção em seu olhar, e provavelmente o meu diz a mesma coisa, mas assinto de cabeça abaixada e me deito no meu lado da cama.
Estamos em campanha contra Morgana. Não demorou muito para que ela conseguisse aliados e um exército. Meu pai tinha muitos inimigos e Camelot é um reino rico e próspero, são muitos que gostariam de nos ver cair. Já faz alguns meses que não vejo as muralhas da cidadela, alguns meses que vivemos viajando por lugares estratégicos, montando guarda e tentando conseguir aliados nessa luta. Tentei convencer America a ficar em casa, mas teimosa do jeito que é, ela veio comigo. Eu temia por sua vida, é imprevisível ficar na frente de batalha, mas ela se mostrou uma guerreira nata, uma verdadeira amazona, uma líder e uma rainha que ninguém nunca esperou que ela pudesse se tornar. Acordava todos os dias de madrugada para que eu pudesse lhe ensinar como manusear uma espada, acompanhava todas as reuniões e mereceu seu lugar ao meu lado na távola redonda.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora