Lost with much more lies

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Pov América


A primeira coisa que sinto é a dor de cabeça. Tento me levantar, mas a dor é muito grande. Levo a mão à cabeça e fecho os olhos enquanto sento no que parece ser uma cama bastante confortável. Abro os olhos lentamente, a claridade me cegando momentaneamente, mas logo me situo. Meu quarto, quer dizer, meu antigo quarto, aquele que costumava ser meu quando fazia parte da seleção. Olho ao redor e noto a estranha silhueta recostada na poltrona. Com dificuldade me levanto e caminho em sua direção.
_Aspen. Acorde. Aspen!- balanço seu corpo na tentativa de fazê-lo acordar. Ele pula da cadeira, assustado, e ameaça pegar a arma no cinto, mas logo relaxa ao me ver.
_Eu estive tão preocupado!- ele me abraça, praticamente me fazendo perder a respiração. - Você está bem? Meu deus que tipo de guarda eu sou? Eu dormi quando deveria estar te protegendo!Alguma coisa aconteceu nesse meio tempo?- ele começa a falar rápido, juntando palavras e esquecendo de algumas, completamente esbaforido. Sorrio de sua atitude e ele me abraça uma outra vez.- Vou avisar Maxon de que acordou.- assinto.
Volto para a cama enquanto espero por ele. Eu deveria estar nervosa, não é mesmo? Afinal, é Maxon de quem estamos falando. Mas porque eu estaria nervosa? Eu amo Arthur, estou casada e construi uma família! Mas como dizer isso para ele? Eu não tinha nem pensado nisso até esse momento, não tinha ideia do que dizer, de como agir, não é como se pudesse esquecer tudo o que passamos juntos, mas não posso fingir que o que ele fez, que o que aconteceu comigo antes de voltar também nunca tenha acontecido.
Estava de olhos fechados, tentando não me estressar ao pensar em todas as possibilidades que podem dar errado, quando ouvi o ranger da porta. Maxon sorri, tímido, e demora para entrar no quarto. Ele pega uma cadeira e se senta ao meu lado. Qualquer um poderia notar a tensão entre nós, aquele silêncio constrangedor que faz o tempo parar.
_Você está bem?- ele finalmente pergunta. Respondo com um simples acenar de cabeça, ainda sem olhar diretamente para ele. - Acho que gostaria de saber, mas seu amigo está bem. Ele passou por uma cirurgia delicada e se recuperará. - sinto uma energia renovada. Me deixo cair na cama, um sorriso radiante em meus lábios e lágrimas de felicidade escorrendo pelo meu resto. Pela primeira vez olho para ele, uma careta no rosto, como se tentasse compreender o que minha reação significa. Ele trata logo de sorrir quando me vê encarando.
_Eu poderia visitá-lo?- deixo que a esperança transpareça. Ele está vivo!
_Ele não pode receber visitar agora, mas meu pai quer falar com você. Eu quero falar com você. - seus grandes olhos castanhos me observam atentamente, e sinto suas mãos ao redor da minha. Lentamente as afasto e ele abaixa a cabeça triste. Ele se levanta, provavelmente para não se humilhar mais, e abre a porta. - Você vem?- olho ao redor, ainda em dúvida se ele realmente está falando comigo, e me levanto quando percebo que só tem eu ali mesmo.
_Então... O que aconteceu desde que fui embora?- tento quebrar o silêncio desconfortável enquanto caminhamos pelos corredores.
_Nada demais, só se passaram sete dias. - responde vago. Tudo bem, se ele não quer conversar, também não faço questão.
Caminhamos em silêncio. Fico em dúvida se eles mudaram a mobília e os quadros de lugar ou se sou eu que fiquei muito tempo longe. Eu perguntaria para Maxon, mas ele não parece que quer conversar. Tento entender seu lado, realmente não deve ter sido fácil para ele. Meu súbito sumiço e meu reaparecimento depois de sete anos, bem sete dias aqui. É muita coisa para lidar, e embora não o ame como costumava amar, não quero vê-lo sofrer. Ele gira a maçaneta e sustenta um olhar de confiança, mas eu logo desvio. Amberly está sentada em uma das poltronas, graciosamente, como sempre, enquanto o marido caminha de um lado para o outro com uma carranca costumeira. Os dois param de fazer o que faziam e nos encaram.
_America! Você nos deixou preocupados!- a rainha me abraça gentilmente e me lembro do quanto sentia falta dela. Sorrio com seu amor e a abraço mais forte.
_Me desculpem, não era minha intenção. - fico sem saber exatamente o que fazer. Não é como se pudesse explicar que viajei no tempo! Primeiro que é bem provável que não acreditem, e segundo que não sei o que Clarkson poderia fazer conosco se descobrisse que a máquina funcionou.
_Como sobreviveu à explosão da máquina?- O rei senta-se em sua poltrona e me encara. Seu rosto nada amigável. Exatamente como me lembrava e como não sentia falta.
_Tinha outra saída. - minto rapidamente. Ele me olha duvidoso e continuo. - Outro túnel que me levou até o lado de fora dos muros.
_E porque não voltou imediatamente para o palácio, Senhorita Singer?
_Eu não poderia, não conseguiria. - faço minha melhor cara de choro. - Eu não aguentaria ver Kriss e Maxon juntos. - Clarkson sorri discretamente do meu sofrimento e sinto a raiva pulsar.
_Está tudo bem, querida. - a rainha me abraça novamente.
_Mas você não foi para casa. - Maxon constata.
_Não. Eu fui para a Inglaterra. - os três me olham sem compreender e tomo isso como uma deixa para continuar. - Eu precisava fugir disso tudo, sabe? Respirar um pouco. Achei que seria um lugar legal para esquecer de tudo.- Depois de sete anos mentindo para todo mundo você começa a ficar realmente boa nisso.
_E se importa em explicar o homem morrendo que lhe acompanhou?- Maxon se inclina sobre a mesa parecendo particularmente interessado nessa parte.
_Fui atacada por uns bárbaros assim que cheguei lá. Eu bati a cabeça, não me lembro muito bem, ainda é bastante confuso. - faço cara de desentendida. - Eu perdi minha memória temporariamente e ele me salvou. Me deu teto, comida, trabalho. Devo minha vida a ele.
_E porque carregava isso?- Clarkson joga o pequeno saco marrom na mesa e as moedas de ouro se espalham. Os três me encaram, curiosos.
_Ele é um nobre, um duque se não me engano, e acho que é parente do rei. - invento na hora e observo os olhos de Clarkson brilharem. Bem, agora pelo menos sei que vou ser bem tratada.
_Eu nunca vi esses símbolos antes. - Maxon analisa o metal. - Definitivamente não é a moeda britânica.
_Não é. E item de colecionador, muito antiga, rara e cara. - começo a suar frio e escondo as mãos nas costas rapidamente. Engulo em seco, mas nenhum deles parece perceber.
_Você disse que perdeu a memória?- Maxon parece chocado.
_Sim. Com o tempo comecei a recobrá-la e quando me lembrei de tudo sabia que tinha de voltar. Arthur se ofereceu para me fazer companhia, mas no caminho do aeroporto até aqui encontramos um grupo de rebeldes e eles nos atacaram. Arthur foi ferido e depois disso acho que vocês sabem. _E a Senhorita espera que acreditemos nessa história?- Clarkson se levanta, fogo saindo de seu nariz. - Eu sou o rei! Não admito que brinquem comigo.
_Se não gostou da resposta, então porque perguntou?- dou um passo para frente em sua direção. Estufo o peito e levanto o queixo, pronta para qualquer briga. Eu não serei mais a garota que era quando fui embora, sobrevivi a época das Trevas, me tornei guerreira e rainha! Não me curvarei para ditadores cretinos que se divertem com o sofrimento alheio. - Não me importo que não acredite. Para falar a verdade, não dou a mínima se Vossa Majestade acredita em mim ou não, foi o que aconteceu e o homem deitado na cama do hospital pode confirmar tudo o que eu disse.- sustento meu olhar determinado por mais alguns segundos, o suficiente para que todo mundo admire minha nova atitude, e logo saio do escritório batendo pés.
_America! Espere!- ouço a voz me chamando e me viro impaciente para ver Maxon correndo em minha direção.
_O que quer, Maxon? Vai dizer também que não acredita em mim?- ele se assusta com minha hostilidade e me repreendo mentalmente.
_Não, não. É claro que não. - ele olha para os dois lados para ter certeza de que ninguém nos observa e me puxa para uma sala vazia. - Só queria dizer que senti sua falta. - ele se aproxima, se aproxima demais, mas já estou encostada na parede, não há mais lugar para fugir.
_Senti falta daqui também. - seu rosto murcha um pouco com a minha resposta, mas ele logo se recompõe.
_O que disse lá dentro é verdade? Que fugiu porque não aguentaria me ver com Kriss? Foi por isso que correu até a máquina? Queria voltar no tempo antes deu ter te visto com Aspen?- não consigo olhar diretamente para ele, seus olhos, tão cheios de emoção, só me fazem relembrar de todas as mentiras e é praticamente insuportável.
_Sim, Maxon, mas as coisas mudaram e eu mudei. - começo a dizer.
_Eu queria que fosse possível...- ele retira uma mecha de cabelo do meu rosto e começa a se aproximar. Eu não tenho ideia do que teria acontecido se a criada não tivesse entrado. Bem, eu provavelmente teria dado um fora nele delicadamente e a situação se tornaria ainda mais constrangedora.
_Ainda bem que os encontrei. - ela faz uma reverência rápida. - O paciente acabou de acordar e está chamando por você, Senhorita America. - sorri aliviada e Maxon se afasta.
_Muito obrigada. - começo a me dirigir para a ala hospitalar.
_Eu vou com você. - Maxon corre para me acompanhar.
_Será que eu poderia ir sozinha?- tento falar o mais delicadamente possível. Ele parece desapontado, mas aceita.
A enfermaria está completamente silenciosa. Procuro pelo Dr. Aslam, mas não o encontro em lugar algum. Caminho por entre as camas com o coração na boca. Consigo ouvir, altas e claras, as batidas em meu peito, e assim que o vejo, deitado na última cama do salão, o cabelo escorrido e o rosto sereno enquanto dorme, sinto meus ombros relaxarem e todas as outras preocupações simplesmente somem. Somos só eu e ele, e qualquer outra coisa é simplesmente o resto. Me sento na cabeceira da cama e seguro suas mãos, ainda frias. Observo seu rosto, agora já não tão pálido, e me inclino para lhe dar um beijo rápido.
_Bom dia, amor. - sussurro com um sorriso verdadeiro quando vejo seus olhos azuis se abrindo lentamente. Ele tem dificuldades de se acostumar com a claridade, mas assim que me vê, sorri. _Onde estamos?
_Illea. Na enfermaria. Você se feriu, lembra?- ele fica em silêncio por um tempo e faz uma careta, como se a lembrança fosse dolorosa.
_Então é verdade? Sobre você? Tudo?- assinto com a cabeça ainda sem saber sua reação em relação a tudo.
_Você não está bravo está? Sei que menti e que deveria ter contado, mas não tinha ideia de como reagiria e...
_Estou bravo. - ele me interrompe. - Mas tenho certeza que você encontrará diversas ideias de como pode me recompensar depois. - ele sorri maliciosamente e gargalho. - Eu não conseguiria ficar bravo com você nem mesmo se quisesse. - complementa e me tranquiliza.
_Sei que odeia mentiras, mas dessa vez ela vai nos salvar.
_O que quer dizer?
_Não podemos contar para eles exatamente o que aconteceu. Viagem no tempo não é comum aqui também. - então explico para ele minuciosamente tudo o que disse para Clarkson algumas horas depois e ele assente enquanto tenta guardar tudo o que eu digo.
_Então temos que fingir que não estamos juntos? Tudo bem, vai ser difícil, mas acho que posso fazer isso. Tive anos de experiência. - se ele está fazendo piada da situação é porque está bem. Sorrio aliviada.
_Tem algumas notícias dos nossos filhos?- tensão aumenta e nego com a cabeça. - Não se preocupe, Merlin está tomando conta dos dois. Eles ficarão bem, tenho certeza. - com dificuldade ele chega um pouco para o lado na pequena cama e me deito ao seu lado, seus braços me envolvendo em um abraço. Não é como se as coisas pudessem piorar.

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