Not lost anymore

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  2 anos. 24 meses. 730 dias. 8769 horas. 525600 minutos. Foi a quantidade de tempo necessária para que ela finalmente voltasse. Morgana permaneceu sumida por mais tempo que o necessário, e quando as esperanças já haviam acabado, quando os recursos haviam esgotado, ela apareceu, cambaleando ferida pela floresta, o corpo preto de fuligem e o cabelo despenteado pelo o que parecia anos, sua pele estava pálida, mais do que o comum, como se não tivesse visto a luz durante todo o tempo que permaneceu perdida e fundas olheiras sobre seus olhos. Sua roupa estava completamente rasgada, em trapos, os pés furados por ter que caminhar pela floresta descalça. Cavaleiros a encontraram cambaleando pela névoa sem um destino aparente e assim que a reconheceram, a trouxeram rapidamente para Gaius, que não fez muita coisa além de nos expulsar do quarto e dizer que descanso era necessário.
Um dia, dois dias, três dias se passaram sem que ninguém tivesse notícia da protegida do rei, que alguém pudesse entrar no quarto para lhe fazer uma visita além do curandeiro da corte. Estávamos todos ansiosos e nervosos, nenhum de nós sabia o que esperar da garota que antes costumava ser tão feliz e alegre.
_Morgana?- bato na porta e a abro lentamente deixando que meu rosto apareça no vão. Ela sorri para mim e gesticula para que eu entre. - Senti tanto sua falta. - a abraço e por um momento imagino que ela não retribuirá, mas logo envolve seus braços ao meu redor e apoia seu queixo em meu ombro. Deve ser difícil para ela ter tantas pessoas ao seu redor depois de tanto tempo.
_Não é só porque teve que cozinhar enquanto eu estive fora?- ela semicerra os olhos. - Arthur me contou hoje de manhã tudo o que aconteceu desde que sumi. - sinto meu coração acelerar, ele não poderia ter contado tudo, poderia?
_Claro que não! Você é minha amiga.
_Que bom. Fico feliz em saber que ainda é leal a mim. - noto sua mudança de tom, mas deixo passar.
_Está bem? Precisa de alguma coisa?- tento conter meu entusiasmo por vê-la, mas ela não parece se contagiar.
_Não.
_Tem certeza? Posso trazer-lhe alguns travesseiros ou água quente para que possa relaxar.
_Já disse, Gwenevere, estou bem. - fico calada, surpresa com seu tom de voz. Assinto e engulo em seco, a cabeça baixa. - Me desculpe, não deveria ter falado com você assim. É só que depois de tudo o que aconteceu...- ela não consegue terminar, lágrimas começam a rolar por seus olhos. _Está tudo bem. - a abraço e a consolo. - Vou deixá-la sozinha para que possa descansar. - ela assente triste e fecho a porta atrás de mim. Deixo o quarto e vou até Gaius, que cuida do meu filho quase todos os dias para que eu possa trabalhar. Não poderia ter encontrado uma babá melhor. Os dois estão brincando no chão, Davi segurando um pequeno cavalo de madeira enquanto tenta impedir que ele saia correndo pelo quarto e derrube suas poções. Me encosto na parede e observo a cena por um momento, maravilhada, mas o loiro rapidamente nota minha presença e corre em minha direção.
_Mamãe! Mamãe!- ele grita com sua voz fina e se jogo em meu colo enquanto o giro pelo ar.
_Pronto para ver o papai?- ele assente animado e segura minha mão, me puxando em direção da porta.
_Muito obrigada, Gaius, te devo mais uma!- o idoso sorri em agradecimento.
Arthur está treinando no pátio principal como sempre faz a essa hora do dia. Girando sua espada incessantemente contra qualquer um de seus amigos que ousem o atacar, mas não o suficiente para realmente machucá-los. A luta atrai uma plateia de pessoas que não possuem mais o que fazer, principalmente de mulheres, solteiras ou casadas, que inventam desculpas para seus pais e maridos para ver o futuro príncipe e seus amigos suados combatendo entre si. No começo eu morria de inveja, mas com o tempo comecei a me acostumar com a ideia, afinal, quem não se apaixonaria por seus olhos azuis? E também, elas mesmas aprenderam que ele nunca lhes daria os olhos. Quando o sol finalmente se põe e a multidão começa a se dispersar, Arthur vêm até nós, cercado de suspiros apaixonados e de vozes bravas e invejosas por nos verem juntos. Nenhuma delas sabe a verdade, suspeitam, mas já é o suficiente para me odiarem.
_Como está meu pequeno guerreiro?- Arthur levanta o filho sorridente e o deposita em seus ombros, fazendo o garoto gritar de emoção.
_Bem, papai, bem!- Davi responde tentando se desvencilhar dos braços do príncipe que não param de fazer cócegas.
_Quem é o garoto?- me viro para ver Morgana caminhando em nossa direção.
_Você deveria estar descansando, irmã. - Arthur tenta argumentar, mas ela o ignora com uma careta.
_Quem é esse lindo?- Davi não sorri para ela.
_Meu filho. - respondo orgulhosa
_Filho?! Você teve um filho? Quem é o pai?- ela parece abismada e olha para Arthur segurando um menino loiro de dois anos. - Ah não... Não me diga que você é o pai.
_Não!- gritamos em uníssono. - Ele não é o pai. - ela suspira aliviada. - O encontramos na floreta em uma cesta. A mãe o abandonou. - esperava ver um sorriso triste em seu rosto ou um semblante de pena, mas ela continua impassível. - E Arthur me ajuda a comprar os suprimentos necessários para ele.
_Você?- ela não deixa de esconder seu susto. - Fazendo algo de bom? Ajudando alguém?- ela ri fria. -Interessante saber. - Murmura para si mesmo. - Seu pai sabe disso?
_Não e gostaria que continuasse sem saber. - ela assente.
_Claro, afinal o que eu poderia ganhar dizendo para ele algo com isso. - ela ri de sua própria piada e se afasta.
_O que aconteceu com ela?- Arthur pergunta depois que ela já se foi.
_Quando pessoas se isolam por muito tempo, elas não voltam iguais. Deve ser só passageiro. - digo e me impressiono por ele acreditar quando nem eu ao menos acredito.


_Você tem que me entender, America. Ela não é quem diz ser. - Merlin perde a paciência tentando me convencer.
_Ela é minha amiga, nossa amiga, Merlin. Como pode achar algo como isso?- me sinto ofendida.
_Não notou como ela têm estado estranha? Ela não é a mesma pessoa. Seja o que for que tenha acontecido com ela durante esses anos, isso a mudou!
_Como sabe disso? São só hipóteses, não pode afirmar algo como isso. É traição. - tento fazê-lo ver a razão, mas parece impossível.
_Eu a vi, America, a segui no meio da noite.
_Porque você faria isso?
_Não importa. - responde rapidamente, me fazendo ficar calada. - Mas a vi se encontrar com aquela garota, Morgause. Porque se encontrariam no meio da noite fora dos arredores do castelo?
_Porque ela é procurada?- sei que essa é a resposta errada, mas não consigo entender onde ele quer chegar.
_Elas nem se conheciam! Porque arriscar tanto por uma pessoa que você nem ao menos conhece?- reconheço que ele tem um ponto.
_Tá, tudo bem. Digamos que esteja correto nesse aspecto, o que isso tem a ver? Porque implicar com ela?
_Tudo o que aconteceu nas últimas semanas, todos os ataques, todas as vezes que Arthur e Uther estavam em risco de vida e tivemos que intervir...- ele me olha na esperança que eu siga sua linha de raciocínio.- Pelo amor, America! Tudo começou quando ela chegou! Tivemos mais ataques em duas semanas do que tivemos em dois anos. Não acha tudo isso uma coincidência?- pondero por um momento. Admito que Morgana não pareça ela mesma, que sua atitude passa além do bizarro e que nunca me estressei tanto como nas semanas passadas, mas isso não pode significar que ela virou uma bruxa maligna ou das trevas ou algo do tipo, pode?
_Eu não sei, Merlin, eu não sei...- suspiro cansada.
_Se lembra do que o dragão disse, se lembra quando ele disse que não poderíamos ajudá-la, que seria melhor que ela nunca soubesse que possui magia. Agora entendo. Ele sabia o que aconteceria, o que ela se tornaria, esteve certo o tempo inteiro.
_Se estiver certo, e rezo para que não esteja, aquele dragão louco não está certo. Se Morgana resolver algum dia se virar contra nós, se um dia seu coração ficar preto de ódio e amargura, então a culpa é a sua que a deixou de afundar nas sombras da solidão. - me levanto subitamente e o deixo sozinho, farta de toda essa conversa. Saio atolada, sem olhar para onde ando e trombo em alguém na primeira curva do corredor.
_Desculpe-me, estava distraída. - me desculpo rapidamente e vejo Morgana engolir a raiva.
_Não se preocupe. Estou indo para o quarto, irá comigo? Preciso da sua ajuda. - ela hesita antes de me fazer a pergunta, mas assinto com um sorriso.
_Será um prazer ajudar. Não tínhamos andado nem ao menos dois passos quando ouço uma voz masculina gritar meu nome, meu verdadeiro nome, no fim do corredor. Só duas pessoas o conhecem, e Morgana não é uma delas. Olho aflita para seu rosto, branco de pavor.
_America? America?- ela repete para si mesma tentando compreender. - Quem é America? Onde ela está?- ela grita raivosa para mim, completamente determinada e fico sem palavras. Ela me encara, seus olhos em fogo e só desvia quando Arthur aparece correndo.
_Até quem fim te encontrei, Amer...- ele começa, mas para no momento em que nota Morgana ao meu lado.- Gwenevere! Não esperava te encontrar por aqui. - ele abre um sorriso inocente, mas Morgana não acredita, nenhum bobo acreditaria.
_Você se chama America?- a protegida me pergunta incrédula, como se tivesse acabado de ver um fantasma. Ela respira fundo e tenta se controlar.
_Durante esses anos ela começou a se lembrar de sua vida, não é mesmo?- Arthur se vira para mim e assinto. - Porque tão abalada, irmã?
_É, porque tão abalada?- pergunto com um pé atrás.
_Não estou abalada. - desconversa. - O nome me familiar, é só isso. O que veio falar, Arthur?- ele dá de ombros.
_Não me lembro mais.
Os deixo conversando e corro de volta para o quarto, onde Merlin continua no mesmo lugar onde o deixei minutos antes, olhando para a mesa sem qualquer emoção.
_Você estava certo!- fecho a porta com força e ele se vira assustado. - Se aquela é Morgana, então não sei mais quem ela é.


como pedido de desculpa por termos atrasado colocamos muitos caps espero que tenham gostado da maratona 

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora