Lost in a car crash

73 8 0
                                    


 _Eu estou te implorando. Já me viu implorar alguma vez?- ele me olha com aqueles grandes olhos azuis e fujo de seu olhar. Ele se ajoelha na minha frente e segura minhas mãos. Abro um mínimo sorriso, me divertindo com a situação.- Vou pedir uma última vez ou terei que usar meus poderes de persuasão.- eu estava prestes a rir, mas outra pessoa foi mais rápido.
_Seus poderes de persuasão?- Merlin gargalha novamente.- Só aceite que não vai conseguir o que quer pela primeira vez na sua vida. Não é rei aqui.- Arthur o encara por poucos segundos, mas o ignora logo, se virando para mim.
_É impressão minha ou ele está ficando cada vez mais ousado?- sorrio e o ajudo a se levantar, mesmo que ele não precise de ajuda.
_Você não é um agente secreto, Arthur, ou qualquer um dos personagens que vê na televisão, então por favor, não ache que pode fazer o que eles fazem, porque não pode.- ele faz uma careta e sei que não dá ouvidos ao que falo.
_Como sabe? Já me viu dirigir alguma vez?- ameaço responder, mas ele não deixa.- Foi uma pergunta retórica, todos sabemos que não porque eu nunca dirigi.- cruzo os braços e espero que ele termina seu raciocínio.- Eu posso ser incrivelmente bom, ou, o menos provável, ruim. O que de tão ruim pode acontecer?- o olho chocada, e se por ironia ou não, a televisão emite um estranho, uma explosão de carro. Olho para tela para provar meu ponto.
_Aquilo pode acontecer.- ele nem olha para ver o que acontece.
_Como você mesma disse, eu não posso fazer as mesmas coisas que eles.- ele sorri confiante e dou de ombros. Ele já sobreviveu a acidentes piores, o que de tão ruim pode acontecer?
_Sei exatamente como podemos encontrar um carro.- Merlin sorri misterioso.- O que? Passei muito tempo infiltrado aqui dentro antes de vocês dois aparecerem.- ele se vira para o corredor sem terminar seu raciocínio.
_Não devia estar tomando conta dos meus filhos?-Arthur pergunta nada sutil.
_E estou.- ele dá de ombros e termina seu caminho. Troco olhares com o loiro e continuamos nosso caminho.
A cada dia que passo tento fazer Merlin ver de que esconder sua real natureza do amigo não é necessário. Tento convence-lo de que, independente do que aparente, Arthur será compreensivo e nunca, nunca o condenará por algo como esse. Se soubesse quantas vezes foi salvo por essa mesma magia, não terá outra coisa a fazer além de agradecer, mas apesar de tudo, ele continua irredutível. Acreditávamos, ou pelo menos eu acreditava, que depois de seu acidente Arthur decidiria que já esteve muitas vezes entre situações de vida e morte, mas ele simplesmente não consegue ficar longe da sensação de adrenalina. Se não o conhecesse muito bem diria que é um perfeito suicida, o que só aumenta o meu nível de preocupação. Achei que poderia aposentar o trabalho de ser sua babá, mas parece que ainda nem comecei.
Chegamos na garagem e perco o fôlego diante da tamanha quantidade de automóveis. Eu nunca havia estado ali e me impressionara com tamanhos tamanhos e estilos. Todos enfileirados, brilhando e refletindo a luz das lâmpadas no teto. Vermelhos, pretos e até mesmo amarelos, altos, baixos, compridos, blindados ou de passeio, com capô ou sem capô, estava tão maravilhada que nem se precisasse acho que conseguiria escolher um, mas Arthur já parecia ter visto seu preferido. Ele deslizava os dedos pelo metal enquanto rodeava o veículo, olhando pelos vidros e para qualquer outro lado onde tivesse algo interessante.
_Você não tem ideia de como entrar, tem?- ele sorri constrangido e balança a cabeça negativamente. Merlin gargalha novamente e se afasta para começar a caminhar no labirinto de metal colorido.
Abro a porta para ele, que se senta no banco do motorista, e me posiciono ao seu lado no banco ao lado. Explico as funções básicas, acelera se quer correr, freia para parar e gira o volante para se mover para os lados. Ele assente enquanto falo, mas não diz nada, ouve atentamente e fico sem saber se balança a cabeça só para me fazer acreditar que está me ouvindo.
_É um veículo movido a engrenagens, basta apertar alguns botões, girar a chave e as alavancas- aponto para cada um dos objetos enquanto falo e ele me segue com o olhar.- Mas não quer dizer que possa acelerar no máximo, pode não ser um cavalo, mas o motor tem limites.- ele resmunga, decepcionado, mas logo aceita.
_Já terminaram? Temos pouco tempo, assim que abrirmos a garagem, os guardas virão atrás de nós.- Merlin do outro lado do galpão, fazendo eco.
_Para de repetir tudo que fala! Entendi da primeira vez.- Arthur grita de volta, incomodado. Rio.
_Não é ele, chama-se eco.- ele me olha confuso.- Uma lição de cada vez.- o beijo rapidamente.- Só não faça nenhuma estupidez e volte a salvo para mim, tudo bem?- ele assente com um sorriso e me beija novamente.
Merlin aperta o botão e em poucos milésimos ouço as engrenagens funcionando e o armazém se abre. Preciso cobrir os olhos com a mão devido a claridade, mas logo me acostumo. Observo o suntuosa estrada que leva aos muros do palácio e os largos campos nos arredores. Ouço o barulho do motor sendo ligado e rezo mentalmente.
_Tenho um péssimo pressentimento sobre isso.- comento baixo para Merlin enquanto observamos o carro se afastar em alta velocidade.
_Um pressentimento?- ele ri frio.- Eu tenho certeza.- corre para fora da garagem, parando na grama verde ao lado da estrada de pedra. Corro para alcança-lo. Foi o tempo necessário para que ouvíssemos o grande estranho a frente e logo em seguida, a fumaça.
_Ah não.- murmuro, os olhos arregalados e a boca semi-aberta, então largo os saltos na grama e corro até o carro destroçado. Não preciso olhar para saber que Merlin me segue. Tusso enquanto na nuvem de fumaça ao redor do automóvel. Não consigo ver muito devido a névoa, mas me encaminho, a mãos no nariz, até a porta e abro com dificuldade. Puxo o corpo de Arthur, que cai no chão, mas logo acorda devido ao choque com a grama. Ele se levanta, grogue, e caminhamos cambaleando para fora do alcance da fumaça.
_Demais!- diz entre tossidas.
O abraço forte e o beijo desesperadamente, simplesmente feliz por ele estar vivo. Quantas mais vezes terei de suportar isso?
_O que significa isso?- Ouço uma voz que conheço bem atrás de nós e me viro assustada, largando Arthur imediatamente, para ver Maxon encarando o carro e a árvore. Relaxo ao ver que ele estava falando sobre o acidente, não sobre eu e Arthur.
_É minha culpa.- Arthur dá um passo a frente quando vê Clarkson chegando, diversos guardas em seu encalço.- Fui idiota. Nunca me permitiram dirigir um carro antes, agora entendo o motivo.- ele ousa sorrir, mas não é de muita ajuda.- America e meu criado estavam nos arredores e me tiraram do carro antes que qualquer coisa acontecesse. Assumo total responsabilidade pelos danos e acredito que as moedas que guardava comigo e que agora estão em sua possessão poderão pagar por tudo.- Clarkson levanta uma sobrancelha, mas aceita. Acho que o ouro deve valer muito mais do que o carro. Ele não é estúpido de arranjar confusão por isso.
_Está bem, querido? Sem ferimentos graves?- Amberly se aproxima terna e Arthur sorri grato por tamanha preocupação. Acredito que ela a faça se lembrar da mãe.
Depois de uma rápida passada na ala hospitalar, voltamos para o quarto em silêncio. Abro a porta sem antes checar se não há ninguém olhando e o dou passagem. Tranco a maçaneta e permanecemos em silêncio, até que minhas raiva não suporta mais.
_Seu idiota, estúpido!- começo a bater em seu peito com a pouca força que me resta, a raiva tomando conta de mim.- Porque faz isso comigo?- ele segura meus pulsos e me faz encara-lo.
_Fazer o que?
_Aquilo!- respondo como se fosse óbvio.- Porque se bota nessas situações? Porque me leva ao meu máximo de estresse e preocupação? Sabe quantas vezes nesses sete anos achei que fosse te perder.- ele é inteligente em não dizer nada.- Eu não suporto mais isso, não suportaria se em uma de suas tentativas idiotas de chamar atenção algo sério realmente acontecesse. Não suportaria...- me jogo na cama e me permito chorar.
_Me desculpe, America, não queria fazer isso contigo. Eu não sabia que se sentia assim.- ele se senta ao meu lado e seca minhas lágrimas.- É só que é tudo tão diferente, tão novo, que quero aproveitar tudo antes de ir embora. Quando poderei fazer qualquer uma dessas coisas em Camelot? Pela primeira vez não tenho responsabilidades ou deveres, posso fazer o que quiser, ser inconsequente e irresponsável! Me desculpe por isso, não era minha intenção e, apesar de ainda querer pilotar um daqueles caças, viajar de balão e até mesmo entrar naquelas jaulas legais com os tubarões, sei que não seria certo com você pedir que passe por tudo isso. Então me desculpe.
O encaro, hesitante em desculpa-lo. Ele se aproxima, sua boca a milímetros da minha.
_Se não aceitar minhas desculpas terei de usar meus poderes de persuasão.- ele ri da própria fala, apesar de saber que nunca poderíamos ficar brigados. Acabado com o pouco espaço que ainda resta entre nós. Por algum motivo que ainda não sei, fomos parar no chão, ainda nos beijando.
_Ai meu deus! O que está acontecendo aqui?- uma voz estridente grita de algum lugar e Arthur pula de cima de mim, sem partes de sua roupa, batendo na cama e xingando quer é que for que está ali por tê-lo feito isso. Olho para o lado, para meu armário, ou pelo menos para onde costumava ser meu armário, mas agora carrega uma Marlee totalmente chocada que deve ter vindo pela passagem secreta, e que vira o rosto para não nos ver.
_Podem por favor vestir algumas roupas?- ela pede ainda sem se virar para nós. Sinto meu rosto queimar completamente de vergonha. Me levanto cambaleando e boto meu vestido enquanto Arthur recoloca as calças.
_Achava que era Merlin. Ele já está ficando mestre nisso.- resmunga enquanto abotoa a calça.- Quando ela se for, me avise. Te amo.- beija o topo da minha cabeça e fecha a porta atrás de si.
_Já pode se virar.- digo baixinho, ainda completamente constrangida e ela me olha impassível.- Senti sua falta.- sorrio e a abraço.
_Podemos falar de saudade depois, primeiro vai me explicar o que diabos foi aquilo que vi.- ela me senta na cama e me encara.
_O que quer saber?
_Tudo!- grita com a voz estridente. Exatamente como eu me lembrava.- Como você desaparece do nada depois da escolha e aparece uma semana depois, toda misteriosa e com um garoto novo! Que a propósito é maravilhoso, se me permite dizer.- ela sorri animada. Até esse momento não havia percebido o quanto havia sentido sua falta.-Vocês podem ser pegos! Existe uma lei, America, você sabe disso.
_Eu sei que existe uma lei e se tem uma pessoa que a quebrou sou eu, mais vezes do que posso contar.- admito pensando em Aspen.- Mas esse não é o caso. Não estou infringindo nada, ele é meu marido.
_Seu marido? Se passou pouco mais do que uma semana e você está casada? E Maxon? Achei que o amava!- peço que ela abaixe o tom de voz e pare de gritar. Ela não fica muito satisfeita, mas fica quieta.
_Para mim se passaram mais do que uma semana.- ela me olha confusa.
_O tempo é igual para tomo mundo, America.
_É ai que se engana.- começo bem do início. Explico para ela tudo o que precisa saber para entender e tudo o que tive que segurar para mim mesma durante sete anos porque não tinha ninguém para compartilhar. Velhas preocupações e emoções, sem poupar nos detalhes. Ela é uma boa ouvinte, não me interrompe, mas as vezes solta xingamentos para Arthur ou Morgana e vários "awwns". Lhe contei sobre meus filhos e sobre o quanto sentia falta deles ao meu lado. Tudo.
_O que vai fazer quando Maxon descobrir?- é a única coisa que pergunta quando termino. Me deito em se colo e bufo de cansaço.
_Não tenho ideia.- confesso.- Tudo mudou para mim, sabe. Se passaram sete anos, eu mudei, segui em frente e não poderia estar mais feliz. Mas ele? Ouso dizer que nunca esteve pior. Não quero vê-lo sofrer.
_Uma hora ele vai ficar sabendo, America, e é melhor que fique sabendo de você do que por outra pessoa. Ele pode ter escolhido outra, estar noivo e você casada, mas o que passaram não vai sumir assim do nada. Além do mais, Arthur tem cara de quem quebraria Maxon em dois se descobrisse.
_Não é com ele que estou preocupada. É comigo.- ela estava prestes a me perguntar o que eu queria dizer com aquilo e eu provavelmente mudaria de assunto para não ter respondido se a porta não houvesse sido aberto e a cabeça de Arthur não aparecesse pelo vão.
_Detesto interromper o momento, mas o idiota do meu criado dormiu na minha cama.
_E isso explica porque está encharcado?- seguro a risada e ele fecha a porta atrás de si.
_Pode ser que eu estivesse morrendo de vontade de jogar água fria nele por estar deitado na minha cama, mas quando estava prestes a fazer isso me lembrei de que havia feito uma promessa estúpida para minha maravilhosa esposa, então desisti da ideia, mas tropecei e acabei assim.- ele termina de explicar e o encaro.
_Você não cumpriu a promessa, jogou água nele e ele fez o mesmo com você, não foi?- ele assente sorrindo.
_Como se eu fosse deixar ele dormir na minha cama.
_Você prometeu que não iriam brigar. E você nem ao menos dorme no seu quarto!- cruzo os braços irritada e ele se aproxima ensopado.
_Pensa assim, agora com o quarto alagado eles não vão ter opção além de me dar o outro quarto, que a propósito é aqui na frente, só atravessar o corredor.- ele sorri malicioso e Marlee pigarreia atrás de mim.
_Não consegue se portar normalmente pelo menos por um dia?- ele nega.
_Não se preocupe, vou levar a culpa por tudo. E você deveria parar de se preocupar tanto. As crianças estão bem, eu estou bem. Aproveite seu tempo como convidada, porque quando voltamos você voltará a ser a anfitriã.- ele beija o topo da minha cabeça e me abraça.- E se é aquele rei que te perturba, ele nunca fará nada contigo.
_Está molhando o carpete.- comento. Ele olha pro chão confuso e bufa.
_Vou tomar um banho então.- desaparece no banheiro e volto para meu lugar na cama, ao lado de Marlee.
_Voltar? Vocês vão voltar?- minha amiga finalmente pergunta depois de ter certeza de que Arthur não poderia escutar.
_Não sei, Marlee, não sei.

Lost In TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora