02 - Porquês, parte 2

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Capítulo tá doido, tenso, mas tudo, como sempre, será explicado. Não esqueça de deixar seu voto e comentário <3

***

Por que ninguém ouvia minha voz? E por que eu ouvia os sons daquela maneira tão dilacerante?

– Claire! – alguém gritou, reconheci a voz de Misha e olhei para o lado.

Eu me vi caída no chão.

Eu. Me. Vi. Caída. No. Chão.

Assim mesmo.

Eu me vi.

Balancei minha cabeça e a senti balançar. Senti meu corpo normalmente, mas, sabia que eu, não era eu.

De novo não!, pensei e encarei minhas mãos.

Brancas. Grandes. Masculinas. E respondiam aos meus comandos mentais.

Não demorei muito para ligar os fatos.

Luke Cloud era meu receptáculo. Eu tinha invadido sua alma assim como havia feito com Ruddy.

Continuei encarando "minhas" mãos por alguns segundos tentando imaginar o que acontecia com Luke enquanto eu estava ali.

Passei "minhas" mãos em seu, agora-meio-meu, cabelo. O cabelo de Luke estava quase do mesmo tamanho que o meu, em um corte curto, mas não tanto. O meu, demorava mais o normal para crescer, enquanto o dele já passava de sua orelha.

Por mim eu ficaria ali, passando minhas mãos no cabelo-meio-meu, para me distrair em seus fios lisos, mas grossos.

Olhei para Misha me balançando e meu corpo mole, com aquela típica aparência de morto.

Outra vez balancei minha cabeça.

Eu merecia um prêmio da morta mais viva da galáxia. Ou seria melhor da viva mais morta?

Franzi meus lábios e virei minha cabeça para trás, vendo James bater naquele nada com tanto desespero que suas mãos estavam começando a ficar vermelhas. Nesse momento Ariana tinha parado de gritar para também bater naquela parede invisível junto com Merry. Lia, em seu lado da sala, também batia na parede invisível.

No fim, somente Ash e eu-Luke não fazíamos nada.

Toquei no ombro de James, querendo mostrar a ele que eu não era Luke, não naquele momento, mas, quando ele virou seus olhos para mim, havia pressa e angustia, não reconhecimento.

Ele não estava lendo meus pensamentos? Ele não estava vendo meus olhos roxos? O que estava acontecendo com aquela Invocação?

Apontei para mim, tentando, em vão, expressar algo em mímica. Nenhuma resposta. Ele somente virou seu rosto para longe de mim e voltou a bater naquilo. Tentei pará-lo, tentei segurá-lo, mas, com força, ele me empurrou para trás, o suficiente para eu recuar dois ou três passos incertos, não para cair no chão. Felizmente, a resistência do corpo de Luke era maior. Infelizmente eu não estava sentindo seu poder sobre o futuro.

Abri a boca, tentando falar, contudo, enquanto o som não saia eu me sentia mais e mais desesperada.

Tentei chamar a atenção de Ash. Ele sabia o que estava acontecendo e ele conseguia falar.

Sobretudo, por que ele não se mexia? Por que ele não falava nada?

Bati minhas mãos naquilo, com ódio, com força, com raiva. Eu estava possessa e podia até mesmo sentir meu poder exalando de mim, ainda fraco diante de tudo que eu tinha sofrido, mas, estava surgindo fazendo aquele corpo dolorido de Luke melhorar, o sentia sarar.

Sarar.

Parei de me mexer repentinamente e levantei minhas mãos a minhas orelhas, em seguida, as encarei, vendo um sangue morto em meus dedos.

Em um misto de Misha e Merry eu pensei em todos os deuses.

Eu não estava Invocada em Luke. Eu o estava curando, porque ele estava morrendo.

Diferentemente do que aconteceu quando eu curei Merry, eu estava vendo o que Luke fazia em tempo real, porém, seu corpo estava tão fraco que respondia aos meus comandos.

Ele não estava há pouco tempo batendo na parede invisível porque o som de Ariana o irritava, mas sim, porque o dilacerava.

Tardiamente enxerguei vibrações no espaço de Ash e Lia no chão. Bati com toda a força que conseguia a minha frente e vi a vibração aumentar. Eles não levantavam do chão, talvez nem sequer tinham percebido que não conseguiam.

Eu somente não entendia o que o espaço que eu estava fazia com Merry e Ariana. Afinal, o que a falta de paladar, tato e olfato poderia ocasionar para a falta de audição do lado delas?

Ciclo.

O barulho de Ariana e Merry doía a audição de Luke e James que estavam com a audição hipersensível; o bater repentino deles vibrava o chão de Ash e Lia que, provavelmente, estavam com o tato mais sensível. Porém, o que Ash e Lia faziam com a minha parte e o que eu fazia a Merry e Ariana?

Não estávamos dentro de uma caixa gigante, mas sim de um círculo gigante e toda ação de um, refletia no outro.

Como eu podia avisar isso, se não tinha voz?

Eu precisava chamar a atenção de outro, como se fossemos um só.

Eu divagava mentalmente em frações de segundos que mais pareciam uma eternidade. Entretanto, quando meus olhos ganharam foco para o que estava acontecendo eu já estava puxando James para longe daquela parede invisível e gesticulando para o chão.

Ele não viu para onde eu apontava e tentava se afastar de mim, fora neste segundo quando sua mão já ferida tocou outra vez no nada à sua frente que, em sincronia, Ash e Lia caíram no chão.

Ash parecia cair desmaiado, Lia ainda mexia suas mãos.

Puxei com toda a força que Luke tinha, James da parede invisível, afastando-o. Luke era pouco mais alto que James, mas ambos pareciam ser tão fortes quanto o outro, porém Luke estava com o corpo quase completamente curado e James estava ferido. Sangue também escorria de suas orelhas, no entanto, tentei não pensar sobre e apenas segurá-lo longe da parede. Ele não podia batê-la outra vez.

O agarrei pela cintura, apertando seus braços para baixo e canalizando minha força, o carreguei, jogando-o no chão ao meus pés.

Parei à sua frente e arregalei meus olhos, mesmo que eles não estivessem roxos, ele teria que ler os pensamentos de Luke, então pensei o que era mais importante naquele momento:

Nós não podemos ajudá-los.

O vi arregalar uma sobrancelha, descrente do que eu pensava.

Se continuarmos, mataremos uns aos outros, porque estamos em um ciclo.

A IndomadaOnde histórias criam vida. Descubra agora