14 - Despedaçada, parte 2

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***


Aquele era outro último momento. O último momento que Ariana veria sua mãe, como mãe.

Entendi que Ariana podia me odiar. Seu pai foi para a Terra e conheceu minha mãe, depois disso, nunca mais voltou para ela, tanto quanto sua mãe que após dividir parte de seu poder comigo, nunca mais voltou para a sua filha, continuando em sua vingança inabalável.

Quando abri meus olhos para o momento atual, era como se nem um segundo sequer tivesse passado, como se o mundo tivesse congelado para eu conseguir ver aquelas cenas.

Ainda sentia uma dor fina em meu peito, me martelando com a ideia de que Ariana levava aquilo por toda a sua vida, mas, em vez de "retribuir" tudo que recebeu com ódio, ela estava do nosso lado, tentando fazer o certo sem esperar que outros fizessem por nós.

Ela estava bem, como todos nós. Mas também estava quebrada, como todos. Não acreditava que nós complementavamos uns aos outros, mas nos apoiavamos, porque precisávamos dos outros. Éramos como suportes humanos.

Apesar do momento, eu sorri.

Ariana olhou para mim com o cenho franzido e, no segundo seguinte, Luke gritou.

— Abaixa!

Ás, que ainda segurava meu pulso, me puxou para baixo com seu reflexo e atitude muito mais rápida do que a minha.

O braço de Ás protegeu minha cabeça, mas como meu rosto estava de lado no chão, e minha bochecha ardia, latejando de dor pelo pressionar do chão.

Mas, percebi que aquela dor era uma fagulha comparado a um tronco de árvore que passava voando sobre nossas cabeças.

Mística riu.

— De mim vocês não podem se afastar.

Não precisava vê-la para saber que ela estava tentando atingir a todos nós, mas, enquanto me levantava do chão, puxando Ás junto comigo, vi Misha sorrindo, de braços frouxamente cruzados.

Estavámos sendo imunizados e isso era tudo que eu precisava para fazer Mística sentir.

Ás continuou do meu lado e murmurou:

— Tem mais. — tocou, dessa vez, em minha cabeça com suas duas mãos e um flash de vidas passou por meus olhos.

Acreditei que seu toque não tenha durado mais do que alguns segundos, mas, foi o suficiente para eu ter tudo o que precisava contra Mística.

Me afastei de Ás e me aproximei de Mística. Ela ainda sorria e meus amigos continuavam bloqueando o resto do Supremo.

Mística achava que estava à minha frente, mas, antes que ela fizesse algo contra mim, reagi.

Naquele momento eu não queria que ela sentisse dor física... Eu queria que ela sentisse tudo que cada um de nós sentiu por algo provacado por ela ou não.

Todas as vezes que Ariana aguentava firme ao ter consciência que seus pais não voltariam.

Todas as vezes que Lia fingiu não se importar quando seus pais não a davam atenção. Todas as vezes que ela teve que fingir que gostava de ser sempre treinada. Todas as vezes que ela fingiu alguma coisa por alguém.

Queria que ela sentisse como Luke se sentiu quando foi afastado de seus amigos. Ou quando seu pai o afastou propositalmente de seu irmão mais novo. Queria que ela sentisse tudo que Luke sentiu quando foi praticamente obrigado a fazer parte dos Protetores.

Queria que ela sentisse tudo que Ash sentiu desde sempre. Ash não tinha família, abdicou de tudo para ser um Protetor. Nós não sabiamos quem era Ash sem nós. Ele teria algum parente perdido por aí? Alguma outra vida da qual foi obrigado a se afastar? Ou seria Ash como Ás? Sem família, sem amigos?

Ou melhor: "somente" sem família de sangue, porque nós éramos a família um do outro. Ash tinha a nós, assim como, recentemente, Ás.

No entanto, eu queria que Mística sentisse quando Ash não tinha — ou achava que não — ninguém.

Queria que sentisse a dor de Misha quando acreditou que perdeu o seu amor ou quando foi obrigado a ser um Caçador. Mesmo que agora soubesse que eles não eram o 'lado negro' da força, Misha tinha sido obrigado a algo que, talvez, se ele tivesse escolha, não teria sido.

Que Mística sentisse quando Ás sentiu demais. Por toda a empatia de Ás, por toda a dor que, consequentemente, veio disso. Que Mística sentisse.

Que Mística sentisse quando Merry, mesmo sem ter nada a ver com aquela história, quis participar. Por toda a dor que ela foi obrigada a sentir, por todo o perdão que ela teve que dar. Por todo o amor que ela teve que reprimir.

Que Mística sentisse por James. A dor dele por se afastar de um irmão, dos pais, de ter que aceitar a seguir uma vida que não era para ele.

E por mim.

Que Mística sentisse por mim.

Sobre mim eu nem saberia por onde começar. Talvez, desde a Terra, desde meu nascimento nela. Eu nasci para ser uma Renascida, mas talvez não tivesse sido se não fosse por Mística. Talvez eu fosse uma humana qualquer, no entanto, levando em consideração quem era meu pai, talvez eu realmente fosse, de qualquer jeito, uma Renascida.

Eu não saberia dizer. Estava confusa.

Será que havia terráqueos filhos de marcianos na Terra naquele exato momento? Eu não duvidaria.

Eu queria que Mística sentisse por tudo que eu senti e eram coisas demais.

A IndomadaOnde histórias criam vida. Descubra agora