Desculpem a demora, vida corrida.
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Marte; Z-Mil, Agora
Bati minhas unhas pelas paredes e não ouvi eco nenhum do outro lado.
Talvez fosse por minhas unhas não serem compridas ou porque realmente não era oco. Encarando minhas unhas eu pensava em outra realidade de minha vida. Uma que eu, em Marte, poderia ter vivido em paz, pintando as unhas com esmaltes práticos e duradouros como só Marte teria e não ter sangue seco sujo nas unhas.
Eu deveria limpar aquele sangue, mas eu não tinha unhas compridas para conseguir enfiar uma na outra.
Espalmei minha mão na parede e olhei ao redor. Ás ainda estava no chão enquanto Lia rodava pela sala.
Ela parou de andar para me olhar.
— Tudo bem?
Nesse momento, eu só conseguia pensar que ela era mesmo parente de James. Balancei minha cabeça, não querendo pensar nas nossas ligações familiares, porque, assim, minha mente daria um nó.
— Eu só... — diria que estava cansada, mas que, mesmo assim, emanaria todo o meu poder sobre aquela sala, para tentar destruir alguma parede, porém, antes que eu conseguisse articular com o que quer que fosse, o tubo no meio da sala estremeceu.
— O que é isso? — Lia franziu seu cenho e Ás... meditava?
Ás estava com suas pernas cruzadas e suas mãos sobre seus joelhos enquanto, em cada mão, seu dedo polegar tocava no seu do meio.
Eu segurei meu riso e Às abriu um olho para me encarar. Percebi o seu sorriso contido e, em seguida, o fechou.
Voltei minha atenção para o tubo e não tive muito tempo para temer quando vi que quem caia dele era Merry e Luke. Merry caiu em pé, com uma única perna apoiando seu corpo antes de ela pôr a outra no chão. Já Luke bambeou com seus joelhos flexionados, mas, não caiu. E, rápido como era, levantou-se, ficando ereto rapidamente.
— Sentiram a minha falta? — Luke sorriu e passou uma mão em seu cabelo, arrumando.
Lia revirou seus olhos, mas notei que continha um sorriso. Já Merry não continha nada. Primeiro, ela me abraçou, apertando, quase me tirando do chão e depois Lia. No momento que Merry viu Ás, minha amiga recuou um passo e abriu sua boca, a tampando com uma mão.
Ás, por sua vez, continuava no chão, de olhos fechados.
— Você. — Merry murmurou e eu vi que os olhos de minha amiga, lacrimejaram.
— O que aconteceu? — coloquei uma mão em seu ombro e percebi que Lia e Luke também a encaravam.
— Ás. — Merry disse como se isso explicasse tudo e apontou para Ás.
Finalmente Ás abriu um olho e inclinou sua cabeça para cima, olhando para Merry, depois, abriu seu outro olho e sorriu.
— Merry. — Ás acenou.
Mas, minha amiga não se conteve e puxou Ás pelos braços, abraçando fortemente. Ás não resistiu e a abraçou de volta.
— Senhorita Pink, — Ás sussurrou — eu também senti sua falta.
— Vocês se conheciam? — eu perguntei o óbvio.
— Ás estava no presídio. — Merry se afastou de Ás e nos olhou.
— Presídio? — eu e Lia falamos quase em uníssono enquanto Luke continuava quieto, na sequência, eu quem continuei: — Ás não fazia parte do grupo de Caçadores?
— Nem todos em Z-Mil são Caçadores... Ou melhor, todos são forçados a ser e a parte da história das pessoas que não são, não é contada. — Ás deu de ombros, como sempre fazia.
— Ás tinha um presidio "privilegiado" — contou Merry — mas, ainda assim, sempre dividia tudo que tinha comigo e James.
Empatia; pensei.
E tudo que eu pensava sobre Ás, aos poucos, foi se desmoronando em minha mente.
Ás estava no presídio; sabe-se lá por quantos anos. Não fazia parte do grupo de Caçadores e não estava ali para nos confundir e observar.
Estava ali como nós.
Com vontade de fugir e essa inconsequente vontade de querer salvar.
— Então, — Luke encarou Ás depois de um período de silêncio entre nós — há muitos presídios por aqui?
— Não. Poucas pessoas discordam do sistema.
— Você foi...
— A única pessoa presa em Z-Mil. — Ás confirmou, se adiantando e, em seguida, sorriu estendendo seu pulso para Luke — Meu nome é Abezan, mas todo mundo me chama de Ás.
— Você tem apelido? — eu franzi meu cenho e Ás riu.
— Acho a ideia de ter legal...
— E quem é todo mundo que te chama por Ás em vez de Abezan? — Merry perguntou.
Ás sorriu.
— Eu e meus amigos imaginários.
Eu abri a boca e fechei. Pensei em dizer o quão triste isso era, mas, no fim, falei:
— O que significa Abezan?
Ás sorriu e voltou a se sentar no chão para contar.
— Uma mistura de abelha com zangão. Abe-zan.
— O que é "abelha" e "zangão"? — Lia se sentou logo após.
— São palavras em português do Brasil, na Terra.
— Por que você sabe o português? — Luke queria saber.
— Não sei o português, sei todas as línguas do universo.
— Eu entendo todas. — Luke continuou — Um pouco, não tanto assim para saber palavras como abelha.
— Eu gosto de estudar. — Ás comentou.
Percebi que Luke estava preste a falar alguma coisa, mas eu me adiantei:
— Então você criou um nome mesclado?
— Basicamente. — Ás riu.
— Por quê?
— Gramaticalmente, no português, nem abelha e nem zangão são palavras femininas e nem masculinas.
— Você disse que sabe todas as línguas do universo, certo? — Ás assentiu e eu continuei: — Mas não existe nenhum outro planeta com vida humana além de nós e a Terra...
— Você achava que não havia vida além da Terra e agora está aqui, em Marte. — Ás inclinou sua cabeça para mim e eu também me sentei no chão, acompanhada por Merry.
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Até breve.
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A Indomada
Ficção CientíficaTerceiro Volume da Trilogia "A Estranha" Claire e seus amigos tem mais um problema: conseguir sair de Z-Mil. Eles juntos são fortes, porém, teriam coragem e força - tanto mental quanto física - suficiente para vencer a batalha contra seus progenit...