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Assim que nós afastamos nossos pulsos um do outro, meu colar gravitacional parou de brilhar na mistura de roxo e amarelo, no entanto, inicialmente, ninguém caiu no chão.
Eu e Misha nos entreolhamos e ele correu para ajudar nossos amigos. Eu, por outro lado, olhei para o céu e acreditei que mais um dia já tinha se passado pela cor do céu. Apesar de, naquele ponto que estávamos, eu acreditava que fosse onde os dias e noites não tivessem aparência tão desigual pela pouca luminosidade habitual. Agora, parecia apenas um pouco mais claro.
Não havia raios de sol, era claro. Mas as duas luas pareciam concentradas em nós.
Engoli em seco e, encarando o céu, gritei:
— Parem!
Minha voz nunca soou tão alta e tão forte quanto naquele momento. Minha voz, literalmente, estremeceu todo aquele plano. Meus punhos não estavam cerrados dessa vez. Era apenas eu, encarando o céu e gritando, concentrada em fazer todos, sem exceção, pararem.
Todos pararam.
Encarei todos estáticos em suas posições, congelados.
Ás, que parecia que estava preste a chutar alguém, caia devagar para o chão, mas reparei que, no fim, não encostava nele. Flutuava, de leve. Provavelmente pelo fato de não usar um colar gravitacional evitava sua queda iminente.
Todos que usavam colares, caiam. Outros, flutuavam tão de leve quanto Ás. Mas, ninguém se mexia. Era apenas o planeta e sua estranha gravidade os fazia sair daquele ponto de inércia.
Passei uma mão em minha testa e caminhei, me aproximando de todos eles. Em uma rápida olhada ao redor, eu podia ver que todos os meus amigos pareciam razoavelmente bem, junto com a grande maioria dos Protetores; já alguns cidadãos, não.
Havia corpos no chão.
Eu nunca tinha visto uma cena daquela. Parecia um cemitério ao ar livre. Com corpos, tanto de moradores simplórios, à uma massa atual de um Supremo sofisticado.
Porém, caídos no chão, todos pareciam iguais.
Eu conseguia ver a diferença de cada pessoa ali. O Supremo vestia roupas bem-passadas, tinham cortes de cabelo bem-feito, engomado no lugar, com rostos bem-limpos. Apesar de agora todos estarem sujos e arranhados, o Supremo ainda se destacava com seus rostos que nunca aparentaria as idades que cada um ali deveria ter.
As pessoas do Supremo não tinham tantas marcas de expressões ou sequer alguma cicatriz. Todos tinham suas características tatuagens e piercings, mas, com desenhos que parecia pinturas.
Encarei de perto um homem do Supremo. Ele vestia uma calça que, na Terra, eu consideraria social, junto com uma camisa que eu diria ser básica, acompanhada a um paletó. Ele só aparentava ser de Marte porque as suas cartilagens de suas orelhas eram preenchidas com piercings, tanto quanto as tatuagens visíveis em seu pescoço, sumindo por sua camisa.
Em seus dedos, também era possível enxergar mais tatuagens e inúmeros anéis.
Sua cor era um tom claro de amarelo, com aparência de desbotado. Ele estava congelado com a boca aberta e os franzidos. Era ódio. Claramente ódio em seu olhar. Ou melhor: em todo o seu rosto.
Seria bonito, se não fosse tão odioso.
Eu continuava analisando o rosto dele, minuciosamente, quase ele gritou e fechou sua boca, mordendo o ar. Eu dei um passo para frente e engoli um grito, mas, depois de o homem dar um passo a frente, ele parou, novamente congelado.
Andei para trás sem dar as costas ao homem e olhei para uma pessoa que eu não teria como saber de que país de Marte ele era, mas, com certeza, não fazia parte do Supremo e, muito menos, da atual nobreza.
Dessa vez, uma senhora. Ela era da cor marrom, tanto sua cor de pele, quanto sua cor de Marte. Ela parecia comum para os parâmetros de Marte. Seu cabelo crespo estava preso de uma maneira qualquer e, diferentemente do homem, seu olhar congelado não era de ódio.
A senhora parecia querer encontrar a paz. Parecia cansada em estar onde estava, em ter que lutar pelo que lutava. Uma mecha de seu cabelo caiu em seu rosto e eu a coloquei para trás de sua orelha, vendo uma tatuagem de linhas, como ondas, em sua bochecha.
Aquela tatuagem quebrava a visão de senhora comum, a dava a aparência de Marte, tanto quanto os inúmeros desenhos da cor branca por sua pele. Eu não sabia se aquele tom de marrom, em Marte, era considerado uma das vertentes das cores neutras de tão escura que era.
Ela calça coturnos, como eu gostava, e vestia um vestido — como eu não gostava. Seu vestido marrom parecia gasto e a cor muito lavada. Na posição que ela estava, ela estava preste a esmurrar o rapaz da cor amarelo-sem-vida.
Sai do meio deles e esfreguei minhas mãos umas nas outras. Gostaria que nada daquilo estivesse acontecendo...
Levantei uma palma e fechei um punho.
— No chão! — ordenei, focada em todos do Supremo.
Novamente, eu não parava de me sentir como um sinal de alerta e, como se minha voz fosse uma deixa, ouvi, em alto e bom tom:
— Levantam-se e ataquem-na!
Enxerguei, de longe, uma mulher caminhando com leveza em minha direção. Ela estava em um declínio alto, fazendo-a ser vista por todos enquanto ela descia e seu vestido roxo balançava com um vento que, naquele ponto mais alto, estava ainda mais forte. Seu cabelo balançava tanto quanto seu vestido, mas, não a fazia perder a pose. Nem um fio sequer caia em seu rosto ou em sua boca, apenas para trás, como se o vento fizesse um favor a ela, escovando seu cabelo.
Na verdade, sua leveza era tanta que era como se o mundo fosse acabar para todos nós. Menos para ela.
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A Indomada
Ciencia FicciónTerceiro Volume da Trilogia "A Estranha" Claire e seus amigos tem mais um problema: conseguir sair de Z-Mil. Eles juntos são fortes, porém, teriam coragem e força - tanto mental quanto física - suficiente para vencer a batalha contra seus progenit...