10 - Divisão, parte 1

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***


Marte; F-Quatro, 45 de Inverno


James balançou sua cabeça e sorriu, parecendo cansado.

— Precisamos parar em algum lugar para ler isso. — ele apontou para os papéis em minhas mãos.

— Antes, precisamos nos afastar mais. — disse, já voltando a caminhar.

James e Ás me seguiram sem hesitar e eu guardei novamente os papéis em minha jaqueta.

Enquanto mais andávamos, mais me sentia em um Novo Mundo, a Nova Classe Alta. Marte sempre foi linda, mas não tão luxuosa quanto agora estava.

Agora eu acreditava que a falta de luxo de Marte era para dar oportunidade de todos ter acesso a uma alta qualidade de vida, no entanto, estava explícito que o Supremo estava priorizando uma parte de Marte, dando oportunidade e luxo para uma pequena parcela, deixando a outra naquele cenário.

— Tão lindo... — Ás olhava para todos os cantos, estava óbvio seu desloumbramento pela classe alta de F-Quatro.

— Já foi melhor. — James passou suas mãos em sua jaqueta e as guardou em seus bolsos.

Eu mordisquei meu lábio inferior e diminuir o ritmo de meu andar. As pessoas não poderiam desconfiar de nós e eu não sabia se aquele homem, ao qual o nome ainda me falhava, já tinha emitido algum tipo de alerta sobre nós. Esperava que nossos rostos não estivessem expostos em cartazes como foragidos ou qualquer absurdo do tipo.

— Será que agora há roubo? — perguntei olhando de um lado para o outro quanto mais dentro daquele Novo Mundo nós íamos.

— Provavelmente. — foi a resposta de James.

— Com certeza. — a afirmativa de Ás.

— Por que com certeza? — passei minhas mãos em meu cabelo, arrumando e tentando parecer como sempre estivesse ali.

— Quando você sente necessidade e ninguém te dá oportunidades, você não tem escolha.

— Você acha que roubar é uma alternativa? — James indagou.

— A depender da situação, sim. — Ás deu de ombros.

— Nem dependendo da situação. — o tom de voz de James endureceu — Quando você sente necessidade e ninguém te dá oportunidades, você cria suas próprias oportunidades e inventa suas escolhas.

Ás riu.

— Inventa? Desde quando inventar suas escolhas deu certo?

— Nós não estamos aqui inventando? — ele rebateu — Temos a liberdade de fazermos o que quisermos, mas decidimos fazer o certo, apesar de tudo.

— Mas nós não "inventamos" nada. — Ás continuou — Foram nos dado oportunidades, temos habilidades.

— Não, Ás! Escolher roubar ou seja o que for, não é a saida.

— Mas...

— Não. — James cortou — Todos temos dificuldades. Eu tive as minhas; você, as suas. Mesmo assim todos estamos aqui.

Ás não rebateu e eu preferi não dizer nada. Entendia Ás, mas concordava com James.

Ainda andavámos, agora, sem qualquer direção. Estávamos no que era possivelmente o centro do luxo de F-Quatro.

Até mesmo os teletransportadores eram diferentes dos demais. Suas cores eram brilhantes, com portas amplas.

Algumas pessoas passavam por nossos lados e nos olhavam de cima a baixo, mas não nos encaravam por muito tempo, deixando claro que até então nem um sinal de alerta tinha sido emitido.

— Temos que parar em algum lugar. — Ás passava seus dedos embaixo de seus olhos, possivelmente também tentando se parecer com mais uma das pessoas naquele lugar.

Todas as pessoas que passavam por nós era... Brilhante. Não literalmente, mas, alguns, sim. Roupas florescentes em tons de sua cor, cabelos bem arrumados de uma maneira claramente perfeccionista, fazendo-os parecer um desenho animado, onde os personagens tinham cabelos arrepiados que nunca saiam do lugar. Assim como roupas que nunca eram modificadas.

— Onde? — olhei para os lados.

— Alguma praça. — Ás deu a ideia — Em uma praça cheia seremos apenas mais um trio de adolescentes.

— Será que irão nos dar como foragidos? — James questionou.

— Ou terroristas? — eu continuei.

— Acredito que não. — Ás começou a saltitar enquanto andavamos para a frente, sem direção — Mas seria bom se sim.

Naquele momento, Ás parecia um tipo de guia.

— Bom? — James acelerou seu passo, andando lado a lado de Ás — Como poderia ser bom sermos perseguidos, mais do que já estamos?

Ás riu.

— James, você está vendo a situação por outro plano. — Abezan parou de saltitar e voltou a andar normalmente — Você pensa que se alertarem sobre nós teremos que lutar com todos os cidadãos e nos esconder no esgoto, mas eu penso que se isso acontecer será bom, porque assim seremos vistos e poderemos falar o que realmente queremos fazer.

Franzi meu cenho, entendo o ponto de Ás e caminhei para o lado de ambos.

— Eles querem nos camuflar. — falei.

Ás sorriu.

— Exatamente! Eles querem nos manter à margem da sociedade. Assim, poderão continuar controlando os demais.

James abriu sua boca e fechou, passou uma mão em seu cabelo e finalmente falou:

— Temos que aparecer.

Ás gargalhou.

— Para mim, não é difícil...

E simplesmente deu um mortal.

Algumas pessoas próximas olharam para Ás e após seu mortal, continuaram olhando.

Percebi que não era apenas por causa de seu mortal que todos continuam com os olhos fixos em seus movimentos.

Caminhamos em linha reta e vimos uma praça não muito longe. Estava mais cheia do que eu imaginava. Olhando para o céu, eu não tinha consciência de que horas eram, já que em Marte o clima era sempre tão parecido. Ás vezes, o dia parecia ser noite e a noite parecia ser dia.

Não demoramos muito para chegarmos à praça e alguns dos adolescentes nela, olharam para nós, mais especificamente para Ás.

Ás estava a poucos passos na minha frente e de James e virou sua cabeça para nós, sorrindo.

— Viu? — olhou em volta, nos fazendo acompanhar seu olhar para as pessoas — Eu só preciso existir para chamar atenção.

Rapidamente virou sua cabeça para a frente, deixando-a em pé e caminhando com seu jeito eufórico de sempre, entre saltos.

Aquele foi o primeiro sorriso triste que eu vi em toda minha vida.

A IndomadaOnde histórias criam vida. Descubra agora