Bônus: Parede, parte 2

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Acharam que eu ia sumir?

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Bora lá!


***


[...] — Se meu coração batesse, ele estaria quebrado agora.

Me encostei em um canto da parede, observando Ariana esmurrar a mesma repetidas vezes. Eu poderia ser forte, mas nunca como ela. Sendo assim, me esforçar para derrubar uma parede era realmente inútil.

— Por que você está com tanta pressa? — tentei segurar as mãos de Ariana, mas ela se esquivou de mim com rapidez e eu, vendo o futuro imediato, me afastei a tempo de sua mão não bater diretamente em meu rosto.

— Se as portas não se abrem, faça sua janela. — ela resmungou — E não era você quem estava cansado?

Agora eu estava encostado na parede entre os braços de Ariana, me esquivando a cada segundo para não ser atingindo.

— Sim, mas não. — disse, fazendo pouco sentido até mesmo para mim.

Em minha visão eu enxergava as mãos de Ariana pingando de seu sangue morto. Eu estava com pressa para sair dali, no entanto, isso não significava que eu gostaria de vê-la ferida pelo bem de nós dois.

Agarrei com o máximo de força que eu conseguia os pulsos de Ariana e aproximei meu rosto do dela.

— O que está acontecendo?

— O que você tem? — a pergunta dela me fez rir.

— Nada. — continuei rindo — Não tenho nada, não tenho ninguém. Feliz?

— Quando não se tem nada, não há nada para perder. — ela esbravejava — Eu, em A-Zero, tinha minha vida, meus amigos... E agora eles devem achar que eu desapareci ou morri. Ou, pior, será que eles estão precisando de mim e eu estou aqui, discutindo com um babaca metido que nunca olhou na cara de ninguém?

Sendo sincero, eu nunca pensei em Ariana como uma pessoa sociável. Eu sempre acreditei que a vida que tínhamos, para ela, era muito melhor e mais agitada de toda a vida que ela um dia teve.

No entanto, não diria isso a ela e sem deixar de olhá-la, rebati:

— Não era você quem disse que queria começar do zero? Que não perdeu nada em sua vida? Que lembrar cada segundo dela é horrível? — dividi cada pergunta, transformando cada uma em uma sentença diferente, enfatizando.

O olhar de Ariana era de um misto de ódio e descrença.

— Você se lembra disso?

A memória dela era única, mas a minha não era exatamente a melhor de todas. Porém, às vezes, eu gravava coisas aleatórias ao ponto de não ter consciência do porquê de saber sobre aquilo.

— Eu não me lembro como você. — rebati — Mas me lembro de muitas coisas...

— Eu tinha uma vida, sim! — ela começou — E sinto falta dela... Não posso?

— Você sente falta de quem? — bufei ao ironizar.

Ariana puxou seus pulsos de minhas mãos sem dificuldade e colocou uma de suas mãos em volta de meu pescoço, batendo minha cabeça na parede.

— Se, um dia, você se lembrasse de tudo que você viveu com precisão, você me entenderia. Se lembre de tudo e depois me diga como é a sensação!

Tentei me mexer e soltei:

— Ninguém te obrigou a sair correndo atrás de Claire!

— Vocês precisavam de mim!

— Desde quando?

Fechei meus olhos supondo que minha próxima visão do futuro imediato seria dela batendo em meu rosto, porém antes que meu cérebro processasse o futuro, Ariana se afastou de mim, soltando meu pescoço com tanta pressa que minha cabeça ricochetou na parede.

Abrindo meus olhos, ainda com receio, a vi cruzando seus braços e se encostando na parede da outra extremidade.

— Você não vai fazer nada? — questionei — É isso? Um voto de silêncio, War?

— Pelo que eu entendi, — ela trocou o peso de suas pernas — você não precisa de mim.

— Eu não disse isso...

— Mas quis dizer. — ela me cortou — Se vire, Luke. Ou melhor: voe, nuvem. — ela ironizou meu sobrenome "Cloud", como se o dela, "War" de guerra, não fosse tão óbvio quanto.

Me virei para ficar em frente a parede e encarei os buracos que Ariana fez com seus socos, mas, ainda assim, não era possível ver nada do outro lado. Como se os buracos fossem fundos demais. Havia até mesmo pedaços da parede caindo, quebrados.

Coloquei meu rosto perto de um dos buracos e não havia nenhum sinal de luz.

A visão, como quase tudo em Z-Mil, era diferente do restante de Marte. Normalmente, em ambientes fechados, nós enxergariamos em um tom de sépia, para nunca ficarmos no total escuro. Já se o ambiente tivesse alguma fresta de luz, nossa visão se adaptaria aquela pouca luminosidade, mesmo que, de início, nós não enxergassemos nada.

Era uma complexidade inútil em Z-Mil, que, não seguia as regras.

Passei uma mão em meu cabelo e encarei meus dedos. Eles eram longos e finos. Eu realmente não lutava tão bem quanto uma garota. Principalmente não tão bem quanto Ariana War. Mas era óbvio que eu nunca diria isso a ela.

Cerrei meu punho e flexionei meu cotovelo preste a acertar a parede. Tentei não pensar em nada para que minha mente não tivesse uma visão do futuro imediato, sendo assim, agi antes de pensar.

E não foi exatamente uma atitude inteligente.

A IndomadaOnde histórias criam vida. Descubra agora