– Por que você não nos disse? – soltei, sabendo que talvez não tivesse outra oportunidade para falar sobre.
– Não disse o quê? – Ash me encarou.
– Não nos disse que você era um Caçador.
Ele balançou a cabeça com pressa.
– Eu não era um Caçador! – enfatizou, como sempre com a voz calma, baixa – Ter nascido para isso não me fez ser isso.
– Mas você não sabe como saiu daqui... Você fingiu não conhecer Misha, você não reconheceu Lia!
Ele se levantou, não veio até mim, continuou do outro lado do cômodo. Como eu, ficou com as costas na porta.
– E isso me fez um Caçador? – questionou abrindo seus braços – Pelo visto, não. Sobre Lia, como você pode me culpar por algo que nem eu percebia? Ela era outra pessoa quando eu saí daqui. Era literalmente de outra cor.
Ash riu de uma maneira sarcástica que eu nunca achei que fosse vir dele, seu riso era um pouco assustador, em um tom tão baixo que ia gradativamente diminuindo, como um personagem de um filme de terror fazia ao ironizar com a sua vítima.
– Sobre Misha... Claire, sinceramente, isso não é sequer da sua conta, porque nem tudo é sobre você ou te salvar.
Também ri, de nervoso e de raiva enquanto apontava um dedo para ele.
– Você decidiu ser um Protetor. Você decidiu Proteger a vida de alguém que você sequer conhecia. Então, sim, meu Protetor, é da minha conta.
Ele colocou uma mão sobre seu peito e sua voz se elevou uma nota quando falou:
– Minha vida pessoal é da sua conta? Desde quando? Você acha que eu me importei por você ter brincado de triângulo amoroso com James e Luke, que, por acaso, é meu melhor amigo?
– Eu nunca "brinquei" de triângulo amoroso! – gritei – E sempre defendi Luke para James! Discuti com James sobre seu melhor amigo.
Ash balançou sua cabeça, encarando o chão antes de a levantá-la e voltar a me olhar.
– Muito obrigado por me contar! – ironizou – Isso fará uma real diferença em minha vida. – cuspiu – Por que você é a melhor de todas nós, certo? A "Única" que faz sempre o certo e escolhe o bem?
A frase antiga de Luke passou por minha mente: "Às vezes, o mal te escolhe."
Eu não acreditava que eu era a melhor ou realmente única, me sentia comum, me sentia necessitada de meus amigos, no entanto, naquele momento, eu não conseguia dar o braço a torcer para Ash e minha raiva e orgulho apenas intensificava.
Caminhei até o meio do cômodo, sem deixar de olhá-lo, sentia que a minha ira emanava de mim.
– Quem você pensa que é para falar assim comigo? – não me importava mais com o tom de voz ou educação, porque, ele também já não se importava, tanto que, também caminhou até mim, parando próximo – Você acha que é realmente fácil estar na minha pele? Acha que foi fácil todas as vezes que acreditei que era o fim da minha vida?
Ash riu, novamente, tanto que bateu suas mãos em seus joelhos ao envergar seu corpo para frente. Quando seu riso cessou, ele apontou seu dedo indicador para mim, sem fechar os outros dedos em um punho, deixando assim sua mão parcialmente aberta perto de meu rosto. Era quase como se ele fosse um bruxo preste a me amaldiçoar com o balançar de seus dedos.
– Por que você não dorme, Claire Blue?
Seus olhos me encaravam sem hesitar e seus dedos, agora, realmente balançavam. Senti meu corpo inteiro cambalear, tonta.
"Por que você não dorme, Claire Blue?"; repetia em minha mente, quase como uma canção de ninar amaldiçoada.
"Por que você não dorme, Claire Blue?"
"Por que você não dorme, Claire Blue?"
Gritei, balançando minha cabeça e pondo minhas mãos nos ombros de Ash, colocando pressão, tentando fazê-lo se abaixar com a força que eu exercia.
– E por que você não se senta, Ash?
Eu sabia que minha voz não soava como a dele, felizmente, não precisava para fazê-lo se sentar, porque, minha força não era uma questão de persuasão, era apenas uma questão de concentração.
Me senti forte quando ele caiu, sentado, como eu ordenei. Eu sentia, finalmente, meu poder emanando em meu corpo, se misturando com a minha raiva.
Era bom me sentir de volta, ou parte disso.
– E – me inclinei para olhá-lo, sentado, como se ele fosse uma criança pequena e eu a mãe má – é melhor que não fale nada!
Ash se mexeu no chão, mas não conseguia levantar ou falar e eu, sorri.
Comecei a andar pelo cômodo vazio, saltitando, feliz por sentir meu poder depois de tanto tempo.
Bati palmas e parei de pular, parando em um canto e encarando Ash no meio daquele espaço.
Ele me olhava, sério e percebi que se esforçava para tentar falar.
– Não quer deitar? – grunhi e em um rompante as costas e cabeça de Ash bateram no chão, tão forte que um baque mudo fora ouvido.
Ri forte, porém, no segundo seguinte senti uma dor interna... Uma dor na consciência. Culpa.
***
Sim, até essa discussão tem um propósito no futuro!
Em breve mais <3
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A Indomada
Science FictionTerceiro Volume da Trilogia "A Estranha" Claire e seus amigos tem mais um problema: conseguir sair de Z-Mil. Eles juntos são fortes, porém, teriam coragem e força - tanto mental quanto física - suficiente para vencer a batalha contra seus progenit...