A Indomada

06 - Arco-Íris, parte 3

Eu tinha tantas dúvidas que meu cérebro dava um nó; assim como Antes quando Ash tentava me explicar sobre eletros-alguma-coisa.

— Por que estamos aqui? — Merry foi a primeira a perguntar.

— Abezan não disse? — Soul apontou para Ás — Vocês passaram no treinamento, são Salvadores. Parabéns!

— Por que nós? — Luke continuou.

— Abezan! — Soul bateu um pé no chão, teatralmente — Não acredito que Abezan não lhes contou sobre vocês sete serem nossas virtudes materializadas.

Ás tinha falado algo sobre as sete virtudes e somente agora meu cérebro contava que, incluindo Ás, nós éramos em nove.

— Sete? — mas quem falou antes de mim foi Merry.

Soul sorriu.

— No início, nós não tínhamos ideia que realmente seria possível ter um grupo de jovens Salvadores. — Soul começou a caminhar pela sala e nós acompanhávamos seus passos com o olhar — Não sabíamos o que fazer, quais crianças escolher... — e gargalhou, parando de andar e encarando cada um de nós — Não se iludam. Vocês não foram especiais, mas, com o tempo, passaram a necessitar ser quando finalmente decidimos o que faríamos.

— Do que você está falando? — murmurei e se meu coração batesse, agora, ele estaria acelerado.

Soul parou próximo a mim e seu olhar negro encarou o meu.

— Eu, Loren, Ally e Mística ou simplesmente Miss; a mãe de Ariana, éramos amigos. Melhores amigos. — franzi meu cenho, percebendo que havia outra pessoa naquele universo com apelido — Ally sempre foi a alegria do grupo; Loren sempre o entendedor; eu sempre o focado e Miss... Miss era uma visionária. Ela via o futuro distante.

Fiz uma careta pensando o quão confuso foi aquela troca de casais, mas, como se lesse meus pensamentos, Soul riu:

— Não pensem barbaridades sobre nós. Não tivemos vocês de meios naturais.

— Quê? — a voz de Lia novamente subiu uma nota e sua expressão em um misto de nojo e horror seria hilária se o momento não fosse aquele.

— Inseminação artificial técnica super comum em Marte, querida filha in vitro. — ironizou Soul — Onde eu estava mesmo?

— Miss. — minha voz continuava baixa, em uma mescla de susto e medo.

— Claro, Miss! — Soul passou uma mão em seu cabelo e eu olhei para meus amigos ao redor, todos com expressões tão assustadas quanto eu deveria estar — Miss via o futuro. Muito distante. Mas não tão distante quando engravidou de Ariana. Todos os seus poderes se intensificaram e só muito depois eu descobriria que aquilo era uma parcela do poder de Ariana exalando; sua capacidade de se lembrar de tudo. Mas, em vez de se lembrar de tudo, Miss via o mundo a décadas de distância do dia presente.

— O que ela via? — Merry instigou quando Soul estalou seus dedos.

— Ela viu um vulcão destruindo Marte. — o sorriso dele nunca foi tão diabólico e assustador quanto naquele momento — E Marte à beira de um colapso.

Eu abri minha boca, mas nenhuma palavra saiu. Lia passava uma mão em sua testa, massageava suas têmporas; Merry se encostava na parede; Luke encarava o chão e Ás abria os olhos.

— Então Miss pensou em iniciar um grupo novo de Protetores... — Ás falou e todos nós viramos ao som de sua voz.

— Exatamente, Abezan! — Soul acenou — Nós quatro, eu, Loren, Ally e Miss, pensamos em quem poderia Proteger tantas pessoas. Lembrando que, já existiam os Protetores, Loren era o de Miss, mas, um homem da cor verde nunca seria tão bom para Proteger quanto um da cor neutra e então, decidimos que cuidaríamos dos nossos próprios Protetores e todos eles seriam das cores neutras, abnegando de muitas coisas como somente um da cor neutra faria pela Proteção.

Ele continuou andando e batendo seus pés no chão, fazendo um barulho proposital enquanto falava:

— Assim, Loren decidiu que seu primeiro filho seria um Protetor, caso a criança fosse da cor neutra... Mas Miss viu que esses Protetores não salvariam o mundo, eles Protegeriam quem teria reais chances de salvar.

Soul voltou a caminhar pela sala e sua cor era um contraste daquele branco límpido.

— E assim nós decidimos que nós tomaríamos conta de tudo. Dos futuros Protetores, de uma nova leva de Caçadores, criaríamos Z-Mil com seu tempo que difere do resto de Marte e... Vocês.

Todos nós nos entreolhamos, até mesmo Ás, antes que ele continuasse:

— Não sabíamos se vocês seriam mesmo especiais e por isso criamos uma base de treinamento em Z-Mil para somente os corações que merecessem chegar ao fim. Não poderíamos imaginar que aquelas crianças teriam tantas qualidades e passariam tão fácil no treinamento. Os dois Protetores e as sete virtudes.

Ele passou a contar nos dedos enquanto falava:

— Ariana, a determinação, ética. A criança desejada. Abezan, a empatia. Sem registro. Misha, a alegria, generosidade. O inesperado. Lia, autocontrole, justiça. A pensada. James, a pureza, simplicidade. A surpresa. Merry, serenidade, também alegria. A impostora. Claire, humildade, respeito. A última.

Agora, a explicação de Ash sobre as cores fazia sentindo. Enquanto Soul falava eu pontuava. Cada um de nós representava uma cor no arco-íris; ou, pela lógica de Ash, no espectro eletromagnético.

Vermelho.

Laranja.

Amarelo.

Verde.

Azul.

Anil.

Roxo.

Na ordem.

"Anil" não era rosa, como Merry, mas a cor dela tanto poderia pertencer dentro do grupo do roxo, mais próximo a mim; quanto no de vermelho, mais próximo a Ariana.

— Merry não encaixa. — comentei.

— A impostora. — Soul repetiu.

— Por que eu sou a impostora? — ela quis saber.

— Porque você não deveria estar aqui. — Soul abriu seus braços, como se a questão fosse óbvia — Claire poderia representar você, mas você entrou no meio da história e passou a ser necessária.

Para mim, uma coisa ainda não fazia nenhum sentido.

— Então... — comecei — quem era a Mística exatamente?