Capítulo 2 - Um cheiro familiar

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Ele entrou no elevador tremendo, seu coração ardia só de pensar no que estava prestes a fazer. As mãos suadas batiam na parede metalizada, ansiosamente, esperando chegar ao estacionamento. Enfiou-se no carro depressa e dirigiu em disparada pelas ruas de Miami. Seu destino? A sede do canal Univisión, onde acontecia, nesse exato momento, os Prêmios Juventud.


E Alfonso estava disposto a encontrá-la. 











Certo de que poderia encontrar fãs, Alfonso pegou um boné vermelho no banco de trás do carro, um bigode falso e uma camisa xadrez que sempre estava de prontidão caso precisasse não ser reconhecido (não que funcionasse sempre). Ele dirigia apressadamente, então em uma parada no farol, pegou o celular e digitou alguns números.

Alfonso: Oi, sou eu. Sim... é eu estou prestes a fazer uma merda. Sei, mas preciso que consiga minha entrada nos PJ caso eu seja barrado. É importante... Sei, sei. Só faça isso está bem? Ok, tchau.

Seguiu pelo caminho que já conhecia, tentando manter a mente limpa e alerta. Tamborilava os dedos no volante exasperado, ele sabia que aquilo ia dar uma merda gigantesca, mas precisava fazer.

E então encontrou a arquitetura grande do prédio revestido em vidro rapidamente, não era muito longe do seu apartamento. Entrou no estacionamento mostrando a identidade e fazendo sinal de silêncio ao guarda. Não teve problemas para entrar, mas quando desceu do carro, um segurança já o esperava na porta com uma expressão confusa, se perguntando o que diabos Alfonso estava fazendo lá.

Segurança: Sr. Herrera, sabe que daria o maior furdunço se te vissem? A imprensa inteira está no evento. - O segurança que media aproximadamente uns 2 metros de altura parecia entediado.

Alfonso: Não me interessa. Preciso ver Anahí, camarada. Sem fazer alarde, sem ninguém saber. - Cortou sem nenhuma cordialidade e já com tom esnobe na voz.

Segurança: Não posso te ajudar senhor, a casa está lotada de jornalistas e simpatizantes do RBD. - De repente o grandalhão pareceu amedrontado com a ideia.  

Alfonso: Mas que porra, não me interessa! É caso de urgência. Diga ao Guillermo Rosas que estou aqui, sim? - Disse duro e o segurança saiu em disparada, implorando para que, pelo amor de Deus, ele esperasse dentro do carro.


Poucos minutos depois, Guillermo aparece com o rosto visivelmente confuso. 

Guillermo: Alfonso? É você mesmo? - Disse em choque. 

Alfonso: Sim Guile, sou eu. - respondeu e após um suspiro cansado, completou: - Preciso vê-la. 

Guilhermo atravessou o estacionamento alterado e sorridente, abraçou o amigo que já estava fora do carro esperando ansioso. 

Guillermo: É tão bom te ver. Eu pensei que nunca mais nos falaríamos. -Declarou, sincero.  

Alfonso: Eu digo o mesmo amigo, desculpe o incomodo. Sei que minha presença não é bem vinda. - Completou, fazendo uma careta e coçando o queixo.  

Guillermo: Ora,por favor, sabe que por ela não seria assim certo? - Alfonso o fitou sem palavras. 

Alfonso: Posso vê-la? - Ele não aguentava esperar mais, estava quase desistindo daquela ideia maluca.

Guillermo: Poncho,os seguranças do governador estão aqui... É impossível chegar até ela sem ser anunciado. - Falou e o outro bufou batendo nas laterais do carro com raiva. 

Alfonso: Eu preciso Guile! -Exclamou exasperado. Então respirou fundo, deu alguns passos em direção ao outro e começou: -  Eu quero dizer pra ela... 

Guillermo: Não me diga, eu sei. - Cortou. Guillermo o olhou com um misto de empatia e receio. Ao mesmo tempo que ele sabia que Anahí precisava ouvi-lo, também tinha muito medo das consequências. 

Ao decorrer de cinco longos anos, Guillermo foi uma das poucas malditas testemunhas do que eles passaram. Ele sabia que ela precisava realmente daquela conversa. Ele esteve com ela em cada momento difícil e foi a companhia que ela precisou muitas vezes. E realmente sabia. Não precisava ouvir mais nada. 

Guillermo: Espere um pouco Alfonso. - disse se retirando. 

Alfonso ficou parado encostado na porta do carro esperando,cruzou as pernas e olhou para o teto do estacionamento. Ignorou a vontade repentina de ir embora enquanto era tempo. O coração dele estava disparado, as mãos suadas, ele se sentia ansioso e irritado. Fazia tanto tempo que não sentia esse misto de sentimentos, reações que só ela causava no corpo dele.
De repente, sentiu uma vontade abominável de tomar uma cerveja gelada no próximo bar da esquina...

Justo no momento que estava realmente considerando essa ideia Guile surgiu no hall com uma frouxa preta nas mãos.

Guillermo: Esse disfarce está péssimo Alfonso, qualquer traumada te reconheceria. - Vista isso. - Disse entregando um uniforme de segurança e óculos escuros.  

Sem hesitar, o ator vestiu rapidamente seu disfarce e ajeitou o bigode postiço. 

Guillermo: Agora, me siga! - Chamou Guillermo. 

Alfonso entrou no personagem de segurança, seguiu Guile com a postura ereta e seria. Parecia no topo do mundo quando encenava. Sereno e completamente calmo, ele seguia Guilhermo pela multidão perfeitamente a caráter. No palco, outro artista que ele não identificou se apresentava. O público, em êxtase, nem prestou atenção nele. Muito menos reconheceram. Andaram por uma trilha que seguia em direção aos camarins e pararam em uma porta que tinha dois seguranças imponentes, um de cada lado.

Guillermo: Por favor, chequem as entradas novamente, tem alguns fãs da sra. Velasco querendo entrar no saguão. - Alfonso revirou os olhos e Guile deu uma piscadela pra ele  sorrindo. Rapidamente os seguranças saíram, foi o momento deles agirem.

Guile pousou uma garrafa de vinho nas mãos de Alfonso e abriu a porta, o empurrou no vestíbulo sem dizer nada, ficando pra trás. Trancou os dois sozinhos e guardou a chave dentro do bolso totalmente tranquilo.


Alfonso entrou bruscamente e ficou parado na porta atônito. O que ele estava fazendo ali mesmo?







Anahí estava produzida com a mesma roupa da apresentação. Sentada em uma cadeira, tinha as pernas expostas cruzadas em frente a penteadeira e digitava alucinadamente algo no seu Iphone. Ao ouvir o som da porta apenas disse:

Anahí: Trouxe meu vinho Guile? Já falei com o Chris, quero comemorar hoje. - Ela continuou digitando calma.


De repente, sentiu um cheiro familiar... Com um perfume diferente talvez, mas a presença era inegavelmente a mesma. Ela sentiu um arrepio suspeito percorrer sua espinha e levantou o rosto para o espelho. Ela arregalou os olhos e empedrou na mesma hora, dando de cara com o reflexo tranquilo, o sorriso sacana e a postura ameaçadora de Alfonso Herrera bem na sua frente.


E parecia que o karma sempre achava um jeito de encontrá-la.

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