Capítulo 66 - A decisão

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"Voltaria sem freios e sem tantos reflexos de uma vida fugaz..." – Volveria, Pablo Alborán.


Guillermo: O que tem nessa mente diabólica? – perguntou, sentando-se numa poltrona e cruzando as pernas. Anahí deu a volta no quarto, incomodada com a situação em si. Ela usava uma calça social preta, uma camisa dourada de renda e o cabelo solto, caindo como uma cascata pelos ombros. Uma maquiagem leve no rosto. Linda.

Anahí: Lembra do dossiê que te pedi sobre mim? – ela perguntou, estralando os dedos.

Guillermo: Sim... Acho que me recordo, aquele que não serviu pra nada? Que só me deu trabalho? – ele disse, puxando pela memória. Anahí revirou os olhos.

Anahí: Vou usá-lo pra minha próxima jogada. Preciso dos arquivos que conseguiu do Velasco também. Àquelas fotos com aquele bandido... O Pietro, em Las Vegas, elas já foram usadas, são cartas fora do baralho. ― disse, simplesmente. Guillermo cruzou os braços, irritadiço.

Guillermo: Anahí, eu não sou algum tipo de detetive do mal. Só avisando. – respondeu, debochado. Anahí ergueu uma sobrancelha, pensando. Então decidiu optar pelo lado mais fácil. A chantagem.

Anahí: Se me ajudar terá o clipe de Alada na sua mesa até o fim do mês. – murmurou, com um sorriso. Guillermo estancou no lugar. Era certo que tinha novos clientes. Novas cantoras em ascensão, mas Anahí? Ela era a estrela do México, pelo amor de Deus. Seus fãs continuavam feitos loucos na internet, aguardando o retorno dela. Um clipe naquele momento seria um tremendo boom na carreira dela: sua família estava destroçada, sua mãe acabara de morrer, mas Alada não era uma musica feliz. Era um tema humano, triste, doloroso. Àquilo certamente seria sucesso.

Guillermo: Você sabe o quanto aguardo o seu retorno. – disse, solenemente. Anahí sorriu, fria. O sorriso parecia congelado no rosto dela. Vazio.

Anahí: Pois bem... – ela começou com uma mão na cintura, a outra mexendo nos cabelos, já sedosos e cheios de vida. Por dentro ela podia estar estragada, angustiada, mas por fora estava cada dia mais saudável e forte. Não saíra do tratamento. A alimentação era regrada. Os horários sagrados, com um Christian sempre vigilante. ― Você fará exatamente o que eu disser...

E então contou todo seu plano para Guillermo. Passou àquela tarde arquitetando com ele maneiras de se livrar do marido finalmente – E pra sempre. Era verdade que ela havia perdido seu grande motivo para lutar: Sua mãe. Tisha foi, com certeza, o maior motivo pra tudo aquilo. Foi o pilar pra uma onda perigosa, que se transformou num jogo de mentiras e armações, começar. Anahí não quis ver a mãe triste, angustiada, destruída. Já bastava o Câncer que a consumia de dentro pra fora. Bastava lidar com toda a logística da situação e a quantidade significativa de opiniões clinicas. Ela tentou o MÁXIMO que pôde. Tentou até o último. Lutou pela sua vida bravamente, mas seu caminho estava escrito há um par de tempos.

Anahí Puente Portilla desistiu de si mesma pra seguir um caminho que não era seu. Que ela não escolheu. Ela desistiu dos seus sonhos. Dos seus amigos. Do seu sucesso. Da sua essência de menina pra seguir um caminho de farsa, uma rotina sem piedade que – com o passar dos anos – a mataria. Quase a matou. E ela entendia isso. Ela aceitou isso. Velasco e Diana podem ter feito o caminho dela ser mais duro? Sim, mas ela entendia que eles não a colocaram naquela situação. Ela mesma se colocou, sozinha. Pode sim ter sido enredada, manipulada, mas a decisão final foi dela e apenas dela.

Após Guillermo ir embora, ela ficou sozinha divagando no silêncio quase acalentador da noite...

A voz de Alfonso na cabeça dela ecoou como um lembrete de culpa: "Esse não era o caminho, Anahí. Esse nunca foi o caminho!" Ela riu, nervosa, irônico né? Essas foram as palavras dele no dia que Anahí lhe contou toda a verdade no terraço daquele hotel, no Brasil. E mesmo assim, e mesmo com tudo isso, mesmo com as escolhas erradas, as mentiras, as farsas, as armações, mesmo assim... Ele ficou ao seu lado.

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