Caminos Cruzados

Capítulo 5 - Corra como sempre, não olhe pra trás

Pela milésima vez em uma questão de horas Anahí ficou sem reação. Ela só conseguiu manter-se parada fitando a tela do celular totalmente incrédula.

Então, sem perceber, leu a mensagem repetidas vezes. Se demorando um pouco mais no nome do remetente, até ter certeza que aquilo era real. De repente sentiu-se vigiada, um frio na espinha a fez olhar para todos os cantos do quarto, como se procurasse alguém observando-a. Só que ela estava sozinha... Desesperadamente, sozinha. Sentiu um nó na garganta, a boca seca e falta de ar, era impressionante como Alfonso conseguia desestruturá-la sem nem ao menos estar no mesmo recinto.

Na cabeça dela, uma série de fatos aleatórios envolvendo os dois começaram a surgir. Várias vezes em que a frase que ele a mandou foi... propícia. Momentos que eles fingiam para o mundo inteiro – e para eles mesmos – que aquilo não era tão real como parecia. Só que, o que poucos sabiam, é que aquela frase tinha um duplo sentido inquisitivo digamos assim... Que apesar de tudo, só os dois tinham verdadeiro conhecimento. Era o segredo deles. Um segredo  selado em 2004.

E aquilo parecia longe de terminar.

Ela demorou um pouco pra processar aquilo tudo. Em uma questão de 10 horas sua vida inteira virou um pesadelo... De novo. Alfonso fez aquilo. Alfonso voltou para acabar com a vida dela mais uma vez.

Subitamente, sentiu um arrepio particular, uma sensação de esgotamento conhecida, sentia-se sufocada. Parecia que ele tinha adivinhado o que ela sonhara, por Deus! Como podia? Ela olhou o horário da mensagem e tinha sido enviada há 20 minutos, e 20 minutos atrás ela estava sonhando com ele...

Largou o celular de qualquer jeito e foi engatinhando para cabeceira da cama, completamente assustada. Sentou-se e abraçou os próprios joelhos num gesto amedrontado. Dali para começar chorar foi rápido, começou com lágrimas silenciosas descendo pelas bochechas. Depois vieram mais lembranças em sua cabeça, momentos só deles dois, coisas que ficaram escondidas anos e anos. Ela tentou com a mais absoluta força esconder aqueles sentimentos. Só que, de novo, foi em vão. Por que tudo sempre voltava de alguma forma? Ela não entendia... Parecia que havia uma conexão entre eles, que sempre acabavam se trombando... Terminavam sendo atraídos por uma força obscura e misteriosa do universo. Ela deixou de acreditar em magia há muito tempo, mas esta magia do universo – particularmente falando – era muito genuína para ser ignorada. Por que Deus? Por que com ela???

O choro tímido e sereno se tornou um choro triste e angustiado. O rosto já banhado em lágrimas, as pernas trementes, a cabeça doendo. Ela sentia que tudo estava voltando... As lembranças, as sensações que ele causava, a irracionalidade que vinha com ele... E ela se perguntou o que era pior que aquilo. Aquele sentimento de fraqueza. Era tão frustrante, passar sempre pela mesma coisa, sempre a mesma impotência, a mesma dependência dele.

Ele a fazia fraca, ela pensou. Ele a fazia fraca, tola, triste e inútil. Ele magoou ela, repetidas vezes. Ele a deixou, repetidas vezes. Ele mentiu e traiu, repetidas vezes. Ele a quebrou em mil caquinhos para depois ela mesma juntar tudo sozinha. E lá estava ela, como aos 24 anos, chorando por Alfonso Herrera. Como há 10 anos.  

Os soluços começaram em uma questão frenética de minutos, levando toda a dignidade dela. Como uma onda temperamental que leva tudo o que está na frente... Ela gritou no quarto, chorou, jogou travesseiros e bateu com força na cama. Em instantes seu corpo todo estava destruído. Fazia muito tempo que não chorava, ficara tudo contido e agora ela não conseguia segurar. Como eu disse no capitulo anterior, o karma é como um copo de vinho derramado no tapete caro da sua tia-avó, você pode tentar limpar, mas ainda assim a mancha continuará lá. Talvez não tão forte, mas ainda estará lá, inteira. 

Ele voltou. Como antes. E ela não podia segurar essa sensação de desespero... Ela queria sair correndo e fugir de tudo como fez antes, como fez diversas vezes. No entanto – desta vez – ela não podia fugir. Desta vez não podia mesmo. Existiam pessoas inocentes que precisavam dela ali, lúcida.