Capítulo 58 - Ele sangrou por você

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"Cada dia mais, há a necessidade de ser forte. Mas não há uma fórmula mágica que nos faça chegar à força sem que antes tenhamos provado a fraqueza."Padre Fábio de Melo


Posso dizer que o momento a seguir foi no mínimo único. Anahí e Alfonso ficaram ali se olhando alguns minutos, como se reconhecessem de outros anos, outra época, outras vidas.

E eles se conheciam.

O mundo parecia ter parado de girar, o tempo pareceu congelar, pois só se ouvia as pesadas respirações. O coração dos dois batendo forte no peito, como um maldito motor cheio de óleo, cheio de energia. Talvez – num mundo paralelo em que vivemos – em que eles viviam, o sangue necessário para bombear os corações dos dois fosse exatamente àquele. Aquela mágica capaz de trazer vida à morte. A larva que derreteria uma geleira. Um pouco de adrenalina. Um pouco de emoção. Uma fresta de aventura.

Anahí já passara muita coisa na vida. Coisas boas e ruins. Momentos cruéis e impiedosos. Ela já sentiu o êxtase de subir até o topo da montanha e então declinar como numa montanha russa para baixo e derrapar no chão. Rasgando sua pele e a machucando. Ela já sentiu o impacto do mundo sob seus ombros, nas suas costas, na sua vida. Tudo era pesado. A carga era pesada demais. Mais de uma vez ela chegou a desistir, a soltar a corda que a vida lhe estirava e pular do penhasco, para finalmente dar fim aquela dor.

E quer saber?? Ela não era menos forte por isso.

Quem é você para dizer o quão forte alguém é pelas ações (ou falta de ações) dela? Quem somos nós para julgar os sentimentos mais íntimos de alguém?

Eu te digo que não sou nada.

Mas acredito que ser forte está muito mais além de persistir, ou de empurrar com a barriga. Ser forte também é perder a luta, abaixar a bandeira e deixar o adversário vencer. Ser forte é chorar baixinho. É sentir o peso da vida te comprimir, te esmagar, até não restar nenhum pedaço de você. Nenhum pózinho da sua essência. Ser forte é ir até o fundo do poço, chorar sangue, perder a luta, abaixar a cabeça e deixar o martelo do destino te perfurar, te rasgar, te destruir.

Mas é como eu sempre digo, toda moeda tem dois lados.

E a vida, meus amigos, é uma verdadeira moeda de troca.

Você recebe o que você dá. E você dá o que você tem.

Mas pra você ganhar, tem que dar tudo o que mais venera. O que mais ama. O que há de mais precioso dentro de ti.

E, neste caso, Anahí deu a vida. Pelo simples fato dela amar viver. Amar sentir o sol queimar sua pele, amar sentir as ondas do mar quando mergulhava, amar sentir o prazer inigualável de respirar fundo e deixar sua pulsação se acostumar com o ar entrar e sair dos seus pulmões. Cara, como é lindo viver. Então ela deu o que tinha, sua vida. Duas vezes na verdade. Trocou sua vida pela de outras pessoas. Por uma felicidade superficial que não agregou nada. Que não transformou nada. Existem buracos na nossa estrada, se você não souber desviar, virar, fazer a curva ou dar a volta, você cai. E quando você cai, droga, é difícil se levantar.

Anahí tropeçou.

Mais de uma vez. Duas, três, quatro.

Mas, porra, eu nunca disse que essa mulher não era humana. Qual é o problema de tropeçar, ralar o joelho e se reerguer? Nenhum. A vida não é só feita de momentos, ela é feita de chances. De renascimentos. Todos os dias quando o sol nasce ele sorri pra ti, ele te abraça forte e te deseja sorte. Resta saber se você, e somente você, está pronto pra começar novamente.

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