Caminos Cruzados

Capítulo 44 - Os mocinhos também têm trunfos

"Até que a morte nos separe é muito pouco pra mim. Preciso de você por mais de uma vida." - Fabrício Carpinejar

Anahí: Esse foi o sonho mais lindo que já ouvi. ― disse, sorrindo de canto, a voz saiu embargada.

Alfonso: Pois é... ― ele começou, fazendo um carinho gostoso no ombro dela. ― Sabe, eu nunca me imaginei com uma família. Quer dizer, você sabe, antes do Dani eu nem pensava em ter filhos.

Anahí: Eu sei. ― confirmou, se aconchegando mais nos braços dele. Alfonso a abraçou, os dedos pairando sob o ventre dela.

Alfonso: Quando estávamos juntos, na minha cabeça, seriamos apenas eu e você contra o mundo. ― ela sorriu, ela lembrava daquilo, ele sempre fazia questão de dizer. ― Na verdade, até quando não estávamos juntos, seríamos nós dois contra o mundo. ― concluiu, pensativo.

Ela suspirou. Alfonso beijou o topo da sua cabeça e passou uma perna em volta do corpo dela.

Alfonso: Então veio o Dani e toda essa bagunça. Mas hoje sim eu nos vejo com uma família.

Anahí fechou os olhos. Ela queria tanto, mas tanto que aquilo fosse real. Mas, infelizmente, não era.

Anahí: Alfonso, você sabe que isso é quase impossível. ― disse, amarga, era tudo tão tão complicado.

Alfonso: Um dia... ― ele enfiou o rosto no pescoço dela, cheirando-a e a abraçou mais forte pela cintura ― Quando tudo isso acabar ― a mão dele fez uma trilha do abdômen trincado até o começo do seio ― Nós seremos uma família.

Anahí: Você é um sonhador. ― disse, sentindo cócegas.

Alfonso: E, se eu bem me lembro, você era uma sonhadora também. ― Anahí bufou.

Ele tinha razão, a vida e os desenganos a fizeram virar uma mulher fria, descrente e racional. Mas Alfonso a tirava de qualquer parede de concreto que ela poderia ter construído. Depois daquela viagem ao Brasil, a grande verdade, é que Alfonso a salvou mais uma vez. Salvou um lado dela. Um lado romântico, sonhador, esperançoso. Ele suspirou no seu pescoço e ela sentiu um arrepio.

Alfonso: Você é tão cheirosa ― ela sorriu e se virou, num impulso, ficando de lado, ela encostou a cabeça no braço e passou a encará-lo no escuro do quarto.

Só se ouvia os corações batendo como uma doce música. Ela ficou ali observando o perfil masculino do rosto dele. O nariz arrebitado, os olhos intensos, a boca entreaberta. E naquele simples, mas impulsivo, encarar de almas eles se viram novamente. O mundo de ambos sendo revirado numa fração de segundos. O clima mudava conforme as respirações se uniam, como se fossem uma só.

Ele levou a mão até o rosto dela, tirando uma mecha de cabelo da frente e acariciando sua bochecha. Anahí  a própria mão até a dele, segurando-a. Estava tão quente, parecia em chamas. E de repente ela sentiu aquilo novamente, aquela coisa poderosa se fazendo presente. Se fazendo insuportável. Era o peso do mundo inteiro naquela mão. Aquele homem havia a salvado tantas vezes de formas tão diferentes.

Só ele havia a visto nua em todas as suas fórmulas. Transparente. Cristalina. Ele sabia dos medos mais insanos e profundos dela. De amar demais. De se entregar demais. De se perder de tanto amor. O medo de nunca ser boa o suficiente no seu trabalho, com seus fãs, com seus amigos. Só ele viu o corpo dela de verdade, quando ela era apenas uma adolescente complicada. Mas ele a salvou da escuridão. Sim, sim, sim, ele a salvou. Vocês verão essa frase algumas vezes, pois ela está impregnada em Anahí, como tatuagem. Foi ele o tempo todo. Lagrimas escorreram pelo rosto dela e Alfonso limpou. Só ele havia visto a alma dela de verdade, a essência dela que gritava, o choro baixinho de não ser o que as pessoas queriam que ela fosse. De não conseguir se erguer para as pessoas que a ajudaram. Só pra Alfonso ela se desmontou inteira porque confiava que, mesmo com as dificuldades, ele seria parte dela, mesmo ela sendo desfigurada, intensa e verdadeira. E nesse momento, com ele limpando as lagrimas que insistiam em cair, ela fechou os olhos e assentiu pra Deus, pro Universo, ou pro que quer que fosse. Ela assentiu pra vida. Alfonso franziu o cenho, mas continuou a acariciando.