Capítulo 22 - parte 02

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- Confesso que a mim também. – Alfonso disse dando um pequeno sorriso, então suspirou, apoiou o cotovelo sobre as pernas e mirou a menina deitada sobre a cama ligada aos aparelhos - Júlia nunca me perdoará. – lamentou, a loira sentiu seu coração apertar, aproximou-se e sentou ao lado dele – Coloquei a vida da minha filha em risco, sou o pior pai do mundo.

- Não diga isso Poncho. – tocou-lhe o ombro e sorriu meiga - Apesar de toda essa sua amargura e pose de durão, Júlia te ama demais.

- Prometi as meninas que mudaria, e olha só o que fiz. – comentou gesticulando com as mãos deixando a palma para cima - Me sinto culpado por tudo que aconteceu.

- Pais cometem erros a todo momento, e você é mais um deles. – beijou-lhe o ombro e abraçou um de seus braços, recostando a cabeça ali.

Aquele não era o momento para ser rude com Alfonso. Ele próprio já estava se martirizando pelo ocorrido. Palavras de conforto, carinho e afeto surtiriam mais efeito do que agressões verbais. Nada mais foi dito por alguns minutos, apenas ouvia-se o barulho dos aparelhos em que Júlia estava ligada, e a chuva.

- Você vai mesmo embora? – Alfonso perguntou quebrando o silêncio.

- É necessário, será melhor tanto para mim como para você. – ela respondeu em um tom quase inaudível.

- E o que eu faço com o que eu sinto aqui? – perguntou tocando sobre o peito.

- Poncho, por favor, não vamos nos torturar ainda mais com isso. – falou levantando-se e o olhou séria - Mas respondendo a sua pergunta, tranque as portas, assim como eu fiz.

Sem aguardar ele responder, retirou-se do quarto e andou pelos corredores, segurando as lágrimas. Dor, medo, angústia, desespero, insegurança, eram apenas alguns dos sentimentos que percorriam seu corpo, sua alma. O que fazer? Como agir e reagir perante ele?

Perambulou pelos corredores, observou pessoas andando de um lado para o outro apressadas, entre eles médicos, enfermeiros, residentes e visitantes. A loira até cogitou a possibilidade de ir para casa, ficar com Fernanda e Eduarda, mas desistiu ao ouvir burburinhos nos corredores de que a chuva forte seguiria durante a noite toda. Então buscou por um sofá livre na sala de espera de alguma ala do hospital – a qual ela não soube definir qual era – e cochilou.

O relógio marcava quatro horas e vinte e dois da madrugada quando ela acordou. Talvez se voltasse agora para o quarto, Alfonso estaria dormindo novamente e assim não precisaria encará-lo ou conversar com ele. Diálogos que começavam bem e terminavam em palavras duras, frias, machucando ambos ainda mais. Evitar brigas e conflitos era a melhor opção.

Porém, por mais que a sua razão e Maite dissessem que definitivamente não precisava dele para sobreviver, a alma e o coração gritam dentro de si o contrário. E mesmo que fosse feliz longe de Alfonso, essa felicidade sempre seria pela metade, incompleta. Talvez quando tudo se resolvesse e Júlia estivesse bem, as coisas entre eles mudariam e poderiam sim pensar em um futuro juntos.

Refez o caminho de volta com calma e quando entrou no quarto estranhou a presença de uma residente médica sentada sobre o sofá que antes estava Alfonso.

- Aconteceu alguma coisa? Júlia está bem? – perguntou visívelmente preocopada.

- O Senhor Herrera pediu que ficasse aqui até a senhora voltar. – ela disse levantando-se da cadeira - Ele recebeu uma ligação e saiu.

Quem havia ligado a ele? O que teria acontecido para ele sair assim deixando Júlia sozinha?

Perdida em seus pensamentos nem viu que a residente saiu. Ao se dar conta que estava sozinha pegou a cadeira e a puxou para o lado da cama de Júlia. Segurou a mão da menina e acariciou seu rosto.

- Ei meu anjinho, está na hora de acordar. – Anahí sussurrou e beijou-lhe a mão – Precisamos de você aqui, fazendo suas brincadeiras, aprontando. Quem vai espantar as piranhas que se aproximam do seu pai? – ela sorriu recordando alguns momentos, como quando a pequena derramou aquela meleca azul em seu cabelo – Eu tenho tanto pra te contar, talvez eu deva começar te pedindo desculpas. Eu não fiquei pra cuidar da Nanda e da Duda como te prometi, mas da Molly eu tomei conta direitinho viu? E ela está com muita saudade de você, então trate de acordar logo. – pausou para tomar ar, a olhou carinhosamente, ergueu-se um pouco da cadeira debruçando-se sobre a menina beijando a testa dela, fez um carinho em seu rosto e voltou a sentar-se - Eu preciso de você aqui do meu lado pestinha amada, tenho algo pra contar a seu pai, porém tenho medo e nem sei como começar. – novamente pausou, seus olhos marearam e ela levou a outra mão ao ventre - Estou imensamente feliz com a notícia, não sei se ele vai ficar também, ou se você, Duda e Nada irão gostar, mas eu estou felizona com isso. Vou confiar a você esse segredo, e quando sair daqui desse hospital vamos juntas pensar em algo. – contou, puxou o ar profundamente, enxugou algumas lágrimas e aproximou-se mais da cama – Eu vou ter um bebê – ela sussurrou – Você vai ter um irmãozinho, ou uma irmãzinha. E te darei a missão de escolher um nome, então trate de acordar logo ou quem irá escolher será Duda e Nanda.

- Manuela. – a menina sussurrou com dificuldade.


Um Anjo Caiu do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora